segunda-feira, junho 25, 2007

Entrevista: Jim Mason, advogado e escritor. Co-autor, com Peter Singer, do livro "A Ética na Alimentação".

“O vegetarianismo é uma opção ética muito importante para construirmos um mundo mais justo e equilibrado”

Por Jaqueline B. Ramos *

O americano Jim Mason começou a levantar críticas éticas sobre métodos e técnicas de exploração de animais em fazendas de produção no final da década de 60, quando se formava em Direito e trabalhava em Nova Iorque. Membro da quinta geração de uma família de fazendeiros do estado do Missouri, o então recém-advogado chegou à conclusão de que os animais eram criados de uma forma muito diferente daquela que vivenciou na sua infância. Esta percepção despertou o interesse pela pesquisa e busca de alternativas mais éticas de tratamento dos animais criados para fins de alimentação em fazendas de produção. E desde então este interesse não parou de crescer e se tornou, conforme ele mesmo diz, “numa experiência de mudança de vida”. Há 32 anos Mason é um vegano que só aceita opções vegetarianas em situações em que os anfitriões são pessoas conscientes.

Interesses e amigos em comum fizeram com que Mason conhecesse Peter Singer (autor de “Libertação Animal”, considerado o precursor do movimento de defesa dos direitos dos animais) em 1974. A parceria e as pesquisas em conjunto resultaram, seis anos depois, no livro “Animal Factories”. E agora, no início de 2007, Mason e Singer lançaram o resultado de mais um projeto em “A Ética da Alimentação: como nossos hábitos alimentares influenciam o meio ambiente e o nosso bem-estar” (editora Campus, 352 páginas). Resultado de cinco anos de pesquisa, o livro se propõe tanto a apresentar informações éticas como idéias práticas (e muitas vezes simples) de compras e consumo mais conscientes. Para tal os autores acompanharam os hábitos alimentares de três famílias americanas e destrincharam os pouco conhecidos bastidores dos cardápios, que na maior parte das vezes são caracterizados pela crueldade típica de métodos de criação de animais em fazendas de larga produção.

“Nossa maior conclusão neste projeto é que as pessoas devem conhecer detalhes de como suas escolhas alimentares afetam os animais, elas mesmas e o meio ambiente para que a partir daí tenham mais discernimento para mudar suas opções considerando suas próprias conclusões éticas”, diz Mason. Nesta entrevista à Revista dos Vegetarianos, o parceiro de Peter Singer fala sobre a relação do vegetarianismo com a construção de um mundo mais equilibrado, os problemas ambientais agravados por práticas de fazendas de produção e o importante papel do consumidor em prol de modelos mais éticos de alimentação.

Na sua opinião, a ética na alimentação está diretamente ligada ao vegetarianismo e ao veganismo? Para um mundo mais justo em termos de ética com animais e equilíbrio ambiental, todos deveriam ser vegetarianos?

Sim, sem sombra de dúvidas o vegetarianismo é uma opção ética muito importante para construirmos um mundo mais justo e equilibrado. O consumo de carne feito por milhões de pessoas é sinônimo, para os animais, de uma vida inteira de violência em fazendas e mortes cruéis e covardes em abates. O cultivo dos alimentos que compõem a dieta vegetariana afeta um número minúsculo de animais e de forma indireta, como, por exemplo, insetos ou pássaros que possam vir a ser impactados dentro do processo natural em produções orgânicas de soja. Além disso, se caracteriza pelo uso de menos terras e fontes energéticas, o que é muito importante de ser considerado.

O livro “A Ética na Alimentação” apresenta visões da chamada ciência do bem-estar animal, o que segundo alguns ativistas de direitos dos animais vai contra a idéia do abolicionismo lançada por Peter Singer em “Libertação Animal” no ano de 1975. Você poderia comentar esta crítica?

Não posso falar pelo professor Singer, mas a minha visão em relação a esta controvérsia é a seguinte: alguns ativistas trabalham com o foco de que a única saída é o público em geral adotar, num curto prazo, uma dieta vegana. Diante do mundo de hoje, acho que esta é uma expectativa pouco realista quando temos como objetivo reduzir substancialmente o consumo de produtos advindos de fazendas de produção e, consequentemente, diminuir o sofrimento de milhares de animais.

Minha posição de hoje, como sempre foi, é a da adoção do veganismo em respeito aos animais. Aqueles que acham que a dieta vegana representa uma mudança muito drástica no seu dia-a-dia podem optar pelo vegetarianismo. E aqueles que acham que o vegetarianismo ainda é muito difícil podem fazer refeições sem carne sempre que for possível, estabelecendo, por exemplo, metas de número de refeições vegetarianas por semana. Além disso, há sempre a opção de evitar produtos oriundos das fazendas de produção.

O que quero esclarecer é que esse ponto de vista não quer dizer que eu ou o professor Singer tenhamos mudado de opinião em relação à covardia da exploração dos animais. Estamos apenas tentando usar argumentos diferentes com o objetivo único de atingir e sensibilizar um número maior de pessoas e com a esperança de influenciá-las mais a fundo em prol de mudanças no hábito cultural de comer carne. Para o argumento puro “seja vegano”, as pessoas em geral rebatem afirmando que simplesmente não conseguem viver sem carne. Portanto, parafraseando o filme “O Poderoso Chefão”, queremos fazer uma oferta ao público que ele não terá como recusar.

Além das questões éticas em relação aos animais, no livro vocês destacam os impactos do hábito alimentar onívoro no meio ambiente. Quais são os principais problemas ambientais causados pelo modelo exploratório e antiético aplicado aos animais com o objetivo de produção de alimentos em larga escala?

Destaco três problemas principais e explico cada um. Primeiramente tem a perda de biodiversidade. Florestas, matas ciliares e outros importantes ecossistemas têm muitas de suas espécies extintas no processo de prover alimentos para apenas uma: o homem. Sem contar que a dieta onívora requer aproximadamente sete vezes mais terras para produzir a mesma quantidade de nutrientes que a vegetariana.

O segundo problema que destaco é a poluição. Os animais produzem muitas fezes e urina, o que torna o solo das criações insalubre e com alto potencial de poluir o ar e cursos de água na sua proximidade. Esta concentração de excremento gera dióxido de carbono e metano, que são gases do efeito estufa. De acordo com um recente relatório da FAO (Food and Agricultura Organization of the United Nations), granjas industriais e criações de animais em fazendas estão entre os principais fatores que agravam os mais sérios problemas ambientais.

A terceira problemática é o gasto de água e energia. A agropecuária consome uma quantidade muito significativa das fontes de água e energia na expansão de pastos, na produção de fertilizantes e outros aditivos químicos e na operação das fazendas de produção e de abate. Uma fração disso é suficiente para alimentar o mesmo número de pessoas num regime de dieta vegetariana.

Quando falamos em ética na alimentação, qual seria a forma mais prudente de lidar com tradições culturais caracterizadas por exploração de animais? Em termos filosóficos e práticos, qual é a diferença entre comunidades tradicionais e a sociedade moderna no modo como os animais são tratados e no tipo de comida consumida?

Nas comunidades tradicionais e tribais, os animais criados com o fim da alimentação eram respeitados – e até cultuados, em alguns casos. Estas sociedades se viam intimamente ligadas aos animais, os reverenciando como seres especiais, detentores de poderes que os homens não tinham. A sociedade moderna deturpou essa visão. Não há mais o respeito pelos animais e se banalizou o conceito de que eles só têm valor quando são úteis e servem aos homens. O resultado é uma alienação total em relação aos animais e ao mundo natural, que tem como conseqüência um mundo mais triste e até mais doente.

Qual é o papel dos Governos, dos movimentos ativistas e dos consumidores em geral no processo de mudanças de métodos de produção injustos e antiéticos com os animais?


Ao Governo cabe a proibição de métodos de confinamento de vitelas e de granjas industriais de porcos e galinhas, a inibição da produção e uso exacerbado de produtos químicos, como hormônios que aceleram o crescimento, e outros recursos usados em fazendas de produção que são prejudiciais aos animais, ao meio ambiente e, consequentemente, à nossa própria saúde. É necessário também ter um controle de todo o processo, da criação no campo ao rótulo da embalagem, com o objetivo de disponibilizar para o consumidor mais informações sobre fontes e métodos utilizados na cadeia de produção de cada alimento que leva para casa. Os ativistas devem ser os cães de guarda, constantemente investigando, pesquisando e monitorando o Governo e as indústrias para verificar se estão respeitando as regras.

Já os consumidores devem exigir mais informações sobre todos os alimentos que compram nos mercados. Ligar ou escrever para os setores de atendimento ao cliente dos fabricantes pedindo esclarecimentos e maiores detalhes sobre os produtos é uma boa prática e pode contribuir muito. A atuação do consumidor é muito importante para a criação de um cenário onde as grandes fabricantes de alimentos sejam transparentes e não tenham nada a esconder.

Como está o progresso na regulamentação dos métodos de criação de animais usados em fazendas de produção? Existe algum país que esteja mais avançado no controle e na aplicação de métodos mais éticos?

Há um progresso significativo na União Européia, onde os métodos de confinamento em granjas, a indução artificial de crescimento com aplicação de medicamentos e outros excessos cometidos em fazendas de produção já são proibidos por lei ou estão em vias de serem regulamentados e banidos. Nos Estados Unidos uma lei proibindo especificamente o método de confinamento de porcos em granjas industriais já foi aprovada na Flórida e no Arizona, mas não temos leis nacionais de controle de fazendas de produção como nos países europeus. A União Européia hoje pode ser considerada a precursora na eliminação de práticas e artifícios já provados como antiéticos aplicados em fazendas de produção.

A primatologista britânica Jane Goodall afirma que se as pessoas simplesmente não comprarem produtos obtidos a partir de crueldade com animais, os métodos de produção antiéticos serão forçados a mudar. Qual é a relação desta idéia simples, e ao mesmo tempo complexa, com a Ética na Alimentação? Mudanças a favor dos direitos e bem-estar dos animais dependem de atitudes diárias dos consumidores?

Sim, este é exatamente o ponto de vista que queremos passar no livro. Não confiamos no Governo, que é altamente influenciado pelas grandes corporações de agribusiness, para o desenvolvimento e aplicação de leis mais rigorosas nesta área. Nós acreditamos que os consumidores são os atores mais fortes em prol de mudanças nos métodos e nas condições em que os animais são criados em fazendas de produção. Mas para tal precisamos primeiramente informar e fazer esclarecimentos para este consumidor, que muitas vezes acredita na falsa idéia vendida de que nas fazendas os animais são criados com as melhores tecnologias e são muito bem tratados, tendo muito conforto. Essas mentiras continuam sendo anunciadas em rótulos de embalagens de carne, leite e ovos e daí vem a dificuldade de divulgar abertamente e fazer com que as pessoas acreditem nas informações reais, que são bem mais desagradáveis e duras para se encarar.

Há evidências de que estratégias de mercado baseadas em exigências éticas mais rigorosas dos consumidores têm dado certo. A gigante de fast-food MacDonald's já adota há alguns anos alguns critérios socioambientais para escolha de seus fornecedores. O Burger King, o segundo na liderança de fast-food, recentemente começou a fazer o mesmo. A Smithfield Foods e a Cargill, as duas maiores produtoras de carne suína dos Estados Unidos, já anunciaram planos de interromper a prática de confinamento de porcos. Embora nenhuma dessas grandes corporações admita publicamente, estas mudanças foram feitas por conta da crescente pressão de um consumidor mais consciente, que ficará cada vez mais crítico em relação às práticas covardes aplicadas com os animais nas fazendas de produção.

*Entrevista publicada na edição n. 9 (junho 2007) da Revista dos Vegetarianos (editora Europa).



Beija-flor - Santo Antonio do Pinhal (SP - junho 2007)
Foto: Jaqueline B. Ramos

sexta-feira, junho 22, 2007


Cidadania na cozinha

Por Jaqueline B. Ramos

Alunas do projeto Cozinheiro Cidadão e suas receitas de Wraps (divulgação)

Cidadania também se faz na cozinha. Pelo menos é o que demonstra a mais nova opção no cardápio da rede de restaurante Wraps, de São Paulo, chamada de Wrap Cidadão. Aprofundando uma parceria que já dura 2 anos com estagiários nas cozinhas, o Wraps e o Instituto Lina Galvani, através do projeto Cozinheiro Cidadão, promoveram uma oficina seguida por um concurso e a melhor receita criada pelos alunos ficará um mês no cardápio dos restaurantes.
Resultado: de meados de junho a meados de julho um wrap com recheio de brócolis cozido, palmito, mandioquinha assada com azeite, mix de cogumelos com um leve toque de cream cheese e queijo cheddar com molho especial – diga-se de passagem, ovolacto-vegetariano, sem carne! - ficará à disposição dos clientes e toda a verba gerada com o lucro das vendas será revertida para o projeto. “Dependendo da aceitação do público nossa intenção é até deixar o Wrap Cidadão como uma opção fixa no cardápio”, diz Bianca Oglouyan, gerente de parcerias do Wraps.

Bianca explica que a parceria com o Cozinheiro Cidadão faz parte do conceito Wellness (Bem-Estar), adotado pela rede em todas as suas atividades. Isso significa permear todo o processo de produção, da qualidade dos ingredientes utilizados à metodologia de trabalho junto aos funcionários, com a idéia de que bem-estar nutricional, social e ambiental são questões interligadas e complementares. Daí se explica o uso de ingredientes orgânicos (sem agrotóxicos) e as parcerias e ações pontuais de cunho social e/ou ambiental, entre outras ações (veja mais no site do Wraps).

O projeto Cozinheiro Cidadão foi criado pelo Instituto Lina Galvani em 2005 e é realizado na favela do Jaguaré, zona oeste da cidade de São Paulo. Depois de pesquisas do perfil do morador da favela, levantamentos de demandas do mercado de trabalho e várias reuniões com a própria comunidade, o projeto foi concebido voltado para o público jovem de 18 a 35 anos. O objetivo é abordar o campo da gastronomia, que possibilita uma capacitação profissional para o mercado de trabalho mais abrangente. Cada turma estuda durante seis meses, sendo três meses na cozinha pedagógica e três meses de estágio em restaurantes parceiros, como o Wraps.

Cecília Galvani, diretora do instituto, ressalta que vários alunos do projeto já conseguiram espaço no mercado de trabalho e atualmente trabalham em restaurantes e/ou lanchonetes. “Mas o que foi inédito nesta parceria com o Wraps, sendo excelente para o projeto, é a oportunidade de captação de verba e o comprometimento com a continuidade dos trabalhos que isso gera nos próprios alunos. Essa experiência fez com eles se sentissem mais responsáveis e a participação foi até mais ativa”, destaca Cecília, informando que a parceria com o Wraps também já se estendeu para um turma piloto de um outro projeto do instituto, o Garçom Cidadão.

Mais informações: http://www.linagalvani.org.br/


terça-feira, junho 19, 2007

IUCN propõe mais seis áreas de Patrimônio Mundial

Por Jaqueline B. Ramos

Às vésperas da 31a Reunião da Unesco sobre Áreas de Patrimônio Mundial, a ser realizada na Nova Zelândia entre 23 de junho e 2 de julho, a União para a Conservação Mundial (sigla IUCN, em inglês) propõe a inclusão de seis novas áreas na atual lista de Patrimônios Mundiais. Entre estas áreas estão florestas em Madagascar, Eslováquia e Ucrânia e regiões vulcânicas na Coréia (ver abaixo lista completa).

A IUCN faz parte da comissão que avalia possíveis áreas de patrimônio mundial de acordo com a relevância de suas características culturais e naturais (isoladamente ou combinadas). A proposta a ser feita da convenção na Nova Zelândia é resultado de missões realizadas pela instituição em 12 localidades indicadas para entrar na lista ao longo do último ano.

Além da inclusão das seis áreas, a IUCN também vai propor a extensão de uma já existente – a região de Jungfrau-Aletsch-Bietschhorn, na Suíça, que detém o ecossistema com maiores características glaciais dos Alpes Europeus - e a tomada de ações emergenciais em alguns sites da lista que se encontram ameaçados por conta de ações insustentáveis e/ou ilegais do homem. Entre estas áreas estão as Ilhas Galápagos, no Equador, onde o número de turistas aumentou desenfreadamente em três vezes desde 1991, e o Santuário dos Antílopes da Arábia, em Oman, que teve sua área reduzida em 90%.

Atualmente a lista de Patrimônios Mundiais tem 830 áreas localizadas em 184 países. O Brasil está presente com 17 áreas, sendo elas:

1. A Cidade Histórica de Ouro Preto/MG (1980)
2. O Centro Histórico de Olinda/PE (1982)
3. As Missões Jesuíticas Guarani, Ruínas de São Miguel das Missões/RS (1983)
4. O Centro Histórico de Salvador/BA (1985)
5. O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo/MG (1985)
6. O Parque Nacional de Iguaçu, em Foz do Iguaçu/PR (1986)
7. O Plano Piloto de Brasília/DF (1987)
8. O Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato/PI (1991)
9. O Centro Histórico de São Luiz do Maranhão/MA (1997)
10. Centro Histórico da Cidade de Diamantina / MG (1999)
11. Mata Atlântica - Reservas do Sudeste SP/PR (1999)
12. Costa do Descobrimento - Reservas da Mata Atlântica BA/ES (1999)
13. Parque Nacional do Jaú/AM (2000)
14. Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal - MS/MT (2000)
15. Centro Histórico da Cidade de Goiás -GO (2001)
16. Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas - GO (2001)
17. Ihas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas - RN (2001)

Os novos candidatos a Patrimônios Mundiais

South China Karst, China
Formações rochosas únicas formadas pela erosão da água em rochas de mármore.

Foto: IUCN/Jim Thorsell

Rainforests of Atsinanana, Madagascar
Florestas tropicais que mantém ecossistemas e espécies de animais e plantas endêmicos e/ou ameaçados.


Foto: IUCN/Geoffroy Mauvais


Jeju Volcanic Island and Lava Tubes, Coréia
Região vulcânica de 1.2 milhões de anos formada por um vulcão e o pico Mt Hallasan, o mais alto do país (1.950 metros de altura).


Foto: IUCN/Paul Dingwall

Primeval Beech Forests of the Carpathians, Eslováquia e Ucrânia
As florestas temperadas das montanhas dos Cárpatos são exemplos de ecossistemas únicos e ainda preservados.


Teide National Park, Espanha
Parque no arquipélago das Ilhas Canárias, nele está situado o terceiro vulcão mais alto do mundo e o mais alto da Espanha, o Teide-Pico Viejo.


Foto: IUCN/Bernard Smith


Ecosystem and Relic Cultural Landscape of Lopé-Okanda, Gabão
Região única que detém áreas de transição entre ecossistemas de densas florestas tropicais e savanas.

Foto: IUCN/Jean Pierre d'Huart


Mais informações:
World Heritage Convention - http://whc.unesco.org/
IUCN - http://www.iucn.org/

sábado, junho 16, 2007

CURTAS

Por Jaqueline B. Ramos*
Triste liderança

Relatório da ONU divulgado em março revela uma informação no mínimo muito triste para o Brasil. Segundo levantamentos feitos pela Agência para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o país continua na liderança de desmatamento da América do Sul, sendo responsável por 73% das perdas de florestas do continente. A taxa anual de devastação da cobertura florestal brasileira subiu de 0,5% para 0,6%, comparando os períodos de 2000 a 2005 e 1990 a 2000. Em números absolutos isso significa a destruição de mais de 31 mil km² de florestas por ano dentro de um cenário de 42 mil km² de deflorestamento em todo o continente.

Mesmo considerando o fato de o Brasil ser um dos países do mundo com maior área de florestas, o que poderia justificar um número significativo em termos de desmatamento, esta triste liderança merece ser seriamente avaliada...

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Foto: Jaqueline B. Ramos

Dia Mundial da Água – boas notícias

Se o Brasil não tem muito a comemorar na área de conservação de florestas, uma notícia divulgada por ocasião do Dia Mundial da Água (22 de março) é motivo de orgulho para o país. A ONG britânica World Development Movement destacou o gerenciamento de água e esgoto feito em quatro municípios brasileiros como exemplo e inspiração de gestão pública de recursos hídricos. Segundo relatório divulgado, as iniciativas nas cidades de Alagoinhas (BA), Guarulhos (SP), Porto Alegre (RS) e Unaí (MG) "mostram uma visão de universalidade, justiça e igualdade". "Esses fornecedores municipais no Brasil podem nos ensinar muito sobre como ter redes de distribuição de água democráticas e eficientes", disse o diretor da ONG, Benedict Southworth.

Dia Mundial da Água – más (e velhas) notícias

Mas infelizmente no mês em que se comemora o Dia Mundial da Água as notícias não são muito boas em nível global. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2007 a falta de acesso à água limpa atinge mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. E as previsões para médio prazo não são nada animadoras. A OMS alerta que este número pode dobrar até 2025, quando dois terços da população mundial poderão estar sofrendo com problemas ligados à escassez de água limpa. Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas – metade da população dos países em desenvolvimento - vivem em locais sem condições básicas de saneamento e os problemas relacionados à falta de água adequada matam mais de 1,6 milhões todos os anos.

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Sobre seca, botos e gado

Menina dos olhos internacional, a Amazônia é sempre alvo de inúmeros estudos, estimativas, levantamentos e ensaios de investimentos. Mas o fato é que a floresta vem pedindo socorro e algumas decisões parecem ignorar este SOS, como a recente tomada pelo Bird (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O corpo de diretores do IFC (Corporação Financeira Internacional), braço do banco, aprovou em março o financiamento de US$90 milhões para atividade pecuária na Amazônia brasileira. A concessão será a favor do Grupo Bertin, maior exportador de carne do Brasil. Os recursos serão investidos em matadouros e curtumes na região de Marabá, Redenção e Conceição do Araguaia (PA), em Cacoal (RO) e em Água Boa (MT).

Enquanto a expansão da pecuária na Amazônia - incentivadora de desmatamento e geradora de pelo menos 56 milhões de toneladas de emissões de carbono, sem contar os problemas sanitários e éticos relativos ao abate dos animais - ganha incentivo econômico de tal magnitude, as estimativas negativas continuam a ser noticiadas e nenhuma ou pouca contra-partida é feita a respeito.


Cientistas ingleses especializados em mudanças climáticas, por exemplo, anunciaram no início de 2007 que as chances de ocorrerem períodos de intensa seca na região podem aumentar dos atuais 5% para 50% em 2030 e até 90% em 2100. E dados locais do Projeto Boto, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), indicam o declínio da população de botos tucuxi e cor-de-rosa nos rios da região, numa taxa de decrescimento de cerca de 7% ao ano. O motivo principal: a caça.

Com informações vindas de todos os lados, onde está o Governo Brasileiro na hora de defender os reais interesses da floresta?

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Homens e macacos
Foto: Jaqueline B. Ramos

Embora 4 milhões de anos seja uma eternidade, numa escala evolutiva representa algo muito recente. E é exatamente esse tempo que está sendo indicado por um novo estudo concluído pela Universidade do Estado da Carolina do Norte (EUA) como o período de separação evolutiva entre humanos e chimpanzés. Ao afirmar que os últimos ancestrais entre homens e macacos teriam vivido há apenas 4 milhões de anos, o estudo contesta as atuais informações oficiais sobre o assunto, que datam de 5 a 7 milhões de anos.

Como qualquer nova descoberta, esta pode gerar controvérsias. Mas o argumento para a datação mais recente é a nova metodologia que foi utilizada na pesquisa, baseada em análises do DNA de humanos, chimpanzés, gorilas e orangotangos. De acordo com o líder do trabalho, o cientista Asger Hobolth, a equipe desenvolveu uma nova matemática para medir a quantidade de diferenças no DNA entre um indivíduo e outro, sendo assim possível estimar quando viveu o ancestral em comum entre os dois.

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Arroto de vacas X Aquecimento Global, a batalha final

Na linha controversa e pouco sustentável do “é melhor remediar do que prevenir”, cientistas alemães resolveram lutar contra o aquecimento global investindo na diminuição dos arrotos das vacas.

Hã???!!! É isso mesmo.

O jornal inglês The Guardian noticiou em março um trabalho alemão que consiste na invenção de uma pílula para vacas que as ajudarão a arrotar menos. Devido ao seu processo digestivo natural, estima-se que os bovinos sejam responsáveis pela liberação de 4% dos gases de efeito estufa, sendo em maior parte o metano, um vilão para a atmosfera no mesmo grau do gás carbônico. Em entrevista para o jornal, o coordenador da pesquisa, Winfried Drochner, diz que a pílula também ajudará as vacas a produzirem mais leite se combinada com uma dieta especial. “Nosso objetivo é aumentar o bem-estar da vaca, reduzir os gases de efeito estufa e aumentar a produção agrícola de uma vez só”.

Ah tá, agora está explicado... Nada melhor do que garantir o bem-estar dos animais, combater o aquecimento global e, de quebra, aumentar a produção. É tudo que o processo de mudanças climáticas precisa...

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Primeira Reserva de Fauna brasileira

Na Baía da Babitonga, em Santa Catarina, existem duas preocupações socioambientais em pauta no momento: a necessidade de assegurar as fontes de recursos naturais que sustentam atividades turísticas e mais de duas mil famílias de pescadores artesanais; e a importância da proteção de espécies nacionalmente ameaçadas como o Boto Cinza (Sotalia guianensis), a Toninha (Pontoporia blainvillei) e o Mero (Epinephelus itajara), além de 6.200 ha de manguezal. Para tal o Ibama está consultando os municípios abrangidos pela baía com a proposta de criar uma Reserva de Fauna, a primeira da categoria do país. Esta categoria de unidade de conservação compatibiliza a conservação da natureza e o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais.

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Vítimas do mercado

A União Mundial para a Natureza (UICN) divulgou em março mais um dado que reforça o quanto os tubarões são vitimados com o crescimento do mercado não regulamentado de suas barbatanas. Segundo a ONG, em 15 anos, a população de tubarões nas águas da Europa diminuiu nada mais nada menos do que 80%, com aproximadamente cem milhões de exemplares morrendo anualmente. Várias espécies de tubarões são caçadas sem controle para o corte de barbatanas e, após a extração, os corpos dos animais, ainda vivos, são jogados de volta na água. Mas segundo os pescadores, a covardia com os animais se pagaria pelo bom preço que as barbatanas são vendidas no mercado na Ásia. Inversamente ao senso de ética e respeito em relação aos animais, a procura por barbatanas aumenta ao ritmo de 5% ao ano e na China, por exemplo, há cerca de 380 milhões de consumidores da famosa sopa de barbatana de tubarão.

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São Paulo 2020!

Para orgulho dos paulistanos, São Paulo deverá ganhar seis posições no ranking das cidades mais ricas do mundo e figurar como a 13ª em produção de riquezas no ano de 2020. A conclusão é de um levantamento feito pela empresa internacional de auditoria Pricewaterhouse Coopers, que afirma que o Produto Interno Bruto (PIB) de São Paulo, estimado em US$ 225 bilhões em 2005 deverá passar a US$ 411 bilhões em 2020, superando no ranking o PIB de cidades como Miami, Hong Kong, Dallas e São Francisco. As três primeiras posições do ranking deverão permanecer inalteradas na comparação entre 2005 e 2020: Tóquio, Nova York e Los Angeles.

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Meio Ambiente e Guerra

Recente reportagem do jornal Terramérica mostra que o Iraque contabiliza um péssimo balanço ambiental depois da ocupação militar norte-americana no país completar quatro anos. Segundo Azzam Alwash, presidente da ONG Nature Iraque, entrevistado pelo jornal, os rios Tigre e Eufrates se tornaram esgotos a céu aberto. Dejetos industriais, hospitalares e agrícolas e vazamentos de petróleo seriam vertidos nesses dois enormes rios que definem a região da Mesopotâmia e fornecem boa parte da água para irrigação e consumo. Já a ministra do Meio Ambiente do país, Narmin Othman, declarou para o jornal que, apesar das más notícias, foram aprovadas leis ambientais mais rígidas neste período e os pântanos mesopotâmicos, drenados pelo regime de Saddam Hussein nos anos 80, voltaram a inundar. Boas e más notícias à parte, o fato é que apesar de dezenas de bilhões de dólares já terem sido gastos na reconstrução do país, calcula-se a necessidade de muito mais investimentos, algo em torno de US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões. O preço da guerra é grande, inclusive para o meio ambiente.

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Mais tempestades

Estudo coordenado por Mario Molina, prêmio Nobel de Química em 1995 por pesquisas com a camada de ozônio, promove mais uma amostra do efeito danoso da poluição promovida pelo homem. Análises feitas a partir de imagens obtidas por satélites nas últimas décadas mostram que a poluição produzida na Ásia altera a química da atmosfera e causa mudanças no padrão de tempestades no continente, influenciando no final todo o clima do hemisfério Norte. E se não bastasse, o estudo também destaca que as tempestades no Pacífico têm papel crítico na circulação atmosférica global. Possível resultado: a alteração em seu padrão pode promover um impacto significativo no clima de todo o planeta.

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Brasil no Ano Polar

Engana-se quem acha que os ecossistemas polares não são explorados, no bom sentido, por pesquisadores brasileiros. O Ano Polar Internacional (API), programa mundial de pesquisa para estudar os ambientes dos pólos Ártico e Antártico, terá a participação de 30 Universidades e centros de pesquisa do Brasil em 28 projetos. O total do programa engloba 50 mil pesquisadores e 227 projetos em 63 países até março de 2009. “Neste API teremos uma participação significativa, consolidando o reconhecimento da comunidade científica internacional conquistado com os 25 anos de trabalho do Programa Antártico Brasileiro”, destacou Luis Fernandes, secretário executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia em entrevista à Agência Fapesp na cerimônia de lançamento do programa no início de março.

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Interesse por agricultura orgânica

A secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez uma averiguação bastante interessante ao longo dos últimos anos. Segundo Rogério Dias, coordenador-geral da secretaria, o interesse e opção dos grandes produtores rurais pelo mercado de produtos orgânicos vêm aumentando a cada ano no Brasil. “Antes, a agricultura orgânica estava restrita à produção de hortaliças e era praticada pelos pequenos produtores”, disse Dias em entrevista à Agência Brasil. “Agora, estão entrando nessa área os produtores de açúcar, café e outras categorias de grãos.”

O Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica, criado no Plano Plurianual 2004-2007, contempla ações como linha de crédito diferenciada. Além disso, o Mapa tem trabalhado na articulação do setor, procurando aproximar os segmentos envolvidos e investindo na área de pesquisa.

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Campanha pró-neutralização

Cada cidadão libera em média 2,07 toneladas de gás carbônico ou dióxido de carbono na atmosfera por mês e para compensar faz-se necessário calcular a emissão individual dos gases que causam o efeito estufa e a quantidade de árvores que cada pessoa deveria plantar para neutralizar esta emissão. O problema e a solução são apresentados pela ONG Iniciativa Verde, que disponibiliza em seu site (http://www.thegreeninitiative.com/) sistema para o cálculo da neutralização – que, diga-se de passagem, é o mais novo termo da moda em tempos de Aquecimento Global e Mudanças Climáticas.

No site a ONG mostra os números médios de emissões analisando o consumo de energia elétrica, combustíveis fósseis e gás. Mas de uma forma geral, o diretor da Iniciativa Verde, Osvaldo Martins, recomenda que o caminho para mudar o atual quadro de emissão de gases é o do consumo consciente, ou, em outras palavras, consumir menos de tudo. Está lançado o desafio!

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Controle de vôos

O assunto é controle de tráfego aéreo, mas não tem nada a ver com a atual crise da aviação brasileira. O Ministério dos Transportes da Alemanha divulgou no início de março a intenção de implantar taxas de aterrissagem proporcionais ao consumo de combustível dos aviões e promover um controle mais racional do tráfego aéreo, evitando itinerários mais longos que o necessário. O objetivo final é a proteção do meio ambiente. O porta-voz do ministério explicou que "uma melhor organização do tráfego aéreo permitiria reduzir as emissões de CO2 e a despesa de combustível e que taxar as frotas mais antiquadas seria um incentivo para o uso de aviões mais modernos e menos poluentes". Se a proposta do ministério for levada adiante, a nova normativa será testada durante um período de três anos no país. Enquanto isso, no Brasil...

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Robô salamandra

Usando tecnologia avançada para desvendar os mistérios da evolução da vida no planeta, cientistas europeus produziram o que estão chamando de robô salamandra. A salamandra foi o primeiro animal que passou da água para a terra e o objetivo do robô é facilitar o entendimento dos mecanismos usados pelo animal para adaptar o hábito de nadar a andar. O robô não parece muito uma salamandra, mas ao que tudo indica se move exatamente como uma. Os cientistas conseguiram reproduzir um sistema nervoso que se adapta tanto ao controle de nadar como andar em ambiente terrestre, o que o robô reproduz fielmente. Segundo o jornal Science, os pesquisadores envolvidos no projeto declararam que este trabalho é “uma demonstração de como robôs podem ser usados para testar modelos biológicos e, em retorno, como a biologia pode ajudar no design de produção robótica.”

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Maior caverna submarina do mundo

Dois mergulhadores, um britânico e um alemão, informaram que encontraram na Península de Yucatán, no México, passagens subterrâneas que formam o maior sistema de cavernas submarinas do mundo. Foram identificadas passagens que ligam os sistemas de cavernas de Nohoch Nah Chich e Sac Actun, que juntos medem 153 quilômetros. Essa conexão mostra como o sistema de águas subterrâneas de Yucatán é interconectado e vulnerável. "Há tantos sistemas cavernais interconectados que, se houver um foco de poluição em qualquer área, ele pode se espalhar intensivamente através de todo o sistema”, ressaltou o mergulhador britânico, Steve Bogaerts, durante o anúncio do achado. Segundo a Sociedade de Espeleologia dos Estados Unidos, o maior sistema de cavernas submarinas conhecido até hoje era o Ox Bel Ha, também no México, com 145 quilômetros.

Fontes: BBC Brasil, O ECO, Ambiente Brasil, Terramérica, Agência Fapesp, ENN (Environmental News Network)

* Notas publicadas na edição n. 72 (março/abril 2007) da revista do Instituto Ecológico Aqualung