quinta-feira, agosto 13, 2009

Curtas Ambientais

por Jaqueline B. Ramos*

Irrigação de precisão

A irrigação é considerada a atividade campeã no ranking de desperdício de água. Mas em tempos de necessidade de racionalização do uso de água, a tendência é que atividade passe a utilizar métodos cada vez mais sustentáveis. E a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq) da USP está contribuindo para isso. Pesquisadores estão desenvolvendo novas técnicas de irrigação que utilizam menos água e obtêmo a mesma eficiência produtiva.

A nova técnica de irrigação utiliza microtubos de polipropileno. Esses microtubos têm diâmetros internos que variam entre 0,6 mm e 1,5 mm. "Os métodos que consomem mais água no meio agrícola estão sendo substituídos gradativamente por métodos que consomem menos água, o que mostra uma significativa conscientização por parte de produtores e da comunidade científica", comenta o professor Tarlei Arriel Botrel, que está coordenando o grupo de pesquisadores da Esalq.

O microtubo é um emissor simples, de baixo custo, com o grande benefício de melhor adaptação em condições de topografias onduladas e montanhosas. E os resultados já alcançados com os microtubos em laboratório atendem ao conceito da irrigação de precisão. Este conceito considera que cada planta se desenvolve de maneira particular, atrelado a fatores como clima, solo e variabilidade genética. Então é feita uma análise da planta em questão e fica estabelecida a demanda hídrica específica, contribuindo assim para o uso racional de água.

Pele de tubarão ecológica

Pesquisadores da Universidade da Flórida estão estudando o processo de fixação de cracas (moluscos) nos cascos de navios com o objetivo de diminuir a poluição “descarregada” nos mares. A formação da camada viva aumenta o arrasto da embarcação em 20%, levando a um consumo maior de combustível em cerca de 40%.

Retirar as cracas dos grandes navios é impraticável. Assim, a única saída é evitar a fixação dos micro-organismos. Descartando a opção de tintas tóxicas (biocidas), comumente usadas por navios militares, os pesquisadores começaram a analisar a própria natureza – mais especificamente os seres marinhos - para buscar uma solução para o problema.

O questionamento inicial foi por que animais como tubarões e baleias não são “atacados” pelo problema. Aí se descobriu que o padrão de pele dos tubarões oferece uma resposta adequada e evita o crescimento do biofilme de cracas. O resultado foi a fabricação de imitações desses padrões em laboratório, uma espécie de pele artificial de tubarão batizada de Sharklet. Além dos resultados positivos no combate à proliferação de cracas, o novo material também inibe o crescimento de bactérias, podendo ser utilizado em hospitais e em outros locais públicos para evitar a proliferação de microorganismos danosos à saúde.

Tubarões, mais uma vez, comprovadamente ameaçados

Enquanto alguns pesquisadores se dão conta do quanto a pele dos tubarões pode ajudar a diminuir a poluição causada pelo combustível de grandes navios, outros atestam 32% das 64 espécies de tubarões e raias de profundidade (pelágicos) estão ameaçadas de extinção. O alerta foi dado em junho pelo grupo de especialistas em tubarões da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

A porcentagem de espécies ameaçadas é maior entre aquelas que são pescadas em alto mar, chegando a 52%. Muitos destes tubarões eram pescados “por acidente” nas atividades de pesca industrial de atum e bacalhau. Mas com o tempo ganharam valor comercial, devido a sua carne e barbatanas serem usadas, principalmente, no mercado asiático.

Os tubarões são muito impactados pela sobrepesca pelo fato de levarem muitos anos para se reproduzir. O grupo de especialistas da IUCN pede que os Governos estabeleçam limites para pesca de tubarões e raias baseados em dados científicos e considerando critérios de preservação.
Aeromóvel finalmente no Brasil

O projeto do aeromóvel, criado pelo engenheiro brasileiro Oskar Coester, data da década de 70 e o máximo que conseguiu “decolar” no Brasil foi a implementação de um trecho de testes em Porto Alegre em 1983. Na Indonésia, o veículo – que não tem piloto ou motores, é movido a ar, impulsionado por grandes ventiladores instalados nas extremidades dos condutores - é usado desde 1989. E finalmente, por conta das obras previstas para a Copa de 2014, o projeto ganhará sua primeira versão prática em solo brasileiro.

Cada vagão do aeromóvel pode transportar 140 passageiros. No Brasil a implantação da primeira linha comercial do veículo será na sua terra natal, Porto Alegre, num trecho de pouco menos de um quilômetro que interligará o Aeroporto Internacional Salgado Filho à estação mais próxima do trem metropolitano. O custo inicial estimado para esta obra é de R$ 30 milhões. “Quando o modelo do aeromóvel for viabilizado (economicamente), poderá suprir necessidades internas do país no transporte automatizado de pessoas e, no futuro, até sistemas de transportes de massa. Melhorar o acesso aos aeroportos é uma necessidade que surgiu com a crise do setor aéreo”, comentou Kasper numa reportagem no site O ECO.

Segundo o seu criador, o aeromóvel resolve um dos principais problemas do transporte urbano nacional: a relação entre peso morto e carga útil. Enquanto a maioria dos carros no país pesa uma tonelada e carrega uma pessoa, o veículo movido a ar muda essa relação para 40 quilos para cada passageiro. Com menos peso, há economia de energia, mais segurança e maior eficiência no transporte público.

Pantanal em risco

Um estudo pioneiro divulgado para a revista Época recentemente revela um alerta (infelizmente) já esperado: o Pantanal, a maior área alagada do mundo sustentada por um frágil equilíbrio entre os períodos de cheia e de seca, já perdeu 40% de sua cobertura vegetal. Os maiores responsáveis apontados pelo estudo são a expansão da pecuária e a produção de carvão vegetal para siderúrgicas.

O mapeamento que levantou o risco em que se encontra o Pantanal foi feito por cinco entidades ambientalistas – WWF Brasil, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, Avina e Ecoa. Um detalhamento mostra que embora as áreas de planície estejam bem preservadas, a região das terras altas, onde estão as cabeceiras dos rios responsáveis pelos ciclos de cheia, já tem 58% das matas comprometidas.

A ampliação de pastagens é uma das principais causas do desmatamento no Pantanal. Nos últimos seis anos foram abertos 12.000 quilômetros quadrados de novos pastos na região, o equivalente a dez municípios do Rio de Janeiro. O desmatamento para pastagens somado a queima de vegetação para a produção de carvão cria o cenário que coloca em risco uma das maiores riquezas do Brasil.

Ecossistemas marinhos on line

Já está no ar o site www.wdpa-marine.org., que traz informações completas e atualizadas sobre a situação dos ecossistemas marinhos ao redor do planeta. Construído pelas equipes do Centro Mundial de Monitoramento de Conservação das Nações Unidas (UNEP-WCMC) com a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), o projeto do site visa ajudar os países a reverem suas proporções de ambientes marinhos protegidos – hoje menos e 1% é protegido. De acordo com o portal, as 67 unidades de conservação marinhas brasileiras protegem 16.5% do nosso mar territorial.

Destino final: lixões

De acordo com a própria Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), a maioria dos municípios no Brasil ainda usa lixões como destinação final de seus resíduos, sem qualquer proteção sanitária. A revelação foi feita recentemente pelo presidente da entidade, Diógenes Del Bel, numa entrevista para a Agência Brasil.

O poder público, nos municípios, ainda não conseguiu sequer erradicar os lixões. Então, nós temos municípios com custo zero na destinação dos seus resíduos”, disse Del Bel na entrevista, ressaltando que inclusive uma parte do lixo industrial é tratada por empresas de pequeno e médio portes que não dão uma destinação adequada.

Apesar das deficiências, Del Bel revelou que as perspectivas de crescimento do setor são boas, principalmente com a introdução de novas tecnologias – que devem ser precedidas pela implantação de políticas públicas. Entre estas tecnologias estão a incineração com recuperação de energia, a manufatura reversa de diversos bens de consumo no fim de vida e a descontaminação de resíduos após o consumo para reaproveitamento.

Brasil pró bem-estar animal

A campanha internacional pelo reconhecimento mundial do bem-estar animal junto à ONU tem o Brasil como um forte aliado. Nós somos o segundo país com maior número de participantes do abaixo-assinado pela Declaração Universal de Bem-Estar Animal – DUBEA, ficando atrás somente dos Estados Unidos. A petição brasileira tem 232 mil assinaturas e a americana, 327 mil.

E em maio uma assinatura muito importante se juntou ao abaixo-assinado brasileiro: a do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A DUBEA foi lançada mundialmente em 2006 pela WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal lançou, em junho de 2006, com o objetivo de estabelecer critérios uniformes para a proteção dos animais em todo o mundo. A declaração consiste numa espécie de acordo que estabelece diretrizes básicas de bem-estar, reconhecendo os animais como seres sencientes (que têm sentimentos) e sua proteção como importante meta para o pleno desenvolvimento social das nações.
Para assinar a declaração acesse http://www.animalsmatter.org/.

Dentistas verdes

A odontologia também pode ter responsabilidade ambiental. Esta é a proposta da ONG Turma do Bem, que criou o projeto “Dentista Verde”. O projeto propõe práticas sustentáveis aos profissionais de odontologia no cuidado de seus pacientes e do planeta, que são apresentadas no Manual do Dentista Verde.

O manual traz dicas práticas para que os dentistas contribuam com a sustentabilidade do planeta. A publicação orienta os profissionais a incorporarem atitudes concretas em seu dia-a-dia e em seu ambiente de trabalho, como lidar com produção e tratamento de resíduos sólidos, uso de energia, emissão de gases efeito estufa e o relacionamento com fornecedores. A idéia principal é mostrar que pequenas atitudes dão uma grande contribuição para o futuro do planeta.

O manual é um dos itens do kit que será vendido aos dentistas voluntários ligados à Turma do Bem, que hoje somam mais de cinco mil em todos os estados brasileiros. O kit também contém duas latas para coleta de escovas dentais e tubos de pasta de dente usados. Este material será recolhido e entregue a um artista plástico, que criará uma escultura para ser exposta ao público e fomentar a discussão sobre produção de lixo.

Fontes: Ambiente Brasil, O ECO, Revista Época, Agência Brasil, IUCN

*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 85 (maio/junho 2009). PDF do informativo aqui.

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