Por Jaqueline B. Ramos*
Amazônia brasileira desprotegida
Apesar de ser o detentor da maior parte da Floresta Amazônica, recentemente foi demonstrado que somos um dos países que têm proporcionalmente menos territórios indígenas e áreas protegidas da floresta. São 39,6% da Amazônia brasileira sob proteção na forma de terras indígenas e unidades de conservação contra 79,7% no Equador, 71,5% na Venezuela e 56% na Colômbia. Só ganhamos do Peru, que protege apenas 34,9% da floresta.
Os dados foram revelados em março por um mapa produzido pela Rede Amazônica da Informação Socioambiental Georreferenciada – Raisg, o primeiro a fazer um levantamento detalhado das áreas protegidas em geral nos nove países amazônicos. O antropólogo Beto Silva, do ISA (Instituto Socioambiental), que coordenou a montagem do mapa, afirma que, em números absolutos, não há como fazer comparações, pois dos 3,4 milhões de km2 de áreas protegidas da Amazônia, 1,9 estão no Brasil. Mas ressalta que o trabalho revelou que alguns países da região mantêm a sua porção amazônica razoavelmente protegida.
Na Colômbia, por exemplo, toda a Amazônia (43,3% da área do país) é considerada reserva florestal. No Equador, as terras indígenas amazônicas reconhecidas pelo governo correspondem a 30% da área do país. “No Equador, o processo de reconhecimento oficial de territórios indígenas na Amazônia é menos burocrático que no Brasil”, diz Silva.
Recorde de desperdício de água
Outro número delicado colocou o Brasil na berlinda ambiental nos últimos meses. A consultoria ambiental H2C anunciou em março que o país detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. E este recorde foi detectado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde o gasto médio diário por pessoa é de mil litros. Em termos comparativos, o resultado é alarmante, pois em países africanos como a Namíbia, por exemplo, as pessoas têm menos de um litro de água por dia.
Juntamente com o recorde de desperdício, também foi divulgado que o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros do recurso natural. Este volume é mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU), fixado em 110 litros/dia. De acordo com a H2C, somente cinco países no mundo apresentam um nível de consumo de água per capita previsto pela ONU: Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Portugal.
A conclusão é que, apesar do Brasil ser privilegiado em termos de recursos hídricos, é necessário que os brasileiros adotem uma nova postura diante do consumo de água. “O que tínhamos de água disponível em 1950 é o mesmo que temos hoje, mas temos alguns bilhões a mais de seres humanos. Então, se não pensarmos em controlar a demanda, estamos completamente errados, porque o trabalho que as concessionárias de água e a população vêm fazendo é de apressar o término dos estoques. A água é a mesma, precisamos é controlar a forma como usá-la”, ressalta Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso de água da H2C.
Escolas economizam 21 milhões de litros de água
Mas há também espaço para notícias boas, até mesmo na tão necessária economia de água. No dia Mundial da Água – 22 de março -, a Sabesp anunciou os bons resultados do Programa de Uso Racional da Água (Pura), implementado em 500 escolas municipais de São Paulo desde junho de 2008. A companhia constatou a economia de 26% no consumo de água entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009, o que corresponde a aproximadamente 21 milhões de litros de água.
Com base em estudos e diagnósticos, a Sabesp verifica a quantidade necessária de água para a escola e oferece alternativas para a redução do consumo. Antes de o Pura ser implementado, o consumo das 421 escolas que já foram analisadas era estimado em 88 milhões de litros em janeiro de 2008. Em janeiro de 2009, o consumo caiu para 67 milhões de litros, o que corresponde ao abastecimento para cerca de 1.500 famílias. Outras 750 instituições de ensino municipais estão aderindo ao Pura no primeiro semestre desse ano.
Pecuária vilã, o retorno
Mais um estudo apresentado recentemente alerta para a problemática da emissão significativa de gases de efeito estufa por parte da pecuária. Pesquisa divulgada em março pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) demonstra que a pecuária e o desmatamento emitem mais gases estufa do que as cidades.
Segundo o IIED, apesar da emissão de gases por carros e indústrias, as cidades lançam bem menos gases de efeito estufa na atmosfera do que a pecuária ou o desmatamento, por exemplo. O estudo analisou a emissão de CO2 em diversas cidades do mundo, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro, comparando com as médias nacionais. Nas cidades brasileiras, as emissões por pessoa são menores do que a média do país, o que poderia ser explicado pelo fato das emissões brasileiras serem muito elevadas devido à atividade agropecuária na Amazônia.
Segundo David Dodman, autor do relatório, as cidades não são as principais culpadas pelo aquecimento global. “Os verdadeiros culpados da mudança climática não são as cidades propriamente ditas, mas os estilos de vida com consumo elevado das pessoas que vivem nas metrópoles”.
Animais planejam o futuro
Na última reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, realizada em fevereiro, cientistas afirmaram, entre outras coisas, que alguns animais são capazes de planejar o futuro e que isso não seria um privilégio dos seres humanos. Este foi um dos resultados dos estudos mais recentes sobre a capacidade mental dos animais apresentados por alguns pesquisadores.
Outras questões colocadas foram o fato de macacos fazerem conta de cabeça e de que pombos são capazes de entender quando uma imagem não faz parte de um conjunto. "Eu diria que nós humanos deveríamos manter nossos egos sob controle", disse Edward A. Wasserman, um pesquisador de psicologia experimental da Universidade de Iowa.
”Nos últimos 20 anos, houve uma grande revolução na compreensão dos animais”, acrescentou Nicola S. Clayton, professora de cognição comparativa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Planejar para o futuro já foi visto como algo único dos humanos", disse ela. "Agora sabemos que não é verdade", disse Clayton, ressaltando que corvos já foram vistos guardando comida para o dia seguinte e, até mesmo, descobrindo meios de impedir que a reserva fosse roubada.
Em defesa das energias renováveis
Uma iniciativa do governo da Alemanha, Dinamarca e Espanha criou em fevereiro a Agência Internacional de Energias Renováveis (International Renewable Energy Agency – Irena). A agência é resultado de anos de debates e tem como um dos seus principais objetivos fazer um contraponto aos lobbies dos combustíveis fósseis junto aos governos mundiais.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério de Relações Exteriores, o Brasil não aderiu à agência porque os biocombustíveis e a energia hidroelétrica não seriam prestigiados pela agência, que terá um foco maior nas energias eólica e solar. Porém o país seguirá como observador e poderá entrar na agência a qualquer momento. Um dos objetivos da nova entidade é acelerar o processo de transição entre os combustíveis fósseis e as novas formas de energias. Para isso, ajudará governos a traçarem novas políticas e legislações assim como realizará consultorias e acompanhamento de empreendimentos no setor.
Carro ecológico para todos
A montadora norte-americana Tesla Motors lançou em março um novo modelo de carro elétrico de cinco lugares de grande autonomia, que será o primeiro do mundo a ser produzido em escala industrial. O sedã “Model S” fará sua estréia nas linhas de produção em 2011 e chegará às lojas por um preço final de US$ 49.900. O protótipo, 100% não poluente, funciona com uma bateria de íons de lítio. Com uma carga completa, o carro é capaz de rodar até 360 quilômetros.
O preço final do carro ainda é salgado, comparado a outros sedãs da mesma categoria, mas a Tesla destaca que, com os incentivos ficais concedidos pelo governo a quem adquirir veículos não poluentes e o baixo custo da manutenção e do combustível, o "Model S" passa a ser bastante competitivo. A princípio, o novo carro será vendido apenas n Europa e América do Norte, seguindo depois para o mercado asiático.
Guerra X Riqueza Biológica
A maioria das guerras acontece em áreas de grande riqueza biológica. Esta foi uma das principais conclusões de um recente estudo publicado na revista científica Conservation Biology, que concluiu que mais de 80% dos principais conflitos armados do mundo entre 1950 e 2000 aconteceram nas regiões mais ricas em diversidade biológica e mais ameaçadas do planeta e, conseqüentemente, consideradas prioritárias para conservação.
Intitulado “Guerra nos Hotspots de Biodiversidade”, o estudo traz uma comparação das principais zonas de conflito com os 34 hotspots de biodiversidade identificados pela ONG Conservação Internacional (CI). “Essa conclusão surpreendente – de que os principais redutos de vida na Terra também são as regiões de maior conflito humano – nos diz que essas áreas são essenciais tanto para a conservação da biodiversidade quanto para o bem-estar humano”, afirma o presidente da Conservação Internacional e um dos autores do estudo, Russell A. Mittermeier.
Alguns exemplos da conexão entre natureza e conflito incluem a Guerra do Vietnã, quando o venenoso Agente Laranja destruiu a cobertura florestal e os mangues costeiros, e a extração de madeira que ajudou a financiar guerras na Libéria, Camboja e República Democrática do Congo. Nesses e em outros inúmeros casos, o efeito colateral da guerra teve impacto negativo na riqueza biológica e na capacidade das pessoas de viverem dela.
Bugios vítimas da ignorância
O recente surto de febre amarela que assustou, principalmente, a população no sul do Brasil fez várias vítimas da ignorância das pessoas. Bugios e outros primatas são, erroneamente, considerados suspeitos de serem transmissores da febre-amarela e de serem responsáveis pelo aumento da circulação da doença. O resultado são humanos usando pedras e outras armas para eliminar bugios e a matança desnecessária chegou a patamares inaceitáveis.
Júlio César Bicca-Marques, professor titular e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Primatologia, da Faculdade de Biocências da PUC/RS, divulgou recentemente uma nota advertindo contra a matança de bugios – que, aliás, estão ameaçados de extinção – no Rio Grande do Sul.
Numa parte da nota ele diz: “A febre amarela silvestre já provocou a morte de algumas pessoas e de muitos bugios em uma extensa área do Rio Grande do Sul desde o final de 2008. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, os bugios são extremamente sensíveis à doença, morrendo em poucos dias após contraí-la. (...) Além de tornar mais crítico o estado de conservação desses animais, a matança de bugios é extremamente prejudicial para o próprio homem. A morte de bugios por febre amarela alerta os órgãos de saúde locais sobre a circulação do vírus na região, os quais promovem campanhas de vacinação da população humana.”
Abate humanitário
STEPS. Este é o nome do Programa Nacional de Abate Humanitário lançado no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) no início de abril. Como o próprio nome sugere, STEPS (passos, em inglês) representam etapas que a WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals) pretende construir com o MAPA e associações das agroindústrias brasileiras na implementação de melhorias no manejo pré-abate e abate dos animais.
O programa teve início em 2008, com assinatura de Termo de Cooperação entre WSPA e MAPA, e as associações União Brasileira de Avicultura - UBA, Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango - ABEF e Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína - ABIPECS, para a elaboração de todo o material áudio-visual que será utilizado nos treinamentos.
A iniciativa visa à capacitação de dois mil fiscais agropecuários e profissionais que atuam em frigoríficos federais, estaduais e municipais para a promoção do bem-estar animal na rotina de trabalho das cadeias produtivas de bovinos, suínos e aves. O Diretor da WSPA Brasil, Antônio Augusto Silva, destacou no evento de lançamento do programa que "o bem-estar animal é uma tendência irreversível, uma demanda ética e uma oportunidade de negócios".
*Publicado no edição n. 84 (março-abril 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung. Veja aqui.
domingo, junho 14, 2009
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Um comentário:
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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