domingo, maio 20, 2007

Bem-estar animal e humano no Oriente Médio

Com apoio do Governo, ONG inaugura na Jordânia um centro de excelência para cuidar de animais de trabalho, responsáveis pela sobrevivência de cerca de 30% da população do país

Por Jaqueline B. Ramos

Nem só de guerras e conflitos políticos são compostas as notícias do Oriente Médio. Nos primeiros meses do ano, a Jordânia, país vizinho do Iraque, Arábia Saudita e Israel, foi noticiada na imprensa internacional por um assunto que, apesar de sua importância, ainda é pouco convencional: a preocupação com o bem-estar animal. No final do mês de março, a Rainha Rania Al-Abdulah inaugurou na capital Amã o Garden Sanctuary, um centro para cuidar dos chamados Animais de Trabalho, leia-se cavalos e camelos responsáveis pela subsistência de nada mais nada menos do que 45 mil famílias jordanianas – aproximadamente 30% da população do país.

O Garden Sanctuary é o primeiro centro de animais de trabalho do Oriente Médio e surgiu a partir de uma iniciativa da ONG jordaniana Humane Center for Animal Welfare (HCAW). O projeto foi financiado pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) e pelo Governo da Jordânia e sua proposta é oferecer serviços veterinários especializados e gratuitos e treinamentos para estudantes de veterinária, além de programas educativos em escolas para crianças em parceria com o Ministério da Educação do país.

O centro é composto por duas salas de cirurgia, uma farmácia, uma sala de recuperação e um laboratório para raios-X. O local também conta com acomodações, um centro de educação, áreas para recreação e uma clínica veterinária móvel para atender regiões mais remotas. “O Garden Sanctuary será fundamental para melhorar os meios de subsistência das pessoas e servirá de exemplo para o restante do Oriente Médio como um centro de excelência”, afirma Peter Davies, Diretor-Geral da WSPA, organização fundada há 25 anos com a missão de elevar os níveis de bem-estar dos animais em todo o mundo, visando a compreensão e o respeito ao princípio.

Bem-estar animal e humano

E é justamente a ligação do bem-estar dos animais com o das pessoas ao seu entorno o que mais se destaca no projeto. Na Jordânia, cavalos e camelos são usados principalmente para transporte e trabalhos no campo e para um número significativo de famílias eles são sinônimos de trabalho e, portanto, de sua sobrevivência.

“Como em qualquer outro país do mundo, na Jordânia há donos que tratam seus animais sem qualquer cuidado, mas há também aqueles que respeitam os animais como seres sentientes, reconhecendo sua importância. O caminho para aumentar esta consciência está no trabalho educativo, que é muito bem aplicado pela HCAW e começa a ser reconhecido pela população”, conta Trevor Wheeler, diretor de projetos no Oriente Médio da WSPA, ressaltando a iniciativa dos Clubes de Bem-Estar Animal, um projeto extra-curricular já desenvolvido em várias escolas jordanianas que ganha ainda mais força com o Garden Sanctuary.

Fazendo um paralelo da experiência na Jordânia com os trabalhos nesta área desenvolvidos no Brasil, o destaque continua sendo a relação direta do bem-estar dos animais com os homens à sua volta. “Quando os carroceiros percebem que o ato de cuidar bem dos animais leva a um maior ganho, a relação entre o dono e o animal muda. É muito comum os animais sofrerem por desconhecimento do dono sobre remédios para tratamento de algumas doenças ou recursos que podem ser usados numa carroça, por exemplo, que ajudam o animal a melhorar o seu desempenho no transporte de uma carga“, explica João Ferreira, veterinário e professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Ferreira dá o exemplo das vantagens do cuidado com animais de trabalho a partir da experiência do projeto Carroceiro, desenvolvido desde 1992 na Universidade de Londrina, no Paraná, e que tem como objetivo principal a passagem de orientações e ensinamentos aos carroceiros da região a respeito do manejo higiênico, sanitário e nutricional de seus animais de tração. O professor da UNESP afirma que o Hospital Veterinário da Universidade atualmente dá assistência para proprietários de baixa renda e que há planos de implantação de atividades similares ao projeto Carroceiro, visto os bons resultados alcançados.

“É tudo uma questão de disponibilizar informação, de educação. A partir do momento que o carroceiro passa a conhecer como pode colaborar no bem-estar do seu animal e as vantagens que isso traz para ele mesmo, o olhar em relação ao animal como uma mera ferramenta de trabalho tende a mudar. Cria-se um laço de companheirismo”, diz Ferreira.

“Na Jordânia, o comprometimento pessoal da própria Rainha Rania Al-Abdulah e do Governo através do apoio do Ministério da Educação são essenciais para o Garden Sanctuary nos serviços de assistência aos animais de trabalho e seus donos e de conscientização e educação em relação ao fato de que os animais são seres conscientes de sua existência, que assim como nós têm sentimentos e muitas vezes confiam aos humanos sua saúde e bem-estar”, ressalta Trevor Wheeler, da WSPA. “Nossa expectativa é que este projeto seja modelo para o Oriente Médio e para o mundo”, conclui.

Aquecimento Global e Mudanças Climáticas: os impactos para o Brasil e o mundo

Por Jaqueline B. Ramos *

O assunto Aquecimento Global nunca foi tão falado e discutido pela mídia e, consequentemente, pelas pessoas de uma forma geral. Mas antes de afirmar que é assunto da moda ou “papo de ecologista”, reflita rapidamente: você tem estranhado as temperaturas das estações do ano? Tem tido a impressão que os dias e as noites estão cada vez mais quentes? Se surpreende com notícias de tsunamis, enchentes, secas repentinas e outras tragédias naturais que destroem por vezes cidades inteiras?

Caso tenha respondido positivamente a pelo menos uma dessas perguntas, o tão falado aquecimento global já está presente – e impactando direta e/ou indiretamente – o seu dia-a-dia. Portanto, o melhor a fazer é entender melhor o que são esses famosos processos de mudanças climáticas, que riscos eles trazem para o planeta e o que se planeja e/ou é necessário ser feito em prol do não agravamento do problema em médio e longo prazo.

Uma pergunta que já dividiu muitas opiniões sobre aquecimento global é a seguinte: as mudanças climáticas vividas pelo planeta consistem em fenômenos naturais, ciclos de temperaturas pelos quais a Terra passa de tempos em tempos, ou são frutos de ações insustentáveis do homem, que causam desequilíbrios ambientais por vezes irreversíveis?

Embora ainda existam algumas opiniões a favor da primeira afirmação, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que representa a posição da comunidade científica mundial sobre o assunto, divulgou em fevereiro uma informação que confirma (finalmente) a segunda parte da pergunta. O órgão adiantou o anúncio oficial a ser feito em um relatório no meio do ano que as alterações no clima do mundo são “muito provavelmente” causadas pela ação humana.
Pelo “muito provavelmente” entenda-se uma probabilidade acima de 90%. Em outras palavras, o aquecimento global que assistimos hoje não é simplesmente um fenômeno natural, mas sim resultado de intervenção no equilíbrio da temperatura do planeta causada por ações insustentáveis do homem, infelizmente.

Toda ação tem uma reação

Como qualquer outra problemática ambiental, os efeitos do aquecimento global recaem sobre o próprio homem, o causador das mudanças climáticas. A poluição atmosférica, gerada em sua maior parte por emissões de CO2 (dióxido de carbono, ou gás carbônico) e N2O (óxido nitroso) provenientes da queima de combustíveis fósseis (petróleo), é a principal vilã no processo de aquecimento global.

Ao lado da queima de combustíveis, outras atividades que causam concentração prejudicial de gases poluentes na atmosfera são a decomposição de matéria orgânica (geradora de CH4 - metano), atividades industriais, refrigeração, uso de propulsores, espumas expandidas e solventes (geradores de HFCs - hidrofluorcarbonos, PFCs - perfluorcarbonos e SF6 - hexafluoreto de enxofre) e o uso de fertilizantes (N2O). Todas estas substâncias são causadoras diretas do Efeito Estufa, fenômeno natural que é levado ao extremo e passa a ser prejudicial para o equilíbrio da temperatura do planeta (ver mais informações no box).

Assim, enquanto o mundo, globalmente como o aquecimento, não investir em projetos viáveis (economicamente falando) de geração de energia limpa, a terceira lei de Newton – “para cada ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade” – terá demonstrações práticas, com reações catastróficas da Natureza causadas por um aumento progressivo da temperatura do planeta.

Leia a matéria completa aqui.

*Matéria publicada na edição n. 72 (março/abril 2007) da revista do Instituto Ecológico Aqualung