quarta-feira, março 19, 2008


Uso racional de água: a importância da conservação dos recursos hídricos

Rio Solimões, Amazonas (foto: Jaqueline B. Ramos)

Por Jaqueline B. Ramos*


Você ouve falar todo dia que é importante não desperdiçar água, do contrário ela um dia pode acabar e levar países a guerras no futuro. Mas aí você lembra das aulas na escola onde a professora explicava o ciclo de renovação da água, da evaporação e o retorno em forma de chuva, e se pergunta: se a água é um recurso renovável, qual é o motivo de tanta preocupação? E a resposta é: o impacto, pela ação desenfreada do homem, no ciclo de renovação natural dos recursos hídricos. Em outras palavras: a água vem sendo consumida de forma tão rápida e intensa que não dá tempo de ser renovada (ou de ser tratada de forma viável para sua reutilização ou devolução à natureza).

Além do consumo desenfreado, o desmatamento de áreas naturais e a poluição de rios e mananciais são outros agravantes da conservação dos recursos hídricos. A Organização das Nações Unidas pra Agricultura e Alimentação (FAO) estima que 30% das grandes bacias hidrográficas em todo o planeta já tenham perdido mais da metade de sua cobertura vegetal original, resultando numa redução significativa da quantidade de água disponível.

Outro dado alarmante é que se calcula que 50% dos rios do mundo já estão tão poluídos por esgotos, dejetos industriais e agrotóxicos a ponto de existirem casos irreversíveis, nos quais as fontes de água ficam impossibilitadas de se recuperar e serem utilizadas novamente. É o exemplo do rio Huangpu, maior fonte de água da capital chinesa Xangai. Ele está tão contaminado por poluentes industriais e agrícolas que não registra vida aquática há mais de 20 anos. Aliás, a China, país que mais cresce no mundo e detentor de 20% da população mundial, é um dos que apresentam os problemas mais graves de escassez de água.

Em relação ao consumo progressivo, estima-se que, enquanto a população mundial duplicou no último século (hoje somos mais de seis bilhões de pessoas), o consumo por água aumentou em sete vezes. Os motivos são o crescimento das atividades agrícolas e industriais e da urbanização e a intensificação da ocupação do homem nas bacias hidrográficas. Considerando o fato de que a quantidade de água existente não mudou – 97% consistem em água salgada, 2% correspondem ao gelo nos pólos e topo de montanhas e apenas 1% é água doce disponível para consumo humano -, não é difícil de prever problemas de demanda maior que oferta.

Segundo o Conselho Internacional “World Water”, no ano de 2015 cerca de 3,5 milhões de pessoas viverão em lugares com problemas de escassez de água. A previsão de especialistas é que os maiores problemas de acesso à água de qualidade se dêem em grandes cidades, principalmente naquelas dos “países em desenvolvimento”, que devem assistir a um crescimento maior de sua população. Calcula-se, por exemplo, que toda a água subterrânea da China desapareça em 2030 e que pelo menos 40% da população dos países africanos e 20% dos latino-americanos não terão acesso à água adequada para consumo já nas próximas décadas.

E no Brasil, como estamos?

O Brasil detém 14% da água doce do mundo e 30% dos mananciais subterrâneos (tendo inclusive a maior parte do aqüífero Guarani, o segundo maior reservatório subterrâneo contínuo do mundo). Cerca de 60% da bacia amazônica, que escoa cerca de 1/5 do volume de água doce no planeta, estão em território brasileiro. Analisando esses números pode-se arriscar afirmar que estamos numa situação privilegiada. No entanto, tal privilégio não justifica que devamos relaxar em relação ao uso racional de água e sua conservação.

O patrimônio hídrico do Brasil é um dos mais importantes do planeta, o que nos dá uma imensa responsabilidade em relação à gestão estratégica das nossas águas. Além disso, mesmo diante de tanta abundância também temos nossos paradoxos: no mesmo país que tem exuberante disponibilidade hídrica há áreas críticas de escassez, como é o caso da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Um dos planos do Governo para atendimento das cerca de 12 milhões de pessoas que já sofrem pela dificuldade de acesso à água é a integração do rio São Francisco com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, a chamada Transposição do São Francisco, um projeto com controvérsias técnicas e cujas obras, já iniciadas, são comumente objeto de protesto principalmente por parte de ambientalistas.

Outro paradoxo da nossa imensa riqueza hídrica é o desperdício da água que temos o privilégio de acessar. Em novembro de 2007, o Instituto Socioambiental (ISA) divulgou dados alarmantes a respeito da situação do abastecimento público e saneamento básico nas 27 capitais brasileiras. Em linhas gerais, o estudo revelou que quase a metade – 45% - da água retirada dos mananciais destas cidades é desperdiçada em vazamentos, fraudes e sub-medições. Isso leva a um número de 6,14 bilhões de litros de água jogados fora por dia, ou 2.457 piscinas olímpicas. Esse volume de água é suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas durante um dia, o equivalente a população de um país como a Argentina. Porto Velho joga fora mais de 70% da água captada, detendo a liderança desse tipo de problema.

Se não bastasse o desperdício, o consumo per capita, ainda segundo o estudo do ISA, também é maior que o recomendado pela ONU – 110 litros por dia. A média de consumo mensurada nas capitais é de 150 litros e São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória chegam a consumir mais de 220 litros/habitante/dia. Dados de saneamento básico não são menos desanimadores: quase metade da população das capitais, o equivalente a 19 milhões de pessoas, tem seus esgotos despejados nos rios e no mar sem qualquer tratamento. E cerca de 70% dessas pessoas não têm sequer a coleta e o afastamento dos resíduos, convivendo de perto com a água contaminada. Um dos resultados é um grande número de internações na rede pública de saúde ocasionadas por doenças transmitidas pela água.

Numa breve análise sobre a situação dos recursos hídricos no Brasil e no mundo, já é possível entender melhor porque o ciclo natural da água que aprendemos na escola não está mais conseguindo cumprir sua função de renovação como deveria. E os atuais eventos climáticos resultantes do aquecimento global tornam a probabilidade de uma escassez generalizada de água ainda mais iminente. O impacto na distribuição de chuvas pode gerar secas intensas em determinadas regiões, agravando o cenário de que nem sempre a Natureza oferece a água no lugar, momento e quantidade que precisamos.

Portanto, no próximo dia 22 de Março, o Dia Mundial da Água, lembre-se que há mais motivos de alerta do que comemoração. Fique atento, se informe e faça o que puder para mudar hábitos individuais e coletivos de consumo, de forma a colaborar com o uso racional da água, a conservação dos recursos hídricos e a sua própria qualidade de vida em médio e longo prazos. A água é um recurso insubstituível e não há fontes alternativas para assegurar a saúde das pessoas e do planeta.

Fontes:
ANA – Agência Nacional de Águas: http://www.ana.gov.br/
Instituto Socioambiental (ISA) – Campanha “De Olho nos Mananciais”: http://www.mananciais.org.br/
World Water Council: http://www.worldwatercouncil.org/

Saiba mais:
Water Footprint: http://www.waterfootprint.org/

BOX: Dicas de economia de água em casa

De acordo com a Organização das Nações Unidas, cada pessoa necessita de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil este consumo pode chegar a mais de 200 litros/dia, o que significa desperdício de recursos naturais e dinheiro. Veja abaixo algumas dicas de como economizar água sem prejudicar a saúde, a higiene e a limpeza da casa – elas já são bem conhecidas, mas sempre é válido reforçar:

· Tome banhos menos demorados e feche o registro na hora de se ensaboar.
· Reaproveite a água que cai do chuveiro e dos ciclos da máquina de lavar para molhar plantas e outras atividades de limpeza da casa.
· Escove os dentes também com o registro fechado e enxágüe a boca com um copo de água.
· Nunca use a privada como lixeira ou cinzeiro e nunca acione a descarga à toa, pois ela gasta muita água. Mantenha a válvula da descarga sempre regulada e conserte os vazamentos assim que eles forem notados.
· Ao lavar louça, primeiro limpe os restos de comida dos pratos e panelas com esponja e sabão e só depois abra a torneira para molhá-los. Ensaboe tudo que tem que ser lavado e, então, abra a torneira novamente para novo enxágüe. Só ligue a máquina de lavar louça quando ela estiver cheia.
· Junte bastante roupa suja antes de ligar a máquina ou usar o tanque. Não lave uma peça por vez. Caso use lavadora de roupa, procure utilizá-la cheia e ligá-la no máximo três vezes por semana.
· Use um regador para molhar as plantas ao invés de utilizar a mangueira. Para economizar, a rega durante o verão deve ser feita de manhãzinha ou à noite, o que reduz a perda por evaporação.
· Uma piscina de tamanho médio exposta ao sol e à ação do vento perde aproximadamente 3.785 litros de água por mês por evaporação. Com uma cobertura, a perda é reduzida em 90%.
· Adote o hábito de usar a vassoura, e não a mangueira, para limpar a calçada e o pátio da sua casa.

Saiba mais: Programa de Uso Racional da Água/Sabesp – http://www.sabesp.com.br/

BOX: Cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Brasil deve gerar R$ 27 milhões em 2008

A Agência Nacional de Águas (ANA) espera arrecadar R$ 27,4 milhões nas bacias do rio Paraíba do Sul e dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) ao longo de 2008. O montante será proveniente da cobrança pelo uso da água de 347 usuários. O dinheiro arrecadado será totalmente transferido para as agências de água das bacias de origem para investimentos em ações de recuperação dos rios, conforme decisão dos respectivos comitês.O valor estimado para este ano supera o de 2007, quando ficou em torno de R$ 22 milhões. Só na bacia PCJ devem ser arrecadados R$ 17,7 milhões – os quais serão cobrados de 97 usuários de recursos hídricos: 50 da indústria; 24 de saneamento, 14 de irrigação, entre outros. Já a bacia do Paraíba do Sul conta com 250 usuários sujeitos à cobrança: são 84 da indústria; 74 de saneamento; 44 de mineração; 32 de irrigação etc. Estima-se que, juntos, eles contribuirão com R$ 9,7 milhões.
Fonte: Revista Digital Água on Line: http://www.aguaonline.com.br/

BOX: Números sobre o uso da água no mundo

Ao contrário do que muitos pensam, o setor que mais utiliza água no mundo não é o industrial, mas o da Agricultura. Estima-se que as atividades agropecuárias – irrigação, tratamento de animais e lavagem de instalações e máquinas – usem cerca de 67% dos recursos hídricos disponíveis, sendo de longe o que mais gasta e o que mais precisa de esforços para o não-desperdício e conservação.

Em segundo lugar estão as Indústrias, utilizando cerca de 23% da água do mundo como matéria-prima para produção de alimentos, papel, tecidos etc. Por último está o que se chama de Abastecimento Público, com aproximadamente 10%, que engloba o uso doméstico (distribuição à residências, hospitais, escolas, parques públicos, combate a incêndios etc) e o uso comercial (escritórios, shopping centers, bares, restaurantes etc).


Fonte: Livro “Como Cuidar do seu Meio Ambiente” (BEI)

*Publicado originalmente no informativo n. 77 (janeiro/fevereiro 2008) do Instituto Ecológico Aqualung. Versão em PDF aqui.

*Publicado também na EcoAgência de Noticias.

Curtas

por Jaqueline B. Ramos*

Últimas da Amazônia 1

Apesar de anunciar oficialmente um possível ritmo de diminuição nos índices de desmatamento da Amazônia, dados relativos à expansão da pecuária na floresta mostram que a tendência não é bem de conservação. Segundo recente reportagem do jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 2004 e 2007, somente o estado do Pará aumentou a exportação de carne proveniente da Amazônia Legal em 7.800%.

O crescimento, tão alto que chega a ser incomensurável, tem ligação direta com o aumento do desmatamento, que por sua vez é incentivado por terras baratas e crédito oficial a juros subsidiados. Ou seja, graças a um empurrãozinho do Governo, sai muito mais barato desmatar que investir na recuperação de pastos. Juntando isso ao preço elevado dos produtos agrícolas no mercado mundial, agropecuaristas se vêem num cenário perfeito para avançar sobre a Amazônia em busca de terras baratas e desocupadas para colocar seu gado e plantar suas monoculturas de soja.

Últimas da Amazônia 2


Numa espécie de resposta aos dados alarmantes de desmatamento da floresta que vem sendo divulgados, o Governo anunciou um pacote que visa dar anistia a quem derrubou ilegalmente áreas na Amazônia Legal. De acordo com o plano, que ainda está em estudo pelos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, empresas e agricultores poderão manter 50% das fazendas desmatadas, voltar à legalidade e ter direito ao crédito agrícola oficial se aceitarem recuperar e repor a floresta da outra metade de suas propriedades.

Fazendo as contas, se o plano for aprovado isso significa que o Governo vai legalizar 220 mil quilômetros quadrados de Amazônia desmatada ilegalmente, uma área correspondente à soma dos estados do Paraná e Sergipe. Detalhe: a obrigatoriedade estabelecida no Código Florestal define uma reserva legal correspondente a 80% do tamanho do imóvel, podendo desmatar e produzir nos demais 20%. Felizmente, a idéia é que o código continue valendo para que não derrubou floresta e para novos proprietários.

Mesmo defendendo o raciocínio que é melhor 50% da mata recuperada do que zero, o Governo abriu espaço para discussões e críticas em relação à "anistia dos desmatadores". "Se a decisão não vier acompanhada de outras medidas, como o controle do crédito e a punição para os que agem na clandestinidade, não resolverá nada", disse à imprensa Adalberto Veríssimo, diretor e pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ao ser perguntado sobre o pacote do Governo.

Baleias em perigo...

Se não bastasse a abertura da temporada de caça às baleias na Antártica, liderada pelos japoneses, do outro lado do mundo, mas precisamente na costa atlântica da Patagônia argentina, especialistas estão tentando descobrir a causa de uma mortandade atípica dos animais. De acordo com o Programa de Monitoramento Sanitário da Baleia-Franca, realizado há cinco anos por três entidades não-governamentais no sul do país, a média anual de mortes saltou de 40 para 85 entre os meses de outubro e novembro.

Com cerca de 5,3 mil exemplares, a colônia de baleias-franca que chega todos os anos à costa Argentina para o período de reprodução é uma das maiores do mundo e atrai milhares de turistas. No entanto, a mortalidade em 2007 foi a maior registrada desde 1971. A grande maioria dos animais mortos é de filhotes e os cientistas trabalham com diversas hipóteses para a causa das mortes, entre elas (e a mais provável) a contaminação causada pelas toxinas das microalgas que dão origem à maré vermelha.

Enquanto isso, na Antártica, as baleias não são vítimas da maré vermelha, mas continuam na mira dos navios japoneses. Neste verão protestos em campo lideradas pelo governo da Austrália e pelas ONGs Sea Shepherd e Greenpeace conseguiram deter algumas ações dos baleeiros, mas mesmo assim algumas capturas aconteceram. E para a situação ficar ainda pior, o grupo conservacionista Humane Society International denunciou que mais da metade das baleias assassinadas em águas da Antártica nos últimos meses estavam grávidas. Das 505 baleias minke capturadas, 262 eram fêmeas grávidas. “São horríveis estatísticas que o governo japonês disfarça como ciência”, declarou Nicola Beynon, porta-voz do grupo na Austrália.

... nos mares ameaçados

Ao que tudo indica, o homem não vêm dando trégua para as baleias e nem para os oceanos. Pelo menos é o que mostra um recente estudo internacional divulgado em fevereiro cujo resultado principal foi a verificação de que nada mais nada menos do que 40% das águas do planeta estão severamente afetadas devido aos impactos antrópicos sobre os mares. Ainda segundo o estudo, apenas 4% de toda a superfície aquática se encontra em níveis aceitáveis de preservação.

Pesquisadores analisaram 17 tipos de impactos humanos nos ecossistemas marinhos, entre eles a pesca predatória, a poluição e o aquecimento, e montaram um mapa, com o objetivo de que o documento auxilie os governos e ONGs no planejamento de novas ações de conservação. Embora a costa brasileira não se encontre entre as regiões mais críticas, o litoral do sudeste, em específico, foi considerado uma área sob alto impacto, devido ao lançamento indiscriminado de esgoto e lixos doméstico e industrial.

Bem-estar aquático

No meio de tantas notícias desanimadoras, uma decisão de uma corte distrital da Califórnia, nos Estados Unidos, pode ser considerada uma luz no fim do túnel. A corte direcionou à Marina norte-americana uma proibição preliminar do uso de sonares de baixa freqüência - Low Frequency Active (LFA) – durante testes e treinamentos em áreas identificadas como habitats de mamíferos aquáticos em situação de risco. Sinais de baixa freqüência dos sonares alcançam grandes profundidades e reverberam nos oceanos em níveis que podem impactar signficativamente o sistema de comunicação, baseado em som, de vários seres marinhos (reprodução, busca por comida etc).

A decisão da Justiça californiana, feita no início do ano, foi celebrada por instituições que desenvolvem trabalhos de conservação e proteção animal. "Esta decisão representa uma nova esperança para a vida de baleias e outros mamíferos aquáticos", declarou Jeffrey Flocken, diretor em Washington do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW, em inglês).

Hamburguers mais conscientes

E falando em bem-estar animal, um dos maiores inimigos dos defensores dos direitos dos animais, o MacDonald's, está anunciando medidas que visam melhorar as condições de bem-estar dos animais que dão origem à matéria-prima dos sanduíches. Pelo menos foi o que anunciou a rede britânica da lanchonete no início do ano, afirmando que bem-estar animal está se tornando um assunto muito discutido e considerado pelo consumidor nos dias atuais.

O MacDonald's na Grã-Bretanha vem servindo ovos de galinhas criadas fora de confinamento há 10 anos e recentemente anunciou que está estudando mecanismos de uma criação ainda mais livre das aves. A rede também estaria estudando formas de criar porcos de forma a que eles possam praticar seu comportamento natural, uma vez que no confinamento o estresse faz que um animal morda o rabo do outro, causando sérios ferimentos (e fazendo com que os criadores optem por uma amputação do rabo como medida preventiva para o problema). Em declaração oficial, a rede britânica da marca teria afirmado que "não se importa em pagar um preço justo por um padrão maior de bem-estar dos animais, porque acredita que isso agrega valor aos produtos e é reconhecido pelos clientes."

Como construir uma casa sustentável

Cada vez vai ficando mais difícil afirmar que a construção de uma casa sustentável não é possível por falta de informação ou conhecimento técnico. A Finep - Financiadora de Estudos e Projetos, empresa ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, disponibilizou para download gratuito o livro "Habitações de baixo custo mais sustentáveis: a Casa Alvorada e o Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis." A obra, resultado do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), reúne o histórico e os princípios norteadores dos estudos sobre construções e projetos mais sustentáveis desenvolvidos por integrantes do Núcleo Orientado para a Inovação na Edificação (Norie), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Além de apresentar princípios gerais e diretrizes da sustentabilidade, a publicação descreve detalhadamente estratégias específicas adotadas na busca de conforto ambiental e eficiência energética, aproveitamento e reuso de recursos naturais, gestão da água da chuva e de águas residuais, paisagismo sustentável, escolha de materiais e sistemas construtivos, entre inúmeros outros aspectos priorizados pela construção sustentável. Mais informações no site do programa Habitare - www.habitare.org.br.

Shark oil-free

Uma boa notícia para a conservação de tubarões no mundo foi divulgada recentemente pela ONG Oceana. Depois de se engajar em uma grande campanha mundial contra o uso de óleo de fígado de tubarão - conhecido como squalene, em inglês - em cosméticos, a organização recebeu um comunicado oficial da multinacional Unilever anunciando que a empresa decidiu parar com o uso da substância na produção de suas linhas de cosméticos, entre as quais as famosas Pond's e Dove. A empresa declarou que fará a substituição por uma versão vegetal do óleo e que a nova linha de produção shark oil-free deve levar os primeiros produtos ao mercado já em abril desse ano.

O óleo squalene é encontrado em grandes quantidades em fígados de tubarões, principalmente dos que vivem em maior profundidade. Devido ao valor comercial da substância, usado como emoliente em vários produtos, a captura dos animais especificamente para extração do óleo alcançou níveis alarmantes. Isso contribuiu para a diminuição significativa da população de algumas espécies e levou alguns tubarões para a lista vermelha de ameaçados de extinção. A Europa é o continente que mais extrai e comercializa o óleo de tubarão.

Transgênicos liberados

Na contra-mão sobre os questionamentos e dúvidas acerca dos alimentos transgênicos, o Governo Brasileiro liberou, no início de fevereiro, o plantio e comercialização de duas variedades de milhos transgênicos: um da Bayer (Liberty Link) e um da Monsanto (MON810). Segundo o Greenpeace Brasil, sete dos 11 ministros do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) ignoraram a documentação fornecida que apresentava evidências contra os milhos geneticamente modificados. Votaram a favor da liberação dos milhos transgênicos os ministros da Agricultura, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores, Desenvolvimento, Defesa, Justiça e Casa Civil. E contra, os representantes das pastas de Saúde, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Aqüicultura e Pesca.

“Infelizmente os ministros do Conselho cometeram o mesmo erro de cientistas da CTNBio ao ignorarem tantos documentos importantes que colocam em dúvida a segurança desses milhos. Alguns países europeus proibiram nos últimos meses a comercialização desses produtos justamente por conta dos problemas apontados por essa documentação”, aponta Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil. A ONG declarou que agora vai iniciar campanha para alertar a população brasileira sobre os riscos desses produtos e que também pretende cobrar das autoridades e empresas o respeito à lei de rotulagem, que exige a identificação de todos os produtos fabricados no país com 1% ou mais de matéria-prima transgênica. Esta lei está em vigor desde 2004, mas só começou a ser cumprida este ano, e, mesmo assim, apenas por duas empresa (Cargill e Bunge) para um único produto (óleo de soja).

Soluções em energia

Investimentos de R$ 220 milhões em processos de geração de energia que não agridam o meio ambiente. Trata-se de um centro de desenvolvimento montado pela Vale do Rio Doce e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que leva o nome "CDTE - Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Energia". A sede da nova empresa será no Rio de Janeiro, mas o centro de desenvolvimento das tecnologias e processos funcionará no Parque Tecnológico da cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Sendo uma das maiores consumidoras de energia do país, a Vale do Rio Doce está buscando diversificar e otimizar sua matriz energética utilizando mais carvão térmico, combustíveis renováveis e gás natural.

Lixeira flutuante


A maior lixeira do mundo equivale a duas vezes o tamanho dos Estados Unidos e (pasmem!) está no mar. Oceanógrafos norte-americanos chamam as 100 milhões de toneladas de resíduos que flutuam no Oceano Pacífico do Japão ao Havaí de "sopa de plástico". A lixeira flutuante vem sendo acompanhada desde 1997 e, infelizmente, não tem parado de crescer. Charles Moore, oceanógrafo que descobriu o fenômeno, afirma que os resíduos não biodegradáveis mantêm-se concentrados devido às correntes oceânicas, a 500 milhas náuticas da costa da Califórnia.

Cerca de um quinto dos resíduos seriam provenientes de descargas de navios e de plataformas petrolíferas e o restante teria origem no continente.
Por isso, o alerta de Moore é que, a menos que os consumidores reduzam os seus resíduos plásticos, a lixeira pode duplicar de tamanho nos próximos dez anos. Em tempo: segundo a ONU, os resíduos de plástico são responsáveis pela morte de mais de um milhão de aves marinhas e mais de cem mil mamíferos marinhos por ano.

Fontes: BBC Brasil, O ECO, ENN (Environmental News Network), Greenpeace Brasil, Folha de SP, Agência Fapesp

*Publicado no informatino n. 77 (janeiro/fevereiro 2008) do Instituto Ecológico Aqualung. Versão em PDF aqui.

terça-feira, março 11, 2008

Incentivo negativo

por Jaqueline B. Ramos*

O sagui-de-duas-cores, animal brasileiro ameaçado de extinção, é um dos que não necessitam mais de licença para serem pets no Reino Unido (foto: Dominic Wormell/BBC)
Em outubro de 2007, o Governo Britânico divulgou uma notícia que pode minar os esforços de combate ao tráfico de animais silvestres nos países que “abastecem” o comércio ilegal. Após avaliação e consultas técnicas, definiu-se que 33 animais silvestres, totalizando 120 diferentes espécies, não seriam perigosos o suficiente a ponto de necessitarem de licença para serem comprados como animais de estimação pelo público em geral. A decisão levou a uma mudança na lei de Animais Silvestres Perigosos (Dangerous Wild Animals – DWA Act, em inglês) e levantou questionamentos no próprio país.
Na prática, esta mudança significa que qualquer cidadão britânico pode ir a uma pet shop e comprar sagüis, micos, lemurs, pequenos felinos selvagens e até bichos-preguiça sem qualquer espécie de controle. O Departamento para Assuntos de Meio Ambiente, Alimentação e Rurais (DEFRA, em inglês), órgão governamental responsável pela aplicação da lei DWA, se defende das críticas afirmando que o critério seguido foi apenas o do quanto os animais são perigosos para o homem.

Leia a reportagem completa no site O ECO aqui.

* Publicado no site O ECO em 10/03/2008