quarta-feira, dezembro 27, 2006
Por Jaqueline B. Ramos
(matéria publicada na Revista dos Vegetarianos - ano 1, n. 3 / outubro 2006)
Pode-se arriscar afirmar sem medo que para a maioria das pessoas que escolhem ter uma dieta vegetariana o fator decisivo é a ética no trato com os animais e o respeito aos seus direitos. Em outras palavras, para evitar a exploração e conseqüente sofrimento destes, faz-se a opção de não ingestão de carnes – ou até da não ingestão ou uso de qualquer produto de origem animal, no caso dos veganos. Considerando esse pensamento fica clara a ligação entre o vegetarianismo e o bem-estar animal, no sentido do primeiro colaborar para o alcance do segundo. Então vegetarianismo e bem-estar animal tem uma relação direta? Ao analisar mais profundamente os dois assuntos, a resposta seria: depende do ponto de vista.
Analisando bem-estar animal como uma ciência cujo objetivo é avaliar e estudar mecanismos para melhorar as condições de vida dos animais que vivem sob o domínio do homem, pode-se seguir a linha de raciocínio de que num mundo onde os humanos não explorassem os animais para comida e obtenção de outros recursos não existiriam problemas de qualidade de vida dos bichos. Logo, não haveria a necessidade de uma ciência de bem-estar animal. Neste contexto, que é o ideal defendido pelos veganos, poderia se pensar então que os dois conceitos não têm uma relação direta.
“A maior parte das pessoas que adota o vegetarianismo em países ocidentais o faz por motivos éticos. Sob este ângulo, a relação entre vegetarianismo e bem-estar animal se torna óbvia. No entanto, devemos fazer uma consideração: a maioria dos vegetarianos concorda que os animais de produção devem receber melhores condições de vida e bem-estar. Mas em momento algum a ciência do bem-estar animal questiona se temos ou não o direito de explorar os animais”, afirma Sérgio Greif, biólogo, mestre em alimentos e nutrição e coordenador do departamento de meio ambiente da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), cuja atribuição é realizar um levantamento dos impactos ambientais causados pela criação de animais e divulgar esses dados.
Greif aborda justamente a questão mais delicada da relação entre vegetarianismo e bem-estar animal. Deixar de comer carne seria uma atitude suficiente para garantir o bem-estar dos milhões de animais explorados pelo homem em todo o planeta? Embora todo vegetariano que tenha feito sua escolha de dieta alimentar por motivos éticos tenha na ponta da língua uma explicação para justificar a resposta a este pergunta, ela continua, infelizmente, sendo negativa. Esse panorama só mudaria caso os números se revertessem e a maior parte da humanidade adotasse o vegetarianismo como princípio de vida.
Quando falamos de bem-estar e vegetarianismo, a questão principal para reflexão diz respeito ao direito que o homem tem de dispôr dos animais e explorá-los em sistemas de produção, experiências etc, o que é o foco principal da discussão dos veganos. “De acordo com o veganismo, os animais são seres senscientes (dispõem de consciência,ou seja, percebem sua própria presença do 'estar-no-mundo') e que possuem interesses e direitos inalienáveis. Portanto, eles não podem ser utilizados para alimentação, para o vestuário, para testar produtos e nem para diversão. Ou seja, o veganismo não reconhece o direito do homem explorar os animais. O movimento do bem-estar animal, por outro lado, defende que o uso dos animais deve ser livre de sofrimento desnecessário, o que não é um termo muito fácil de definir. Além disso, ele não questiona o direito desse uso”, ressalta Greif.
O conhecimento e a prática do bem-estar animal estão intrinsecamente ligados a uma avaliação moral e ética da história da relação homem X animais. Vários fatores culturais e econômicos influenciam as análises e reflexões e muitos dos assuntos abordados têm um viés extremamente subjetivo, e como disse Greif, muito difíceis de definir de forma objetiva. Porém, conceitos e subjetividades à parte, é fato que o bem-estar animal tem no vegetarianismo, no mínimo, um aliado. E esta afirmação é embasada pela declaração de uma cientista de bem-estar animal. Anabela Pinto, bióloga da Universidade de Cambridge e doutora em Comportamento e Bem-Estar Animal, afirma que os vegetarianos não acabam com a morte dos animais, mas acredita que eles contribuem para a redução de sofrimento de milhares deles.
“Se a preocupação dos vegetarianos é a não existência do sofrimento animal, defendendo a adoção de um sistema de produção que tenha esta prerrogativa, parece paradoxal, mas indiretamente eles estão melhorando as condições de vida dos animais”, ressalta Anabela. “Infelizmente o vegetarianismo e o veganismo ainda não têm peso a ponto de mudar a produção mundial, pois em número de pessoas ainda são minoria. Num mundo ideal não existiriam animais sendo usados por humanos. Portanto, toda atitude que contribua, com o mínimo que seja, para esse ideal é um ato louvável.”
Além de louvável, Anabela sugere que sem abandonar os princípios do vegetarianismo como um ideal de futuro da humanidade, deve-se fazer tudo o que está ao alcance do homem para melhorar a vida dos animais no presente. E aí está o papel da ciência do bem-estar animal. “Também é responsabilidade dos vegetarianos que o são por opção ética se preocuparem com o bem-estar dos animais e apoiarem e pressionarem os seus governos a implementar políticas públicas que reduzam o sofrimento dos animais nos métodos de produção”, opina a bióloga.
Bem-estar animal é bem-estar humano: Uma das maiores ativistas dos direitos dos animais no mundo, a jornalista e política indiana Maneka Gandhi, sempre defendeu a idéia de que bem-estar animal é exatamente a mesma coisa do que bem-estar humano. Ela afirma que o carnivorismo é uma das maiores causas da destruição do meio ambiente e que devemos abandonar nossa arrogância e reconhecer a importância dos animais para as nossas vidas. “Os animais são nossos irmãos e irmãs e nós precisamos deles. A cada pescoço de animal que nós cortamos estamos cortando nossa própria vida, passo a passo, até que mal possamos sobreviver”, já declarou Maneka em seus textos e entrevistas.
George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas da consultoria Nutriveg, compartilha desse pensamento e ainda complementa a idéia argumentando que uma sociedade que trata bem os seus animais é uma sociedade saudável. “As nossas ações não são desconectadas do resto. Enquanto houver sofrimento para alguns, não pode haver felicidade plena para todos. Quando a humanidade tiver desenvolvido um sentimento claro de respeito às outras formas de vida, isto vai significar que o respeito por outros seres humanos já é pleno”, declara o nutricionista.
Ainda pensando na conexão do bem-estar dos animais não homens com o bem-estar dos animais homens, há estudos que demonstram ligações entre conseqüências maléficas na saúde física do homem causadas pelo consumo de produtos oriundos de sistemas caracterizados por sofrimento e exploração de seres senscientes. “O ato de se alimentar é algo que fazemos todos os dias. Neste ato pode ou não estar incluído o sofrimento de um animal e temos toda a capacidade de escolher qual opção desejamos”, afirma Guimarães, ressaltando que acredita que a adoção de uma dieta vegetariana é a atitude única de maior impacto sobre o bem-estar animal. “Não se pode discutir este assunto sem se considerar o vegetarianismo”, conclui o nutricionista.
Diante de tantas opiniões e pontos de vistas, é consenso que bem-estar animal é um assunto complexo e muito delicado e seu alcance não é tarefa das mais fáceis. Assim como analisar a relação e a contribuição direta e efetiva do vegetarianismo e do veganismo para sua prática num mundo que por motivos culturais, econômicos e sociais é, essencialmente, carnívoro. Adotar o vegetarianismo como estilo de vida, pressionar políticos e empresas em prol da regulação e adoção de práticas mais humanitárias na produção de alimentos e cosméticos, boicotar produtos que foram testados em animais, resgatar e adotar animais abandonados, empenhar-se para divulgar os argumentos a favor de uma dieta vegetariana e educar, viabilizando a disseminação de informação para a população como um todo são algumas das atitudes com potencial, a longo prazo, de promoverem mudanças na relação dos homens com os animais.
E para os vegetarianos e veganos convictos, a bióloga Anabela sugere um auto questionamento em cima de um dilema moral que pode surgir do paradoxo Vegetarianismo e Bem-Estar Animal: mais vale poupar a vida de um certo e pequeno número de animais se abstendo de comer carne ou ajudar na redução do sofrimento de milhões de animais participando da promoção de sistemas de produção orgânico, que criem os animais de uma forma mais natural? Não existe resposta certa para esta pergunta. A escolha é pessoal e intransferível e vale até, em respeito aos animais, marcar a opção “todas as respostas acima”.
Os princípios básicos da ciência do bem-estar animal
A ciência do bem-estar animal foi denominada pela primeira vez com esse nome em 1965 pelo Comitê Brambell, um grupo de estudo criado pelo Governo Britânico para avaliação dos métodos de produção com animais. A idéia base desta ciência é que a relação entre o homem e os outros animais deve ser vista apenas como mais uma das relações naturais existentes. Em alguns casos é caracterizada por exploração e predação e em outros, por simbiose e complementação, mas não deve ser considerada como uma característica especial do homem devido a sua “superioridade” sobre as outras espécies. Portanto, seu objetivo é estudar mecanismos para tornar a relação do homem com os outros animais o menos dolorosa possível para os últimos e para tal parte da análise de informações sobre características fisiológicas, comportamentais, ecológicas etc dos animais.
Desta idéia surgiram alguns princípios, que até hoje norteiam os estudos de bem-estar animal. São eles:
As 5 Liberdades
Todos os animais devem:
1 – Ser livres de Medo e Estresse
2 – Ser livres de Fome e Sede
3 - Ser livres de Descomforto
4 – Ser livres de Dor e Doenças
5 – Ter liberdade para expressar seu comportamento natural
Os 3Rs (para experimentação em laboratórios)
Redução – do número de animais utilizados
Substituição (Replacement, em inglês) – por outras alternativas sem animais
Refinamento – alterando protocolos de experiências para diminuição de dor e sofrimento
Instituições que trabalham questões de bem-estar animal
PETA – People for ethical treatment of animals (http://www.peta.org)
Maior e mais famosa ONG de defesa dos direitos dos direitos dos animais no mundo. Prega o veganismo e o fim da exploração animal em todas as instâncias. Rotineiramente é manchete de jornais em vários países com protestos bem chamativos contra experiências em laboratórios com animais, roupas feitas a partir de peles, exploração de animais em circos etc.
WSPA – World Society for the Protection of Animals (http://www.wspa-international.org/)
ONG internacional também presente em vários países – entre eles o Brasil – que tem como missão elevar os níveis de bem-estar dos animais em todo o mundo, assegurando que esse princípio seja universalmente compreendido e respeitado. A WSPA – Brasil, por exemplo, recentemente criou o Comitê Nacional para Promoção do Bem-Estar dos Animais de Produção (CNPBEA). O objetivo é assessorar o Governo na criação de política e legislação mais avançada para a área.
ALF – Animal Liberation Front (http://www.animalliberationfront.com/)
Movimento considerado mais marginal, pois é formado por ativistas em vários países do mundo que agem clandestinamente invadindo laboratórios e outras instituições para libertar e resgatar os animais e poupá-los do sofrimento e exploração. Há também ações em que os ativistas destroem propriedades para evitar ou inviabilizar o desenvolvimento de atividades econômicas com animais. Os ativistas da ALF não têm sua identidade divulgada e alguns escondem sua participação no movimento até da família.
Interniche – The International Network for Humane Education (http://www.interniche.org/)
Associação de profissionais e estudantes das áreas de biologia, medicina e veterinária que defendem o uso de metodologias de ensino e pesquisa mais humanitárias e sem o uso de animais. Os grupos fazem um intercâmbio de informações e experiências bem sucedidas de substituição de métodos de vivissecção (uso de animais vivos em experiências), por exemplo, defendendo o lema de que é possível desenvolver técnicas científicas mais éticas.
Mal necessário?!**
*Por Jaqueline B. Ramos
Qual seria a justificativa para a continuidade de experimentação com animais vivos uma vez que métodos alternativos já se provam plausíveis e eficientes? É justo os animais serem considerados meros produtos e seu sofrimento não ser poupado com o argumento de que é em nome da ciência, que é um mal necessário? Estas são as indagações centrais que permeiam o roteiro do documentário “Não Matarás: os animais e os homens nos bastidores da ciência”, produzido e lançado este ano pelo Instituto Nina Rosa, organização independente e sem fins lucrativos que promove atividades para divulgação de informações sobre defesa animal, consumo sem crueldade e vegetarianismo.
No início do filme a própria Nina Rosa, respeitada ativista no Brasil, prepara o telespectador para as cenas chocantes que estão para ver alertando que elas retratam uma realidade muito dura que precisa ser conhecida para ser mudada. As cenas, captadas sem autorização dos laboratórios, realmente chocam. E a complementação feita pelos depoimentos questionadores da vivissecção (experimentações com animais vivos) feitos por estudantes e professores de biologia, medicina e veterinária de renomadas universidades brasileiras, ativistas de movimentos de direito dos animais e também por cientistas surpreendentemente racionaliza o debate, que geralmente é rebatido pela comunidade científica mais cética com o argumento de ser uma discussão subjetiva e meramente emotiva.
Ativistas e cientistas brasileiros, norte-americanos e europeus esclarecem que atualmente a gama de métodos alternativos sem o uso de animais vivos – experimentações in vitro, simuladores virtuais e outros recursos midiáticos extremamente avançados, apenas para citar alguns exemplos - é muito grande e acessível, ao custo de investimentos iniciais um pouco maiores e, principalmente, vontade dos profissionais envolvidos de unir ciência e compaixão. Além disso, o documentário mostra que as técnicas alternativas e mais humanitárias já se mostram muito mais eficientes para o homem do que os testes em animais, sob o ponto de vista da própria ciência. Um exemplo dado é o da talidomida. Quando foi testada em roedores, no final dos anos 50, não causou efeitos colaterais significativos. No entanto, quando mulheres grávidas passaram a ingerir a substância como prescrição para enjôos matinais, seus bebês nasceram com graves problemas de má-formação.
Ao assistir “Não Matarás” é mais do que natural que você se pergunte: o que posso então fazer para evitar o sofrimento em vão e desnecessário de roedores, cachorros, gatos, coelhos, chimpanzés, entre outros animais? Para o consumidor, o filme orienta a procura por informações sobre a fabricação de produtos de limpeza, higiene, cosméticos, remédios e alimentos e o questionamento sobre a realização de testes com animais. O conselho é boicotar e dar preferência a produtos orgânicos, hoje crescentemente disponíveis no mercado. A Dra. Jane Goodall, renomada primatóloga e antropóloga britânica e atual mensageira da Paz da ONU, é uma das entrevistadas no documentário. Ela resume em uma frase a responsabilidade do consumidor neste assunto: “se as pessoas não comprarem produtos obtidos a partir de sacrifícios de animais, não haverá mais razão para se fazerem os testes.” Simples assim. Assista o vídeo e tire a sua conclusão.
* Jornalista Ambiental e aluna do Curso Internacional de Bem-Estar Animal da Universidade de Cambridge
Título: “Não Matarás: os animais e os homens nos bastidores da ciência”
Ano: 2006
Origem: São Paulo, Brasil
Duração: 65 minutos
Direção: Denise Gonçalves
Onde encontrar:
Loja virtual do Instituto Nina Rosa:
http://www.001shop.com.br/lojas/institutoninarosa.org.br/
** Resenha publicada na revista do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), edição n. 104 / outubro 2006
Por Jaqueline B. Ramos*
Depois de dois anos de estudos e pesquisas, a União para a Conservação Mundial (em inglês IUCN – The World Conservation Union) divulgou em maio a nova lista vermelha internacional, documento oficial de listagem das espécies de animais e plantas que se encontram em perigo de extinção em todo o mundo. E infelizmente as novidades não são muito boas. Das cerca de 40 mil espécies estudadas de 2004 a 2006, concluiu-se que aproximadamente 40% correm algum tipo de risco. Em números absolutos isso significa que 16.119 animais e plantas se encontram, em diferentes escalas, ameaçadas de extinção, o que representa um aumento de 530 espécies desde o último levantamento.
"A Lista Vermelha mostra uma tendência clara: a perda da biodiversidade está aumentando, não desacelerando. As implicações disso para a produtividade e resistência dos ecossistemas e para a vida e sustento de bilhões de pessoas que dependem deles vão longe", afirmou Achim Steiner, diretor-geral da IUCN, na época da divulgação do estudo. “Reverter esta tendência é possível, conforme vários projetos de conservação já provaram. Mas para o sucesso em escala global precisamos de alianças e parcerias de vários setores da sociedade. A biodiversidade não poderá ser salva apenas por ambientalistas”, completou Steiner.
Ilustrando o diagnóstico da biodiversidade mundial em números, a lista mostra que o total de espécies consideradas extintas chega a 784 e as extintas na natureza, que somente são encontradas em cativeiro, somam 65. Os quantitativos divulgados pela IUCN podem parecer pequenos diante da grandeza da diversidade biológica mundial estimada pelos cientistas. Acredita-se que existam em todo o planeta cerca de 15 milhões de espécies. Destas, apenas 1,8 milhões são estudadas e analisadas pelo homem. E o estudo da IUCN é o demonstrativo da radiografia de menos de 3% destas espécies conhecidas.
Leia a matéria completa aqui.
*Matéria publicada no informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 69 (setembr/outubro 2006)
Por Jaqueline B. Ramos*
Dra. Jane Goodall, primatóloga e antropóloga britânica que estudou a vida social e familiar dos chimpanzés ao longo de 40 anos
Uma das maiores descobertas da reflexão e estudo sobre meio ambiente é que tudo (tudo mesmo) a sua volta, inclusive você, está dentro dele (ou é ele). Essa afirmação parece tão óbvia que corre o sério risco de perder sua importância e cair na armadilha de “papo chato de ambientalista”. Mas foi em armadilha similar que o homem caiu e se enraizou, criando a cultura da natureza como fonte inesgotável de recursos e do ‘quanto mais melhor’, não importa as consequências.
Exemplificando, entre estes recursos estão os animais. Além de fonte de alimentos, os animais hoje são explorados das mais variadas formas (experiências em laboratórios, tráfico, circos etc). E por acreditar ser superior às outras criaturas, o homem desenvolveu formas de exploração extremamente injustas e covardes, o que causa sofrimento e dor aos animais.
Do que precisamos então? Primeiramente entender que não somos melhores e nem piores que os animais. Nossa relação com eles é mais uma entre as inúmeras relações que encontramos na natureza. Segundo: faz-se necessário repensar os modelos e o modo de lidar com nosso cotidiano, reorientando nossos costumes. Em outras palavras, para fazermos as pazes com a natureza e os animais, precisamos colocar em prática a educação ambiental.
Educação ambiental não é assunto para ser discutido somente por educadores ou matéria de escola. É assunto para se refletir na família, com o seu vizinho, com os amigos, na empresa, na igreja, nos jornais, enfim, para se colocar em prática no dia-a-dia. Da separação do lixo em casa à escolha de um produto ambientalmente responsável, diz respeito à quebra de paradigmas ultrapassados em prol de relações mais sustentáveis e da qualidade de vida. Esse é o caminho que levará, mesmo que seja a longo prazo, a mudanças em costumes que precisam ser aprimorados, do contrário o planeta não comportará tamanhos excessos. E as relações com animais, no meio disso tudo, ficarão cada vez mais injustas, causando malefícios para eles e para nós mesmos.
*Texto publicado na revista do IVVA-Campinas (Instituto de Valorização da Vida Animal) - ano 1, n. 2 - setembro/outubro 2006
segunda-feira, outubro 09, 2006
Pequenos desconhecidos
Saiba quem são e como vivem os seis pequenos felinos brasileiros
Eles são felinos que pesam menos de 15 quilos e alguns poderiam ser facilmente confundidos com gatos domésticos se não fosse por três motivos: são extremamente selvagens, têm a maior parte de sua área de ocorrência em território brasileiro e, infelizmente, quase todos estão na lista de espécies ameaçadas de extinção. Trata-se dos pequenos felinos, um grupo de seis espécies consideradas de médio e pequeno porte. A única (ou mais) famosa – e a maior em tamanho – é a jaguatirica. As outras espécies são pouquíssimo conhecidas tanto no mundo científico como pelo público em geral, mas algumas têm características que as tornam muito especiais. O gato-maracajá, por exemplo, é o único felino do mundo que tem a capacidade de descer de uma árvore de cabeça para baixo. Não seria exagero afirmar que ele é uma espécie de “gato macaco”.
Apesar da maioria das espécies de felinos existentes no Brasil ser de pequeno porte, a biologia, ecologia e conservação destes animais começaram a ser estudadas com a profundidade merecida muito recentemente, mais precisamente desde julho de 2004, com o Projeto Gatos do Mato – Brasil. O projeto é coordenado pelo Instituto Pró-Carnívoros, uma organização não-governamental sediada na cidade de Atibaia, em SP, que atua na conservação dos mamíferos carnívoros e seus habitats através de pesquisa, manejo e educação, tendo outras 10 instituições parceiras. O projeto é financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente, com apoio da FAPEMA (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Maranhão), Conservação Internacional – Brasil e FATMA (Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina).
“A importância do estudo dos felinos se justifica pelo seu papel ecológico. Eles são animais predadores de topo e alimentam-se exclusivamente de carne de vertebrados. Seguramente por isso exercem uma pressão e controle nas populações de suas presas e interferem significativamente no equilíbrio ecológico e na dinâmica da composição da comunidade dos ecossistemas”, explica o biólogo da Universidade Estadual do Maranhão Tadeu Gomes de Oliveira, coordenador geral do Projeto Gatos do Mato – Brasil, membro do grupo de Especialistas em Felinos da IUCN (The World Conservation Union) e co-diretor da Aliança para Conservação dos Felinos Sul-Americanos. “Vale também ressaltar que a superpopulação de espécies que são suas presas pode vir a ser prejudicial para o próprio homem, o que reitera a importância da conservação destes felinos”, afirma Tadeu.
* Matéria completa na edição n. 30 (outubro 2006) da revista Terra da Gente
terça-feira, setembro 19, 2006
Por Jaqueline B. Ramos*
A relação entre o homem e os outros animais deve ser vista apenas como mais uma das relações naturais existentes. Em alguns casos é baseada em exploração e predação e em outros, em simbiose e complementação. Ela não deve ser considerada como uma característica especial do homem devido a sua “superioridade” sobre as outras espécies. Esta é a idéia central de uma ciência chamada de Bem-Estar Animal (BEA), cujo objetivo geral é conhecer, avaliar e garantir as condições para satisfação das necessidades básicas dos animais que passam a viver, por diferentes motivos, sob o domínio do homem.
Mas seria então natural indagar: BEA não é a mesma coisa que Direito dos Animais? A resposta é: não exatamente. BEA é uma ciência e Direito dos Animais é um movimento baseado em conceitos filosóficos de que deve ser dado aos animais o direito de não sofrerem. A defesa destas idéias depende de militância, sendo alguns grupos e atuações mais radicais que outros. Como qualquer outra ciência, a BEA não deve ser conduzida por morais éticas até a sua aplicação. Já Direito dos Animais é um movimento que parte do princípio de que sob o domínio dos homens os animais tendem a passar por sofrimento. Para evitar o pior devem então ter seus direitos defendidos de antemão, não importa o que custar. Como qualquer outro movimento, é embasado pela emoção e por conceitos mais subjetivos.
Apesar de terem origens conceituais bem diferentes, pode-se afirmar que BEA e Direitos dos Animais são matérias complementares. Independente dos meios usados, os resultados mensurados pela ciência do bem-estar e as idéias defendidas pelo movimento de defesa dos direitos dos animais visam um objetivo em comum: a garantia da qualidade de vida dos “animais não homens”, que, em diferentes níveis, se relacionam com o “animal homem”.
As pesquisas realizadas de bem-estar animal funcionam como embasamento para definição de leis, acordos etc que garantam o cumprimento e o respeito aos direitos dos animais de terem sua qualidade de vida assegurada. Por outro lado, os argumentos mais emotivos e filosóficos utilizados pelo movimento de defesa dos direitos dos animais podem ajudar a ciência a avaliar questões subjetivas com as quais pode se deparar, muitas vezes, na conclusão de um processo, no momento em que o cientista/pesquisador deve avaliar a ética de uma situação antes de tomar decisões sobre a aplicação do seu estudo.
Leia a matéria completa aqui.
* Matéria publicada na revista do Instituto Ecológico Aqualung número 68 (julho/agosto 2006)
domingo, agosto 20, 2006
Por Jaqueline B. Ramos*
O meio ambiente tem muito a comemorar no Brasil, mas ainda existem algumas questões chaves que precisam avançar para que a festa seja completa. Esta é uma conclusão geral que se pode tirar do resultado de uma pesquisa recém-divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com o Instituto de Estudos da Religião (Iser) e WWF Brasil. A pesquisa “O que os brasileiros pensam sobre a biodiversidade” foi realizada em março pelo Instituto Vox Populi para conhecer a opinião da população sobre várias questões relativas à Biodiversidade.
O principal resultado da pesquisa é que a conscientização do brasileiro em relação ao Meio Ambiente aumentou 30% nos últimos 15 anos. Além disso, conceitos considerados complexos, como efeito estufa e biodiversidade, são conhecidos pelos brasileiros, que também demonstram uma crescente preocupação com a ameaça aos principais biomas do país.
Leia a matéria completa aqui.
*Matéria publicada na revista do Instituto Ecológico Aqualung de maio/junho 2006
quarta-feira, julho 12, 2006
Por Jaqueline B. Ramos *
Infelizmente, o tubarão no Brasil é um animal ligado estritamente a notícias negativas, como ataques a surfistas e mergulhadores. Além disso, aparece nos jornais como “troféu” de pescadores, que viram heróis ao expor o animal cruelmente morto na praia ou em seus barcos. Muito da má fama do tubarão vem da cultura que o vende como um dos animais mais perigosos que existem, predador e assassino inveterado de homens. O que pode ser facilmente provado o contrário, conforme o próprio projeto PROTUBA já vem divulgando em fatos e dados.
O grande problema é que o resultado de toda essa discriminação e falta de conhecimento faz com que a opinião pública, de uma forma geral, não se preocupe ou se sensibilize com a conservação das espécies de tubarão e problemas como o finning (pesca para extração das barbatanas) e a pesca predatória continuam acontecendo sem que haja muita mobilização para que uma legislação a favor da defesa e da conservação do tubarão seja instaurada no Brasil.
O Ibama já tem uma portaria que proíbe a prática do finning (o peso total das barbatanas não pode exceder 5% do peso das carcaças), mas ainda não temos leis específicas determinando, por exemplo, que os tubarões transportados e vendidos devam estar inteiros (só há definições de tamanho mínimo para captura de algumas espécies), que haja limites (cotas) para a quantidade de tubarões pescados e que se crie áreas protegidas de berçário e épocas de defeso.
Diante do contexto de que o Brasil necessita de uma legislação eficiente de proteção para coibir a pesca predatória e a sobrepesca do tubarão, vale a pena analisar a estratégia de manejo do animal adotada por países com os Estados Unidos, que já tem políticas de conservação bem mais avançadas.
Os tubarões e sua interação nos ecossistemas: O National Marine Fisheries Service (NOAA Fisheries) — agência federal dos Estados Unidos, ligada do Departamento de Comércio, responsável pela administração dos recursos dos ecossistemas marinhos no país — tem um programa específico para estudo de espécies de tubarões que tenham valor comercial, histórico e ecológico relevantes e sua interação nos habitats naturais. É o Apex Predators Program (APP), cuja linha de pesquisa consiste em estudar profundamente e sistematicamente a distribuição dos indivíduos, as rotas de migração, as taxas de reprodução, o ciclo alimentar no ambiente, entre outras questões da ecologia e biologia específicas dos tubarões em toda a costa norte-americana.
Através do NOAA Fisheries, o programa conduz pesquisas, implementa restrições legais e trabalha junto a pescadores em instâncias locais. Além disso, desenvolve ações de incentivo à conservação a nível internacional através de programas de cooperação para identificação e estudo de tubarões em convênio com outros países do Oceano Atlântico, Golfo do México, Mar do Caribe e Oceano Pacífico. No Pacífico, o NOAA Fisheries trabalha junto a conselhos locais de pesca com o objetivo de desenvolver mecanismos de manejo da população de tubarões neste oceano.
Outra linha de pesquisa muito interessante do programa é a Cooperative Atlantic States Pupping and Nursery (COASTSPAN), que desenvolve um estudo detalhado das áreas de berçário de tubarões mais importantes na costa atlântica. Os dados levantados nesse estudo geram um banco de dados de informações técnicas que ao final embasam os planos de manejo e conservação da população adulta de tubarões.
26 anos de regulamentação de pesca de tubarões: Além de investimentos em estudos para embasar ações práticas de conservação, os Estados Unidos é pioneiro na implementação de legislação específica de proteção e conservação. A pesca de tubarões começou a ser regulada através de leis em 1993. Seis anos depois, um Plano de Manejo de Pesca revisado, incluindo as espécies de tubarão, peixe-espada e atum, passou a regulamentar as atividades pesqueiras. Desde então a pesca de tubarões vem sendo controlada através de um sistema de cotas e pescadores comerciais devem ter uma permissão especial e seguir restrições quanto ao número de viagens e limites de acesso.
Existem duas temporadas de pesca nos Estados Unidos: de 1º de janeiro a 31 de junho e de 1º de julho a 31 de dezembro. Cada uma tem uma cota determinada que é divulgada antecipadamente a cada ano, assim como limites a serem respeitados em áreas especificadas da zona costeira. Além disso, existe uma lista composta por 19 espécies que são proibidas, em qualquer hipótese, de serem pescadas. Assim como no Brasil, a prática de finning também é proibida nos Estados Unidos (também há o limite de 5%).
As ações de proteção colocadas em prática nos Estados Unidos fazem com que ele seja um líder internacional na conservação de tubarões. A intervenção do país, por exemplo, foi crucial para a montagem do Plano Internacional de Ação para Conservação e Manejo de Tubarões, da FAO (Food and Agriculture Organization). Sem contar que é um dos únicos países, entre os 87 que praticam pesca de tubarão, que desenvolveu um Plano Nacional de Conservação e Manejo de Tubarões.
A experiência dos Estados Unidos pró-conservação pode (e deve) ser então considerada um paradigma para o Brasil. Num país detentor de uma zona costeira como a nossa, faz-se mais que necessário o início de uma organização e mobilização com o objetivo de se implementar programas e legislações efetivamente eficientes em prol da proteção da população de tubarões em nossos mares. Do contrário o número de notícias ruins tendo o tubarão como principal personagem será uma das vergonhas do Brasil perante uma comunidade internacional cada vez mais consciente do valor da conservação deste animal.
Por que conservar a população de tubarões?!
Os tubarões têm um papel muito importante no ecossistema marinho e daí nasce a importância da sua conservação. Variadas espécies de tubarões ficam sujeitas a sobrepesca pelo fato de levarem muitos anos para chegar à vida adulta (têm um ciclo de vida longo) e o número de indivíduos jovens ser pequeno. Os efeitos da sobrepesca podem levar anos até serem revertidos.
Para desmistificar alguns fatos e ressaltar o porquê da importância dos esforços para a conservação dos tubarões, abaixo são respondidas algumas perguntas bem freqüentes feitas sobre eles:
O que faz com que tubarões ataquem os homens?
Tubarões não têm o instinto natural de caçar homens. Um ataque ocorre por erro de identificação. Acontece dos tubarões confundirem homens com suas presas naturais, como peixes, mamíferos marinhos e tartarugas, e geralmente soltam a pessoa depois da primeira mordida. Espécies pequenas confundem braços e pernas balançando com peixes e quando mordem e percebem que não é o que procuram, soltam e nadam fugindo. As espécies maiores também confundem, mas uma única mordida nesse caso pode causar ferimentos bem mais graves. Em suma, tubarões não atacam homens, mas nem por isso devem ser tratados sem cuidado ou respeito.
Por que proteger os tubarões?
Tubarões são animais únicos, cuja biologia preservada data de milhões de anos. Como são predadores do topo da cadeia nos mares, eles colaboram para o equilíbrio do ecossistema marinho. Ao lado de algumas poucas espécies de baleias e outras de tubarões, o homem é o único animal que mata tubarões (é contabilizado mais de 100 milhões por ano). Por esses motivos faz-se necessário criar regulamentos de pesca que garantam a sobrevivência das populações de tubarão nos mares por mais milhares de anos.
O ataque de tubarões é comum? O que pode ser feito para diminuir o risco de um ataque de tubarão?
Mais pessoas morrem eletrocutadas por problemas com luzes de árvore de Natal do que por ataque de tubarões. O risco de ataques pode ser minimizado com atitudes preventivas quando estiver tomando banho de mar numa praia que tenha algum histórico de presença de tubarão, tais como:
Fique sempre em grupo. Tubarões tendem a atacar indivíduos sozinhos, e não grupos. Não se afaste muito da costa, do contrário pode se isolar muito e dificultar um possível resgate.
Evite entrar no mar muito cedo pela manhã ou no final do dia e noite. Estes são os horários que os tubarões estão mais ativos procurando comida.
Não entre na água se tiver algum ferimento sangrando.
Evite usar acessórios muito brilhantes, pois a luz refletida desses objetos se assemelha muito com o reflexo da pele escamada de peixes.
Evite tomar banho em águas utilizadas para pesca comercial ou esportiva, principalmente se existir sinas de isca e peixes se alimentando.
Redobre seu cuidado em águas mais turvas.
Tenha muito cuidado ao nadar perto de bancos de areias e áreas costeiras íngremes, pois os tubarões gostam de se alojar nestas áreas.
Não entre na água se for divulgada a presença de tubarões e saia da água imediatamente se avistar um tubarão. Lembre-se: tubarões normalmente não atacam homens, mas devem ser tratados com muito cuidado e respeito. Não subestime seus instintos.
Fonte: National Marine Fisheries Service (NOAA Fisheries - http://www.nmfs.noaa.gov/)
* Matéria publica na revista do projeto Protuba (primeiro semestre 2006)
quinta-feira, junho 15, 2006
Por Jaqueline B. Ramos*
O desenho animado “Procurando Nemo”, visto por milhares de pessoas em todo o mundo, deu uma grande contribuição para a ecologia e para a educação ambiental. A história da aventura do peixinho com uma barbatana defeituosa no mar australiano retrata muito bem o ambiente marinho e, sobretudo, o ecossistema chamado ‘recife de coral’. Embora muitos tenham se dado conta da importância dos corais para a conservação dos oceanos ao assistir o filme, infelizmente o público em geral ainda conhece pouco sobre a importância deste singular ecossistema.
Os recifes de corais são ecossistemas marinhos muito ricos em biodiversidade.
Eles estão para o ambiente marinho como as florestas tropicais estão para os ambientes terrestres. Ou seja, os dois são os maiores centros de biodiversidade do planeta. Entre as inúmeras espécies que vivem nos corais estão os cnidários, as algas, as esponjas (poríferos), os vermes poliquetos (anelídeos), os moluscos, os crustáceos, os equinodermos e diversos tipos de peixes. Para se ter uma idéia, de cada quatro espécies marinhas, uma vive em ambientes recifais (incluindo 65% dos peixes).
Geologicamente, os corais existem há, aproximadamente, 200 milhões de anos e alcançaram seu nível atual de diversidade biológica há 50 milhões de anos. A formação desses ecossistemas aconteceu da seguinte forma: primeiramente animais sem esqueletos e flutuantes associaram-se à algas microscópicas e fixaram-se às rochas, formando colônias. Estas colônias são os corais, que ao se concentrarem formam o habitat marinho recife de corais.
Por sua rica biodiversidade, os recifes de corais têm características muito importantes para o equilíbrio ecológico do ambiente marinho. Além de exportar matéria orgânica e nitrogênio para suas zonas circundantes, aumentando a produtividade dessas águas, eles consistem em um importante local de reprodução e de crescimento juvenil para muitas espécies de peixes. Mas, infelizmente, na mesma intensidade em que a história evolutiva formou um ecossistema muito rico em vida, os recifes são sistemas extremamente frágeis e susceptíveis à perturbação natural e humana.
Degradação
De acordo com o Global Coral Reef Monitorinng Network – GCRMN , uma rede de governos, organizações não-governamentais (ONGs), institutos e indivíduos que monitoram a saúde destes ecossistemas, cerca de 27% dos recifes de coral do mundo estão definitivamente perdidos. Se as atividades predatórias continuarem no mesmo ritmo, sem nenhuma ação remediadora, o GCRMN calcula que a parcela de recifes perdidos atingirá o alarmante índice de 40% até 2010.
A degradação dos recifes de corais está intimamente ligada às atividades humanas e econômicas. O aquecimento dos oceanos, por exemplo, resultado de mudanças climáticas, causam o grave impacto de expulsão de algas, as zooxantelas, que habitam os recifais. Este efeito se chama branqueamento. Outras causas de degradação são a poluição das águas, a mineração de areia e rocha, o uso de explosivos e cianeto (ou outras substâncias tóxicas) em atividades pesqueiras e a própria pesca predatória e sem controle em suas áreas.
Para agravar a situação, o impacto ambiental negativo nos recifes de corais vem acompanhado de uma crise social, principalmente em relação às populações costeiras. Quase meio bilhão de pessoas vive num raio de 100 quilômetros de um recife de coral e muitos dependem deles para alimentação e geração de renda. Cerca de um quarto do pescado dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, é proveniente de áreas de coral. Na Ásia, este pescado é a base da alimentação de um bilhão de pessoas. No Brasil, estima-se que cerca de18 milhões de pessoas dependem direta ou indiretamente desses ambientes.
Vale também ressaltar que os recifes de corais também protegem as praias da erosão e ajudam a produzir as areias finas que as tornam atraentes para o turismo, uma importante fonte de receita de muitos países tropicais. Em geral, os bens e serviços gerados pelos recifes foram avaliados, com dados de 1997, em US$375 bilhões anuais.
Ocorrência no Brasil e no mundo
Embora se encontrem corais em todos os oceanos, somente nas águas tropicais se desenvolvem os recifes. Eles são comuns na costa leste da África, no oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico, especialmente na costa das Filipinas, Papua Nova Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e nas ilhas do leste australiano até o Havaí, zonas onde a temperatura média anual da água é superior a 20ºC no inverno. Os recifes estão ausentes ou são reduzidos nos limites das áreas tropicais, como na costa oeste da América do Sul e da África, devido às zonas de upwelling (interface entre o meio marinho e terrestre onde ocorre elevação de massas de água fria de áreas mais profundas) e à existência de correntes frias.
No Brasil, os recifes de coral se distribuem por aproximadamente 3 mil quilômetros da costa, do estado do Maranhão ao Sul da Bahia, mais especificamente Abrolhos, representando as únicas formações recifais do Atlântico Sul. Nessa área existem nove unidades de conservação, que protegem uma parcela significativa do ecossistema recife de coral.
Considerando a importância desses ambientes marinhos e, infelizmente, as altas taxas de degradação assistidas, o Governo Brasileiro, através da Diretoria de Áreas Protegidas (DAP – Ministério do Meio Ambiente) começou, em 1999, a implementar iniciativas com o intuito de formar uma Rede de Proteção nos Recifes de Coral. A primeira foi desenvolver um projeto, juntamente com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, de mapeamento dos recifes existentes dentro das diversas unidades de conservação brasileiras. Este projeto teve como principal produto o “Atlas dos Recifes de Coral nas Unidades de Conservação Brasileiras”, uma publicação que foi pioneira ao disponibilizar mapas do ambiente recifal brasileiro, num total de 39 cartas.
A segunda iniciativa foi a concepção da Campanha de Conduta Consciente em Ambientes Recifais, cujo objetivo é divulgar regras de conduta a serem adotadas nas modalidades de turismo que envolvem os recifes de coral. A terceira iniciativa diz respeito ao estabelecimento do Projeto Piloto de Monitoramento de Recifes de Coral do Brasil, iniciado em 2002 e coordenado pela Universidade Federal de Pernambuco, com apoio financeiro do Ministério do Meio Ambiente
Assim como o peixinho Nemo no desenho, os recifes de corais são muito ricos em vida, mas também apresentam sua parcela de fragilidade. Só depende do homem, ao obter informações e colocar em prática atitudes sustentáveis, evitar que essa fragilidade se transforme em uma ameaça para o equilíbrio do ecossistema e de todo ambiente marinho.
Tipos de Recifes
Os recifes aparecem em diferentes tamanhos e formas, dependendo das condições hidrológicas e geológicas. Os tipos de recifes mais comuns são atol, recife barreira e recife de franja.
Os atóis têm a forma de um anel emergindo da água profunda, longe de terra firme, com uma lagoa no seu interior. Existem 425 atóis documentados no mundo e o maior deles é o de Kwajalein, nas ilhas Marshall, na Oceania.Os recifes barreira e de franja são muito parecidos. Ambos são adjacentes a massas de terra. A maior barreira de coral do mundo tem aproximadamente 2 mil quilômetros e situa-se ao longo da costa nordeste da Austrália.
Fontes: Ministério do Meio Ambiente, Conservation International e Naturalink
Leia mais: Global Coral Reef Monitorinng Network - http://www.gcrmn.org/
*Matéria publicada no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung março/abril 2006
segunda-feira, maio 22, 2006
Por Jaqueline B. Ramos *
Inúmeras são as notícias que ouvimos sobre elas todos os dias. E, infelizmente, não são nada boas. Destacando as mais recentes, temos a temida Orca, conhecida como “baleia assassina”, ocupando cada vez mais o papel oposto ao significado de seu “apelido”. No final de 2005 pesquisadores noruegueses da ONG WWF chegaram à conclusão de que as orcas são os mamíferos que mais sofrem atualmente com a poluição no Ártico, ocupando o lugar dos ursos polares, que até então lideravam esse triste ranking. Nenhum outro mamífero ingere uma concentração tão grande de substâncias químicas maléficas produzidas pelo homem naquele ecossistema. Enquanto isso, a Sociedade pela Conservação das Baleias e Golfinhos (WDCS - Whale and Dolphin Conservation Society) afirma, segundo notícia divulgada em fevereiro, que o estoque de carne de baleia mantido pelo Japão é tão grande que o país começou a vendê-lo como comida para cachorro. “A WDCS espera que o uso manifesto de carne de baleia como ração para cães no Japão demonstre que o programa científico de caça às baleias é uma armação com motivações políticas”, disse a organização em seu site sobre a justificativa dada pelo país para dar continuidade à caça de baleias.
Não há dúvidas de que o Japão hoje é o país-vilão quando se trata da não- proteção às baleais. Apesar de ser proibida em nível mundial desde 1986, através de uma moratória internacional, a caça comercial às baleias continua a acontecer no país com a justificativa de fins científicos. A questão delicada da moratória é o fato de permitir aos países se auto-outorgarem licenças para a captura de baleias para pesquisas. O Japão abusa dessa norma e mata centenas de baleias por ano com o argumento da “pesquisa científica”. A carne e a gordura resultantes da “pesquisa” são vendidas livremente no mercado japonês. O grande desafio hoje é fazer com que o Japão pare de usar essa mentira para expandir sua caça comercial.
Leia a matéria completa aqui.
*Matéria publicada no Informativo do Insituto Ecológico Aqualung número 65 (maio/junho 2006)
quarta-feira, março 01, 2006
Peixe-Boi: Mamífero aquático brasileiro mais ameaçado de extinção
Por Jaqueline B. Ramos*
As notícias mais recentes sobre a seca na Amazônia evidenciaram um problema que, infelizmente, já é antigo: o alto número de mortes de animais, entre eles o peixe-boi. Além da seca, da poluição e de outros problemas conseqüentes do desequilíbrio ambiental dos ecossistemas, outro grande inimigo do peixe-boi, que ainda o faz constar na lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção, é a caça predatória. Acredite ou não, ainda existem pessoas que caçam indiscriminadamente e de forma covarde esse animal para uso do couro, da gordura (para obtenção de óleo) e consumo da carne.
No Brasil existem dois tipos de peixe-boi: o amazônico, também conhecido como manati, e o marinho. O primeiro vive nas águas doces dos rios da bacia amazônica e o segundo no mar, nas regiões Norte e Nordeste. A caça desses animais é oficialmente proibida desde 1971, mas na prática ela ainda acontece (em algumas regiões da Amazônia a carne de peixe-boi é muito apreciada). E o pior: de uma forma muito cruel. Quando vai até a superfície para respirar ou se alimentar, os caçadores colocam rolhas nas narinas do peixe-boi com o intuito de sufocá-los. Normalmente o animal mergulha assustado e acaba morrendo afogado (se ficar na superfície, é morto a pauladas).
*Matéria publicada no informativo do Instituto Ecológico Aqualung (edição 64 - janeiro/fevereiro 2006)
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
“I’d rather be here than in Alaska”
Boicote contra caça aérea de lobos no Alasca. O Governo do estado norte-americano dá licenças e define novas regras para o "jogo". Sem comentários...
Veja mais em http://www.boycott-alaska.org/
O SALVADOR PROCURA UM BOM LAR!
O IVVA Campinas - Instituto para Valorização da Vida Animal - faz um trabalho de recolhimento e promoção de adoção de cachorros e gatos resgatados na rua e/ou vítimas de maus tratos. A filosofia do trabalho é divulgar práticas éticas de cuidados com animais e o conceito da posse responsável.
O Salvador (foto acima) é um vira-lata lindo e muito carinhoso que está sendo cuidado pelo IVVA. Ele anda meio deprimido, pois já deixou de ser adotado várias vezes por ter uma cicatriz no dorso decorrente de um ferimento grave que tinha quando foi resgatado. É um ótimo cão de companhia para crianças e adora contato com pessoas. O Salvador é um dos animais que estão sendo cuidados pelo IVVA até conseguir um bom lar. Veja abaixo o anúncio e conheça outros animais para doação no site da instituição - www.ivva-campinas.org.br.
Vamos dar uma mãozinha para o Salvador. Esse cão, tão meigo e carente, está no canil da clínica da Dra. Renata há 7 meses (desde julho de 2005). Ele chegou lá com uma ferida com centenas de larvas de moscas, muito mal e por um triz não morreu. Foi a dedicação de muita gente e a garra do Salvador que o livraram da morte certa. Agora ele está bonito, chique mesmo, e ganhou até uma cirurgia plástica da Dra. Renata prá fechar o buraco que as larvas lhe deixaram no dorso. Só lhe falta uma família. Ele fica abanando o rabo cheio de amor prá dar quando alguém chega no canil para escolher um novo amigo.
Mas como todo bicho já grandinho, vê sempre meio sem graça um vizinho seu ainda filhotinho ser escolhido para ganhar colo e carinho. É claro que fica contente por esse amiguinho mas, a cada dia que passa, o Salvador vai perdendo as esperanças e fica muito triste e desanimado. Nós, do Instituto para a Valorização da Vida Animal (IVVA), não queremos mais ver tanta tristeza no olhar do Salvador e vamos divulgá-lo até que alguém com um coração muito grande escolha adotar esse bicho tão especial.
Ele já é castrado, vacinado e vermifugado. Tem aproximadamente um ano e meio de idade e temperamento dócil e alegre. Ele quer um lar cheio de gente carinhosa, comida gostosa e água fresquinha, tudo que todo animal deveria ter.
Vamos lá então: vamos dar a maior força para o Salvador, pois ele é tudo de bom mesmo. Os interessados em adotá-lo devem ligar para (19) 9777-4874.
Este anúncio na Internet: http://sites.mpc.com.br/holvorcem/caes/Salvador.html
Repasse este endereço para pessoas que gostem de cães!
terça-feira, fevereiro 14, 2006
(ONG Pró-Carnívoros)
A reintrodução de animais silvestres no seu habitat
Por Jaqueline B. Ramos*
A vontade de qualquer pessoa que se depara com um animal silvestre vítima de maus-tratos ou apreendido em ações de tráfico é devolvê-lo, o mais rápido possível, para a natureza. Mas o que muitos não sabem é que esta não é a melhor atitude a se tomar. Nem para o animal e nem para o meio ambiente. O trabalho de levar fauna de volta a seu hábitat natural consiste na reintrodução, que por sua necessária complexidade técnica e científica deve ser feita por especialistas e passa a ser um instrumento de conservação da biodiversidade do ambiente que está recebendo o animal.
“Animais de cativeiro ou apreendidos no tráfico não podem ser simplesmente soltos na natureza; essa ação aleatória pode causar danos para a conservação do ambiente e o manejo da espécie e, por exemplo, pode ocorrer mistura de populações com incompatibilidades genéticas” explica o biólogo da Universidade Estadual do Maranhão Tadeu G. de Oliveira, coordenador do Programa de Reintrodução de Felinos do Instituto Pró-Carnívoros, membro do grupo de Especialistas em Felinos da IUCN (The World Conservation Union) e co-diretor da Aliança para Conservação dos Felinos Sul-Americanos.
Leia a matéria completa
*Matéria publicada na revista ECO21 (edição novembro 2005)