quarta-feira, dezembro 27, 2006



Mal necessário?!**

*Por Jaqueline B. Ramos

Qual seria a justificativa para a continuidade de experimentação com animais vivos uma vez que métodos alternativos já se provam plausíveis e eficientes? É justo os animais serem considerados meros produtos e seu sofrimento não ser poupado com o argumento de que é em nome da ciência, que é um mal necessário? Estas são as indagações centrais que permeiam o roteiro do documentário “Não Matarás: os animais e os homens nos bastidores da ciência”, produzido e lançado este ano pelo Instituto Nina Rosa, organização independente e sem fins lucrativos que promove atividades para divulgação de informações sobre defesa animal, consumo sem crueldade e vegetarianismo.

No início do filme a própria Nina Rosa, respeitada ativista no Brasil, prepara o telespectador para as cenas chocantes que estão para ver alertando que elas retratam uma realidade muito dura que precisa ser conhecida para ser mudada. As cenas, captadas sem autorização dos laboratórios, realmente chocam. E a complementação feita pelos depoimentos questionadores da vivissecção (experimentações com animais vivos) feitos por estudantes e professores de biologia, medicina e veterinária de renomadas universidades brasileiras, ativistas de movimentos de direito dos animais e também por cientistas surpreendentemente racionaliza o debate, que geralmente é rebatido pela comunidade científica mais cética com o argumento de ser uma discussão subjetiva e meramente emotiva.

Ativistas e cientistas brasileiros, norte-americanos e europeus esclarecem que atualmente a gama de métodos alternativos sem o uso de animais vivos – experimentações in vitro, simuladores virtuais e outros recursos midiáticos extremamente avançados, apenas para citar alguns exemplos - é muito grande e acessível, ao custo de investimentos iniciais um pouco maiores e, principalmente, vontade dos profissionais envolvidos de unir ciência e compaixão. Além disso, o documentário mostra que as técnicas alternativas e mais humanitárias já se mostram muito mais eficientes para o homem do que os testes em animais, sob o ponto de vista da própria ciência. Um exemplo dado é o da talidomida. Quando foi testada em roedores, no final dos anos 50, não causou efeitos colaterais significativos. No entanto, quando mulheres grávidas passaram a ingerir a substância como prescrição para enjôos matinais, seus bebês nasceram com graves problemas de má-formação.

Ao assistir “Não Matarás” é mais do que natural que você se pergunte: o que posso então fazer para evitar o sofrimento em vão e desnecessário de roedores, cachorros, gatos, coelhos, chimpanzés, entre outros animais? Para o consumidor, o filme orienta a procura por informações sobre a fabricação de produtos de limpeza, higiene, cosméticos, remédios e alimentos e o questionamento sobre a realização de testes com animais. O conselho é boicotar e dar preferência a produtos orgânicos, hoje crescentemente disponíveis no mercado. A Dra. Jane Goodall, renomada primatóloga e antropóloga britânica e atual mensageira da Paz da ONU, é uma das entrevistadas no documentário. Ela resume em uma frase a responsabilidade do consumidor neste assunto: “se as pessoas não comprarem produtos obtidos a partir de sacrifícios de animais, não haverá mais razão para se fazerem os testes.” Simples assim. Assista o vídeo e tire a sua conclusão.

* Jornalista Ambiental e aluna do Curso Internacional de Bem-Estar Animal da Universidade de Cambridge

Título: “Não Matarás: os animais e os homens nos bastidores da ciência”
Ano: 2006
Origem: São Paulo, Brasil
Duração: 65 minutos
Direção: Denise Gonçalves
Onde encontrar:
Loja virtual do Instituto Nina Rosa:
http://www.001shop.com.br/lojas/institutoninarosa.org.br/

** Resenha publicada na revista do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), edição n. 104 / outubro 2006

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