sábado, janeiro 24, 2009

Foto: FAO

Vegetarianismo e Meio Ambiente

Por Jaqueline B. Ramos*

Complementando a frase famosa do fazendeiro e escritor norte-americano Wendell Berry - “comer é um ato agrícola” -, podemos dizer que se alimentar é também um ato ecológico. Mas o mecanicismo da vida moderna faz com que um fato simples passe desapercebido por muitos: o que comemos determina, em grande parte, o que fazemos do mundo e o que vai acontecer com ele. E a opção por não comer carne e/ou produtos de origem animal contribui – e muito – para a meta de um mundo mais sustentável.

A afirmação de que vegetarianismo é “ambientalismo da boca para dentro” sempre foi muito clara para quem já é adepto da dieta. E agora, em tempos de aquecimento global, esta idéia está ficando cada vez mais clara para todos. Em setembro de 2008, o Prêmio Nobel da Paz Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas, declarou publicamente que as pessoas deveriam considerar comer menos carne como uma forma de combater o aquecimento global. Embora não seja uma afirmação direta, o alerta de Pachauri pode ter feito muitos pensarem sobre a relação entre vegetarianismo e meio ambiente.

O primeiro alarme sobre os impactos do consumo de carne para o meio ambiente foi dado pela própria ONU há dois anos, com o relatório “A Grande Sombra dos Estoques Vivos: questões ambientais e opções" (Livestock's Long Shadow: environmental issues and options). O documento foi resultado de um extenso levantamento realizado pela FAO, a agência da ONU para Agricultura e Alimentação, e uma das principais conclusões tiradas foi a de que a pecuária industrial (leia-se a produção de carne, laticínios e outros produtos de origem animal em larga escala) é responsável por nada mais nada menos do que 18% do total de emissão de gases ligados diretamente ao aquecimento global.

Este resultado foi muito surpreendente ao dar conta que esta porcentagem é maior, por exemplo, que a soma da poluição causada por todos os meios de transporte do planeta, que é de 13%. Em outras palavras, não basta só andar de bicicleta. Para ter uma conduta ambientalmente correta e responsável, é necessário repensar e refletir sobre o que você está comendo.

A Amazônia na pata do boi

O alerta dado pela ONU promoveu uma discussão mais aberta sobre os impactos ambientais relacionados diretamente à produção de carne em larga escala, considerando todas as etapas da cadeia produtiva da pecuária industrial (veja mais detalhes no boxe). E, infelizmente, estes impactos não são poucos.

Calcula-se que hoje a pecuária industrial usa 70% das áreas agricultáveis do planeta, o que corresponde a 30% de toda a terra firme existente e faz com que ela seja a atividade humana que lidera a ocupação de terras. Conseqüentemente, os grandes problemas ambientais que assolam a humanidade estão também relacionados a ela, como o aquecimento global, a degradação de terras, a poluição do ar e da água e a destruição de florestas e da biodiversidade – entrando aí, inclusive, a destruição da Floresta Amazônica, que vem sendo literalmente pisoteada por pastos nos últimos anos.

Na Amazônia, 70% de áreas que foram deflorestadas hoje são usadas como pasto (o restante é ocupado por monoculturas de soja). Além disso, em 70% das pastagens inutilizadas por degradação da terra, a causa foi o uso excessivo pela própria pecuária, que causa compactação e erosão no solo. O relatório “O Reino do Gado”, da OSCIP Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, lançado no início de 2008, ressalta que a Amazônia legal (estados da região Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão) hoje é responsável por 41% dos abates bovinos no Brasil. O aumento vertiginoso do rebanho bovino na área da floresta tem relação direta com o fato do país ter se tornado o segundo maior produtor e maior exportador de carne bovina do mundo em 2004. O estado do Pará, por exemplo, aumentou sua exportação direta (em peso) em inimagináveis 7800%.

Ainda segundo o relatório, hoje se estima um número aproximado de 74 milhões de cabeças de gado na Amazônia, ou 3,3 animais por habitante, o triplo da média nacional. Portanto, não é de se espantar que estes números astronômicos sejam acompanhados por uma progressão preocupante nas taxas de desmatamento da maior floresta tropical do mundo. A área desmatada acumulada atingiu, em 2007, cerca de 720 mil km2, ou 18% de sua área total. E, para piorar, a pecuária ainda tem um poderoso aliado na sua missão destrutiva: a monocultura da soja, usada para alimentar rebanhos que não têm mais pastagem para comer.

Impactos ambientais e sociais da pecuária industrial

A conservação da biodiversidade também sofre ameaças com o crescimento da pecuária. De acordo com a WWF (World Wide Foundation), 306 das 825 eco-regiões terrestres (grandes áreas que interagem ecologicamente, garantindo a manutenção da vida de um grande número de espécies) identificadas em todo mundo têm a pecuária como uma das principais ameaças. E dos 35 “hotspots” de biodiversidade (áreas chaves que já assistem uma grande degradação de sua diversidade biológica) mapeados pela Conservação Internacional (Conservation International), 23 já são afetados pela pecuária.

O uso insustentável dos recursos hídricos é outra problemática relacionada à pecuária industrial. A ONU estima que a pecuária é a maior fonte geradora de contaminação de cursos d’água, devido principalmente a grande quantidade de dejetos produzida pelos dos animais e descartada in natura em rios, aos antibióticos e hormônios usados na criação e às substâncias químicas usadas em monoculturas para a produção de ração. Os efluentes dos rebanhos mundiais também são responsáveis por 64% da amônia lançada na atmosfera e nos cursos d’água, o que contribui significativamente para o aumento de chuvas ácidas.

Além da contaminação, a pecuária é a atividade que utiliza a maior quantidade de água, considerando que mais da metade do que é cultivado é destinado para a produção de ração. A alimentação de bois, porcos, aves e até peixes carrega o passivo do uso excessivo e irracional de água dos reservatórios e aqüíferos. A carcinicultura (criação de camarão em viveiros, como fazendas marinhas, geralmente por grandes corporações) é um exemplo de mau uso da água pela pecuária industrial. A atividade consome mais água doce do que a irrigação para agricultura – 50 a 60 mil litros de água por cada quilo de camarão produzido. Além disso, a construção de viveiros degrada nascentes e compromete os manguezais.

O processo de abate dos animais também consome uma grande quantidade de água. Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), os abatedouros paulistas utilizam, em média, 12 litros de água para processar a carcaça de um frango e 2.500 litros para a de um bovino. Em tempo: para o homem, o consumo de 120 litros por habitante é considerado mais do que suficiente para atender todas as necessidades diárias.

Se não bastassem todos os problemas ambientais, a produção de carnes e derivados em larga escala também está diretamente relacionada a sérios impactos sociais. De acordo com dados da ONG Repórter Brasil, em 2007 a atividade pecuária foi a campeã brasileira de escravidão, pois empregava pelo menos 62% da mão-de-obra escrava identificada na época no país. Tudo tendo como cenário a Amazônia.

No início de 2008, uma outra história inimaginável para os dias atuais veio à tona: uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Norte flagrou crianças e adolescentes trabalhando em abatedouros municipais. Em galpões sem as mínimas condições sanitárias e em meio ao cheiro de sangue e gritos de agonia dos bois e vacas, as crianças trabalhavam nos matadouros por sobras de animais para suprir a alimentação da família.

Consumo consciente

Após tomar conhecimento dos impactos socioambientais da pecuária industrial, não fica difícil concluir a relação direta entre vegetarianismo e conservação ambiental. Mas quando o objetivo é perseguir a sustentabilidade, é preciso também ficar atento ao seu modelo de consumo um todo, um conceito hoje conhecido – e amplamente divulgado – como consumo consciente.

Na área de alimentação, cortar carnes e derivados é um passo enorme, pelos motivos óbvios já expostos. O segundo passo é ficar atento à origem e modelos e técnicas empregadas nos sistemas de produção dos vegetais e frutas que serão a base de seu cardápoio. Portanto, dar preferência ao consumo de produtos orgânicos (que não utilizam insumos químicos e agrotóxicos) e/ou de produtos locais, produzidos por pequenos agricultores da sua região é, no mínimo, tão importante como o cuidado de eliminar produtos animais da dieta.

No mais, o importante é ter em mente que o vegetarianismo consciente é aquele que faz a diferença, não só em relação às atitudes éticas com animais a aos benefícios a sua saúde, mas também em relação ao uso sustentável dos recursos naturais. Tudo baseado no conceito do respeito: respeito aos outros animais, a você e ao planeta.

# Os problemas dos “estoques vivos”

O relatório “A Grande Sombra dos Estoques Vivos”, da FAO/ONU usou uma nova perspectiva para medição de emissão de gases causadores do aquecimento global. Em vez de considerar os efeitos separadamente, mediu-se de forma cumulativa as emissões ao longo de toda a cadeia produtiva da pecuária industrial.


Além das emissões provocadas pelo sistema digestivo dos animais (metano produzido pela fermentação entérica, processo digestivo dos herbívoros ruminantes, e óxido nitroso emitido pelas fezes), a conta engloba as emissões de CO2 geradas nas várias etapas da produção. Foi medido todo o gás carbônico gerado, por exemplo, nas queimadas que precedem a formação de pastos e no uso de energia – quase sempre à base de queima de combustíveis fósseis – para fabricação de insumos agrícolas, produção de ração, bombeamento de água, transporte de animais vivos, abate e processamento das carcaças, manutenção dos estoques refrigerados nos pontos de venda e das carnes refrigeradas na casa das pessoas, até o momento do consumo.

A conclusão é que a pecuária industrial é responsável pelas seguintes porcentagens do total de emissões:

- 9% das emissões de gás carbônico (CO2).
- 37% das emissões de metano (CH4), 23 vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2.
- 65% das emissões de óxido nitroso (N2O), 296 vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2.

Saiba mais: http://www.fao.org/ag/magazine/0612sp1.htm

# O custo da produção de carne no Brasil

- Destruição de florestas (para cada quilo de carne bovina produzida são desmatados 10 mil metros quadrados de floresta, por exemplo).
- Grande consumo de água (para cada quilo de carne bovina produzida são consumidos 15 mil litros de água doce limpa, por exemplo).
- Emissão de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, em quantidades significativas, diretamente na atmosfera.
- Despejo de boro, fósforo, mercúrio, bromo, chumbo, arsênico, cloro, entre outros elementos tóxicos provenientes de fertilizantes e defensivos agrícolas, que se infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos.
- Descarte de efluentes como sangue, urina, gordura, vísceras, fezes, ossos e outros, que acabam chegando aos rios e oceanos depois de contaminarem solo e aqüíferos subterrâneos.
- Consumo excessivo de energia de fontes não renováveis e poluentes (combustíveis fósseis).
- Despejo, no meio ambiente, de hormônios, antibióticos, analgésicos, bactericidas, inseticidas, fungicidas, vacinas e outros fármacos via urina, fezes, sangue e vísceras, que inevitavelmente atingem o lençol freático.
- Pesados encargos para os cofres públicos com tratamentos de saúde decorrentes da contaminação gerada pela pecuária.
- Gastos do poder público com infra-estrutura e saneamento necessário para equilibrar os danos causados pela pecuária.

Fonte: Relatório “Impactos para o Meio Ambiente do uso de animais para alimentação”, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB, 2007)

# Entrevista Karen Soeters, diretora do filme “Meat the Truth”

“A preocupação com os animais está intimamente ligada à preocupação com o meio ambiente”

A holandesa Karen Soeters diz ser uma ativista dos direitos dos animais e do meio ambiente desde que se entende como gente. Desde agosto de 2007 ela faz parte da equipe da Fundação Nicolaas G. Pierson (NGPF), uma espécie de braço científico do Partido dos Animais da Holanda, primeiro e único no mundo. Membro do Conselho da Sociedade Vegetariana Holandesa, Soeters dirigiu o filme “Meat the Truth”, que teve estréia mundial em 2008 em Londres.

Apresentado por Marianne Thieme, membro do parlamento holandês e fundadora do partido, “Meat the Truth” demonstra e ratifica com exemplos os dados alarmantes levantados pela ONU sobre os impactos ambientais da pecuária industrial e faz uma avaliação bem crítica do “modelo norte-americano carnívoro” de dieta, que acaba influenciando o restante do mundo em detrimento do uso sustentável dos recursos naturais e do sofrimento de milhares de animais.

Mas o trocadilho do nome (Carne, a verdade, ou, pela sonoridade em inglês das palavras meat e meet, Conheça a verdade) remete ao filme “Uma Verdade Inconveniente”, de Al Gore. O ex-quase vice-presidente dos Estados Unidos não citou em nenhum momento em seu documentário a problemática da pecuária industrial para o aquecimento global. E esta foi a brecha para a NGPF produzir o filme.

“A fundação foi pesquisando o assunto cada vez mais a fundo. E quanto mais descobríamos evidências sobre a dimensão do impacto da pecuária industrial no clima, mais nos perguntávamos sobre o porquê de Al Gore não ter feito nenhuma citação do assunto em seu filme. Começamos a desconfiar que esta verdade talvez fosse muito inconveniente para ele”, explica Soeters, remetendo ao fato de Gore ser dono de criações de gado.
Nesta entrevista a diretora fala sobre a mensagem passada pelo filme, a importância da divulgação de informações sobre os bastidores da pecuária industrial e o quanto cada um pode ajudar a minimizar os impactos ambientais fazendo mudanças na dieta.

Como surgiu a idéia de produzir “Meat the Truth”?

Karen Soeters:
A idéia começou a nascer quando o presidente da fundação, Niko Koffeman, leu um artigo que sugeria que a dieta vegetariana emitia menos gases poluentes do que a onívora. Isso inspirou a NGPF a pesquisar mais o assunto. Apesar das pessoas saberem, por exemplo, o impacto ambiental da destruição de florestas para plantação de soja para ração animal, nunca se deu muita atenção à participação da pecuária industrial para o aquecimento global.

A fundação foi pesquisando o assunto cada vez mais a fundo. E quanto mais descobríamos evidências sobre a dimensão do impacto da pecuária industrial no clima, mais nos perguntávamos sobre o porquê de Al Gore não ter feito nenhuma citação do assunto em seu filme. Começamos a desconfiar que esta verdade talvez fosse muito inconveniente para ele.

No entanto, a decisão por usar um filme como um meio de despertar o mundo para a problemática do aquecimento global nos inspirou. Percebemos que um filme também poderia ser uma ótima maneira de divulgar nossa mensagem e estimular o debate sobre a necessidade de se diminuir o consumo de carne. Digamos então que Meat the Truth é uma espécie de complemento, ou uma errata de “Uma Verdade Inconveniente”.

Vocês ressaltam que as pessoas simplesmente não estão informadas sobre o grande impacto ambiental gerado pela pecuária industrial e que a informação poderia mudar dietas em prol de um mundo mais sustentável. Este é o principal objetivo do filme, suprir a falta de informação?

Karen Soeters:
A falta de informação é, certamente, um dos maiores problemas. Se as pessoas não sabem sobre os impactos da pecuária industrial e do consumo de carnes, como podem vir a mudar seus hábitos alimentares? No geral o público fica muito surpreso ao descobrir que a pecuária é um dos maiores emissores de gases poluentes, mais que os meios de transporte. E a surpresa ainda é maior quando se dão conta que cortando ou diminuindo seu consumo de carne, nem que seja por alguns dias da semana, elas podem contribuir muito para o controle das mudanças climáticas.

Nossos governos não estão fazendo nada para informar as pessoas sobre a necessidade de se reduzir o consumo de carne em prol de um mundo mais sustentável. Há estímulo para economia de energia e menos uso de carros, por exemplo, o que é necessário, logicamente. Mas ao mesmo tempo sabemos que a contribuição disso é muito pequena se comparada à redução do consumo de produtos derivados de animais. Enquanto isso os governos continuam incentivando o setor e patrocinando campanhas que estimulam o consumo de carne. É uma visão muito limitada.

O filme aponta a dieta norte-americana como a mais insustentável, devido ao consumo excessivo de carnes e laticínios. É importante mostrar as conseqüências dessa dieta insustentável para o resto do mundo, considerando a influência que os Estados Unidos têm sobre outros países?

Karen Soeters:
Países em desenvolvimento tendem a seguir exemplos do mundo ocidental, o que leva a um aumento progressivo no consumo de carne. Só que este modelo de consumo é insustentável, considerando nossa realidade. Não podemos continuar a produzir e comer carne neste ritmo. Se todas as pessoas no mundo começassem a comer carne na mesma quantidade que o ocidente, precisaríamos de três planetas para alimentá-las. Precisamos mudar nossas dietas para algo que valha a pena ser copiado, uma dieta mais sustentável baseada em frutas e vegetais.

Qual é a principal mensagem de “Meat the Truth”?

Karen Soeters:
Assim como o prêmio Nobel Rajendra Pachauri (presidente IPCC, da ONU), nossa mensagem é pedir para as pessoas pensarem sobre diminuir o consumo de carne em seu dia-a-dia. Nosso filme não diz “pare de comer carne”, e sim “por favor, pense sobre a redução de carne. Pelo planeta e pelos animais.” Dessa forma também mostramos que a preocupação com os animais está intimamente ligada à preocupação com o meio ambiente.

Encorajar as pessoas a reduzirem seu consumo de carne, nem que seja aos poucos, é provavelmente a estratégia mais efetiva para obter resultados num longo prazo. Mais do que insistir que todos se tornem vegetarianos, por mais maravilhoso que isso fosse. Esta estratégia aproxima mais as pessoas dos passos a serem tomados para se fazer mudanças definitivas na dieta. E também estimula a pensar em alternativas e sobre a origem do que está sendo ingerido, o que pode ser uma base para uma dieta regular mais equilibrada, nem que seja semi-vegetariana, ou vegetariana apenas alguns dias. Um dia sem carne pode se tornar dois, que pode virar três, e aí por diante.

A grande questão é que as pessoas comem carne por costume e não fazem a conexão do que comem com o processo de obtenção dos alimentos. Aí seres sencientes se tornam sinônimos de proteína. Mas apesar de tudo, acredito que há um grande potencial para mudanças à medida que todos se derem conta de que o que fazemos é desumano e insustentável. Quanto mais pessoas abraçarem a causa de defesa dos animais e do meio ambiente, melhor.

Para assistir o filme pela Internet (versões em inglês e em holandês), faça contato com a fundação - http://www.meatthetruth.nl/

*Matéria publicada na Revista dos Vegetarianos (edição 27, janeiro 2009)

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Turismo e sustentabilidade socioambiental

Por Jaqueline B. Ramos*

Várias são as denominações usadas para definir uma atividade turística sustentável, aquela em que o turista deixa de ser um mero elemento em busca de diversão, descanso e/ou consumo e se torna um visitante consciente em busca de conhecimento, contemplação e atividades que tenham um diferencial em termos de sustentabilidade socioambiental. De turismo responsável a ecoturismo, passando por turismo ecológico ou de natureza, cada um tem a sua característica. Mas todos têm um ponto em comum que os caracterizam como atividades especiais: o respeito pelo meio ambiente, pela biodiversidade e pelas tradições socioculturais das localidades visitadas.

Segundo o Acordo de Mohonk, assinado por 20 países num evento realizado nos Estados Unidos em 2000, Turismo Sustentável é aquele que busca minimizar os impactos ambientais e sócio-culturais, ao mesmo tempo em que promove benefícios econômicos para as comunidades locais e destinos (regiões e países). O evento discutiu pela primeira vez os princípios e componentes que deveriam fazer parte de um programa sólido de certificação de turismo sustentável e ecoturismo (o turismo sustentável em áreas naturais, que beneficia o meio ambiente e as comunidades visitadas).

O alcance da sustentabilidade socioambiental das atividades turísticas e a ampliação da consciência dos turistas é uma meta dos atores sociais – operadores de turismo, associação de moradores, ONGs, órgãos de fiscalização etc – que encaram o desafio de atuar no segmento. E aqui no Brasil uma cidade pode ser considerada um exemplo de modelo bem sucedido na aplicação do tão idealizado turismo sustentável: a famosa Bonito. Localizada no Mato Grosso do Sul, na região da Serra da Bodoquena, a cidade é um verdadeiro paraíso natural, rica em rios de águas transparentes, cachoeiras, grutas e cavernas. E o melhor: tudo devidamente conservado.

Há cerca de 17 anos, proprietários particulares de terras na região perceberam o potencial turístico de Bonito e transformaram seus atrativos naturais em produtos turísticos. Hoje o turismo na cidade é coordenado e executado pelos próprios proprietários e moradores e apenas uma área é operada pelo Governo. Receber os turistas com responsabilidade ambiental – leia-se investindo em planos de manejo das áreas, coleta seletiva, tratamento de água e esgoto nas pousadas etc – é uma prerrogativa do dia-a-dia e da economia da cidade. Afinal de contas, a preservação do ambiente natural é também a garantia da geração de renda.

“Uma coisa que sempre tivemos cuidado e que nunca abrimos mão foi o ritmo de recebimento de pessoas. Para seguirmos os critérios de conservação e preservação das áreas naturais, temos que controlar o número de entrada de pessoas. O turismo pode sim acontecer de forma sustentável, e Bonito é uma prova disso, mas nunca poderá ser um turismo de massa”, explica Lílian Saab, operadora de turismo da região e uma das precursoras das atividades em Bonito. “O turismo sustentável é uma atividade mais abrangente do que simplesmente o atendimento ao turista. Um dos nossos objetivos é que o visitante tenha o entendimento de que o homem pode se integrar à natureza sem destruí-la.”

Conservação da floresta e turismo

Bonito hoje conta com 70 pousadas e hotéis e a cidade está sempre lotada, é claro, dentro da sua capacidade sustentável. Lílian diz que o segredo é fazer o turismo de forma organizada. “Turismo sustentável nada mais é do que organizar a visitação usando critérios de conservação da natureza e do meio ambiente”. Num outro cenário, o turismo sustentável, mais organizado e respeitando características sociais e ambientais regionais, é visto como uma das alternativas para proporcionar a conservação - ou a não derrubada - de uma área da floresta amazônica.

Através do Serviço Florestal Brasileiro, o Ministério do Meio Ambiente assinou recentemente os primeiros contratos de concessão na Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. Em linhas gerais, a idéia é colocar em prática um programa de uso múltiplo da floresta, no qual atividades de manejo florestal sustentável de produtos madeireiros e não-madeireiros serão conjugadas com a oferta de hospedagem e visitação em 46 mil hectares de floresta. O objetivo do turismo neste contexto é contribuir para a conservação da região, gerar empregos e renda à população local e levar investimentos para os municípios, sendo mais uma alternativa viável de atividade econômica para tornar a derrubada da floresta algo cada vez mais inviável e, obviamente, insustentável.

“Entre as categorias de turismo que identificamos serem aplicáveis para florestas densas, pretendemos investir mais nas atividades de turismo educativo, ou ambiental, aquele praticado por pesquisadores, estudantes ou turistas comuns que já tenham conhecimento da região e queiram interagir com a natureza e com as populações locais, buscando sempre obter conhecimento”, afirma Roberto Waack, da empresa Amata, vencedora da licitação feita pelo Governo e responsável pela gestão e operacionalização das atividades em Jamari, que terão início em 2009.

Waack conta que o modelo de turismo a ser aplicado na floresta tem inspiração em experiência similar bem sucedida na Costa Rica. E ressalta que um diferencial a ser implementado é o suporte a ser dado para a população local na formação e preparação para receber esse turista que vai ajudar a floresta a ficar em pé. “Nesta perspectiva de uso múltiplo da floresta, o turismo será um dos elementos a serem trabalhados e não prescindirá de um processo de informação e educação da população local. Ou seja, é um processo muito mais rico do que simplesmente receber visitantes. Será a primeira experiência no Brasil de um turismo integrado num plano maior de manejo florestal e queremos que ela se torne uma referência na área”, vislumbra Waack.

Turismo Comunitário

Entrevista:
Mônica Barroso (sócia-fundadora e vice-presidente do Projeto Bagagem)

O Projeto Bagagem é uma ONG que visa a criação de uma Rede de Economia Solidária baseada no turismo de base comunitária no Brasil. Sua principal estratégia é apoiar a criação de roteiros turísticos que beneficiem prioritariamente as comunidades visitadas através da geração de renda e participação direta da população local. O projeto identifica ONGs que são referência por seus trabalhos em diversas áreas e em parceria com elas constrói um roteiro de turismo e convivência que se torna fonte de renda para as comunidades e aprendizagem para os participantes.

Em 2007 o projeto foi reconhecido com o prêmio Seed Awards, do PNUD (Nações Unidas), pela importância de suas iniciativas. Nesta entrevista, uma da criadoras e atual vice-presidente do Projeto Bagagem explica melhor a proposta de trabalho:

IEA: Como surgiu o Projeto Bagagem?

Mônica: O Projeto Bagagem nasceu a partir de um sonho meu e da Cecília Zanotti (presidente) de desenvolver um projeto social que gerasse um impacto positivo direto nas comunidades envolvidas, e que, ao mesmo tempo, mobilizasse a sociedade para a questão do desenvolvimento comunitário como solução social, econômica e cultural. Essa consciência, aliada à nossa paixão por viajar pelo país conhecendo diversas iniciativas, nos levou a pensar numa forma de tornar essa oportunidade acessível a qualquer pessoa que tivesse interesse em conhecer o país de forma mais aprofundada, verdadeira, tendo contato direto com sua gente e vendo de perto o Brasil que dá certo mesmo nos lugares mais adversos.

IEA: Qual é o conceito de turismo comunitário?
Mônica: O turismo de base comunitária, da forma como o Projeto Bagagem o implementa, representa não só uma alternativa de geração de renda para as comunidades envolvidas nos roteiros, mas uma atividade produtiva que valoriza os meios de vida local: a cultura, os saberes tradicionais, os recursos naturais. A idéia é promover o local através de uma atividade que seja gerenciada pelos próprios moradores, invertendo a lógica do turismo que apenas percorre lugares, sem prestar atenção nem envolver os moradores locais. A partir do momento que a população local percebe o valor (econômico, social e cultural) da atividade, aumentam sua auto-estima, seu espírito de empreendedorismo e seu poder de negociação.

IEA: Qual é o perfil do "turista comunitário"?
Mônica: Desde 2002 aproximadamente 150 'bagageiros' (como chamamos os viajantes) já participaram de viagens aos roteiros do Projeto Bagagem. A maioria é de brasileiros, principalmente provenientes dos grandes centros (São Paulo e interior, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá). E os 15% restantes foram estrangeiros, em sua maioria que já possuíam uma relação com o Brasil, de países como Inglaterra, Suíça, Itália, Estados Unidos, África do Sul, Espanha, França, Suécia, Holanda, Áustria. O perfil dos 'bagageiros' é bastante variado. No entanto, há o que chamamos de uma 'seleção natural', pois as pessoas que se inscrevem para participar de nossas viagens já possuem um interesse diferenciado, uma vontade de viajar de um jeito diferente, não-convencional. Em geral são pessoas flexíveis, abertas a novas experiências, curiosas por modos diferentes de vidas e realidades.

IEA: Quais foram os maiores resultados conquistados pelo projeto desde a sua implantação?

Mônica: Podemos dizer que o Projeto Bagagem já gerou um impacto positivo não só nas comunidades envolvidas, através da geração de renda e da valorização dos meios de vida locais, mas também nos participantes das viagens e na postura dos parceiros locais perante a este novo conceito que introduzimos. O principal impacto nas comunidades é a geração de renda adicional e a consciência de que é possível fazer um turismo de forma diferente, fazendo amizade, brincando. Ou seja, o turismo passou a ser visto como uma oportunidade e não mais como uma ameaça, e é muito bacana constatar que as comunidades percebem a diferença entre o turista convencional e o bagageiro, e o prazer que eles têm em receber nossos grupos.

Nos participantes o impacto das viagens é imediato e profundo. Algumas vezes a participação na viagem se torna um divisor de águas na vida do participante, o que é muito gratificante para nós. E para os parceiros locais a experiência também representa uma nova área de atuação junto às comunidades. Aos poucos os parceiros vão criando seus próprios núcleos de turismo comunitário para que a atividade se torne uma alternativa de geração de renda sustentável para as comunidades.

Saiba mais: http://www.projetobagagem.org/

*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 81 (setembro/outubro 2008). Veja aqui.
CURTAS AMBIENTAIS

Por Jaqueline B. Ramos*

Aquecimento global e cidades

O artigo “A contribuição das cidades para o aquecimento global”, do inglês David Satterthwaite, publicado na última edição da revista “Meio Ambiente e Urbanização” (Environment and Urbanization, em inglês), divulgou uma conclusão curiosa. Ao contrário do que se imaginava, as cidades não são as maiores vilãs quando o assunto é aquecimento global. O peso das cidades no total de emissões é de cerca de 40%, bem menos do que os 80% que são constantemente apontados, conforme aponta o estudo citado no artigo.

“Acusar unicamente as cidades pelas emissões de gases estufa ignora o papel importante delas como parte da solução para o problema. Cidades bem planejadas e bem administradas podem fornecer altos níveis de vida que não impliquem emissões elevadas”, declarou à imprensa o autor da pesquisa, que é membro do Instituto Internacional para Ambiente e Desenvolvimento (IIED, sigla inglês). Ainda segundo o estudo, o potencial das cidades de ajudar nas políticas para enfrentar o aquecimento global tem sido prejudicado por conta desse erro de avaliação.

Satterthwaite destaca que as cidades oferecem muitas possibilidades de reduzir a emissão per capita de gases estufa, como a promoção do uso de bicicletas, de caminhar ou do transporte público, além da construção de edifícios que demandam menos energia.“As reduções necessárias nas emissões mundiais dependem do potencial das cidades de combinar alta qualidade de vida com baixas emissões de gases estufa”, destacou.

Aquecimento global e pecuária industrial

Ainda tendo como motivação o aquecimento global, outro dado importante teve sua divulgação reforçada recentemente com uma declaração do Prêmio Nobel da Paz Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Numa espécie de alerta, ele fez um apelo para que as pessoas passassem a considerar comer menos carne como uma forma de combater o aquecimento global.

O pedido público de Pachauri foi embasado em um dado divulgado pela agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) há dois anos: o de que a pecuária industrial (leia-se a produção de carne, laticínios e outros produtos de origem animal em larga escala) é responsável por nada mais nada menos do que 18% do total de emissão de gases ligados diretamente ao aquecimento global. Essa porcentagem é significativa e maior, por exemplo, do que a soma da poluição causada por todos os meios de transporte do planeta, que atinge a marca de 13%.

“Eu quero destacar que entre as opções para reduzir as mudanças climáticas, mudar a dieta é algo que deveria ser considerado”, declarou Pachauri. Em outras palavras, o recado é que em tempos de aquecimento global, o que comemos é tão ou mais importante do que o que dirigimos.

Tubarões contra o câncer

O tubarão pode ganhar uma fama menos assustadora (e mais justa) quando uma descoberta de cientistas australianos se tornar realidade e for amplamente utilizada. Uma equipe da Universidade La Trobe, de Melbourne descobriu que anticorpos do sangue dos tubarões podem se tornar uma arma poderosa no combate ao câncer.

Os tubarões possuem um sistema imunológico semelhante ao do homem, mas os seus anticorpos são excepcionalmente resistentes. Os pesquisadores acreditam que podem aproveitar essa resistência para ajudar a tornar mais lento o desenvolvimento de doenças como o câncer, levando a uma nova geração de medicamentos. Segundo os cientistas, os anticorpos dos tubarões resistem a altas temperaturas e a ambientes adversos, como os extremamente ácidos ou alcalinos. Numa comparação, poderia se afirmar que eles seriam capazes de sobreviver em um ambiente como o aparelho digestivo humano.

Energia solar 2013!

Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina demonstraram que, entre 2012 e 2013, algumas regiões do Brasil já poderão ter preços equivalentes de energia fotovoltaica (solar) e energia convencional. Os dados são resultado de simulações de cenários para um eventual Programa Solar Brasileiro, inspirado na experiência da Alemanha, país com o mais bem-sucedido mecanismo de incentivo às fontes renováveis de energia.

A proposta brasileira segue os pontos positivos do modelo alemão, mas faz algumas adaptações a nossa realidade. No modelo alemão, por exemplo, todos os consumidores finais de energia rateiam os custos do programa. No caso do Brasil, a proposta exclui do rateio os consumidores de baixa renda. No final as simulações visam atingir um modelo que seja interessante o suficiente para atrair investidores e que ao mesmo tempo não tenha um impacto tarifário de grande magnitude para o usuário final.

Tomando como base o consumo médio mensal do setor residencial no Brasil (200 kWh), a conclusão feita com as simulações é que cada unidade consumidora pagaria a mais em sua fatura de energia aproximadamente R$ 0,28 por mês, para o primeiro ano do programa. Esse valor atingirá um pico de R$ 1,51 por mês no décimo ano do programa e, a partir daí, esse custo declinará para os anos seguintes.

Mamíferos na lista vermelha

Recentemente a ONG internacional União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) fez uma revisão sobre a situação dos mamíferos que habitam os vários biomas do planeta. E as conclusões, infelizmente, não foram muito boas. De acordo com a IUCN, 25% das espécies correm risco de extinção, o que quer dizer que suas populações já estão com baixo número de indivíduos e que seus habitats já sofrem com a devastação e com a pressão humana.

Das 5.500 espécies estudadas, cerca de 1.100 foram diagnosticadas como candidatas a algum nível de perigo de extinção. O gato-pescador, por exemplo, felino de médio porte que habita o Sudeste Asiático, passou de uma situação de vulnerável para ameaçado. A mesma coisa aconteceu com a foca do mar Cáspio, que vem registrando um declínio de 60% no nascimento de filhotes há três anos. Entre as espécies que se encontram em situação mais delicada está o lince da península Ibérica, cuja estimativa de número de indivíduos existentes hoje na natureza não passe de 140.

Os dados sobre os mamíferos fazem parte de um trabalho maior denominado de Red List (Lista Vermelha), que avalia a situação de cerca de 45 mil espécies de fauna e avalia o seu grau de risco de extinção. São determinadas oito categorias de classificação na lista, indo desde a situação onde não se demanda preocupação até a situação de já extinta na natureza.

“Lixo” nutritivo

Um estudo realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) demonstra que a casca de alguns alimentos, normalmente jogadas no lixo, muitas vezes são mais nutritivas do que as partes que vão para os pratos. Em setembro a Universidade divulgou uma nova tabela de avaliação de teor nutritivo, feita a partir da avaliação de 19 alimentos. Entre as conclusões tiradas estão a de que a folha do brócolis chega a ter cinco vezes mais proteínas e 20 vezes mais carotenóides (precursor da vitamina A) que o talo e a de que a casca de jaca tem 11 vezes mais vitamina C que a laranja.

A agrônoma Giuseppina Pace Pereira Lima, coordenadora do estudo, explica que “é importante não apenas ficar atento ao fato de as partes, que normalmente são jogadas no lixo, terem tanto alto teor de nutrientes. Mas também ficar atento ao fato que as desperdiçamos, mesmo sabendo disso." Ela lembra que 60% do lixo produzido no Brasil é orgânico e boa parte poderia ser aproveitada. "Podemos melhorar a qualidade da alimentação e ainda reduzir o lixo, que é um problema de saúde pública”, ressalta.

Justiça pelos golfinhos

Uma matança indiscriminada de golfinhos amazônicos flagrada pelo Ibama em fevereiro do ano passado no Amapá está sendo punida com a Justiça que merece. Em outubro, o Ministério Público Federal ajuizou duas ações – civil e criminal – para garantir a punição dos proprietários dos pesqueiros “Graça de Deus IV” e “Damasco III”, responsáveis pelo ato de covardia contra 83 botos.

Os donos dos dois barcos envolvidos, ambos da cidade de Vigia, no Pará, podem ser condenados a pagar R$ 5 mil por cada animal morto, o que totalizará uma quantia de R$ 415 mil em multas. Para garantir o pagamento, o MPF pediu o seqüestro dos barcos envolvidos no crime ambiental. Segundo a Procuradoria da República do Pará, os botos teriam sido adquiridos pelos pescadores para sua carne ser usada como isca na pesca de tubarão.

Novo mapa de Abrolhos

O Parque Nacional Marinho de Abrolhos é mais rico ainda do que se pensava. Recente levantamento coordenado pela Conservação Internacional (CI) do Brasil ratificou o que já havia sido avisado por pescadores locais: a área de recifes em Abrolhos é pelo menos duas vezes maior do que se imaginava. Foram identificados recifes em águas profundas que até então não constavam dos mapas. De acordo com a CI, a descoberta está permitindo que se conheça melhor como aquele trecho do litoral se formou ao longo dos séculos.

O levantamento da CI consiste na exploração científica do fundo do mar ao longo de 100 quilômetros da coisa brasileira – do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo. As linhas de estudo, que partiam do litoral mar adentro, foram percorridas por um barco equipado com um sonar que produziu imagens tridimensionais do fundo do oceano. Foram selecionados pontos de destaque nas imagens do sonar e os pesquisadores usaram um robô para filmar locais em que um mergulhador não podia descer. As imagens do robô mostraram corais-negros, típicos de águas profundas e que pela primeira vez foram registrados na região.

Mas assim como os recifes já identificados, a descoberta também já se encontra ameaçada, pois não há planos de preservação da biodiversidade encontrada em águas profundas. O descarte de esgoto sem tratamento proveniente de cidades costeiras somado a tendência de subida da temperatura faz com que bactérias tendam a se proliferar mais depressa, o que destrói os corais. Se programas de preservação mais eficientes não forem implementados em Abrolhos, estima-se que os corais serão extintos em, no máximo, 70 anos.

Proteção polêmica

Uma recente proposta do governo britânico para proteger as florestas tropicais em países emergentes provocou polêmica desde o primeiro momento em que foi anunciada. A proposta sugere que países ricos, em especial a Grã-Bretanha, dêem dinheiro para incentivar os países em desenvolvimento a preservar as matas tropicais.

De acordo com os britânicos, estudos estimam que o custo da mudança climática gerado pela perda de florestas crescerá a passos largos até 2100, chegando a US$ 1 trilhão por ano. A solução seria um acordo internacional que tenha como objetivo reduzir à metade as emissões causadas pela perda de matas tropicais até 2020, o que geraria ganhos de US$ 3,7 trilhões. A meta é tornar o setor florestal neutro até 2030 (a perda de matas seria compensada com o plantio de novas florestas).

“A comunidade internacional deve prover o financiamento necessário para alcançar essas metas", declara a Grã-Bretanha. Mas é justamente a maneira como esses recursos seriam conseguidos que consiste no ponto polêmico: sugere-se incluir o setor de florestas no mercado de emissões de carbono - por meio do qual países e empresas comprariam o "direito de poluir" financiando projetos ambientais.

A proposta de incluir o desmatamento e a degradação de florestas no mercado de carbono para prover financiamento e incentivos de redução do desmatamento será analisada em dezembro, no encontro mundial para discussão de novos arranjos internacionais de combate ao aquecimento global que acontecerá na Polônia. Este encontro será uma preparação para as discussões de criação de um acordo mais amplo que substitua o Protocolo de Kyoto, previstas para 2009.

Cangurus ameaçados

Um dos principais símbolos da Austrália e um ícone da fauna exótica mundial, o famoso canguru pode começar a contar seus dias no planeta por conta do aumento progressivo da temperatura. Uma pesquisa feita na própria Austrália demonstrou que uma elevação de apenas dois graus já poderá ter um efeito devastador na população do animal.

O trabalho da Universidade James Cook University durou três anos e estudou quatro espécies de cangurus. A equipe se baseou em observações de campo e modelos de cálculos em computadores. A principal conclusão é de que os impactos do aquecimento global não atingirão os cangurus propriamente ditos, mas seus habitats, diminuindo áreas de ocupação e reduzindo drasticamente a disponibilidade de água. De acordo com o estudo, um aumento de apenas 0,5º C já será suficiente para diminuir a área onde vivem os cangurus. A expectativa mais dramática é o aumento de 6ºC, que levaria a área a se reduzir em 96%. Vale ressaltar que os cangurus são considerados valiosos para a economia da Austrália, por conta do ecoturismo e do comércio de sua carne.

Fontes: Ambiente Brasil, Agência Fapesp, BBC, ENN – Environmental News Network e Agência Brasil

*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 81 (setembro/outubro 2008). Acesse aqui.