segunda-feira, março 23, 2009

Curtas ambientais

por Jaqueline B. Ramos*

Classificação de águas subterrâneas

O ano começou com boas notícias para as águas subterrâneas no Brasil. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) anunciou, em resolução no Diário Oficial da União, que elas serão classificadas de acordo com as características hidrogeoquímicas naturais e com os níveis de poluição. O objetivo principal é indicar a forma adequada de uso para cada aqüífero, além de prevenir e controlar a poluição e promover a proteção da qualidade das águas subterrâneas.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a descontaminação de lençóis subterrâneos é um processo complicado, lento e oneroso. A resolução divulgada pelo Governo também prevê a criação de Áreas de Restrição e Controle do Uso da Água Subterrânea. Elas serão implementadas em caráter excepcional e temporário quando a captação da água representar risco para a saúde humana, para ecossistemas ou para os próprios aqüíferos.

Portal sobre Mudanças Climáticas

Com o objetivo de facilitar o trabalho de jornalistas, estudantes e pesquisadores em geral sobre o tema Mudanças Climáticas, assunto sempre em pauta nos dias atuais, entrou no ar em dezembro o portal http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/. A iniciativa é da Embaixada do Reino Unido no Brasil, do Conselho Britânico e da Agência de Notícia dos Direitos da Infância - ANDI.

Sempre atualizado e com material em português, o portal trata o assunto Mudanças Climáticas de forma clara, acessível e abrangente. Oferece informações e reflexõescontextualizadas, de maneira que o fenômeno apresente-se como de fato é: uma questão transversal, ou seja, que afeta todos os setores da sociedade. Para isso, conta com recursos extras, como vídeos, gravações de depoimentos, fotografias, entrevistas e artigos livres de copyright, desde que citadas as fontes.

Estados Unidos no caminho da sustentabilidade

Mal assumiu a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama já anunciou várias medidas que, uma vez colocadas em prática, podem transformar as decisões antiambientalistas tomadas por seu antecessor literalmente como coisas do passado. Ainda em janeiro Obama assinou decretos que limitam o consumo de combustível e as emissões de gases do efeito estufa pelos automóveis.

Em coletiva de imprensa, o presidente afirmou que as medidas criarão 450 mil empregos na área energética e que economizarão US$ 2 bilhões aos americanos.Obama afirmou ainda que, com a aprovação do Congresso, vai aumentar os padrões de eficiência do consumo de combustível dos veículos das atuais 27,5 milhas por galão para 35 milhas por galão. "Isso pode representar uma economia de dois milhões de barris de petróleo por dia, quase todo o petróleo que importamos do Golfo Pérsico", disse Obama, acrescentando que as indústrias terão até 2011 para se adequar ao novo padrão.

O presidente também ordenou novas diretrizes à Agência de Proteção Ambiental para que mude uma resolução de 2007 que impede os estados de determinar os próprios índices de tolerância de emissão de gases. A mudança atende a um pedido do governo californiano para a revisão da lei. O governo de Arnold Schwarzenegger tem como prioridade os temas ambientais e quer reduzir em 30% a emissão de gases poluentes dos veículos até 2016.

De vilão a vítima

Toda vez que a imprensa registra ataques de tubarões a pessoas surge uma campanha impensada contra os animais, acusando-os de inimigos do homem. E foi exatamente isso que aconteceu em janeiro, quando aconteceram três ataques de tubarão em dois dias na Austrália. Assim, é sempre válido lembrar que, em vez de vilões, os tubarões infelizmente são vítimas do homem.

Os tubarões estão no topo da cadeia alimentar marinha. São predadores poderosos que não tinham concorrentes em seu reino aquático, até o homem entrar no oceano. Segundo dados do Instituto de Pesquisa de Tubarões, da Austrália, a pesca comercial e para o preparo da sopa de barbatana asiática causam a morte de até 100 milhões de tubarões ao ano, incluindo as espécies em risco de extinção.

Em contrapartida, os tubarões aparentemente não gostam do sabor do ser humano. “A maioria dos incidentes de ataques de tubarões não implicam em o predador comer sua presa”, declarou o instituto australiano. Diferente das focas gordurosas, uma das principais presas de tubarões, os homens são ossudos, sem muita gordura. "Os tubarões são oportunistas. Eles nos escutam na água, um barulho que soa como um peixe ou um animal se debatendo na água, e apenas reagem a este instinto mordendo", alertou em uma rádio local o analista marinho Greg Pickering.

De acordo com o Arquivo Internacional de Ataque de Tubarões, houve apenas um ataque de tubarão fatal, em 2007. Esse aconteceu em Nova Caledônia, no Pacífico sul. A média de número de mortes entre 2000 e 2007 foi de cinco ao ano. "Você tem mais chances de morrer dirigindo para a praia", disse John West, curador do Arquivo Australiano de Ataque de Tubarões, do Zoológico de Taronga, em Sidney.

Não ao desperdício de alimentos

Em fevereiro, o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente lançou uma campanha muito adequada para a tomada de consciência em relação aos hábitos e costumes insustentáveis da população em geral. O tema da campanha é desperdício de alimentos e as peças a serem veiculadas na imprensa alertam o consumidor para o fato de que uma grande parcela do que se compra em alimentos vai direto para o lixo.

A iniciativa surgiu da constatação de que, no Brasil, aproximadamente um terço de todos os alimentos comprados em uma casa é desperdiçado. Junto com eles, todas as suas embalagens, toda a água e energia usadas na sua produção, todo o CO2 emitido em sua produção e transporte etc são também jogados fora, gerando inúmeros impactos negativos para a sociedade, a economia e o meio ambiente.

O número é ainda mais alarmante quando pensamos que estamos em um país onde 14 milhões de pessoas vivem em domicílios com insegurança alimentar grave, de acordo com o IBGE. O objetivo da campanha é fazer os brasileiros pensarem sobre este fato e mostrar que é possível mudar este quadro por meio de pequenos gestos diários.

Falta de educação nas estradas

O hábito mal educado e porco de jogar lixo pela janela do carro em estradas gera impactos ambientais muito sérios e um gasto de dinheiro por parte das concessionárias que poderia ser poupado. E segundo a Agência Reguladora de Transporte do Estado de SP (Artesp), o problema se agrava no período de férias, quando o volume de lixo nas rodovias aumenta em 20%.

As concessionárias que administram 4,3 mil quilômetros da malha rodoviária paulista retiram cerca de 900 caminhões cheios de lixo das estradas por mês. A média mensal de detritos retirados das rodovias Anchieta e Imigrantes, por exemplo, é de 147 toneladas - 30% a mais do que dois anos atrás. De acordo com a concessionária Ecovias, o perfil de quem suja as rodovias mudou. Antes, 60% da sujeira eram depositadas por moradores de comunidades próximas.

Hoje, a maior parte do lixo é jogada por ocupantes de veículos.O acúmulo de lixo aumenta o risco de acidentes, obstrui a drenagem das rodovias e coloca animais em risco, pois são atraídos pelo odor de restos de comida. Em 2006, eram 120 animais mortos por mês no sistema Anchieta-Imigrantes. Hoje são 190, sendo 80% cães.

Gestão integrada de recursos hídricos


Um projeto desenvolvido no interior de SP trabalha a idéia de proteção de mananciais aliada com resgate cultural, geração de consciência crítica e implantação de novas alternativas econômicas junto à população rural. O “De Olho nos Rios”, realizado pela ONG Associação Mata Ciliar em 18 municípios e patrocinado pela Petrobras Ambiental desde 2007, desenvolve a idéia de gestão integrada de recursos hídricos.

As ações do projeto são realizadas em comunidades rurais localizadas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. “Nossa estratégia é de uma visão ampla e profunda, onde se destaca o papel das comunidades na preservação do ambiente e entende a água como bem comum e o grande elo da vida. Entendemos que informação só não basta para uma mudança efetiva do homem em relação ao ambiente. Faz-se necessária uma nova abordagem da questão da água junto às comunidades rurais, que estão próximas aos mananciais”, explica Jorge Bellix de Campos, coordenador do projeto e presidente da Mata Ciliar.

Entre os resultados gerados pelo projeto em 2007 e 2008 estão a capacitação de 627 moradores, educadores e técnicos de casas de agricultura em diversos temas, a entrega de 85 fossas sépticas para propriedades rurais, a produção de quase 417 mil mudas e a participação de 108 escolas e mais de 11 mil alunos em atividades de educação ambiental, como visitas a viveiros de mudas, palestras e teatros ecológicos.

Avanços no monitoramento da Amazônia

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciou em janeiro a aquisição de diversas peças para a construção do primeiro satélite desenvolvido no Brasil, batizado de Amazônia-1. Com lançamento previsto para 2011, o novo satélite tem como principal promessa um monitoramento do desmatamento na região Amazônica 25 vezes mais preciso.

O projeto do Inpe consiste em utilizar o Amazônia-1 em conjunto com os satélites CBERS 3 e 4, já em funcionamento, para alcançar uma taxa de revisitação de três dias. Ou seja, os satélites poderão conseguir novas imagens da floresta neste curto período de tempo. "A revisitação há cada dois ou três dias é importantíssima, pois o grande limitante na região Amazônica é a presença de nuvens", explica Dalton Valeriano, coordenador do projeto Amazônia-1, ressaltando que quanto maior o número de observações, maiores as chances de encontrar solo descoberto para o monitoramento de ações de desmatamento.

Outro grande avanço que poderá ser obtido com o satélite brasileiro é a melhora vertiginosa na resolução das imagens. Atualmente o Inpe trabalha com o satélite americano Landsat-5, que captura imagens com uma resolução de 250 metros, permitindo somente monitoramento de áreas desmatadas maiores de 25 hectares. O Amazônia-1 terá uma resolução de 50 metros, o que significa monitorar um único hectare, ou no máximo dois de área mínima, o que representará um grande avanço no monitoramento ambiental da floresta.

Esperança para as harpias

Pesquisadores do Refúgio Biológico Bela Vista, unidade de proteção vinculada à Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, conseguiram reproduzir em cativeiro duas harpias (Harpia harpyja), ave praticamente extinta no Sul do Brasil. O primeiro filhote do animal, também conhecido como gavião-real ou uiraçu-verdadeiro, nasceu no dia 15 de janeiro com aproximadamente 100 gramas, e o segundo, no dia 20 de janeiro, com 62 gramas.

O Refúgio Biológico Bela Vista foi criado para receber plantas e animais desalojados durante a formação do reservatório da usina hidrelétrica. Os filhotes nascidos em janeiro são os primeiros da espécie reproduzidos com sucesso, nos últimos anos, em cativeiro na região Sul do país.

O macho do casal está no refúgio desde 2000, após ser resgatado em uma caixa de papelão em uma rodovia de Foz do Iguaçu. A fêmea chegou em 2002 de Juazeiro, na Bahia, resultado de operações contra o tráfico de animais silvestres. Em 2007 e 2008, o casal de harpias teve três crias, mas nenhuma sobreviveu: a mãe não deu comida e eles não resistiram. A solução, desta vez, foi separar os filhotes da mãe e mantê-los isolados por 30 dias em estufas, onde eram alimentados cinco vezes ao dia.

Segundo Wanderlei de Moraes, veterinário do Refúgio Biológico e um dos coordenadores do trabalho, esse é só o começo do trabalho de recuperação da espécie no Paraná. “Ainda estamos engatinhando no processo de reintrodução da harpia na natureza, o que deve demorar décadas até chegarmos a um número satisfatório de exemplares que possam ser soltos na floresta. O correto é soltar uma população inteira de cativeiro, chamada de geneticamente viável, e não apenas alguns indivíduos”, explicou.

Fontes: Ambiente Brasil, Revista do Meio Ambiente, Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais, BBC Brasil, Instituto Akatu e Agência Fapesp

*Publicado na edição n. 83 (janeiro/fevereiro 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung

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