terça-feira, setembro 23, 2008

Setor aéreo quer cortar poluentes

Foto: Ipanema a álcool (divulgação Embraer)

Por Jaqueline B. Ramos*

Falamos muito em deixar o carro na garagem e usar bicicletas e transporte público como uma forma de mitigar nossa pegada ambiental no planeta. Mas em tempos de economia globalizada, um meio de transporte que é insubstituível em algumas situações está ficando cada vez mais popular – e, conseqüentemente, ganhando o seu espaço na “lista dos culpados” pelo aquecimento do planeta: o avião.

O sonho de voar, perseguido pelo homem desde sempre, hoje pode ser considerado uma realidade e ganhou forma nos acelerados avanços na aviação (militar, comercial e executiva) assistidos no último século. Mas tamanho avanço não poderia passar incólume. Segundo dados da ONU, hoje o transporte aéreo – que gera aproximadamente 8% do PIB mundial - é responsável por 2% das emissões globais de gás carbônico, com previsão para que este número cresça para 3% até 2050. O número pode até parecer pequeno, mas os esforços visando uma aviação mais limpa (felizmente) não parecem ser. Inclusive no Brasil, um dos países que se destacam no mercado aeroespacial mundial por conta da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica, líder na fabricação de jatos comerciais de até 120 assentos.

Segundo a fabricante de aeronaves, estima-se que nos últimos 40 anos a aviação mundial tenha reduzido em 70% suas emissões de gás carbônico e óxidos de nitrogênio. Mas apesar deste bom resultado, as metas, principalmente de viabilizar combustíveis mais limpos, não param por aí. Na Cúpula de Aviação e Meio Ambiente, reunião internacional realizada em Genebra em abril deste ano, as grandes empresas da indústria da aviação mundial – entre elas a Embraer, a Boeing, a Bombardier e a Airbus - assinaram o “Aviaton Industry Commitment to Action on Climate Change”, no qual se comprometeram a acelerar os investimentos em tecnologias e materiais que diminuam o impacto da atividade no meio ambiente.

“É importante ressaltar que este compromisso envolve todas as partes da indústria de transporte aéreo, não só a fabricação de aeronaves. Cada empresa tem a sua responsabilidade neste processo e além da eficiência dos combustíveis, outro objetivo importante firmado neste encontro é a melhoria da elaboração de rotas aéreas, da gestão do tráfego aéreo e das infra-estruturas aeroportuárias”, explica Guilherme de Almeida, responsável por estratégias de tecnologias de meio ambiente da Embraer, informando que o setor pretende alcançar um índice de 12% de eficiência do controle de tráfego aéreo já nos próximos anos.

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Leia a matéria completa no site O ECO.

*Matéria publicada no site O ECO em 22/09/2008
Direitos dos Animais: ética e respeito

por Jaqueline B. Ramos*

Foto: Ditty e seu filho, Pedrinho. Os chimpanzés vivem em um santuário no interior de SP (Jaqueline B. Ramos)

A análise da forma como nos relacionamos com a natureza suscita uma outra reflexão que merece atenção especial: a forma como o homem se relaciona, usa e/ou explora os animais não humanos. Hoje em dia não existem mais dúvidas sobre a senciência dos animais (sua capacidade de sentir dor ou prazer) e assuntos como a ética na utilização de animais em circos até o uso de animais pela ciência, passando pelos impactos ambientais e o respeito ao bem-estar animal nos processos da pecuária industrial, estão bem mais presentes na pauta de discussões da sociedade como um todo. Em meio a esta necessidade do homem de repensar sua “supremacia” sobre os animais não-humanos, uma nova corrente de reflexão e ação vem se delineando e ganhando espaço no Brasil e no mundo: a do Direito dos Animais.

Em 1928, o professor italiano Cesare Goretti afirmou que “quem maltrata um animal desconhece a dor universal que há em cada ser vivente; ofende um direito que existe, mesmo que o animal não tenha os meios para fazê-lo valer.” Centenas de anos antes personalidades como Francisco Bernardone (São Francisco de Assis), Leonardo Da Vinci e Mahatma Gandhi, este último já no século XX, já emprestavam suas vozes para a defesa dos direitos dos animais.

Mais recentemente nomes como o do filósofo australiano Peter Singer, da primatologista britânica Jane Godall e do escritor sul-africano J.M. Coetzee (prêmio Nobel de Literatura de 2003 com o livro “A Vida dos Animais”) contribuíram, com suas descobertas e estudos, para a construção da percepção de que tratar os animais com respeito e dignidade é mais que uma questão de ética. Como diz o promotor público Laerte Levai no livro “Direitos dos Animais”, “pouco a pouco as pessoas vão tomando consciência de que, ao tratar com dignidade os animais, não lhe estão concedendo favores, mas fazendo cumprir os direitos que a eles pertencem”.

Direito constitucional: Felizmente, no Brasil, país em que a legislação ambiental é tida como uma das mais avançadas do mundo, a proteção aos animais tem espaço na própria Constituição Federal de 1988. No artigo 225, inciso VII, define-se que “cabe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade.” Esta idéia embasou o artigo 32 da famosa Lei de Crimes Ambientais (9605, de 1998), que considera infração penal a conduta de crueldade para com os animais.

No entanto, como afirma Dr. Laerte no seu livro, apesar de todo o aparato legal, é muito difícil, sem o exercício da cidadania e a efetiva atuação das autoridades, mudar o cenário de desolação que vem causando, há séculos, tanto sofrimento aos animais. A partir deste raciocínio pode-se afirmar que, além da falta de atuação de fiscalização efetiva dos órgãos competentes, um dos principais obstáculos para a implementação plena dos direitos dos animais seja a subjetividade por trás do conceito de crueldade e maus-tratos. Por exemplo: manter um animal silvestre preso numa jaula minúscula em um circo pode não ser interpretado como mau-trato caso se acredite no argumento de que os animais são bem alimentados e fazem parte da “família”. Mas o fato é que o simples fato de privar um animal selvagem de usufruir seu ambiente natural com fins econômicos deve sim ser considerado um mau-trato. Sem contar os outros malefícios causados a animais que são explorados como produtos ou objetos, ou, muitas vezes, caçados e tirados cruelmente de seu habitat.

Dificuldades à parte, o fato é que “Direitos dos Animais” é uma área que vem ganhando cada vez mais vulto e credibilidade. Inclusive no Brasil. No ano de 2005, o professor e promotor de Justiça baiano Heron Santana conduziu um caso que se tornou referência mundial na área. Juntamente com professores e estudantes de direito e associações de defesa dos animais, Dr. Santana ingressou com Habeas Corpus em favor da chimpanzé Suíça, de 23 anos, que se encontrava no Zoológico de Salvador há 4 anos.

Depois que o companheiro de Suiça, Geron, morreu de câncer, a chimpanzé passou a se comportar de forma estranha, o que justificaria a necessidade de ser solta. Suiça foi o primeiro animal no mundo a ser reconhecido como sujeito jurídico de uma ação, mas não teve tempo de aproveitar a liberdade. O ganho de causa foi concedido um dia depois em que ela foi achada morta em sua jaula. Mas mesmo assim o caso cumpriu um papel muito importante para a própria conscientização dos juízes que analisam as causas que dizem respeito aos direitos dos animais.

Em 2007 um outro acontecimento mereceu destaque. O Juiz Gustavo Alexandre Belluzzo, da 6ª Vara Cível da Comarca da cidade de São José dos Campos, aceitou ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e proibiu o circo Le Cirque de fazer apresentações com animais no território do estado de SP. O texto da sentença cita a Constituição Federal e uma lei estadual de Proteção aos Animais, de 2005, a apresenta, entre outros argumentos o de que “atestados veterinários e de pereceres positivos do IBAMA atendem ao aspecto meramente formalístico. Na prática, a submissão dos animais nos espetáculos circenses leva a uma situação de abusividade e crueldade que não pode mais ser tolerada pela sociedade moderna.”

Apesar desses avanços pontuais, muito ainda há que se percorrer para que os animais sejam tratados com o respeito que merecem. Experimentação com animais e discussões sobre abates humanitários e criação intensiva para alimentação, por exemplo, são assuntos delicados que ainda dividem opiniões e geram conflitos. Porém, o mais importante é que a discussão seja precedida pela reflexão e resulte em ações. E aí entra o papel e responsabilidade de cada um. De acordo com o jainismo (religião hindu), não devemos fazer mal a nenhum ser vivo e a libertação depende do nosso esforço individual. Gandhi, influenciado por esta ideologia, defendia na sua luta pela paz a piedade a todos os animais, lembrando que indefesos e vítimas da maldade humana, estas criaturas não têm forças sozinhas para resistir. Em outras palavras, poderíamos dizer que todo animal possui direitos e merece ser respeitado. Inclusive você.

Fonte: Livro “Direito dos Animais”, de Laerte Fernando Levai (editora Mantiqueira)

Declaração Universal dos Direitos dos Animais

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi assinada em 1978, durante assembléia da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) na Europa em 1978. Embora seja considerado um marco no movimento de defesa animal, a declaração não possui força de lei. Os dez princípios da declaração são:

1- Todos os animais têm o mesmo direito à vida.


2- Todos os animais têm direito ao respeito e a proteção do homem.

3- Nenhum animal deve ser maltratado.

4- Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres em seu habitat.

5- O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca abandonado.

6- Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.

7- Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.

8- A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais.

9- Os direitos dos animais devem ser defendidos por lei.

10- O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.

Projeto GAP – Direitos dos Grandes Primatas

O Great Ape Project (Projeto dos Grandes Primatas), ou GAP, é um movimento internacional criado em 1994 cujo objetivo maior é lutar pela garantia dos direitos básicos à vida, liberdade e não-tortura dos grandes primatas não humanos - Chimpanzés, Gorilas, Orangotangos e Bonobos, os parentes mais próximos do homem no mundo animal. Para tanto o projeto criou a Declaração Mundial dos Grandes Primatas, documento que oficializa os direitos creditados a estes animais.

O GAP nasceu a partir de idéias desenvolvidas em um livro de mesmo nome, escrito pelos filósofos Paola Cavalieri e Peter Singer, este último considerado um dos precursores no mundo do movimento de defesa de direitos dos animais. No livro, os autores e outros especialistas, entre os quais a primatóloga britânica Jane Goodall, explicam que os seres humanos e os grandes primatas compartilham características como organização social, comunicação e fortes laços afetivos entre os indivíduos, o que lhes conferem inteligência e, conseqüentemente, direitos muito similares aos nossos.

Atualmente o GAP tem representações em vários países, entre eles o Brasil. Aqui as primeiras idéias foram implantadas por volta do ano 2000 na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. Um chimpanzé órfão de 3 meses de idade foi adotado e criado como humano pelo microbiologista Pedro Ynterian, que acabou fundando o primeiro santuário brasileiro para os animais. O "bebê" ganhou o nome de Guga e despertou o interesse pela pesquisa e acompanhamento de chimpanzés vítimas de maus-tratos no país, dando início às atividades do GAP Brasil.

Em 2008, o GAP Brasil país conta com quatro santuários afiliados e alinhados com as idéias do Great Ape Project. Juntos eles hospedam 74 chimpanzés, a maioria resgatada após sofrer maus-tratos em circos ou viver em condições inadequadas em zoológicos. As atividades com chimpanzés no Brasil se destacaram tanto que em agosto de 2008 o Brasil foi eleito como país sede do projeto internacional.

Mais informações sobre o GAP Brasil /Internacional – www.projetogap.org.br

*Matéria publicada no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung (n. 80, julho/agosto 2008 - acesse aqui).


Curtas ambientais

Por Jaqueline B. Ramos*

Condenação em massa

Numa decisão inédita, a Justiça Federal da cidade de Eunápolis, na Bahia, condenou empresa e órgãos ambientais juntamente por desmatamento de uma área de 96 mil hectares da Mata Atlântica. A empresa é a Veracel Celulose e os órgãos ambientais são o Centro de Recursos Ambientais (CRA), de âmbito estadual, e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA. A ação foi movida pelo Ministério Público Federal, que denunciou a concessão ilegal de licenças dadas pelos órgãos para a empresa plantar eucalipto em área de mata nativa no extremo sul do estado entre os anos de 1993 e 1996.

A Veracel terá que restaurar, com vegetação nativa, a área desmatada e também foi condenada a pagar uma multa de R$ 20 milhões pelo desmatamento da Mata Atlântica. O CRA foi condenado a pagar 10% do total da multa e o IBAMA terá que apresentar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do processo de licenciamento da Veracel.

O padre José Koopmans, de Teixeira de Freitas (BA), acompanhou todo o processo de implantação da empresa e foi um dos responsáveis pela denúncia no Ministério Público. Ele declarou para a imprensa na época da divulgação da sentença: "Apenas agora, quinze anos depois, estamos vendo o resultado das primeiras denúncias que fizemos contra a Veracel. Ficou comprovado que aquele processo de implantação sem os estudos necessários foi ilegal". Este é mais um alerta sobre a fragilidade do processo de licenciamento ambiental conduzido pelo Governo, que muitas vezes acaba concedendo licenças sem os critérios técnicos necessários.

Ainda sobre a Mata Atlântica

Mesmo reconhecendo ilegalidades cometidas contra a Mata Atlântica e com a Justiça definindo condenações que visam ajudar na sua recuperação, as notícias sobre a conservação do bioma brasileiro mais ameaçado não são muito boas. Segundo a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), um estudo realizado pela Universidade do Paraná (UFPR) conclui que a regeneração do bioma é mais complicada do que se imaginava e pode levar milhares de anos.

Com base nos dados de 18 florestas do sul e sudeste do Brasil, os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para calcular o tempo necessário para que a Mata Atlântica recupere suas características originais. E chegaram à conclusão que algumas áreas levariam de 100 a 300 anos para se recuperar, enquanto outras levariam de mil a quatro mil anos. Para a professora Márcia Rodrigues, do Laboratório de Ecologia Vegetal do Departamento de Botânica da UFPR, a demora para recuperar a Mata Atlântica está ligada à ação do homem no meio ambiente. "Os órgãos ambientais precisam de mais profissionais, pois seus trabalhos ficam aquém do esperado. Além disso, é necessário dar condições econômicas para a população carente que vive próxima às áreas, que acaba usando os recursos da floresta.”

Alimentos X Biodiesel

No cenário de conflito entre alimentos e biodiesel, que vem ganhando manchetes internacionais, um projeto de lei brasileiro tem como objetivo criar um sistema de controle para que a produção de alimentos não fique comprometida. Trata-se do PL 3508/08, do deputado Cleber Verde (PRB-MA), que obriga o produtor rural a plantar um hectare de alimentos para cada hectare que cultivar com lavouras destinadas à produção de biodiesel.

O texto do PL define que o produtor rural informará anualmente ao órgão competente a destinação de suas áreas de lavouras e terá prazo de três anos, contados da data de vigência da lei, para se adaptar às regras. Quem violar a lei ficará impedido de obter financiamentos com recursos do crédito rural por, no mínimo, cinco anos, além de outras sanções definidas em regulamento.

Na avaliação do autor do PL, o Brasil tem perseguido agressiva política de promoção da produção de biodiesel, além da produção de etanol. "A posição do governo é que o país dispõe de terra suficiente para produzir alimentos e combustíveis, não tendo de optar entre um ou outro. Mas o governo esquece que são necessários "investimentos pesados" para correção e descompactação do solo, fertilização e combate de pragas”, declarou o deputado. O PL está sendo analisado, em caráter conclusivo, por comissões da Câmara dos Deputados.

Boas e más notícias para os primatas

Os últimos meses foram de boas e más notícias para os primatas. Enquanto primatólogos anunciavam a descoberta de 125 mil gorilas-da-planície-ocidental nas profundezas da floresta equatorial da República do Congo, um levantamento divulgado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) indica que quase metade das espécies de primatas corre risco de extinção.

Começando pela notícia boa, a descoberta no Congo foi muito celebrada pelo fato dos gorilas estarem entre os primatas mais ameaçados do mundo, pela pressão de caça e do vírus Ebola. E acredita-se agora que a população estimada da espécie possa dobrar. Levantamentos feitos nos anos 80 indicavam que a população dos gorilas era inferior a 100 mil indivíduos e previa-se um declínio de, pelo menos, 50% desde então. Agora estima-se que a população real deve estar entre 175 mil e 225 mil gorilas.

Mas nem por isso os conservacionistas devem relaxar achando que os animais estão salvos. "Não podemos nos tornar complacentes. O Ebola é capaz de matar milhares deles num período muito curto", afirmou para a imprensa Emma Stokes, membro da equipe de pesquisa com os grandes primatas. Nesta mesma linha mais alarmista, a IUCN divulgou a notícia ruim: quase metade das 634 espécies e subespécies dos parentes mais próximos do homem corre risco de desaparecer. A pior situação estaria na Ásia, onde 71% dos primatas foram classificados como "vulneráveis", "ameaçados" ou "criticamente ameaçados".

Segundo a IUCN, a destruição de habitats naturais e, mais recentemente, a caça para o comércio ilegal ou a alimentação explicam a dizimação das espécies. Na América do Sul, a IUCN considera que 40% das espécies de primatas estão correndo perigo e apresentou, no meio do alarme, um caso brasileiro como sinônimo de sucesso: a preservação de micos-leões na Mata Atlântica. Na lista vermelha, a IUCN passou a considerar como “ameaçadas" – e não "criticamente ameaçadas" - duas espécies de micos-leões, os dourados e os pretos.

Estrada amiga dos animais

O Brasil ganha uma estrada 'amiga dos animais'. Com o intuito de diminuir as mortes por atropelamento, que hoje são consideradas como a segunda maior causa da perda de biodiversidade em todo o planeta, ficando atrás apenas da destruição dos ambientes naturais, a rodovia ES-060 (Rodovia do Sol), no Espírito Santo, conta com profissionais que percorrem a estrada recolhendo e identificando os animais atropelados. A intenção é entender os padrões dos acidentes para assim elaborar novas maneiras de lidar com o problema.

A rodovia, que corta três unidades de conservação e liga Vitória e Guarapari, é a única que realiza o monitoramento sistemático de animais silvestres atropelados. As rondas na estrada são feitas a cada 90 minutos, todos os dias do ano e durante 24 horas, num trecho de 57,7 km. Nos Estados Unidos 1 milhão de vertebrados são atropelados por dia em rodovias. No Brasil, apesar de não existirem estimativas sobre o número de animais mortos nessa situação, acredita-se que o índice também seja elevado.

Só faltava essa!

Se não bastassem todos os problemas já enfrentados pela Amazônia, um órgão governamental da Malásia anunciou em julho a intenção de introduzir plantações para extração de óleo de palma na floresta. O Departamento para Desenvolvimento de Terras da Malásia (FELDA, em inglês) declarou que pretende plantar, imediatamente, 100 mil hectares de palmeiras na Amazônia Brasileira. Para o governo do país asiático, a introdução da produção de óleo de palma na Amazônia poderia servir como um modelo de uso sustentável da terra. Mas para os ambientalistas, que já conhecem todos os problemas de destruição de florestas tropicais ligados à extração do óleo de palma, a “exportação” da atividade para a maior floresta tropical do mundo é motivo de muita preocupação.

Fome Zero?

Permitir a caça eventual e em quantidade insignificante de animais silvestres para subsistência do vendedor ou de sua família. Esta é a “proposta de fome zero” do deputado amazonense Silas Câmara, do Partido Social Cristão, autor do Projeto de Lei 2.800/2008. O parlamentar defende sua proposta citando um caso recente de um pai de cinco filhos menores que foi preso por vender periquitos em Manaus. Câmara deu a seguinte declaração à imprensa: “Ele não teria outra forma para sustentar a família. Enquanto isso, os verdadeiros predadores da nossa fauna, os grandes traficantes de animais silvestres, inclusive com redes de tráfico internacional, continuam livres para praticar seus delitos.”

Para Ana Nira Junqueira, médica veterinária consultora da Sociedade Mundial de Proteção aos Animais (WSPA, em inglês), “o projeto é um retrocesso. Abre brechas para traficantes e oportunistas seguirem atuando. A solução é o governo dar condições para que as pessoas vivam dignamente sem cometer crimes ou afetar a conservação das espécies.” O diretor de Uso da Biodiversidade e Florestas do Ibama tem a mesma opinião. Segundo Antônio Carlos Hummel, “o projeto do parlamentar é puro equívoco. Também é muito subjetivo, pois não detalha o que seria uma caça eventual e em quantidade insignificante. A lei já permite a venda de animais silvestres, desde que venham de criadouros autorizados.”

Circo legal não tem animal

Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraíba e quase 50 cidades, entre as quais Curitiba, Florianópolis e Campo Grande, já têm leis que proíbem o uso de animais em circos. Manter animais em cativeiro para demonstração em espetáculos é uma prática arcaica e o seu fim em todo o país é, se tudo der certo, apenas uma questão de tempo.

O Projeto de Lei 7291, de 2006, está sob análise da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O projeto dispõe sobre o registro dos circos e o emprego de animais da fauna silvestre brasileira e exótica na atividade circense. Já foi apresentado na Câmara parecer favorável à proibição de animais em espetáculos, mas a pressão dos proprietários de circos pela manutenção da prática é grande e tem influenciado muitos políticos.

No dia 4 de novembro, uma audiência pública no Congresso Nacional abrirá o assunto para discussão e isso definirá, em grande parte, o fim ou não do uso de animais em circos no Brasil. A aprovação de uma lei federal que proíbe o uso de animais em circos colocará o Brasil ao lado de países como Áustria, Dinamarca, Finlândia e Índia, que já oficializaram o fim de circos com animais em seus territórios.

Abaixo assinado para o Congresso Nacional pedindo o fim do uso de animais em circos no Brasil - http://www.petitiononline.com/circobr/petition-sign.html

Pecuária vilã

Cientistas e pesquisadores brasileiros que se reuniram em agosto em Cuiabá, Mato Grosso, na 8ª Conferência Internacional de Áreas Úmidas, lançaram a seguinte conclusão: assim como a Amazônia, a pecuária intensiva também ameaça o Pantanal. A maior planície alagada do mundo já teve 17% da sua paisagem natural devastada e dados da Embrapa de 2004 sugerem que a pecuária intensiva é a grande responsável pela alteração da sua paisagem.

Walfrido Tomás, especialista em gestão da biodiversidade da Embrapa Pantanal, declarou para a BBC Brasil no decorrer da conferência: “a pecuária intensiva está se difundindo no Pantanal, principalmente por meio de pessoas de fora da região, e tem desmatado muito mais do que a tradicional pecuária pantaneira”. De acordo com os cientistas, a pecuária tradicional é mais compatível com o ecossistema do Pantanal porque o pantaneiro vive de acordo com o ciclo das águas da região, não desmata para plantar pasto artificial e sabe quais plantas podem retirar do pasto natural.

Estabilize agora!

Em julho, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) fez mais uma afirmação alarmante sobre os efeitos das mudanças climáticas no mundo. Segundo o órgão, a humanidade tem apenas sete anos para estabilizar as emissões de gases que causam o efeito estufa. "Temos uma janela de oportunidade de apenas sete anos, pois as emissões terão que chegar ao máximo até 2015 e diminuir depois disso. Não podemos permitir um atraso maior", explicou declarou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.

A declaração do IPCC foi feita durante uma reunião do órgão com ministros da União Européia ocorrida em Paris. Ainda de acordo com o órgão, as tentativas de enfrentar o problema vão fracassar se o bloco europeu não assumir a liderança nas negociações mundiais. "Se a União Européia não liderar, temo que qualquer tentativa de fazer mudanças e de gerenciar o problema da mudança climática vá desmoronar. Vocês não conseguirão trazer os Estados Unidos para as negociações”, afirmou Pachauri durante o encontro.

Fontes: Ambiente Brasil, RMA, Agência Brasil, BBC Brasil, O Globo on line, Agência Envolverde, O ECO

* Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung (n. 80 - julho/agosto 2008). Acesse aqui.