Por Jaqueline B. Ramos*
O argumento de que o planeta está sendo destruído por conta e risco do próprio homem pode parecer para alguns como algo ainda distante. Você sabe que está envolvido nos problemas ambientais, mas não sabe exatamente o que pode fazer para evitá-los ou, pelo menos, minimiza-los. A boa notícia é que a contribuição que cada um pode dar parte de um ato feito automaticamente todos os dias: o consumo. O pulo do gato é justamente passar a refletir sobre este ato, adotando uma postura de consumo consciente.
Como o próprio nome já diz, um consumidor consciente é aquele que reflete sobre suas escolhas e procura, no seu cotidiano, fazer opções por produtos e serviços que tenham características mais sustentáveis. Estas escolhas e opções vão desde a reavaliação da quantidade de produtos adquiridos até a análise das empresas das quais vai comprar em função de sua responsabilidade social, passando por economia de água e energia e reaproveitamento e reciclagem do que antes era considerado apenas lixo para ser descartado em aterros muitas vezes sem tratamento.
Um dos pilares do consumo consciente é pensar de forma inteligente no descarte de resíduos (lixo) gerados no dia-a-dia. Esta idéia pode ser resumida em um conceito chamado de 5Rs. O primeiro R é o da reflexão (refletir profundamente sobre o que é realmente necessário para nosso bem-estar, evitando consumo excedente). O segundo diz respeito a recusar (coragem de recusar o consumo de produtos desnecessários ou supérfluos). O terceiro é de reduzir (ponderação para reduzir o consumo dos produtos necessários). O quarto significa reutilizar (decisão de reutilizar embalagens e outros produtos, renovando seus usos tanto quanto possível, aumentando sua vida útil e retardando o seu descarte). E finalmente o quinto diz respeito à famosa reciclagem (iniciativa de encaminhar todos os produtos utilizados e, quando possível, reutilizá-los para a reciclagem).
A importância e papel fundamental do consumo consciente para a construção de um mundo mais justo e equilibrado são reforçados quando analisamos os números atuais sobre a saúde do planeta. Estima-se que se o atual ritmo de exploração continuar, em um século não haverá fontes de água ou de energia, reservas de ar puro nem terras para agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida.
Atualmente, mesmo com metade da humanidade situada abaixo da linha de pobreza, já se consome 20% a mais do que a Terra consegue renovar. Se a população do mundo passasse a consumir como os norte-americanos, por exemplo, seriam necessários mais três planetas iguais a este para garantir produtos e serviços básicos como água, energia e alimentos. O consumo consciente vai justamente na contra-mão deste modelo descompromissado, marcado pela falta de análise racional dos produtos e serviços e pela cultura do descartável e do desperdício.
Vantagens para o planeta, para o bolso e para a saúde
Não é difícil concluir que as vantagens do consumo consciente se refletem no equilíbrio do planeta e também do seu bolso. Os atos de refletir sobre o que comprar, recusar produtos supérfluos, reduzir de uma forma geral o consumo e reutilizar o que for possível resultam, por si só, em economia. Em outras palavras, usar racionalmente água e energia, seja na iluminação em casa ou em combustível nos carros, reaproveitar alimentos, entre outras atitudes (veja dicas práticas para o dia-a-dia no box) levam a um gasto médio mensal menor.
E se não bastasse, além de toda a vantagem ambiental e econômica, o consumo consciente também faz bem para a saúde do consumidor. O estudo Diet, Energy and Global Warming (Dieta, Energia e Aquecimento Global), lançado no ano passado pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), demonstra que hábitos alimentares mais saudáveis contribuem para a sustentabilidade do planeta. O consumo variado de frutas, legumes e verduras é mais saudável e sustentável do que uma alimentação baseada somente em alimentos gordurosos e carne vermelha. Para citar um exemplo, são necessários nada mais nada menos do que 20 mil litros de água para produzir apenas um quilo de carne.
O estudo americano também provou que uma dieta com perfil mais vegetariano (evitando o consumo exacerbado de carnes) consiste numa forma simples de consumir sem agredir o meio ambiente, enquanto hábitos alimentares com predominância de comida industrializada e proteína animal contribuem diretamente para o agravamento de problemas ambientais, inclusive o tão temido aquecimento global.
A produção, estocagem e conservação de alimentos enlatados, embutidos e fast-food - todos com processamento industrial - é responsável por cerca de 20% da queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo) nos Estados Unidos. Ou seja, uma dieta pouco saudável para o homem também é responsável por uma emissão significativa de gases de efeito estufa, donde conclui-se que o consumidor consciente pode, por meio de sua escolha alimentar, contribuir para não aprofundar o problema de mudanças climáticas.
Depois disso tudo, alguma dúvida de que o consumo consciente é uma opção, no mínimo, inteligente?! Veja algumas dicas práticas de consumo consciente e leia a entrevista de Maluh Barciotte, consultora do Instituto Akatu, que fala sobre o perfil do consumidor consciente e a influência na mudança de modelos de produção insustentáveis.
Veja mais detalhes sobre cada uma dessas dicas no site do Instituto Akatu (http://www.akatu.net/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=19)
Fontes: Livro “Como Cuidar do seu Meio Ambiente” e Instituto Akatu
Entrevista: Maluh Barciotte, consultora do Instituto Akatu
O Instituto Akatu é uma organização não-governamental e foi criado em 15 de março (Dia Mundial do Consumidor) de 2001. A palavra “Akatu” vem do tupi e significa, ao mesmo tempo, “semente boa” e “mundo melhor”. Ela traduz a idéia de que o mundo melhor está contido nas ações de cada indivíduo. A missão do Akatu é conscientizar e mobilizar o cidadão brasileiro para o seu papel protagonista, enquanto consumidor, na construção da sustentabilidade da vida no planeta. Maluh Barciotte é uma das consultoras do instituto e deu a seguinte entrevista para a Revista do IEA:
IEA: Qual é o perfil de um consumidor consciente?
Maluh: O mundo hoje exige que você repense suas ações e o consumidor consciente é o cidadão que faz isso. Ele tem consciência dos atos das práticas de consumo e dos impactos causados, num longo prazo, para o meio ambiente, para a sociedade, para a economia e para ele mesmo. Por isso age tendo como referência três pilares de reflexão e atuação: a compra, o uso e o descarte. A partir do momento que as pessoas percebem que o que faz mal para sua vida pessoal também faz mal para o planeta, o consumo consciente passa a ser visto como uma oportunidade, e não como um sacrifício ou um problema.
IEA: Qual é o primeiro passo para se tornar um consumidor consciente?
Maluh: O consumo consciente nasce da idéia de refletir sobre o consumo. O primeiro passo é perceber que muitos produtos são consumidos apenas porque são oferecidos, e não exatamente porque você precisa deles. Outra questão que o consumidor consciente deve ter em mente é a da visão integradora, aquela que percebe as interdependências sistêmicas entre o físico, o social, o econômico, o social etc, que é a idéia da sustentabilidade. Daí ele se dá conta da importância das suas ações cotidianas e vê que tudo está interligado.
IEA: O consumo consciente tem realmente poder de mudar modelos de produção insustentáveis?
Maluh: As ações cotidianas têm influência na mudança de modelos de produção e também de políticas públicas. É o que chamamos de pedagogia do cotidiano: muitas pessoas fazendo juntas num longo tempo e criando novos modelos. Se a demanda for por produtos mais conscientes, com certeza a indústria vai ser obrigada a mudar. O que acontece hoje é que o consumidor em geral ainda não tem o hábito de investigar e exigir informações mais detalhadas sobre o produto ou serviço que está comprando.
IEA: Mas o Akatu percebe algum avanço nesta percepção de consumo mais consciente?
Maluh: Sim, felizmente percebemos que cada vez mais informações estão sendo divulgadas, refletindo em alguns resultados. No ano 2000 fizemos uma pesquisa com 1000 pessoas perguntando “O que é uma empresa com responsabilidade social?”. Cerca de 41% responderam que é a que está dentro da lei e 35% afirmaram que é aquela que, além de estar dentro da lei, contribui com ações para construir uma sociedade melhor. Em 2005 repetimos a mesma pesquisa e o resultado foi melhor: 64% dos participantes optaram pela alternativa que vai além da obrigação da lei. A consciência em relação a este assunto está crescendo.
*Matéria publicada na edição n. 73 da Revista do Instituto Ecológico Aqualung (maio-junho 2007).
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