segunda-feira, outubro 31, 2005


De volta ao Ambiente (-se) ...


A preguicinha (filhote mesmo) acima achava que aquele domingo de janeiro iria ser como outro qualquer. Temperatura alta, muita chuva. Verão na Amazônia...

Mas sem saber explicar exatamente o que aconteceu, de repente as árvores foram se distanciando (tudo bem, não eram tantas assim, mas até que dava para morar bem nelas...). Em vez de um tronco, a preguicinha teve que se agarrar num objeto rosa-encardido, que não tinha um cheiro muito diferente de árvore. E, além disso, tinha um outro bicho, que ela reconheceu como sendo da espécie humana, que ficava balançando com força esse objeto rosa.

"O que será que ele quer comigo? Será que devo ficar com medo?", pensou a preguicinha.

E concluiu que devia: alguns poucos minutos depois de ter sido bruscamente desambientada, a preguicinha reconheceu outros dois humanos cabeludos falando com aquele que balançava o objeto rosa. Para piorar, esses dois andavam muito mais rápido, dentro de alguma coisa que também não parecia nada com uma árvore.

"Eu só quero voltar para as minhas árvores. Socorro!", a preguicinha, já com muito medo, começou a gritar.

Já muito assustada e em desespero, a preguicinha de repente caiu no chão. Que horrível! Não era terra e estava muito duro. Um dos humanos cabeludos a agarrou e ela não viu outra alternativa a não ser usar suas garras para arranhá-lo. O outro também tentou pegá-la, e mais uma vez, e muito a contragosto, ela usou as garras novamente. Só para assustar... Mas já era tarde demais. Quando se deu conta, a preguicinha estava no colo de um e do lado de outro dentro de um objeto fechado (ela nem acreditou quando depois disseram para ela que provavelmente aquilo devia ser um carro, uma forma que os homens acharam de andar mais rápido. 'Por que mais rápido, hein?!"ela teria perguntado).

Bom, dentro de um negócio que depois veio a saber o que era (embora não entendesse para que servia) e com dois humanos cabeludos, a preguicinha já estava prestes a desistir, achando que seria seu fim. Mas, surpreendentemente, ela até foi conseguindo ficar mais calma. Ela nunca soube explicar porque conseguiu relaxar, mas ela sentiu que, como ela, aqueles humanos também estavam procurando algumas árvores para se ambientar.

Mas demorava muito. A preguicinha, já bem mais relaxada, mas muito cansada, não aguentou e chegou a dormir. E sonhou que aquele colo na verdade era a sua árvore, aquela preferida entre todas as da floresta. O sonho foi uma delícia... ela perdeu a noção de quanto tempo sonhou.

Ainda sonhando começou a sentir, cada vez mais perto, cheiro de árvores. Muitos cheiros diferentes, mas todos de árvore. O seu ambiente. Quando acordou (pasmem!) ela estava de frente para uma árvore mesmo. Sem pensar duas vezes e com a velocidade que lhe é peculiar, a preguicinha deixou o colo do humano e abraçou a árvore. Depois, como mostra a foto, esticou um dos 'bracinhos' e ficou esperando aqueles dois humanos cabeludos que também procuravam as árvores. Ela esperou alguns minutos e não demorou muito para perceber que eles não iriam junto com ela para as árvores. Que pena...

"Talvez eles tivessem que voltar para andar mais rápido", lamentou. Deu um último tchau e se voltou, definitivamente, para seu ambiente. Subiu até a copa da árvore, até perder de vista.

Relato baseado em uma história real de ajuda dada a um filhote de bicho-preguiça, o da foto, que, sei lá por que cargas d'água, estava pendurado numa bolsa velha de um mendigo em plena avenida movimentada da cidade de Manaus. Eu e Fábio, em janeiro de 2005.

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