quinta-feira, novembro 25, 2010
Infância Veg - o que você precisa saber para criar os pequenos cheios de saúde
por Jaqueline B. Ramos*
Sou vegetariano convicto e tive um filho. O que fazer em relação a sua alimentação? Uma criança pode adotar uma dieta sem carne sem comprometer seu desenvolvimento? Meu filho será discriminado pelos amiguinhos pelo fato de ser vegetariano?
“Mamãe, eu quero brócolis”. Esta é a frase dos sonhos de todas as mães que se preocupam em propiciar aos filhos uma alimentação saudável, principalmente das vegetarianas. Para estas, uma alimentação saudável não é só sinônimo de variedade e alimentos de qualidade, mas também de uma dieta sem carnes ou produtos de origem animal, no caso das veganas. E aí é inevitável que surjam as dúvidas e as críticas - “você não pode privar o seu filho do prazer da carne!” é uma das frases mais manjadas. E o melhor caminho para lidar com tudo isso e criar pequenos vegetarianos com tranqüilidade e segurança é sempre o da informação.
Noventa e nove por cento das preocupações de pais vegetarianos que pretendem que os pequenos tenham uma dieta sem carne são sanadas com a boa notícia de que a dieta vegetariana é sim adequada para crianças. A afirmação de que a falta de carne compromete o crescimento é um mito, de acordo com a própria comunidade científica. Em 2009, a American Dietetic Association publicou oficialmente que “a dieta vegetariana adequadamente planejada, incluindo a dieta vegana, é saudável, nutricionalmente adequada, e pode trazer benefícios na prevenção e tratamento de certas doenças. É adequada para todos os indivíduos em todos os ciclos da vida, incluindo a gestação, lactação, infância e adolescência, e para atletas”.
“A dieta vegetariana não compromete o desenvolvimento da criança. Centenas de artigos científicos já analisaram o tema e varias evidências já foram acumuladas nas duas últimas décadas. Estudos de crianças com dietas vegetarianas adequadas mostram que na adolescência as crianças vegetarianas são mais altas, têm menor tendência ao excesso de peso do que a população em geral e menos risco de doenças cardíacas e de diabetes tipo 2”, explica Dr. Orlei Ribeiro de Araújo, médico pediatra responsável pela enfermaria de pediatria do Hospital Cruz Azul, em São Paulo, com experiência no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças alimentadas sem carne.
Dr. Orlei ressalta que o hábito de comer carne é puramente cultural, sem nenhum benefício nutricional que possa ser sustentado cientificamente hoje em dia. Segundo o pediatra, a criança acostuma-se facilmente a uma alimentação sem carne e mesmo pais onívoros deveriam fazer a experiência. No entanto, o pediatra ressalta: é muito importante buscar orientação profissional para a elaboração e acompanhamento da dieta. “O maior desafio é encontrar profissionais que não torçam o nariz ao vegetarianismo, mesmo sabendo que estão completamente defasados. Felizmente hoje existe muito material de qualidade disponível na internet e recomendo a leitura freqüente para a compreensão do que é uma dieta adequada.”
Calorias e suplementação: A orientação de um profissional especializado – nutricionista ou nutrólogo – esclarece muitas dúvidas e dá muito mais segurança para os pais na hora de elaborar a dieta sem carne para os pequenos. Uma das principais questões que os pais devem ficar atentos é que ser vegetariano não significa comer somente “folhas”. “Deve-se ter clara a ideia de que verduras e legumes fazem parte da dieta, mas não são a base. Isso é muito importante para crianças pequenas, que se receberem muitas verduras e legumes e menos cereais e feijões terão baixa caloria ingerida, e isso compromete o crescimento”, alerta Dr. Eric Slywitch, médico nutrólogo especializado em alimentação sem carne.
Em relação a calorias, não é verdade a informação de que dietas vegetarianas para crianças devem ser necessariamente mais calóricas por conta da dificuldade maior de digestão de proteínas vegetais. Na verdade não existe dificuldade de digestão de proteínas, apenas a variedade de aminoácidos é menor nos vegetais, o que faz necessária a combinação inteligente de várias fontes para se obter todos.
Segundo Dr. Eric, equilibrando os grupos alimentares, os nutrientes costumam ficar bem ajustados. Ele também ressalta que é importante ficar atento ao consumo excessivo de fibras, que pode gerar uma maior saciedade na criança e, conseqüentemente, levar à ingestão de menos alimentos. “Mas com um bom acompanhamento de um profissional da área, não há razão para ter medo da dieta vegetariana. Só é necessário de muita paciência para agüentar o desespero de alguns familiares”, brinca o nutrólogo.
Em relação à suplementação, a de vitamina B12 é indicada para todas as crianças vegetarianas. As demais suplementações são aquelas comuns a todas as crianças pequenas – vitaminas A e D e ferro – e qualquer necessidade extra deve ser avaliada individualmente, de acordo com o tipo de vegetarianismo adotado, a ingestão alimentar habitual e as condições clínicas da criança.
“Vale ressaltar que os suplementos nutricionais devem ser prescritos por um profissional da área de nutrição com conhecimento e experiência no atendimento de crianças e adolescentes vegetarianos”, frisa Ana Paula Pacífico Homem, nutricionista especialista em nutrição materno-infantil que atende crianças e adolescentes vegetarianos em consultório particular e ambulatório institucional em Belo Horizonte.
A nutricionista esclarece um dos maiores mitos que ronda a dieta vegetariana: a falta de proteínas. Ela reitera que uma alimentação vegetariana adequada, com cereais integrais, leguminosas variadas e sementes oleaginosas, fornece quantidade mais do que suficiente do nutriente.
“Os pais não podem esquecer que a consistência da alimentação e a forma de preparo precisam ser adaptadas à idade da criança. No caso de bebês, os feijões e as frutas devem ser muito bem amassados e os sucos, coados. Os cereais integrais precisam ser muito bem cozidos e peneirados, para reduzir o teor de fibras na fase inicial de introdução de alimentos. Uma semente de amêndoa, por exemplo, pode ser introduzida na forma de farinha, adicionada a uma fruta”, afirma Ana Paula.
O desmame é o período mais vulnerável para a criança vegetariana e a introdução de alimentos deve ser idealmente acompanhada por um profissional com experiência em dietas vegetarianas. Segundo a nutricionista, é fundamental garantir as fontes alimentares de ferro, cálcio e zinco (folhas verdes escuras, feijões, sementes oleaginosas ) e “gorduras boas” (abacate, óleo de oliva). “Outro nutriente muito importante é o ômega-3, um tipo de lipídeo essencial para o cérebro em crescimento da criança. Sua principal fonte no reino vegetal é o óleo de linhaça”, diz.
Exemplo, exemplo e exemplo: Esclarecida a parte científica, os pais vegetarianos podem ainda ter outra preocupação em relação à alimentação sem carne dos filhos: numa sociedade ainda predominantemente onívora, como vou acostumar e explicar o vegetarianismo para o meu filho. Uma criança vegetariana pode vir a sofrer algum tipo de preconceito, ou até exclusão social?
Primeiramente é preciso reforçar uma das máximas mais fortes quando o assunto é educação, inclusive a alimentar. A criança aprende muito mais pelo exemplo do que pelas palavras. Ou seja, o hábito de uma alimentação vegetariana saudável em casa será o maior espelho da criança. “Os pais vegetarianos devem fornecer uma alimentação coerente com seus princípios dentro de casa, esclarecer as questões que venham a surgir sobre o assunto com clareza e sinceridade e acreditar que estão plantando boas sementes”, aconselha Ana Paula. “Mais cedo ou mais tarde a criança ou adolescente confrontará os valores que recebeu da família com aqueles que recebeu da sociedade e fará uma opção madura e consciente”.
“Não vejo nenhum problema de pais vegetarianos criarem seus filhos com a mesma dieta. Conheço famílias que criaram seus filhos com vegetarianismo e nunca evidenciei nenhum problema psicológico decorrente disso. Em termos de socialização, vejo menos problema numa criança vegetariana do que numa criança, por exemplo, que tem intolerância a glúten ou alergia a leite”, afirma a psicóloga Teresa Ferreira, que atende no Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A psicóloga ressalta que é importante que os pais agrupem-se com outros que seguem a mesma filosofia, para que seus filhos, em algum momento, se encontrem com seus pares e vejam que há outras pessoas que fazem o mesmo. “Dessa forma eles se darão conta que não são os diferentes, só em alguns momentos é que são diferentes. Além disso, é imprescindível que os pais comam o que querem que os filhos comam, dando o exemplo e oferecendo o alimento de diferentes formas e em diferentes momentos.” Teresa não vê o oferecimento de alimentação vegetariana para as crianças como uma imposição ou coerção. “É natural e até uma obrigação dos pais passarem seus valores para os filhos. Quanto mais claros esses valores estão para os pais, mais fácil será para os filhos entenderem.”
Papinha sem carne: Alguns exemplos de pequenos vegetarianos demonstram que a alimentação sem carne pode realmente ser encarada de forma muito natural pela criança, não lhe trazendo nenhum desconforto. “Eu sempre fui vegetariano e explico para os meus amigos que desde que era pequeno já não gostava de comer carne. Quando minha avó me dava papinha com carne, eu cuspia tudo. Também falo para eles pensarem muito bem nos animais”, diz Pedro Schuwenck, de 9 anos, quando questionado sobre o que explica para seus amigos onívoros quando lhe perguntam por que não come carne.
Pedro, sua mãe, a publicitária Paula, e seus avós maternos, todos vegetarianos, lançaram em maio desse ano em São Paulo o blog “Vegetariano come o quê?”, cujo objetivo é apresentar receitas que respondam justamente a este pergunta. O diferencial é que as receitas são apresentadas em vídeos e pela família, o que, segundo Paula, chama muito a atenção das pessoas.
Paula é vegana há oito anos e fez a opção pelo vegetarianismo na gravidez. Ela conta que Pedro se mostrou vegetariano desde que começou a comer as papinhas. “Ele sempre rejeitou papinhas com carne. Quando substituía por uma de vegetais ele comia tudo. Procurei um médico nutrólogo especializado em dieta vegetariana que nos orienta até hoje”, conta Paula, ressaltando que Pedro sempre teve crescimento acima da média e nunca existiu problema de socialização com os amiguinhos. “Pelo contrário, ele tem muitos amigos e quando eles vêm na nossa casa, adoram comer nossos bolos e lanches veganos”.
Como Pedro acabou fazendo sua escolha bem cedo, Paula nunca teve dificuldade para montar sua alimentação. E como principal dica para pais vegetarianos que pretendem criar pequenos vegetarianos, ela diz que o segredo é introduzir a variedade dos vegetais na alimentação das crianças. “Quanto mais elas conhecerem os sabores e a infinidade de opções que têm para comer e sentir prazer, se deliciar, mais fácil será que elas gostem e se orgulhem de serem vegetarianas. Além disso, sempre conversar muito sobre os direitos dos animais e como é importante para o planeta que elas sejam vegetarianas.” E completa: “As crianças são esponjinhas que sugam o nosso exemplo. Se os pais estiverem convictos e se sentirem felizes por terem escolhido o vegetarianismo, assim as crianças se sentirão também.”
Com a bióloga paulistana Fúlvia Zephilho de Andrade e sua filha, Letícia, de 2 anos e meio, a experiência é muito parecida. Letícia é ovolactovegetariana desde o ventre, pois Fúlvia e o marido já tinham decidido que seus filhos não comeriam carne. Ela diz que nunca passou pela cabeça deles oferecer carne nas papinhas e para garantir a boa nutrição de Letícia consultam um nutricionista vegetariano.
“Ela segue crescendo saudável e se alimentando muito bem. E está super adaptada à dieta. Tanto que quando vê os tios ou as avós comendo carne ela pergunta o que é e aí fala “não pode comer carne, são nossos amigos, mata os bichinhos”. Fúlvia acredita que quando os pais têm hábitos alimentares saudáveis, os filhos passam a adquirir estes hábitos naturalmente. E dá as dicas: para os bebês, o legal é cozinhar legumes e verduras variando sempre e oferecê-los amassadinhos, e não tudo batido em forma de sopa. Dessa forma a criança aprende a distinguir os sabores dos alimentos; E com as crianças maiores, leve-as para cozinhar com você. Ela vai gostar de ajudar e de comer o que preparou.
Apesar do preconceito hoje sem bem menor e as pessoas estarem mais informadas sobre o que é o vegetarianismo, Fúlvia diz que a maior dificuldade ainda é a crítica de que estaria privando a filha dos “prazeres da vida”. Para amenizar essa dificuldade Fúlvia criou, em abril de 2009, o blog Maternas Vegetarianas, cujo objetivo é justamente trocar idéias e informações e difundir o vegetarianismo e outros assuntos correlatos entre “mães vegetarianas que acreditam em um mundo melhor, não somente no nosso bem-estar, mas no de nossos filhos, dos animais, da humanidade e do planeta”.
“Eu acredito que as crianças são mais receptivas ao vegetarianismo que alguns adultos. Costumo dizer que se você colocar uma criança com fome em uma sala onde está um pintinho e onde tem uma pêra, o que você acha que ela vai fazer: comer o pintinho e brincar com a pêra ou comer a pêra e brincar com o pintinho? A resposta já nos diz que, em essência, somos vegetarianos”, conclui Fúlvia.
Os 10 mandamentos para a dieta vegetariana dos pequenos
1. Procure um profissional especializado em alimentação sem carne – nutricionista ou médico nutrólogo – para orientar, montar e acompanhar a dieta vegetariana de uma criança.
2. Nunca substitua o aleitamento materno ou o uso de fórmulas especializadas por misturas de farinhas de cereais.
3. Fórmulas infantis à base de soja são a única opção para lactentes veganos não amamentados no seio.
4. Fórmulas de soja não são adequadas para prematuros, pois há o risco de fragilização dos ossos mesmo com suplementação de cálcio. Prematuros, infelizmente, estão fora do veganismo.
5. A vitamina B12 deve ser suplementada sempre, principalmente para as crianças veganas.
6. No caso de crianças veganas deve-se ficar bem atento às fontes de cálcio, que devem ser intensificadas.
7. Crianças em geral, onívoras ou vegetarianas, devem ter atenção especial ao ferro, pois sua deficiência é muito comum. Sua suplementação é necessária a partir do quarto mês de vida.
8. Os pais devem ter uma alimentação adequada e equilibrada, pois eles serão o maior exemplo para as crianças.
9. Apresente toda a variedade de vegetais para as crianças, pois é a melhor forma delas pegarem gosto, se acostumarem e sentirem prazer com a dieta sem carne.
10. Converse sempre sobre os motivos do vegetarianismo e esclareça as questões colocadas pelas crianças com muita serenidade e tranqüilidade.
Fontes para consulta e orientação
Livros
• “Comida Vegetariana para Crianças”, de Sara Lewis (Editora Madras)
• “Dieta Vegetariana para Pais e Filhos”, de Charles R. Artwood (Editora Madras)
• “Alimentação sem Carne – Guia Prático”, de Eric Slywitch (Editora Alaúde)
• “Virei Vegetariano – E agora?”, de Eric Slywitch (Editora Alaúde)
• “Lar Vegetariano”, de Ivonete Nakashima, Aparecida Teixeira e Paulo Cesar Nakashima (Editora Cultrix)
Sites
www.alimentacaosemcarne.com.br
http://www.vegetarianocomeoque.com.br/
http://maternavegetarianas.blogspot.com/
*Reportagem publicada na Revista dos Vegetarianos edição 49 / novembro 2010 - http://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=935
Desafios do Ano Internacional da Biodiversidade
Por Jaqueline B. Ramos*
Há vários anos especialistas e ambientalistas de todo o mundo têm feito alertas sobre o perigo real da perda de biodiversidade do planeta. Por motivos que vão desde desmatamento de áreas naturais até as conseqüências modernas do aquecimento global, é fato conhecido que um número crescente de espécies de animais e plantas se encontra em risco iminente de extinção. E não há dúvidas que isso é muito ruim tanto para a natureza como para a própria qualidade de vida da humanidade.
Quando o assunto é risco de extinção, no Brasil – que, diga-se de passagem, é o primeiro país em biodiversidade do mundo, temos o exemplo da onça pintada. Na Ásia, a problemática é grande em torno dos tigres e orangotangos. Na África, os chimpanzés são grandes vítimas... e estes são apenas alguns poucos casos falando apenas em animais mais conhecidos e casos mais divulgados (veja mais informações no boxe).
Entende-se como biodiversidade (ou diversidade biológica) a variedade de vida no Planeta que forma uma grande cadeia da qual o homem faz parte e da qual depende para sua sobrevivência. A biodiversidade que temos hoje é fruto de bilhões de anos de evolução moldados por processos naturais e, cada vez mais, por processos humanos. Até hoje cerca de 1,75 milhões de espécies já foram identificadas, sendo a grande maioria insetos, e estima-se que realmente existam 13 milhões de espécies.
O alerta sobre a perda da biodiversidade foi oficialmente reconhecido pela ONU – Organização das Nações Unidas, que declarou que 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Em termos práticos o destaque é para a 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-10 CDB), que acontecerá na cidade de Nagoya, no Japão, em outubro. A expectativa em relação à conferência é muito grande, pois se discutirá, entre outros assuntos, o alcance das metas de redução de perda de biodiversidade e o polêmico assunto sobre a repartição dos benefícios advindos da utilização da diversidade genética das espécies.
E o cenário não é muito otimista, infelizmente. No dia biodiversidade – 22 de maio – o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a perda de espécies está chegando a um ponto sem volta. De fato, em um relatório recente a ONU confirmou que nenhuma das metas para redução da perda de biodiversidade, acordadas em 2002, foram cumpridas. O relatório afirma que desde 1970 as populações mundiais de animais caíram 30%, a área coberta por mangues caiu 20% e a área coberta por corais, 40%.
Redução de desmatamento: Segundo Ban, comunidades no mundo todo irão "colher os frutos negativos" da perda de biodiversidade. “Mas comunidades mais pobres e mais vulneráveis serão as que irão sofrer mais", alerta o secretário, ressaltando mais uma razão para o reforço nos esforços reais (e não apenas teóricos ou “marqueteiros” em torno da conservação da diversidade genética de plantas e animais.
No Brasil, os principais problemas estão relacionados diretamente ao combate ao desmatamento nos grandes biomas. “A conservação da diversidade biológica é um dos temas de maior destaque do ano, e os olhos do mundo certamente se voltarão para o Brasil. Temos a sorte de abrigar em nosso território uma imensa riqueza biológica, mas temos também a responsabilidade de cuidar de sua preservação e sobrevivência”, afirma Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil.
Seja no Brasil, na Indonésia, na República do Congo ou em qualquer outro país rico em biodiversidade, a causa maior do problema é sempre a ação humana insustentável. È verdade que a extinção das espécies é um fenômeno natural, mas a questão é que animais e plantas estão tendo suas populações drasticamente reduzidas ou extintas numa taxa muito mais rápida que a natura – estima-se que o processo esteja 1000 vezes acelerado.
“Nossas vidas dependem da biodiversidade e espécies e ecossistemas estão desaparecendo em um ritmo insustentável. Em 2002 líderes mundiais concordaram em diminuir significativamente as taxas de destruição de biodiversidade até 2010, mas já sabemos que as metas não foram alcançadas. Precisamos, mais do que nunca, do esforço de todos, governos, ONGs e cada cidadão”, alerta o secretário-geral das Nações Unidas.
Metas da CDB para os países signatários
• Conservação da biodiversidade;
• Uso sustentável de seus componentes;
• Distribuição equitativa e justa dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos.
Espécies ameaçadas de extinção
No Brasil
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, há cerca de 400 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Dessas, sete são consideradas já extintas, como é o caso da arara-azul-pequena, que era encontrada em toda a Região Sul e no Mato Grosso do Sul.
Algumas das espécies-símbolo da riqueza biológica do Brasil estão em risco. A onça-pintada, a onça-parda, o gato-maracajá são exemplos de felinos que correm o risco de desaparecer de nosso território. Macaco-aranha, mico-leão-da-cara-preta, mico-leão-dourado e várias espécies de sagui também.
Nos ares, o risco de extinção recai sobre a arara-azul, a ararinha-azul, o gavião-cinza e algumas espécies papagaio, entre muitos outros. Há 55 espécies diferentes de borboletas na lista de ameaçadas. No cerrado, o lobo-guará é o símbolo das conseqüências da devastação. Nas águas, a baleia-franca, a baleia-jubarte e o peixe-boi são vítimas de caçadores.
Entre as plantas, estão desaparecendo algumas espécies de bromélias, o pau-rosa e o pinheiro-do-Paraná, também conhecido como araucária. Sucupira, aroeira, jequitibá, imbuia, angelim, mogno, cerejeira e outras árvores também já são difíceis de serem encontradas.
No mundo
Todos os anos, o WWF-Estados Unidos divulga a lista dos 10 animais mais ameaçados do planeta. Este ano, a lista inclui cinco animais que estão sendo diretamente afetados pelo aquecimento global: o tigre, o urso polar, a morsa do Pacífico, o pinguim de Magellanic e a tartaruga-gigante. Além dessas cinco espécies, também estão ameaçados o atum-bluefin, o gorila-das-montanhas, a borboleta-imperial, o panda e o rinoceronte-de-Java, cuja população está reduzida a apenas 60 indivíduos.
Fonte: WWF Brasil - http://www.wwf.org.br/
As principais ameaças à biodiversidade
• Perda de habitats: pelas mudanças no uso das terras, principalmente a conversão de áreas naturais em plantios de nível industrial. Esta é, na verdade, a maior causa da perda de biodiversidade. Mais da metade dos 14 grandes biomas da Terra já tiveram entre 20 e 50% de sua área total convertida para agropecuária.
• Uso e exploração insustentáveis: muitas espécies são usadas pelo homem para atender suas necessidades básicas. Porém, várias delas estão em declínio e risco de extinção porque são usadas de forma tão exagerada que sua exploração ameaça os ecossistemas dos quais dependem.
• Mudanças climáticas: será, progressivamente, causa de mais ameaças à biodiversidade nas próximas décadas. Já se observa mudanças nos períodos de migração e reprodução e nas taxas de distribuição de várias espécies em todo o planeta por conta das variações climáticas.
• Espécies aliens: plantas, animais e microorganismos transportados deliberadamente ou acidentalmente para áreas onde são espécies exóticas podem causas sérios riscos para espécies nativas pela competição por comida, transmissão de doenças, mudanças genéticas etc. Mais de 530 espécies aliens que causaram sérios impactos já foram identificadas em 57 países.
• Poluição: o descarte progressivo de substâncias poluentes geradas tanto no ambiente urbano como pela agropecuária, somado ao crescimento desenfreado da região costeira e da agricultura, pode levar a uma multiplicação na quantidade de áreas consideradas mortas.
Fonte: ONU/UNEP
* Publicado na edição 90 do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung - veja aqui.
Curtas Ambientais
Retrocesso na proteção às florestas
No mês do meio ambiente, ambientalistas no Brasil não têm muito que comemorar. Parlamentares ruralistas, encabeçados pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estão propondo mudanças no Código Florestal brasileiro que levariam a um retrocesso na legislação de controle e proteção das áreas naturais. Entre as mudanças sugeridas estão a possibilidade de soma da reserva legal com as áreas de Preservação Permanente (APP) e a consolidação de lavouras em encostas e topos de morros desmatados ilegalmente.
Uma subcomissão da Câmara dos Deputados foi criada para avaliar as propostas de alteração na lei e isso está preocupando ONGs de defesa ambiental. Uma coalizão de entidades formada pelo WWF, Greenpeace, Instituto Socioambiental, entre outras, lançou um site com informações sobre o histórico do Código Florestal e a defesa da manutenção da lei para a preservação de florestas, dos recursos hídricos e do clima. No endereço www.sosflorestas.com.br são listadas as conseqüências que as possíveis mudanças na legislação ambiental podem trazer e o internauta é convidado a assinar uma petição contra as alterações no Código Florestal, a ser enviada para a Câmara.
Ônibus limpo
No final de maio o Rio de Janeiro entrou na era dos combustíveis limpos. De acordo com o contrato assinado com o COI – Comitê Olímpico Internacional –, 20% da frota de ônibus da cidade devem rodar movidos a biocombustível durante os jogos de 2016. Neste espírito foi apresentado pelo governo do Estado o primeiro ônibus movido a hidrogênio, um projeto desenvolvido pela Coppe/UFRJ.
O ônibus experimental será operado pela Viação Real e estará nas ruas pelo período de um ano, sendo avaliado em vários aspectos, incluindo a não-emissão de gases poluentes e sua manutenção periódica. O veículo receberá licença regular para rodar no Rio, assim como os outros 15 ônibus movidos a biodiesel, que já estão em operação de testes. A ideia é ampliar a frota de veículos não poluentes e praticamente trocar a maior parte dos coletivos que rodam pela cidade.
Satélite para monitorar oceanos
A Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Conae), da Argentina, desenvolverão em conjunto o satélite Sabia-Mar. O satélite será destinado à observação global dos oceanos e ao monitoramento do Atlântico nas proximidades dos dois países. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) será o órgão executor do projeto
Com o Sabia-Mar será possível observar a cor dos oceanos, monitorar a exploração petrolífera, gerenciar as zonas costeiras e contribuir com a atividade pesqueira, entre outras aplicações. O projeto Sabia-Mar está em plena consonância com os objetivos fixados pela comunidade científica internacional, e, mais especificamente, com aqueles estabelecidos pelo Comitê de Satélites de Observação da Terra (CEOS, na sigla em inglês) para a constelação de satélites de observação da cor dos oceanos.
Marfim X Elefantes
O que parecia ser uma prática ultrapassada voltou a aterrorizar a vida dos elefantes. O crescimento na demanda de marfim na Ásia tem incentivado o comércio ilegal de presas de elefante, provenientes principalmente da África. Nos últimos oito anos o preço do quilo do marfim subiu de US$ 100 para US$ 1800. O principal responsável pelo “aquecimento” no comércio é a China. No país há a tradição de um empresário “presentear” um cliente após um negócio fechado com uma presa de marfim.
Segundo especialistas, se o comércio não for contido logo, as populações de elefantes na África podem ser reduzidas dramaticamente. Mais de 600 mil elefantes foram mortos no continente nos últimos 40 anos devido à caça ilegal – a captura dos animais é oficialmente proibida desde 1989. Em Serra Leoa, os últimos elefantes foram mortos em dezembro. No Senegal, há menos de 10 elefantes vivos.
Parceria em prol da bioenergia
Em maio foi anunciada uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e o Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados de Cana-de-Açúcar (ICIDCA) visando a produção sustentável de nada mais nada menos do que bionergia. O trabalho em conjunto prevê o desenvolvimento de tecnologias para a produção de fontes renováveis de energia e será dividido em cinco linhas: biomassa para bioenergia; produção de bioenergia; aplicação de biocombustíveis em motores; biorrefinaria, alcoolquímica e oleoquímica; e impactos ambientais, sócio-econômicos e sustentabilidade.
“Nosso foco é trabalhar os resíduos de forma sustentável, unindo especialistas das duas instituições”, explicou Maria José Soares Mendes Giannini, pró-reitora de Pesquisa da UNESP, que faz parte do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, criado em dezembro de 2009.
Dieta para combater as mudanças climáticas
Um recente relatório da ONU divulgado na semana do Dia Mundial do Meio ambiente faz uma revelação surpreendente. Em linhas gerais é concluído que “uma mudança global para uma dieta vegana – que exclui carnes e qualquer produto de origem animal – é vital para salvar o mundo da fome, pobreza de combustíveis e os piores impactos da mudança climática.”
O relatório ressalta que a previsão é de que a população mundial chegue a 9.1 bilhões de pessoas em 2050, tornando o apetite por carne e laticínios insustentável. A agropecuária industrial, particularmente de produtos de carne e laticínios, é responsável, por exemplo, pelo consumo de cerca de 70% da água doce do mundo, 38% do uso de terra e 19% das emissões de gases estufa.
Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmente devido ao crescimento da população e o crescimento do consumo de produtos animais. Ao contrário dos combustíveis fósseis, é difícil produzir alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial de impactos somente seria possível com uma mudança de dieta, eliminando produtos animais.”
Baleias amigas
Um estudo divulgado em junho na revista “Behavioral Ecology and Sociobiology” demonstra que as Baleias-jubarte formam laços de amizade duradouros. Usando técnicas de identificação fotográfica para localizar cada indivíduo todos os anos, os pesquisadores conseguiram averiguar que fêmeas de baleia-jubarte reencontram-se anualmente para comer e nadar juntas no golfo de São Lourenço, na costa do Canadá.
Baleias com dentes, como as baleias cachalote, associam-se umas com as outras. Mas acreditava-se que baleias maiores, que filtram sua comida, como as jubartes, eram menos sociáveis. As amizades mais longas registradas duraram seis anos e sempre foram observadas entre fêmeas de idades parecidas e nunca entre machos e fêmeas. A descoberta também levanta a possibilidade de que a pesca comercial de baleias pode ter dispersado grupos sociais dos animais.
Corais brasileiros ameaçados
A elevação na temperatura das águas, provocada pelo aquecimento global, ameaça espécies de corais que só existem no litoral brasileiro. A conclusão é do projeto Coral Vivo, cuja sede fica em Arraial da Ajuda, na Bahia. Das 40 espécies de corais encontradas nos recifes brasileiros, 20 são encontradas apenas no país.
De acordo com o projeto, o fenômeno começou a ser identificado em março, depois de dois meses com a água muito mais quente do que a média na maior parte da costa brasileira. Conhecido como “branqueamento”, ele foi registrado em uma faixa de 2,5 mil quilômetros, entre o Rio Grande do Norte e a baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e coloca em risco a vida do coral.
A explicação do problema é a seguinte: algumas espécies de corais precisam de microalgas para viver, que se instalam na segunda camada da pele do coral. Como todas as plantas, elas fazem fotossíntese, isto é: obtêm energia da luz do sol. O que sobra, doam ao coral em troca de abrigo. Mas quando a temperatura da água está acima do normal, as algas produzem água oxigenada, que é tóxica para o coral. Para se proteger, ele as expulsa. E sem elas o esqueleto branco fica visível.
* Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung edição 90 - junho 2010
quarta-feira, novembro 17, 2010
ISO 26000 incluirá bem-estar animal!
12.11.2010 - 17h39m
ISO 26000 incluirá bem-estar animal
A Organização Internacional para a Padronização (ISO), maior desenvolvedora de normas internacionais do mundo, incluiu o bem-estar animal no recém-lançado certificado ISO 26000, que relaciona normas para responsabilidade social a serem seguidas por organizações públicas, privadas ou do terceiro setor. Embora a aquisição do selo seja voluntária, ela traz o reconhecimento de que uma corporação opera de forma socialmente responsável.
A inclusão está sendo vista como um marco histórico, porque reconhece o bem-estar animal no contexto da responsabilidade sociel. A WSPA se juntou a cerca de 400 especialistas de 99 países – inclusive o Brasil – que estavam desde 2005 envolvidos na discussão da ISO 26000. O texto do certificado institui "o respeito ao bem-estar dos animais quando suas vidas e existência são afetadas, incluindo o fornecimento de condições dignas para a manutenção, criação, produção, transporte e uso de animais", além de mencionar também o bem-estar psicológico dos animais em diversos capítulos.