Por Jaqueline B. Ramos*
Há aqueles que não acreditam, e só tratam de problemas de saúde com medicina alopática. Em compensação, é cada vez maior o número de pessoas que faz a opção pelas chamadas terapias complementares (também conhecidas como alternativas) e vão além: não abrem mão de fazer uso de uma linha de tratamento mais natural também com seus animais de companhia. Para a sorte deles, pois os resultados alcançados são bem satisfatórios.
Entre as terapias complementares mais conhecidas estão a homeopatia, a acupuntura e a terapia de florais – as duas primeiras, inclusive, já sendo reconhecidas oficialmente e consideradas especialidades veterinárias pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Mas animais também podem ser tratados com fitoterapia, reiki, cromoterapia e até quiropraxia e o número de veterinários que se dedicam a estudar a aplicar estas técnicas é (felizmente) crescente.
“A grande vantagem e o diferencial, principalmente da homeopatia, é a individualização do paciente. Ninguém é igual a ninguém. Todos os animais são completamente diferentes um do outro, na forma de adoecer, nos sentimentos e nas emoções. Diferentemente da medicina tradicional, que foca a doença e não considera o indivíduo como um todo, estas terapias consideram, principalmente, o plano emocional”, explica Marcos Eduardo Fernandes, médico veterinário especialista em homeopatia há 11 anos que atende cães, gatos e aves ornamentais. “Portanto, animais com a mesma doença não necessariamente serão tratados com o mesmo medicamento.”
Segundo o veterinário, há vários trabalhos científicos e pesquisas acadêmicas que já validam a homeopatia e outras terapias complementares. E dependendo do paciente, da doença e até do proprietário, estas terapias podem ser a principal base de um tratamento, inclusive de doenças mais complexas, como o câncer, ou estarem associadas com outros tratamentos, atenuando efeitos colaterais e promovendo uma melhor qualidade de vida ao paciente.
“O quanto antes a homeopatia for utilizada, melhor. Sua ação na energia vital é rápida, mais os efeitos no organismo podem demorar um pouco a aparecer”, ressalta Marcos Eduardo. “Se as terapias complementares fossem usadas preventivamente, não teríamos doentes ou se os tivéssemos eles se curariam rapidamente e não teríamos doenças crônicas”, aponta a veterinária Eunice Parodi, que atende cães e gatos e trabalha há 25 anos com homeopatia, há 12 com florais e há um ano com acupuntura.
Dra. Eunice explica que quando a doença já se instalou, fazer o uso destas terapias permite que o organismo doente se recupere mais rapidamente sem efeitos colaterais. “Gatos em abrigos que adquirem rinotraqueite, por exemplo, que é uma espécie de gripe felina que pode se tornar uma epidemia em ambientes com muitos animais, podem ser tratados continuamente com florais e homeopatia. Eles irão aumentar a resistência dos gatos ao trabalhar o medo e a depressão, que são sintomas que podem causar a queda da imunidade. É possível agir tanto na prevenção como no controle de uma possível epidemia ao primeiro sinal da doença”, conta.
Mas segundo a veterinária, o mais impressionante em animais tratados com terapias complementares é diferença de vitalidade para aqueles tratados somente com alopatia. No animal percebe-se nitidamente que eles recuperam a alegria de viver e voltam a correr e brincar como quando eram filhotes.
“Muito do sucesso das terapias complementares se deve à maneira como vemos o paciente. Ele deve ser avaliado como um todo, associado ao ambiente em que vive, alimentos que ingere e relação com seus cuidadores”, lembra Dra. Eunice. “Cada consulta dura por volta de uma hora e já começa na sala de espera. A maneira como o animal se comporta e como seu cuidador o conduz já nos dá importantes informações. Nossa atuação se assemelha ao médico da família, pois acabamos sabendo de minúcias sobre a vida do paciente e de todos que o rodeiam”, conclui.
Casos de sucesso
Quando são perguntados sobre exemplos de casos de animais tratados com sucesso com terapias complementares, médicos veterinários simpatizantes e adeptos são unânimes em afirmar que há inúmeras histórias de sucesso, com diferentes tipos de sintomas e doenças, indo de desvios de comportamento até tratamentos de câncer e doenças crônicas.
Além dos médicos veterinários, os mais entusiasmados em contar o sucesso do tratamento de seus animais com as terapias complementares são seus cuidadores. “Xuxa se trata com homeopatia desde os dois meses de idade, quando a peguei na rua. E também faz tratamentos com florais e acupuntura. Quando foi necessário ela tomou medicamentos alopáticos, mas foram pouquíssimas vezes”, relata a jornalista Regina Macedo sobre sua cadela de 16 anos. “E também costumo dizer que com os animais tem uma vantagem insuperável: eles não têm os freios emocionais e intelectuais dos humanos. Não ficam pensando ‘ será que essas gotas vão dar certo?’. Portanto, o efeito neles é fenomenal.”
Para Dunga, um gato SRD também adotado depois de ser resgatado na rua, dois problemas de saúde delicados foram controlados com homeopatia e hoje, prestes a completar 11 anos, ele está muito bem, obrigado. Quem conta é sua dona, a empresária Márcia Barros. “Quando ele era mais novo começou a ter uns problemas de pele e precisou até tomar antibiótico. Mas depois que as lesões mais graves foram curadas, o próprio veterinário conversou com um colega especialista e este prescreveu um tratamento de homeopatia para prevenir que o problema voltasse a acontecer. Ele fez o tratamento e nunca mais teve nada”.
E a “gateira” acrescenta: “Agora mais recentemente, depois do nascimento da minha filha, provavelmente por ciúme ele apresentou uma queda na taxa das células de defesa do organismo que não foi contida com medicamentos alopáticos. O veterinário então optou por um tratamento continuo com homeopatia, que é o que está controlando a taxa num nível seguro para não comprometer sua saúde. Eu sempre gostei de homeopatia e o fato de dar certo com o meu gato só reforça a minha ideia”.
Outra história também muito interessante é a do labrador Ludwig, hoje com 4 anos, que quando tinha de 2 para 3 anos apresentou os primeiros nódulos que diagnosticaram um câncer de pele. Vinte e cinco dias após a cirurgia para retirada de um tumor, ele apresentou metástase. Seu dono, o engenheiro Kleber Hashimoto, fez a opção por um tratamento natural, pois não queria submetê-lo a quimioterapia. Foi então iniciado um tratamento com um medicamento muito utilizado pela antroposofia para câncer associado com medicamentos homeopáticos, florais e uma dieta de desintoxicação caseira. O tratamento durou três meses, a metástase foi controlada e ele recebeu alta.
“Fiz questão de seguir o tratamento rigorosamente e a base de sua alimentação neste período foi arroz integral com legumes e frutas. Além, é claro, da cura do câncer, o que mais me chamou a atenção é que ele mudou da água para o vinho. Hoje ele é um cachorro alegre e muito mais bem disposto. Ele está muito bem fisicamente e também está muito feliz”, ressalta Kleber, que até hoje inclui o arroz integral na alimentação de Ludwig, alternando com ração.
Silvestres e homeopatia
Casos de sucesso não se restringem somente aos consultórios que atendem pets. Médicos veterinários de animais silvestres também aplicam as terapias complementares em seus pacientes e alcançam resultados muito satisfatórios. Um exemplo é o caso relatado pela médica veterinária Pollyana Pires, do Santuário dos Grandes Primatas de Sorocaba, afiliado ao Great Ape Project / Projeto GAP.
Segundo Pollyana, em geral, quando possuem algo que está fora do normal, animais silvestres podem apresentar comportamento estereotipado e criar algumas manias. A própria adaptação ao cativeiro já é uma situação anormal para eles, que fica agravada quando o cativeiro não tem condições adequadas. Nos grandes primatas, especificamente com chimpanzés, há muitos casos de automutilação arrancando os pêlos.
“Como aqui no santuário recebemos chimpanzés que viveram por muitos anos em ambientes péssimos, temos alguns animais que são conturbados mentalmente e que arrancam seus pêlos. Um dos casos que tratei com a homeopatia foi o de Charles, um chimpanzé macho de 26 anos que viveu por muitos anos em zoológico. Infelizmente ele vive sozinho, pois agride outros chimpanzés, e acaba arrancando os próprios pêlos dos membros anteriores, o que resultou em grandes ferimentos superficiais”, conta Dra. Pollyana. “Mas em 21 dias de um tratamento com homeopatia, a maior ferida estava cicatrizada e a outra em processo de cicatrização. Ele ficou muito bem e mais calmo e o comportamento estereotipado sumiu. Em 45 dias não havia mais feridas.”
*Matéria publicada na edição 58 (agosto 2011) da Revista dos Vegetarianos