Curtas
por Jaqueline B. Ramos*
Últimas da Amazônia 1
Apesar de anunciar oficialmente um possível ritmo de diminuição nos índices de desmatamento da Amazônia, dados relativos à expansão da pecuária na floresta mostram que a tendência não é bem de conservação. Segundo recente reportagem do jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 2004 e 2007, somente o estado do Pará aumentou a exportação de carne proveniente da Amazônia Legal em 7.800%.
O crescimento, tão alto que chega a ser incomensurável, tem ligação direta com o aumento do desmatamento, que por sua vez é incentivado por terras baratas e crédito oficial a juros subsidiados. Ou seja, graças a um empurrãozinho do Governo, sai muito mais barato desmatar que investir na recuperação de pastos. Juntando isso ao preço elevado dos produtos agrícolas no mercado mundial, agropecuaristas se vêem num cenário perfeito para avançar sobre a Amazônia em busca de terras baratas e desocupadas para colocar seu gado e plantar suas monoculturas de soja.
Últimas da Amazônia 2
Numa espécie de resposta aos dados alarmantes de desmatamento da floresta que vem sendo divulgados, o Governo anunciou um pacote que visa dar anistia a quem derrubou ilegalmente áreas na Amazônia Legal. De acordo com o plano, que ainda está em estudo pelos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, empresas e agricultores poderão manter 50% das fazendas desmatadas, voltar à legalidade e ter direito ao crédito agrícola oficial se aceitarem recuperar e repor a floresta da outra metade de suas propriedades.
Fazendo as contas, se o plano for aprovado isso significa que o Governo vai legalizar 220 mil quilômetros quadrados de Amazônia desmatada ilegalmente, uma área correspondente à soma dos estados do Paraná e Sergipe. Detalhe: a obrigatoriedade estabelecida no Código Florestal define uma reserva legal correspondente a 80% do tamanho do imóvel, podendo desmatar e produzir nos demais 20%. Felizmente, a idéia é que o código continue valendo para que não derrubou floresta e para novos proprietários.
Mesmo defendendo o raciocínio que é melhor 50% da mata recuperada do que zero, o Governo abriu espaço para discussões e críticas em relação à "anistia dos desmatadores". "Se a decisão não vier acompanhada de outras medidas, como o controle do crédito e a punição para os que agem na clandestinidade, não resolverá nada", disse à imprensa Adalberto Veríssimo, diretor e pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ao ser perguntado sobre o pacote do Governo.
Baleias em perigo...
Se não bastasse a abertura da temporada de caça às baleias na Antártica, liderada pelos japoneses, do outro lado do mundo, mas precisamente na costa atlântica da Patagônia argentina, especialistas estão tentando descobrir a causa de uma mortandade atípica dos animais. De acordo com o Programa de Monitoramento Sanitário da Baleia-Franca, realizado há cinco anos por três entidades não-governamentais no sul do país, a média anual de mortes saltou de 40 para 85 entre os meses de outubro e novembro.
Com cerca de 5,3 mil exemplares, a colônia de baleias-franca que chega todos os anos à costa Argentina para o período de reprodução é uma das maiores do mundo e atrai milhares de turistas. No entanto, a mortalidade em 2007 foi a maior registrada desde 1971. A grande maioria dos animais mortos é de filhotes e os cientistas trabalham com diversas hipóteses para a causa das mortes, entre elas (e a mais provável) a contaminação causada pelas toxinas das microalgas que dão origem à maré vermelha.
Enquanto isso, na Antártica, as baleias não são vítimas da maré vermelha, mas continuam na mira dos navios japoneses. Neste verão protestos em campo lideradas pelo governo da Austrália e pelas ONGs Sea Shepherd e Greenpeace conseguiram deter algumas ações dos baleeiros, mas mesmo assim algumas capturas aconteceram. E para a situação ficar ainda pior, o grupo conservacionista Humane Society International denunciou que mais da metade das baleias assassinadas em águas da Antártica nos últimos meses estavam grávidas. Das 505 baleias minke capturadas, 262 eram fêmeas grávidas. “São horríveis estatísticas que o governo japonês disfarça como ciência”, declarou Nicola Beynon, porta-voz do grupo na Austrália.
... nos mares ameaçados
Ao que tudo indica, o homem não vêm dando trégua para as baleias e nem para os oceanos. Pelo menos é o que mostra um recente estudo internacional divulgado em fevereiro cujo resultado principal foi a verificação de que nada mais nada menos do que 40% das águas do planeta estão severamente afetadas devido aos impactos antrópicos sobre os mares. Ainda segundo o estudo, apenas 4% de toda a superfície aquática se encontra em níveis aceitáveis de preservação.
Pesquisadores analisaram 17 tipos de impactos humanos nos ecossistemas marinhos, entre eles a pesca predatória, a poluição e o aquecimento, e montaram um mapa, com o objetivo de que o documento auxilie os governos e ONGs no planejamento de novas ações de conservação. Embora a costa brasileira não se encontre entre as regiões mais críticas, o litoral do sudeste, em específico, foi considerado uma área sob alto impacto, devido ao lançamento indiscriminado de esgoto e lixos doméstico e industrial.
Bem-estar aquático
No meio de tantas notícias desanimadoras, uma decisão de uma corte distrital da Califórnia, nos Estados Unidos, pode ser considerada uma luz no fim do túnel. A corte direcionou à Marina norte-americana uma proibição preliminar do uso de sonares de baixa freqüência - Low Frequency Active (LFA) – durante testes e treinamentos em áreas identificadas como habitats de mamíferos aquáticos em situação de risco. Sinais de baixa freqüência dos sonares alcançam grandes profundidades e reverberam nos oceanos em níveis que podem impactar signficativamente o sistema de comunicação, baseado em som, de vários seres marinhos (reprodução, busca por comida etc).
A decisão da Justiça californiana, feita no início do ano, foi celebrada por instituições que desenvolvem trabalhos de conservação e proteção animal. "Esta decisão representa uma nova esperança para a vida de baleias e outros mamíferos aquáticos", declarou Jeffrey Flocken, diretor em Washington do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW, em inglês).
Hamburguers mais conscientes
E falando em bem-estar animal, um dos maiores inimigos dos defensores dos direitos dos animais, o MacDonald's, está anunciando medidas que visam melhorar as condições de bem-estar dos animais que dão origem à matéria-prima dos sanduíches. Pelo menos foi o que anunciou a rede britânica da lanchonete no início do ano, afirmando que bem-estar animal está se tornando um assunto muito discutido e considerado pelo consumidor nos dias atuais.
O MacDonald's na Grã-Bretanha vem servindo ovos de galinhas criadas fora de confinamento há 10 anos e recentemente anunciou que está estudando mecanismos de uma criação ainda mais livre das aves. A rede também estaria estudando formas de criar porcos de forma a que eles possam praticar seu comportamento natural, uma vez que no confinamento o estresse faz que um animal morda o rabo do outro, causando sérios ferimentos (e fazendo com que os criadores optem por uma amputação do rabo como medida preventiva para o problema). Em declaração oficial, a rede britânica da marca teria afirmado que "não se importa em pagar um preço justo por um padrão maior de bem-estar dos animais, porque acredita que isso agrega valor aos produtos e é reconhecido pelos clientes."
Como construir uma casa sustentável
Cada vez vai ficando mais difícil afirmar que a construção de uma casa sustentável não é possível por falta de informação ou conhecimento técnico. A Finep - Financiadora de Estudos e Projetos, empresa ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, disponibilizou para download gratuito o livro "Habitações de baixo custo mais sustentáveis: a Casa Alvorada e o Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis." A obra, resultado do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), reúne o histórico e os princípios norteadores dos estudos sobre construções e projetos mais sustentáveis desenvolvidos por integrantes do Núcleo Orientado para a Inovação na Edificação (Norie), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Além de apresentar princípios gerais e diretrizes da sustentabilidade, a publicação descreve detalhadamente estratégias específicas adotadas na busca de conforto ambiental e eficiência energética, aproveitamento e reuso de recursos naturais, gestão da água da chuva e de águas residuais, paisagismo sustentável, escolha de materiais e sistemas construtivos, entre inúmeros outros aspectos priorizados pela construção sustentável. Mais informações no site do programa Habitare - www.habitare.org.br.
Shark oil-free
Uma boa notícia para a conservação de tubarões no mundo foi divulgada recentemente pela ONG Oceana. Depois de se engajar em uma grande campanha mundial contra o uso de óleo de fígado de tubarão - conhecido como squalene, em inglês - em cosméticos, a organização recebeu um comunicado oficial da multinacional Unilever anunciando que a empresa decidiu parar com o uso da substância na produção de suas linhas de cosméticos, entre as quais as famosas Pond's e Dove. A empresa declarou que fará a substituição por uma versão vegetal do óleo e que a nova linha de produção shark oil-free deve levar os primeiros produtos ao mercado já em abril desse ano.
O óleo squalene é encontrado em grandes quantidades em fígados de tubarões, principalmente dos que vivem em maior profundidade. Devido ao valor comercial da substância, usado como emoliente em vários produtos, a captura dos animais especificamente para extração do óleo alcançou níveis alarmantes. Isso contribuiu para a diminuição significativa da população de algumas espécies e levou alguns tubarões para a lista vermelha de ameaçados de extinção. A Europa é o continente que mais extrai e comercializa o óleo de tubarão.
Transgênicos liberados
Na contra-mão sobre os questionamentos e dúvidas acerca dos alimentos transgênicos, o Governo Brasileiro liberou, no início de fevereiro, o plantio e comercialização de duas variedades de milhos transgênicos: um da Bayer (Liberty Link) e um da Monsanto (MON810). Segundo o Greenpeace Brasil, sete dos 11 ministros do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) ignoraram a documentação fornecida que apresentava evidências contra os milhos geneticamente modificados. Votaram a favor da liberação dos milhos transgênicos os ministros da Agricultura, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores, Desenvolvimento, Defesa, Justiça e Casa Civil. E contra, os representantes das pastas de Saúde, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Aqüicultura e Pesca.
“Infelizmente os ministros do Conselho cometeram o mesmo erro de cientistas da CTNBio ao ignorarem tantos documentos importantes que colocam em dúvida a segurança desses milhos. Alguns países europeus proibiram nos últimos meses a comercialização desses produtos justamente por conta dos problemas apontados por essa documentação”, aponta Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil. A ONG declarou que agora vai iniciar campanha para alertar a população brasileira sobre os riscos desses produtos e que também pretende cobrar das autoridades e empresas o respeito à lei de rotulagem, que exige a identificação de todos os produtos fabricados no país com 1% ou mais de matéria-prima transgênica. Esta lei está em vigor desde 2004, mas só começou a ser cumprida este ano, e, mesmo assim, apenas por duas empresa (Cargill e Bunge) para um único produto (óleo de soja).
Soluções em energia
Investimentos de R$ 220 milhões em processos de geração de energia que não agridam o meio ambiente. Trata-se de um centro de desenvolvimento montado pela Vale do Rio Doce e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que leva o nome "CDTE - Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Energia". A sede da nova empresa será no Rio de Janeiro, mas o centro de desenvolvimento das tecnologias e processos funcionará no Parque Tecnológico da cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Sendo uma das maiores consumidoras de energia do país, a Vale do Rio Doce está buscando diversificar e otimizar sua matriz energética utilizando mais carvão térmico, combustíveis renováveis e gás natural.
Lixeira flutuante
A maior lixeira do mundo equivale a duas vezes o tamanho dos Estados Unidos e (pasmem!) está no mar. Oceanógrafos norte-americanos chamam as 100 milhões de toneladas de resíduos que flutuam no Oceano Pacífico do Japão ao Havaí de "sopa de plástico". A lixeira flutuante vem sendo acompanhada desde 1997 e, infelizmente, não tem parado de crescer. Charles Moore, oceanógrafo que descobriu o fenômeno, afirma que os resíduos não biodegradáveis mantêm-se concentrados devido às correntes oceânicas, a 500 milhas náuticas da costa da Califórnia.
Cerca de um quinto dos resíduos seriam provenientes de descargas de navios e de plataformas petrolíferas e o restante teria origem no continente. Por isso, o alerta de Moore é que, a menos que os consumidores reduzam os seus resíduos plásticos, a lixeira pode duplicar de tamanho nos próximos dez anos. Em tempo: segundo a ONU, os resíduos de plástico são responsáveis pela morte de mais de um milhão de aves marinhas e mais de cem mil mamíferos marinhos por ano.
Fontes: BBC Brasil, O ECO, ENN (Environmental News Network), Greenpeace Brasil, Folha de SP, Agência Fapesp
*Publicado no informatino n. 77 (janeiro/fevereiro 2008) do Instituto Ecológico Aqualung. Versão em PDF aqui.
quarta-feira, março 19, 2008
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