quinta-feira, dezembro 20, 2007

Transgênicos e suas controvérsias

Por Jaqueline B. Ramos*

Poucos assuntos geram tanta controvérsia entre a sociedade e entre os próprios pesquisadores, agricultores e ambientalistas como os transgênicos. O termo é sinônimo de Organismos Geneticamente Modificados, ou simplesmente OGMs. Como o nome diz, trata-se de animais e plantas que sofrem modificações na sua estrutura ao receberem genes de outras espécies em laboratórios através da tecnologia do DNA recombinante (ou engenharia genética). Vale ressaltar que OGMs que não recebem genes de outras espécies não são considerados transgênicos.

Pedindo licença para tentar simplificar a explicação científica, o objetivo da alteração genética é adequar, através da inserção de características não naturais, a planta ou o animal de modo que seu cultivo ou criação se torne mais produtivo (leia-se, em alguns casos, mais rentável para o produtor em termos econômicos) ou que o produto final gerado seja mais eficiente. Um exemplo bem conhecido é a soja transgênica, que nada mais é que uma soja resistente a herbicidas. Outro exemplo é um arroz modificado que está sendo estudado na Suíça e na Alemanha que poderá ajudar a combater a deficiência de vitamina A por ser mais rico em carotenóides.

Vários são as vantagens e desvantagens ressaltadas sobre os transgênicos, mas a preocupação e as discussões sobre este assunto se justificam porque o fato é que ainda não foram esclarecidas claramente as reais conseqüências de toda essa “mistura genética” para a saúde do homem e do meio ambiente. Embora os defensores dos transgênicos argumentem que a biotecnologia proporciona avanços na produção de alimentos, podendo ajudar a solucionar problemas nutricionais mundiais, há setores da sociedade que ainda temem os riscos e as incertezas que ainda perpassam sobre os resultados, a longo prazo, da utilização maciça desse tipo de tecnologia.

Transgênicos no Brasil e no mundo

No Brasil as organizações não governamentais Greenpeace e ASPTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) lideram as campanhas de conscientização sobre os riscos e incertezas inerentes aos OGMs e lobbys contrários à sua produção e comercialização no país. Em junho desse ano, por exemplo, uma liminar suspendeu a liberação do milho Liberty Link, da Bayer, que havia sido concedida pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) em maio. A decisão da Justiça determinou que a CTNBio só poderá liberar variedades transgênicas de milho após a elaboração de normas de coexistência com variedades orgânicas, ecológicas e convencionais.

No entanto os trabalhos que visam o controle sobre os transgênicos no Brasil se tornaram ainda mais difíceis desde que o Governo sancionou a Lei 11.105/05. Esta vai contra todo o discurso promovido na corrida presidencial em 2002 - naquela época, o então candidato Lula formalizou seu compromisso de apoiar uma moratória à liberação do cultivo comercial e da comercialização de transgênicos no país por tempo indeterminado. Trocando em miúdos, a nova Lei de Biossegurança brasileira simplesmente passou a permitir que os transgênicos sejam introduzidos no meio ambiente e na alimentação humana e animal sem os necessários estudos de impacto ambiental e na saúde do Ministério do Meio Ambiente e da Saúde. Ou seja, tornou muito mais fácil a comercialização de OGMs e mais difícil o trabalho das entidades que lutam pelo seu controle.

Em outros países o panorama geral é o seguinte: na Europa alguns países têm autorizações para plantio de algumas espécies, como a Espanha e a França, que têm plantações de milho transgênico MON810, da Monsanto. Mas nunca o plantio é em larga escala. Outras nações, como Hungria e Áustria, decretaram a proibição de cultivo de transgênicos.

Os Estados Unidos é o país líder em plantio de larga escala e comercialização. Cerca de 50% de todos os transgênicos plantados no mundo estão lá. E também não há qualquer lei de rotulagem. A China não tem uma posição fechada sobre OGMs. No caso da soja eles não permitem o cultivo, mas liberam a importação, fazendo o esmagamento dos grãos diretamente nos portos para evitar contaminação. No caso do arroz, a política é desenvolver suas próprias variedades, não utilizando variedades das multinacionais já conhecidas.

Fontes: Greenpeace, ASPTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) e NEAD (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Agrário Rural)

Saiba mais:
Guia do Consumidor – Transgênicos (Greenpeace) http://www.greenpeace.org/brasil/transgenicos/consumidores

Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos (ASPTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa)
http://www.aspta.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm

NEAD – Plantas Geneticamente Modificadas: Riscos e Incertezas: http://www.nead.org.br/index.php?acao=biblioteca&publicacaoID=344

BOX 1: Os prós e contras dos OGMs

Vantagens
· Aumento da produção de alimentos com redução nos custos de produção.
· Aumento da resistência induzida, diminuindo a necessidade do uso de herbicidas.
· Produção de alimentos de maior qualidade nutricional e menor perecibilidade.
· Produção de anticorpos em plantas transgênicas, com possibilidade de distribuição dos mesmos.

Desvantagens e riscos
· Incertezas em relação aos impactos na saúde humana, como possibilidade de aumento de alergias, dificuldades de tratamentos de algumas doenças por conta de resistência a antibióticos e intoxicações devido ao aumento de resíduos de agrotóxicos.
· Incertezas em relação aos danos causados ao meio ambiente, como o risco do que é chamado de fluxo gênico (transferência de genes da planta transgênica para uma espécie diferente que pode ser um parente silvestre ou plantas daninhas sexualmente compatíveis podendo gerar desequilíbrio nas cadeias alimentar e no ecossistema), desenvolvimento de resistência em pragas e doenças se houver a transferência do gene resistente da planta e impactos sobre a biodiversidade.
. Efeitos colaterais em gerais que não podem ser previstos em curto prazo.

BOX 2: Entrevista com Gabriela Vuolo (Coordenadora da Campanha de Engenharia Genética – Greenpeace Brasil)

Atualmente, quais são as maiores dúvidas em relação aos impactos negativos causados pelos OGMs?

Gabriela: As principais dúvidas se referem aos impactos à saúde e ao meio ambiente. Há estudos que afirmam que os transgênicos poderiam causar aumento no uso de agrotóxicos, contaminação genética, perda de biodiversidade, aparecimento de super-pragas, perda de variedades nativas etc. Dentre os impactos para a saúde, há estudos que relatam aumento na ocorrência de alergias, resistência a antibióticos, alteração no peso de cobaias e na estrutura de órgãos etc. O grande problema é que, até o momento, não há estudos conclusivos. A única coisa que se sabe é que os transgênicos são seres vivos que podem se reproduzir e que, portanto, não podem ser controlados depois que forem liberados no meio ambiente. Então, se algum agricultor utilizar plantas transgênicas, será possivel voltar atrás? Não.

O exemplo da soja transgênica já foi bem divulgado para o público em geral. Que outras espécies de plantas e animais passam mais comumente por modificações genéticas antes ou durante seu processo de produção?

Gabriela: Atualmente, 99% dos transgênicos plantados no mundo consistem em soja (61%), milho (23%), algodão (11%) e canola (5%). No Brasil os únicos OGMs liberados são soja e algodão. Existem outras espécies de OGMs que são plantadas em outros países, porém não em larga escala.
Num panorama geral, como está o Brasil em relação à legislação, comercialização e controle de produção de transgênicos? Que países estão mais avançados neste controle?

Gabriela: A legislação brasileira é razoavelmente avançada. Com relação à rotulagem dos produtos transgênicos, estamos muito próximos da lei européia no que diz respeito à porcentagem permitida (lá é de 0,9% e aqui é de 1%). E estamos mais avançados no que diz respeito aos produtos que precisam ser rotulados (lá, laticínios, ovos e outros produtos de origem animal não levam rótulo, e aqui sim). Com relação à lei de biossegurança, a nossa é boa em alguns aspectos (uma vez que tem 2 instâncias para aprovações comerciais, sendo elas a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e o CNBS – Conselho Nacional de Biossegurança), mas não tão boa em outros (já que concentra todo o poder nas mãos da CTNBio e retira a competência da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e do Ibama nas avaliações de impacto na saúde e no meio ambiente). Além disso, a composição da CTNBio também é um problema, já que possui apenas 5 representantes da sociedade civil, contra 12 indicados diretamente pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.

Por que motivos a Lei Federal instituída em 2003 que define a obrigatoriedade de informações sobre transgênicos na rotulagem dos produtos para consumo humano e animal não é cumprida?

Gabriela: A principal razão para a falta de cumprimento do decreto de rotulagem é a falta de vontade política. De acordo com a legislação, os órgãos responsáveis por fiscalizar a presença de OGMs em alimentos são o Ministério da Agricultura e a Anvisa. No entanto, a responsabilidade da Anvisa se restringe aos produtos que já estão nas gôndolas dos supermercados. Ou seja, todas as etapas anteriores, como a chegada da matéria prima nas fábricas, transformação disso em ingredientes para outras fábricas etc, são de responsabilidade do Ministério da Agricultura. E é de conhecimento público que este Ministério tem posição favorável aos transgênicos, não demonstrando então interesse em fiscalizar. Tampouco tem os recursos humanos e financeiros para tal.

Outro problema é que além de não fazer a fiscalização, o Ministério da Agricultura não permite que outros órgãos cumpram esse papel. A Secretaria de Agricultura do Paraná, por exemplo, pediu autorização ao Ministério para fazer essa fiscalização (que é de competência federal), mas o pedido foi negado. Resultado: o Ministério não faz o seu trabalho e não deixa ninguém fazer. Segundo a lei 11.105/05, a CNTBio deveria "prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da política de OGMs e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial dos mesmos". Porém, a CNTBio parece interpretar as questões de biossegurança como barreiras para o desenvolvimento da tecnologia. Uma ação muito contraditória, uma vez que essa comissão deveria acompanhar o desenvolvimento de áreas como biossegurança visando a proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

Como o consumidor brasileiro pode se precaver e buscar por informações sobre os produtos que compra no seu dia-a-dia?
Gabriela: O consumidor tem um papel fundamental na luta em favor de alimentos livres de OGMs e algumas atitudes via SACs, internet e nos supermercados têm sido de grande valia. Desde 2002, o Greenpeace trabalha com o Guia do Consumidor - lista de produtos com e sem transgênicos. Com o Guia é possivel identificar produtos que não contêm transgênicos e produtos que podem ter transgênicos. Como a rotulagem ainda não está sendo colocada efetivamente em prática, o Guia é hoje a única ferramenta para o consumidor que quer evitar os produtos transgênicos.

Qual é a posição oficial do Greenpeace em relação aos transgênicos no Brasil e qual é a estratégia da campanha de engenharia genética?

Gabriela: O Greenpeace faz campanha contra a liberação de transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs) no meio ambiente e se opõe ao seu uso na alimentação humana e animal. Para a organização, os resultados da utilização de transgênicos são imprevisíveis, incontroláveis e desnecessários. A campanha começou no Brasil em 1997 e nesses 10 anos consideramos que alcançamos muitas vitórias. A maior delas é a quantidade de indústrias de alimentos que baniram os ingredientes transgênicos de seus produtos. Em 2002, quando começamos a trabalhar nessa área, eram apenas 14 empresas. Hoje são 68. O decreto de rotulagem também é uma grande vitória, embora parcial (já que não há implementação). O direito à informação é fundamental para que os brasileiros possam escolher o que vão comer; e isso está garantido por esse decreto.
*Matéria publicada no informativo n. 75 (setembro/outubro 2007) do Instituto Ecológico Aqualung (clique aqui - versão em pdf).
Curtas

Por Jaqueline B. Ramos*

Animal silvestre não é pet!

Todo mundo sabe que animal silvestre não é bicho de estimação, que nasceu para viver na natureza, no seu habitat, e não dentro da casa de pessoas como artigo de colecionadores, peça de decoração ou brinquedo exótico para crianças. Até então a captura de animais com este fim era considerada ilegal, pelos motivos mais óbvios. Mas motivos não tão óbvios fizeram com que o Conselho Nacional do Meio Ambiente aprovasse em setembro uma resolução que estabelece critérios para a determinação de espécies silvestres a serem criadas e comercializadas como animais de estimação.

A resolução define os critérios a serem adotados pelo Ibama para a produção da lista de espécies de animais que poderão ser criadas em domicílio, que levará seis meses para ser feita. Independente das espécies que serão listadas, o grande problema é o Governo abrir precedentes para a possibilidade da domesticação de animais selvagens, indo na contra-mão de todo o trabalho educativo e de conscientização que vem sendo feito por ONGs e instituições ambientalistas e de defesa dos animais em todo o Brasil.

Um dos argumentos para a aprovação desta resolução é “regulamentar a criação comercial de animais silvestres”, que já é permitida no país mas não tem uma fiscalização muito rigorosa. Ou seja, o problema já existe e oficializar a domesticação dos animais o agrava ainda mais. Além do mais, em nenhum momento se pensa na questão sob a perspectiva dos animais ou ambiental. E o sofrimento pelo qual os animais silvestres “domesticados” passam fora de seu ambiente natural? E os impactos negativos de sua captura em larga escala nos seus ecossistemas de origem? Tudo isso em troca de um luxo do homem...

Feita a lista, o Ibama a submeterá à consulta pública e este é o momento de representantes de organizações públicas, privadas e da sociedade civil organizada tentarem derrubar a proposta. Afina de contas, animal silvestre não é pet!

Recém-descobertas e já correndo perigo

A cada dia que passa fica mais clara a necessidade dos cuidados progressivos que a humanidade deve ter para preservar a biodiversidade do planeta. Tanto da que já conhecemos como das novas espécies que são catalogadas todos os anos – o que só vem a reforçar a rica diversidade biológica que temos o privilégio de desfrutar e o dever de proteger.

Um recente trabalho desenvolvido na Amazônia não só descobriu novas espécies como já identificou os perigos que as recém-conhecidas já estão prestes a enfrentar. Cientistas do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) descobriram quatro espécies de aves, dois macacos, um esquilo, dezenas de tipos de aranha e diversas plantas, entre elas duas palmeiras, que o homem ainda não havia catalogado. As novas espécies foram identificadas no trecho de terra existente entre os rios Purus e Madeira, nos estados do Amazonas e Rondônia, onde não há registro de presença humana nos últimos 100 anos.

De acordo com o Inpa, estas descobertas podem indicar que a área pesquisada seria uma das mais ricas em diversidade de fauna e flora da Amazônia. Mas mesmo antes de ser conhecida mais a fundo, esta área já estaria ameaçada por conta de dois grandes empreendimentos previstos para a região: as construções da BR 319 e do gasoduto que ligará Urucu (AM) a Porto Velho (RO). Sem contar os impactos das hidrelétricas no Rio Madeira.

Se já não bastasse destruir o que já é conhecido, riquezas recém-descobertas da Amazônia correm o risco de simplesmente desaparecer ainda antes entrarem nos livros de biologia...

Guerra a favor dos orangotangos

Poderia ser de uma forma bem menos catastrófica, mas a população de orangotangos da Indonésia só não se extinguiu devido à guerra civil que se instalou na província de Aceh, na ilha de Sumatra. A afirmação é de Ian Singleton, diretor científico do Programa de Conservação de Orangotangos da Sumatra. Segundo ele, a guerra teria evitado a entrada e instalação de madeireiras e empresas de extração de óleo vegetal em uma das mais ricas florestas tropicais do mundo.

“Se a guerra não tivesse acontecido e as empresas tivessem entrado e explorado a floresta, nós só teríamos alguns poucos orangotangos sobreviventes”, afirmou o diretor do programa. “Mas se o que foi conservado da floresta for destruído a partir de agora, os orangotangos voltarão a ficar em perigo, pois muitos irão morrer por conta da destruição de seu habitat”, alertou. Hoje existem cerca de 7.300 orangotangos na floresta da Sumatra. O número tem ficado estável nos últimos anos, mas mesmo assim representa a metade de indivíduos que habitavam a floresta no início dos anos 90 (cerca de 15 mil).

Espera-se somente que as autoridades competentes entendam que guerra não é recurso de conservação...

Renováveis, porém...

A atual campanha do Governo Lula de promoção dos biocombustíveis, em especial do etanol, usa como principal bandeira o fato deles serem renováveis e proporcionarem uma combustão mais limpa. No entanto, ambientalistas e pesquisadores tanto no Brasil como no exterior alertam sobre a necessidade de analisar os impactos negativos que podem ser gerados no processo de produção em massa desses combustíveis limpos.

Um desses alertas foi dado na World Water Week, em agosto, conferência mundial sobre água da ONU. Ressaltou-se que a produção de biocombustíveis pode exercer uma "nova e dramática" pressão sobre a ameaça global de escassez de água, caso práticas e estratégias inovadoras para o uso sustentável dos recursos hídricos não sejam implementadas em âmbito internacional. Em outras palavras, os especialistas presentes lembraram a importância de enfatizar o fator água no debate sobre os biocombustíveis.

Outra posição crítica em relação aos biocombustíveis foi apresentada por uma recente reportagem do jornal International Herald Tribune, na qual se afirma que a promoção dos biocombustíveis esconde "uma realidade mais dura para os cortadores de cana no Brasil". De acordo com o jornal, “os cortadores são migrantes que deixam suas famílias em busca de trabalhos que pagam cerca de US$ 1,35 por hora”. O texto relata a história de Manuel Rodrigues da Silva, hospitalizado após ser encontrado com exaustão durante uma inspeção do Ministério Público na fazenda onde trabalhava no interior de São Paulo. Segundo a reportagem, dados oficiais mostram que 312 trabalhadores do setor morreram no trabalho entre 2002 e 2005, enquanto outros 82.995 sofreram acidentes.

Desastres naturais em números

Ainda na metade do ano, a ONU divulgou um número que merece atenção. Em agosto, durante a conferência mundial World Water Week, na Suécia, a entidade mostrou que apenas no decorrer do primeiro semestre de 2007 117 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de cerca de cerca 300 desastres naturais. O resultado dessa catástrofe em valores monetários: um prejuízo de nada mais nada menos do que US$ 15 bilhões. Os principais problemas destacados em 2007 foram as secas devastadoras que aconteceram na China e na África e inundações neste último continente e também na Ásia. Desequilíbrio ambiental também dá prejuízo.

Tanto na terra, mas nem tanto no mar

Segundo um estudo apresentado no II Congresso Latino-Americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, realizado no início de outubro na Argentina, nos últimos 10 anos quase duplicou a superfície de áreas protegidas na América Latina e aumentou muito a participação das comunidades locais em sua preservação e manejo. No período a superfície protegida teria passado de 160 milhões de hectares para mais de 300 milhões, o que é motivo de orgulho para o continente.

Porém, no mesmo evento, o Programa Marinho Global da União Mundial para a Natureza (UICN) alerta que enquanto mais de 10% do território está protegido, a proporção de mares nessa condição não chega a 1%. “Se a América Latina pretende ser líder mundial em áreas protegidas, resta uma pendência: o mar”, disse ao jornal Terramérica Imène Meliane, especialista da UICN. “A região tem os mares mais produtivos do mundo, mas vive de costas para eles.”

Pelas baleias, golfinhos e crianças

O Japão continua na mira de ambientalistas e defensores de animais de todo o mundo. E dessa vez duas campanhas têm as crianças como parceiras nos argumentos para proteção de baleias e golfinhos. O Governo australiano lançou um apelo através de um vídeo no site You Tube com imagens de baleias, legendas em japonês e pedidos, feitos por crianças australianas, de fim de caça às baleias no Japão.

Já a Sea Shepherd Society “ataca” o país em outra frente. Todos os anos, entre os meses de outubro e março, os japoneses abrem temporada de caça a golfinhos e milhares de animais morrem nas mãos de pescadores. A carne é vendida em supermercados e também é servida em merendas escolares. A Sea Shepherd alerta que já foi comprovada que a carne de golfinho possui altos doses de substâncias tóxicas que podem ser letais para os seres humanos e que servir essa carne para crianças em escolas é um crime. Saiba mais sobre a campanha Toxic Lunch em
http://www.seashepherd.org/toxiclunch/.

Vôo limpo

A gasolina de aviação é hoje considerada um dos maiores vilões do aquecimento global por conta do alto índice de emissão de gases de efeito estufa. Pensando numa forma de oferecer uma aviação mais limpa, a empresa aérea neozelandesa Air New Zealand anunciou que planeja realizar o primeiro vôo-teste de um avião comercial movido parcialmente a biocombustível entre o fim de 2008 e o início de 2009. O vôo experimental, com um Boeing 747, deverá partir da cidade de Auckland e não levará passageiros. A empresa divulgou que um dos quatro motores do avião deverá ser movido a uma mistura de querosene e biocombustível e que o objetivo da experiência é pesquisar alternativas “verdes” junto com a fabricante de motores Rolls-Royce e a fabricante de aviões Boeing.

Nova Amazônia em 7 anos

Muitos já foram os planos e estratégias apresentadas para acabar com o desmatamento na Amazônia, com resultados os mais diversos. Mas segundo um grupo de ambientalistas de nove organizações não-governamentais, é possível chegar a este objetivo em sete anos. O que tornaria isso possível é uma proposta apresentada na Câmara dos Deputados em Brasília chamada Pacto Nacional pela Valorização na Amazônia. O plano prevê metas progressivas de redução de desmatamento, a começar por 25% no primeiro e segundo anos, e ampliando anualmente as reduções em relação à área desmatada de 2005/2006, até eliminar totalmente o problema no sétimo ano.

Segundo os profissionais envolvidos na proposta, ela tem mais chance de dar certo do que outras que não saíram do papel porque inova ao implementar mecanismos de compensação econômica para quem se beneficia do desmatamento. Ou seja, a idéia é dar uma compensação para aqueles que ganham com o desmatamento, pois seria a única maneira deles aderirem à idéia da preservação. Por exemplo, oferecer ao dono de uma propriedade onde se pratica desmatamento os R$ 100 por hectare/ano que ele ganharia ao derrubar a floresta.

De acordo com as ONGs que assinam a proposta, para financiar esses mecanismos e a infra-estrutura inicial seriam necessários R$ 1 bilhão por ano, que poderiam ser pagos pelo Governo e pela iniciativa privada. Apresentada a proposta, sua aplicação depende agora apenas de vontade política. Apóiam a iniciativa as ONGs Instituto Socioambiental, Greenpeace, Instituto Centro de Vida, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, The Nature Conservancy, Conservação Internacional, Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, Imazon e WWF-Brasil.

Presídio ecologicamente correto

Prisão ou acampamento de férias? Esta é a pergunta que os responsáveis pela prisão de Bastoey, em uma ilha ao sul de Oslo, na Noruega, gostam de ouvir. Afinal de contas, a instituição, considerada uma prisão de segurança mínima, reivindica o título de primeiro presídio ecológico do mundo. E o que justificaria esse título? O fato da prisão não ter arame farpado ou portões e operar com painéis solares, calefação a lenha, reciclagem e produção de comida orgânica. Além disso, segundo a direção da prisão, seu objetivo é ensinar valores importantes, como o respeito ao ambiente e ao próximo, aos 115 detentos.

Para tal os detentos vivem em casas que não são trancadas e tomam conta de 200 galinhas, oito cavalos, 40 ovelhas e 20 vacas, cuidam dos campos, colhem frutas e pescam. E toda a produção agrícola da prisão é obtida sem produtos químicos artificiais e os animais são bem tratados. Mais do que presídio ecologicamente correto, Bastoey tinha que ganhar o título de comunidade modelo...

Fontes: BBC Brasil, Ambiente Brasil, Agência Envolverde, ENN (Environmental News Network)

* Notas publicadas no informativo n. 75 (setembro/outubro 2007) do Instituto Ecológico Aqualung
Revista dos Vegetarianos n. 12 (outubro 2007) - edição on line: http://www.europanet.com.br/euro2003/index.php?cat_id=950&pag_id=15850

Animal Rights 2007

Por Jaqueline B. Ramos*

A relação do veganismo com o controle do aquecimento global, estratégias para derrubar o AETA (Animal Enterprise Terrorism Act), emenda aprovada pelo Congresso dos EUA em 2006 que considera ativistas como terroristas, e o apoio ao movimento de Direitos Animais declarado pelo candidato a presidência dos EUA/2008 Dennis Kucinich, que (pasmem!) é vegano. Estes foram alguns temas de destaque da Animal Rights 2007, conferência nacional que é ponto de encontro todos os anos de ativistas de direitos animais dos Estados Unidos. No evento se discute e trocam-se idéias sobre os avanços e as principais questões que permeiam o movimento no país e algumas experiências estrangeiras.

A Animal Rights foi idealizada pela organização sem fins lucrativos FARM (Farm Animal Reform Movement) e é realizada há 15 anos (entre 1981 e 1987, em 1997 e todos os anos desde 2000). A conferência de 2007 aconteceu de 19 a 23 de julho no hotel Westin LAX, em Los Angeles (a cada ano o evento é realizado numa costa americana, se revezando entre as cidades de Los Angeles e Washington) e contou com aproximadamente 1000 participantes de todo os Estados Unidos. E este ano se bateu o recorde em número de outros países sendo representados: foram 10, entre eles o Brasil (o nutricionista George Guimarães, da nutriVeg e do VEDDAS, fez uma apresentação sobre a legislação brasileira de direitos animais em um dos painéis da conferência), a China, o México, a Índia, a Etiópia e a Austrália.



Nos cinco dias de conferência o clima foi de integração e, principalmente, acesso a muita informação sobre as últimas conquistas e desafios em prol dos animais em todas as áreas de atuação (produção, laboratórios, entretenimento, ações diretas etc) e sobre veganismo, considerado, por unanimidade, a forma mais prática de respeito aos direitos animais. Foram mais de 100 palestrantes de 70 entidades diferentes falando em 120 sessões e plenárias ao final de cada dia. Entre eles ativistas-celebridades, como Paul Watson, fundador da Sea Shepherd Conservation Society, mundialmente conhecido por suas ações diretas e arriscadas contra a caça de baleias na Antártica, e Howard Lyman, um ex-fazendeiro que se tornou vegano, falou abertamente sobre suas idéias no popularíssimo programa da Oprah Winfrey e se dedica a divulgar o veganismo como uma questão de sobrevivência do planeta.

Além das sessões e plenárias, os participantes tiveram a chance de visitar uma feira que contou com cerca de 90 expositores de roupas, acessórios, comida vegana e literatura e assistir a 50 vídeos-documentários sobre abuso contra animais e ações de defesa. A organização da conferência também preparou uma noite especial com o serviço de um jantar vegano oferecido pelo hotel, um leilão beneficente e entrega de prêmios para ativistas e personalidades que adeptos ao movimento, como o músico John Feldmann, guitarrista e líder da banda Goldfinger, que divulga o veganismo através de sua música e apóia abertamente movimentos como o SHAC (Stop Huntingdon Animal Cruelty) e a ALF (Animal Liberation Front, Frente de Libertação Animal, em português), este último conhecido por suas ações diretas em laboratórios.

Mas um dos pontos altos da conferência foi a crítica coletiva ao Animal Enterprise Terrorism Act, tema de várias palestras e de uma série de workshops. “Um dos destaques este ano foi o reforço da importância da defesa da liberdade de expressão particular e dos grupos ativistas, que fica ameaçada com o AETA”, diz Alex Hershaft, presidente da FARM e idealizador da Animal Rights, se referindo ao avanço nas discussões sobre as estratégias do movimento para unir forças e conseguir anular a emenda que coloca qualquer pessoa ou organização de defesa de animais no mesmo nível de terroristas, punindo inclusive protestos pacíficos.

Direitos Animais e Meio Ambiente

Outro destaque da Animal Rights 2007 foi a declaração oficial de apoio aos direitos animais dada por Dennis Kucinich, candidato à presidência dos EUA em 2008 e um dos únicos congressistas americanos adeptos da dieta vegana. Através de uma áudio-conferência, Kucinich falou para um auditório lotado sobre as suas crenças e o seu comprometimento no cenário político a favor da sustentabilidade para a preservação de todas as espécies de vida e do meio ambiente. “Tratar mal os animais reflete na paz do mundo”, afirma o candidato, ressaltando que ser vegano não somente rendeu melhorias à sua saúde, mas também reforçou o fato de acreditar que todas as espécies de animais são sagradas.

O discurso de sustentabilidade e com tiradas de visão holística de Kucinich foi o gancho para um outro assunto extremamente importante tratado na conferência este ano: a relação da dieta vegana com o controle do aquecimento global. Em outras palavras, a relação dos direitos animais com o equilíbrio ambiental do planeta. Ou simplesmente pode ser lido como Ativismo e Ambientalismo, o que um tem a ver com o outro? A resposta concluída foi: tudo. “Eu acredito que muitos veganos fazem a opção pela dieta pensando nos animais apenas. No entanto, eles acabam ajudando na melhoria de sua saúde e da saúde do planeta. Infelizmente muitos líderes ambientalistas ainda não se deram conta da importância da dieta vegana”, ressalta Hershaft, tratando este papel de equilíbrio do veganismo como um outro ponto forte do evento.

Saurabh F. Dalal, presidente da União Internacional Vegetariana/ América do Norte, fez uma apresentação sobre a influência da atual dieta onívora adotada pela humanidade nas mudanças climáticas em uma das plenárias principais que ajudou a enriquecer ainda mais a discussão de Direitos Animais e Meio Ambiente. “Ser vegano é fundamental, mas precisamos rever ainda mais nossos hábitos de consumo. Temos realmente que nos tornar mais verdes”, alertou Dalal, que foi agraciado com uma placa de reconhecimento por seu trabalho de multiplicação de idéias de vegetarianismo e ativismo iniciado em Washington, DC e que hoje abrange os Estados Unidos e outros países.


Retratando em números, a própria Organização das Nações Unidas, através de relatório oficial de 2006, já demonstrou e divulgou o fato de que a criação industrial de animais é responsável por aproximadamente 18% das emissões de gases de efeito estufa. Em termos comparativos esse número é maior, por exemplo, que o das emissões geradas pelos meios de transporte. Ou seja, a grande quantidade de carros representa um problema, mas já está provado que a dieta onívora globalizada tem impacto negativo ainda maior no aquecimento global. A solução para mudarmos esta situação? Dalal sugeriu a divulgação das vantagens da dieta herbívora como uma das estratégias de mitigação dos desequilíbrios ambientais, ressaltando a importância do trabalho do ativista.

“Além de mudanças no atual modelo energético, pensando numa escala mais generalista, é necessário trabalhar na conscientização das pessoas sobre estes fatos relacionados à sua alimentação. O resultado será uma mudança de comportamento e hábitos em larga escala, ingrediente principal para uma mudança de modelo da dieta global”, explicou Dalal. Seja no cenário da relação do ativismo com o meio ambiente ou nas controversas áreas de produção e experimentação com animais, pode-se afirmar que uma das principais reflexões deixadas pela Animal Rights 2007 para seus participantes é a seguinte: cabe aos ativistas divulgar informações e fazer esclarecimentos para o público em geral. Como bem ressaltou Michael Budkie, diretor da organização SAEN – Stop Animal Exploitation Now (Pare a Exploração Animal Agora), “as pessoas simplesmente não sabem o que acontece nos bastidores. Nós devemos dar a elas as informações. Esta é a nossa missão.”

* Jaqueline B. Ramos foi convidada pela organização da Animal Rights 2007 para fazer a cobertura fotográfica do evento (http://www.arconference.org/photos7/)

Saiba mais:
FARM - http://www.farmusa.org/
Conferência Animal Rights - http://www.arconference.org/
Equal Justice Alliance (organização contra o AETA) – http://www.noaeta.org/
União Internacional Vegetariana/América do Norte – http://www.ivu.org/vuna

Entrevista exclusiva: Capitão Paul Watson, Sea Shepherd Conservation Society


“Sou um ambientalista”

O capitão Paul Watson é uma das figuras mais respeitadas e controversas tanto no meio ambientalista como no de direitos dos animais. Fundador da Sea Shepherd Conservation Society, Watson participou de suas primeiras ações de protestos no final da década de 60, inclusive das que deram origem ao Greenpeace. Numa operação em 1975 testemunhou de seu barco uma situação que mudaria sua vida para sempre: a morte de uma baleia caçada por soviéticos. Desde então se dedica à defesa destes e de todos os outros animais marinhos através de ações diretas contra baleeiros e caçadores. E chama esse trabalho de ambientalismo, e não de ativismo.

Da saída do Greenpeace – há quem diga que ele foi expulso por divergência de táticas – a discursos nos quais afirma sem titubear, por exemplo, que um ambientalista que não suporta o vegetarianismo é um hipócrita, Watson coleciona atitudes e afirmações apoiadas por muitos e criticadas por outros. “Recebemos o rótulo de piratas do mar e não tenho medo de dizer que tenho muito orgulho disso. Um pirata resolve por ele mesmo, sem receber ordens do Governo. Nossa missão é salvar o planeta. Nossos clientes são os animais”, dispara para a platéia da Animal Rights sob aplausos numa das plenárias.

Em 2007 a Sea Shepherd completa 30 anos e Paul Watson e sua tripulação se preparam para voltar ao mar em ações no Japão e nas Ilhas Galápagos, no Equador. Entre um intervalo e outro das sessões da conferência em Los Angeles, o capitão deu esta entrevista para a Revista dos Vegetarianos:

Na sua opinião, quais foram as principais mudanças do movimento de defesa dos direitos dos animais que ocorreram da década de 70 até hoje?

Na verdade o movimento mudou bastante. Nos anos 70, por exemplo, as pessoas não sabiam o que era um vegano. Atualmente já é um termo bem mais conhecido e aceitável, o que representa uma grande mudança. Além disso, também não é difícil achar bons restaurantes veganos em todas as grandes cidades do mundo. O movimentou avançou tremendamente rápido e cada vez mais pessoas estão ingressando na comunidade vegetariana. Eu acredito que por volta do ano 2020 o mundo será majoritariamente vegetariano. Aí as pessoas lembrarão da cultura do século XX como algo bárbaro e primitivo, de um tempo em que as pessoas comiam carne.

A conexão entre os movimentos ambientalistas e os de direitos dos animais seria um dos grandes desafios do momento?

O que acho mais importante é o movimento ambientalista reconhecer um fato que é a base de tudo: ninguém é ambientalista se não apoiar o vegetarianismo. Uma coisa está intimamente ligada à outra. A indústria da carne emite mais gases de efeito estufa que a indústria automobilística. Quando você come um bife está também levando para a mesa milhares de galões de água. E ainda assim o movimento ambientalista, de uma forma geral, se nega a assumir isso. Todo mundo se diz ambientalista até que se impacte sua zona de conforto ou se ameace seu estilo de vida. A Sea Shepherd é um grupo conservacionista que defende questões de direitos dos animais e algumas vezes acabamos sendo julgados como radicais. Mas na verdade é nisso que consiste o trabalho de conservação. Não me considero um ativista de direitos dos animais. Sou um ambientalista.

Nas reuniões da Comissão Baleeira Internacional e da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção, em maio e junho desse ano, a atuação da Sea Shepherd e de outras organizações garantiu a proteção das baleias com a sustentação da proibição da caça. Qual é a importância disso para o movimento?

Nossa principal vitória em prol das baleias foi em 1986 com a instituição da moratória global contra a caça. Mas infelizmente 18 mil baleias já foram mortas pelos japoneses desde então, o que demonstra que lidamos com uma atividade ilegal. A conquista esse ano foi termos conseguido manter a ilegalidade, o que ajuda muito, por exemplo, no controle do tráfico da Islândia e Noruega para o Japão. Mas as regras ainda precisam de mais força e é nesta linha que procuramos atuar. Não somos uma organização de protesto. A estratégia da Sea Shepherd é ir a campo para garantir a aplicação das leis internacionais de conservação e todas as suas regulamentações. Nossos protestos são até bem conservadores (risos).

Qual seria a melhor maneira de falar com consumidores em geral, pessoas que não são vegetarianas ou veganas, para passar a mensagem de que o ambientalismo começa pela boca?

A melhor maneira é assustá-los começando por esclarecer em que consiste a sua comida (risos). Há níveis aceitáveis de ingestão de algumas substâncias duvidosas contidas em alimentos industrializados e o consumidor não se dá conta do impacto disso. O mais importante é explicar o que as pessoas estão fazendo para a sua própria saúde. A maior parte dos problemas de saúde nos EUA e em outros países poderia ser resolvida simplesmente com uma mudança de dieta.

Você acompanha os trabalhos da Sea Shepherd no Brasil?

O Instituto Sea Shepherd Brasil é independente e administrado por brasileiros para tratar de questões locais. Eles tomam todas as decisões e estão muito envolvidos em ações de combate à pesca ilegal, um trabalho o qual incentivamos e encorajamos o desenvolvimento por parte de cada grupo localmente em seus países. Temos alguns integrantes brasileiros fazendo parte da tripulação de nosso navio principal e numa das vezes que fui ao Brasil tive a chance de participar de operações em Fernando de Noronha. Basicamente trocamos informações e apoiamos as ações uns dos outros.

Há regras de vegetarianismo para os integrantes da Sea Shepherd e de suas representações em outros países?

Não temos nenhuma regra específica de vegetarianismo para os integrantes. A Sea Shepherd internacional tem duas regras que obrigatoriamente devem ser seguidas: não se pode fazer nada que vá ferir pessoas e não fazemos acordos com os opositores. Porém, não abrimos mão da refeição nos navios. Eles são veganos e quem embarca nele acaba sendo vegano. Servimos ótimas refeições veganas e acreditamos que as pessoas têm a chance de experimentar e fazer suas próprias escolhas. Não acho que temos que forçar as pessoas a serem vegetarianas, mas sim dar bons exemplos para serem aplicados naturalmente por cada um.

Fontes Renováveis de Energia

Por Jaqueline B. Ramos*

O homem precisa de energia para o desenvolvimento de todas as suas atividades. Ao longo dos séculos a humanidade construiu um modelo energético baseado majoritariamente em combustíveis fósseis – leia-se petróleo e seus derivados (ver mais informações no box). Mas nas últimas décadas está se provando que, além de poluentes, estas fontes de energia têm um fim já programado, ou seja, elas não detêm capacidade de renovação o suficiente para atender as atuais demandas do planeta.

Um recente estudo divulgado pela Oil Depletion Analysis Centre, de Londres, por exemplo, afirma que a produção mundial de petróleo alcançará sua cota máxima nos próximos quatro anos. Em seguida, ao longo da década de 2010, a produção começaria a cair de modo drástico causando fortes impactos negativos para a economia mundial – sem contar os passivos ambientais herdados de sua exploração e uso / combustão. A previsão mais pessimista é o mundo secar todas as suas fontes de petróleo em menos de 40 anos.

Diante deste cenário, um dos grandes desafios do homem para este século consiste na descoberta das fontes de energia consideradas alternativas, as menos e/ou não-poluentes e, sobretudo, renováveis. Um segundo passo é a implantação de mecanismos que viabilizem o uso destas novas fontes de energia em massa a ponto de substituírem, em médio e longo prazos, o modelo de combustíveis fósseis já ratificado como insustentável.

E felizmente, as previsões são otimistas neste sentido. Em junho deste ano, um relatório do Pnuma (Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas) demonstrou que os recursos financeiros dirigidos para as energias renováveis aumentaram de US$ 80 bi em 2005 para um recorde de US$ 100 bi em 2006. Dados oficiais informam que as fontes renováveis produzem apenas 2% da energia do mundo atualmente, mas já recebem 18% do investimento mundial para geração de energia. A produção eólica (energia do vento) lidera os investimentos, seguida por um crescimento significativo de tecnologias de energia solar e desenvolvimento de biocombustíveis.

No Brasil, os sinais de fortalecimento de fontes renováveis são vistos na atuação da maior e principal empresa do país da área de energia. Nos últimos anos a Petrobras deixou de atuar exclusivamente com petróleo e tornou-se uma empresa integrada de energia no sentido mais amplo, tendo como objetivo contribuir no desenvolvimento e diversificação da matriz energética brasileira. A empresa pretende investir US$ 340 milhões no desenvolvimento de projetos de novas fontes renováveis de energia, especificamente de biodiesel, energia eólica, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas e energia solar.

Conheça a seguir as principais fontes de energia consideradas como renováveis e alguns prós e contras da utilização de cada uma:

Biodiesel

O biodiesel é produzido a partir de diversas oleaginosas, como algodão, amendoim, dendê, girassol, mamona e soja. A lei brasileira nº 11.097, de 2005, estabelece a obrigatoriedade da adição de 2% de óleo diesel vegetal ao óleo diesel comum a partir de 2008, o que é chamado de B2. Em 2013 a previsão é este percentual compulsório chegar a 5% (B5), com a meta de dispor de tecnologia para a produção do B100 (biodiesel puro) no menor tempo possível.

Através da adição ou da substituição do diesel de origem fóssil, o biodiesel é uma alternativa de combustível para transporte e geração de energia elétrica nas localidades não atendidas por hidrelétricas (ex: região norte). Em escala industrial, a produção de biodiesel representa economia de petróleo e diminuição e/ou eliminação das importações de diesel.

Além das vantagens econômicas, destacam-se as ambientais: diminuição de emissões de gases do efeito estufa, enxofre e material particulado (fumaça preta). Entre as observações mais críticas em relação à utilização em massa de biodiesel está o cuidado a ser tomado no monitoramento da plantação da matéria-prima (oleaginosas), de forma a evitar crescimentos desenfreados e devastação de áreas naturais.

Álcool/Etanol

O álcool /etanol é usado basicamente como combustível para veículos e sua grande vantagem é o fato de ser um combustível limpo, ou seja, não emite gases poluentes, como a gasolina e o diesel. É obtido da cana-de-açúcar e o Brasil é detentor do título de maior produtor mundial, com o desenvolvimento impulsionado pelo Governo com o Proálcool (década de 70). O programa incentivou a produção de álcool como combustível e possibilitou a adição de 25% de etanol na gasolina, tornando-se referência para outros países.

A liderança na produção de álcool faz com que também sejamos líderes mundiais na fabricação de carros bicombustíveis. Em 2005 estes já representavam 53% do total de automóveis e veículos leves comerciais. Atualmente o maior desafio é aumentar a oferta de álcool tanto para atender a crescente demanda interna como para exportação.

E é exatamente desta situação de produção em massa de álcool que surgem as críticas sobre o seu uso. No início de 2007 o etanol ganhou manchetes em jornais de todo o mundo como o combustível do futuro. Foi pauta das conversas do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, com o Governo brasileiro sobre parcerias comerciais para produção de biocombustíveis. Mas quando se analisa o modo de produção do etanol, ele pode não se mostrar uma solução tão ambientalmente limpa como a sua combustão.

O jornal britânico The Independent divulgou em março desse ano um grande trabalho investigativo que alertou sobre os possíveis problemas ambientais causados pelo aumento na produção do combustível. A promessa de ser uma fonte de energia renovável e limpa, que permitiria a troca de poços de petróleo por plantações sem limite para satisfazer as necessidades de energia, pode representar uma armadilha. "A indústria do etanol (leia-se as usinas de cana-de-açúcar) tem sido ligada à poluição do ar e da água em grande escala e tem provocado o desmatamento tanto na Amazônia como nas florestas tropicais atlânticas e no cerrado brasileiro”, apontou o jornal.

Hidrelétricas e PCHs

A energia produzida pelas grandes hidrelétricas foi fundamental para atender as demandas de crescimento do país na segunda metade do século passado. Mas mesmo sendo não-poluente e renovável, a energia produzida nas hidrelétricas tem um lado negativo: o forte impacto ambiental para a construção e operação das hidrelétricas.

Recentemente o projeto mais controverso é a construção de duas grandes hidrelétricas no Rio Madeira, em plena Floresta Amazônica na fronteira com a Bolívia. Sob protestos de entidades ambientalistas, o Ibama concedeu, no primeiro semestre, licença ambiental para construção das hidrelétricas, contrariando também a posição oficial do próprio Ministério do Meio Ambiente e do Governo Boliviano em torno das ameaças para o ecossistema em questão.

Parte da pressão do Governo para construção de novas grandes hidrelétricas pode ser explicada (mas não justificada!) pelo fato dessa forma de geração ainda ser responsável pela energia elétrica de mais baixo custo do Brasil. Isto faz com que as outras fontes renováveis ainda tenham preços superiores, dificultando a competitividade. Uma das soluções encontradas para aliar custo a um menor índice de impactos ambientais foi o desenvolvimento das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).

As PCHs são centrais hidrelétricas com potência entre 1 MW e 30 MW, tendo limitação da área do reservatório e representando uma geração mais tradicional de energia renovável (e, consequentemente, menos impactante). Esse tipo de empreendimento possibilita melhor atendimento às necessidades de carga de pequenos centros urbanos, regiões rurais e unidades industriais.

Energia Eólica

Energia obtida a partir do vento, já é usada em larga escala em todo o mundo. De acordo com o Conselho Global de Energia do Vento (Global Wind Energy Council), em 2005 a energia eólica completou 50.000 MW de capacidade instalada em todo o planeta, tendo os principais projetos localizados na Alemanha, Dinamarca, Espanha e Estados Unidos. E ainda segundo a entidade, em 2020 a capacidade de geração de energia eólica deverá chegar a 1.245.030 MW, o mesmo que 12% de toda a energia elétrica do mundo.

O Brasil tem grande potencial eólico, sobretudo no litoral do Nordeste, com capacidade, segundo levantamentos feitos pela Eletrobrás, de geração de 140.000 MW. No entanto ainda produzimos apenas 29 MW, ocupando o segundo lugar entre os países latino-americanos.

Além de ser renovável, a energia eólica tem um impacto ambiental muito baixo. Na geração não há emissão de gases, produção de rejeitos efluentes ou consumo de outros recursos naturais, como a água. A ocupação de equipamentos dentro de uma usina eólica também é bem sustentável: a área necessária é de apenas 1% do total, ou seja, 99% podem continuar a serem usados para lavoura e/ou pastagem, evitando transtornos socioambientais. Outra grande vantagem é a proximidade com que se pode morar ou desenvolver atividades de uma usina eólica. Por não ter muita emissão de ruídos, o mínimo de distância para ocupação é de apenas 400 metros.

Energia Solar

A energia solar é a fonte primordial de energia do planeta, pois todas as formas de energia existentes são originadas da ação de radiação solar. E esta radiação que incide sobre a superfície do planeta é cerca de 10.000 vezes superior à demanda bruta de energia atual da humanidade. Este número já dispensa maiores explicações sobre a alta capacidade do uso de energia solar como fonte renovável e não poluente.

Devido à sua localização geográfica, o Brasil possui um excelente índice de radiação solar. Em diversas cidades a energia térmica já é usada para aquecimento de água em residências e instalações comerciais e para a geração de energia elétrica através da tecnologia chamada de módulos fotovoltaicos, reduzindo consideravelmente o consumo de derivados de petróleo.

A energia solar fotovoltaica ainda tem um custo considerado alto para o padrão brasileiro, porém é utilizada em nichos onde ele é compensado pelos benefícios da redução da logística de suprimento de energia, principalmente em locais mais remotos.

Biomassa de resíduos

Biomassa é a denominação genérica para matérias residuais de origem vegetal ou animal que são aproveitadas como fonte de produção de calor ou de eletricidade. No Brasil, a biomassa mais utilizada para fins energéticos é a lenha, já tendo também tecnologias para obtenção de energia a partir do bagaço e palha da cana, da casca de babaçu, entre outros. Estudos mais recentes também demonstram mecanismos para uso de biomassas como lixo orgânico (urbano), esgoto e resíduos agro-industriais.

No mês de junho o Brasil deu mais um avanço na área de energia de resíduos. A Universidade de Brasília (UnB) apresentou para o Ministério de Minas e Energia (MME) uma nova tecnologia chamada de gaseificador downdraft. Neste equipamento, resíduos vegetais como cascas de árvores, caroços de açaí e lascas de madeira de cedro foram testados e aprovados para serem transformados em energia elétrica. O gaseificador da UnB será utilizado pelo Governo no programa Luz para Todos.

Energia do Mar

O aproveitamento energético das marés é obtido de modo semelhante ao aproveitamento hidrelétrico. Forma-se um reservatório junto ao mar com a construção de uma barragem e o aproveitamento é feito tanto na maré alta como na baixa. A água que entra e que sai do reservatório passa em uma turbina e aí se dá a produção de energia elétrica.

No Brasil há grandes amplitudes de marés em São Luís, na Baía de São Marcos, com 6,8 metros, e Tutóia, com 5,6 metros. Mas infelizmente a topografia dessas regiões não favorece a construção econômica de reservatórios, impedindo o aproveitamento. A alternativa para se usar a energia das marés no Brasil é o porto cearense de Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza. Ele consiste no primeiro ponto da costa brasileira a abrigar uma usina piloto de geração de energia elétrica pelas ondas do mar. Em escala comercial, essa usina será capaz de gerar 500 quilowatts, suficiente para atender às necessidades de consumo de 200 famílias.

Hidrogênio

O hidrogênio é um gás abundante na natureza, embora não exista isoladamente. Sua conveniência para uso final como energia se deve ao fato de poder ser obtido a partir de diversas fontes renováveis e não renováveis, entre elas o petróleo, o gás natural, a água, o etanol e a energia solar. Outra grande vantagem do hidrogênio é sua combustão não ser poluente (o produto restante é apenas água em forma de vapor).

Por conta dessas características há especialistas que afirmam que o hidrogênio é um dos combustíveis do futuro, podendo ser usado largamente em veículos automotores e geradores de energia elétrica. Já existem vários protótipos de carros movidos a células de hidrogênio e estima-se que em pouco tempo será fácil achar modelos comerciais de automóveis elétricos movidos a hidrogênio líquido. No Brasil as pesquisas com hidrogênio estão direcionadas para o aproveitamento racional da energia hidrelétrica excedente, bem como a utilização de hidrogênio eletrolítico como matéria-prima industrial.

Fontes: Mercado Ético, Petrobras, Ambiente Brasil

BOX 1: Matriz Energética Brasileira em 2005
Fonte: Ministério de Minas e Energia (2006)
BOX 2: Conheça os derivados do Petróleo, as fontes de energia não renováveis

Os derivados do petróleo são obtidos em processos de refinação, que podem gerar tanto produtos acabados quanto componentes para transformação e acabamento de outros produtos. Para facilitar o entendimento, os derivados do petróleo podem ser divididos nos seguintes grupos:

Combustíveis: Gasolinas, Gás Natural e GLP, Óleo diesel, Óleo combustível, Querosene de aviação, Bunker (combustíveis marítimos).

Lubrificantes: Óleos lubrificantes minerais, Óleos lubrificantes graxos, Óleos lubrificantes sintéticos, Composição betuminosa.

Insumos para a Petroquímica: Nafta, Gasóleo.

Especiais: Solventes, Parafinas, Asfalto, Coque.

Fonte: Petrobras


* Matéria publicada no informativo n. 74 (julho/agosto 2007) do Instituto Ecológico Aqualung (clique aqui - versão em pdf).
Curtas

por Jaqueline B. Ramos*

God save the Amazon!

No Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e com apoio de várias personalidades e entidades ambientalistas, a ONG inglesa Cool Earth lançou uma campanha no seu site com o objetivo de frear o desmatamento na Amazônia. O projeto da ONG propõe patrocínios para a compra de pedaços de terras da floresta em forma de doações de 35 libras (aproximadamente R$ 140,00), valor equivalente a meio acre de terra, ou 2 mil metros quadrados de mata.

Enquanto isso, entidades brasileiras consideram a iniciativa da ONG inglesa bem intencionada, mas “inocente” e pouco realista. O Ministério do Meio Ambiente ressaltou que a Lei de Gestão de Floresta Pública, em vigor desde o ano passado, proíbe a venda de qualquer área na floresta que já não tenha títulos de propriedade privada. Já o braço do Greenpeace no Brasil lembra que o processo de grilagem de terras públicas na região foi tão intenso que é muito difícil identificar grandes extensões de terras com documentação legal. Controvérsias a parte, se depender dos ideais da campanha e da arrecadação de dinheiro, a Amazônia está bem amparada, pois com uma semana do lançamento da campanha a ONG já tinha recebido 20 mil doações. “O que realmente estamos tentando fazer é simplesmente criar um mecanismos para a geração de recursos e colocar esse dinheiro nas mãos das comunidades nas florestas tropicais, para assegurar que eles consigam um melhor nível de vida mantendo a floresta de pé”, declarou à imprensa Mathew Owen, diretor da Cool Earth.

Fim do sushi???

O sushi, um dos pratos japoneses mais apreciados no mundo, corre sério risco de extinção. O motivo é uma velha conhecida: a pesca predatória, que reduziu os estoques do atum-azul no Mediterrâneo e no Atlântico em 10% comparado com o número da espécie encontrado no século passado. Este dado se torna ainda mais alarmante quando combinado com outras situações dramáticas já constatadas. A pesca indiscriminada do peixe predileto dos japoneses para sushis e sashimis já tem como resultado o fato da espécie estar quase extinta nos oceanos Pacífico e Índico e já ter desaparecido nas costas da Escandinávia.

A problemática da pesca predatória do atum-azul começou na década de 90, quando a culinária japonesa se popularizou na Europa e nos Estados Unidos e, consequentemente, a pesca cresceu em proporção geométrica e de forma insustentável. Grandes corporações pesqueiras passaram a utilizar recursos tecnológicos e em vários países do Mediterrâneo surgiram fazendas de cultivo do atum-azul, onde os cardumes vivem em gaiolas num processo de engorda até serem abatidos. O resultado é uma pesca em excesso na qual o homem não dá tempo para a população da espécie se renovar, já que é necessária uma década para o atum-azul se tornar apto a procriar.

Diante de uma própria atitude insustentável do homem, resta apenas sua própria lamentação: "Sushi sem atum não é sushi", declarou para a revista Veja Tadashi Yamagata, vice-presidente do sindicato de sushimen do Japão. O preço do peixe já disparou 30% no mercado japonês. Mas o pior são as soluções encontradas. "Já experimentamos fazer sushi com carne de cavalo no passado e deu certo", disse Shigezaku Ozoe, dono do restaurante Fukuzushi, em Tóquio. "É uma carne macia, fácil de morder e que não tem cheiro. Se o pior acontecer, poderemos tentar utilizar essas carnes em substituição ao atum", diz Ozoe. Enquanto isso, o atum-azul e o verdadeiro sushi continuam em risco de extinção e o cavalo ainda “paga o pato”...

Vitória das baleias na Europa...

Apesar dos fortes lobbys para derrubar a proibição de caça às baleias, o grupo de países baleeiros liderados por Japão, Islândia e Noruega sofreu mais uma derrota. Na 14o reunião das partes da CITES (Comissão Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas), realizada na Holanda em junho, os países não conseguiram derrubar o status de proteção de todas as espécies de baleias e a comercialização de qualquer produto decorrente da caça destes animais continua sendo considerada atividade ilegal. A vitória das baleias na CITES foi antecedida por outra conquista: algumas semanas antes a IWC (International Whalling Comission, em inglês) declarou publicamente durante sua convenção anual que tinha fortes críticas sobre o “trabalho de pesquisas com baleias” realizado pelo Japão na Antártida.

... e crueldade com golfinhos no Brasil

A crueldade contra 83 golfinhos, mortos após terem seus olhos e dentes arrancados por pescadores no Amapá, foi veiculada em rede nacional de televisão no mês de julho, chocando pelas cenas de covardia. E, se depender do Instituto Sea Shepherd Brasil (ISSB), tamanho absurdo não vai passar em branco. A ONG ingressou com uma Ação Civil Pública com pedido de liminar na Justiça Federal do Amapá contra o Ibama, que filmou o crime cometido pelos pescadores, mas não informou os nomes dos proprietários das embarcações, impedindo o andamento do processo judicial para condenar os culpados.

“O Sea Shepherd Brasil não ficará de braços cruzados diante deste absurdo. A crença, a falta de informação e a tradição não são argumentos para a crueldade, a ilegalidade e a degradação do meio ambiente, patrimônio de todos”, diz Daniel Vairo, fundador do ISSB, ressaltando a ONG tentou de todas as formas obter o nome dos responsáveis pelo massacre, sem sucesso junto ao Ibama.

Icebergs X Efeito Estufa

Um estudo publicado na revista Science Express revela um processo natural que pode ajudar no combate do efeito estufa. Pesquisadores do Aquário do Instituto de Pesquisa da Baía de Monterey, na Califórnia, constataram que os icebergs podem acelerar a absorção de gases como o dióxido de carbono da atmosfera, pois a partir do momento que derretem liberam material rico em ferro nas águas. A partir de levantamentos feitos em ilhas de gelo flutuantes na Antártida, os pesquisadores demonstraram que esta situação estimula o desenvolvido de ecossistemas marinhos ricos em fitoplânctons, que atraem mais espécies de vida marinha , algumas com grande capacidade de remover o CO2, como algas e krill. A ironia é que, apesar de estarem derretendo por conta do aquecimento global, os icebergs acabam tendo um papel positivo no seu controle.

Pioneirismo brasileiro

O Brasil sai na frente na área de produção de plásticos a partir de etanol (cana-de-açúcar). A empresa petroquímica brasileira Braskem, líder latino-americana em produção de resinas, apresentou o primeiro polietileno "verde" certificado do mundo. Desenvolvido pelo Centro de Tecnologia e Inovação da companhia, o polietileno “verde” brasileiro foi certificado pelo laboratório da multinacional Beta Analytic, que o considerou como produto com 100% de matéria-prima renovável. Segundo a Braskem, a produção comercial em escala do polietileno "verde" de alta densidade, utilizado para pacotes flexíveis, será iniciada em 2009 e faz parte do compromisso mundial da empresa em contribuir com a redução da emissão de gases poluentes. O projeto recebeu R$ 5 milhões em investimentos e visa atender o mercado internacional em setores como o automotivo, empacotamento de alimentos, cosméticos e artigos de higiene pessoal.

Rios da Índia pedem socorro

A saúde dos rios da Índia e, consequentemente, de sua população estão correndo sérios riscos. O alarme foi feito pelo Centro para Ciência e Meio Ambiente, instituição do próprio país, e a causa apontada são as toneladas de esgoto jogadas diariamente nos rios sem tratamento. Só a cidade de Nova Déli produz 3,6 bilhões de litros de esgoto por dia e menos da metade é efetivamente tratada. O restante é descartado no rio Yamuna, que, segundo a Central de Controle de Poluição do país, tem 70% de sua poluição originada de esgoto humano.

O resultado é o aumento de doenças veiculadas pela água poluída em adultos e crianças de comunidades pobres que vivem na beira dos rios, bebendo e tomando banho de suas águas. “Fala-se muito da poluição industrial nos nossos rios, mas o esgoto também é um problema muito sério”, declarou Sunita Narain, diretora do Centro para Ciência e Meio Ambiente. “O Yamuna reflete o que está acontecendo em quase todos os rios indianos. Ele está morto, mas ainda não o enterramos.”, completou.

Grande migração de mamíferos

Pesquisadores da organização norte-americana Wildlife Conservation Society (WCS) fizeram uma descoberta surpreendente no Sudão. Visando estudar os possíveis impactos da guerra civil vivida pelo país na sua fauna, pesquisadores não só constataram que a vida selvagem não tinha desaparecido, mas também havia crescido significativamente, podendo inclusive representar a maior migração de mamíferos grandes da Terra já registrada.

A partir de imagens aéreas no sul do país foram observados 1,3 milhão de vários tipos de antílopes africanos, gazelas, entre outros mamíferos terrestres migratórios, além de 8 mil elefantes. Os conservacionistas americanos chegaram a avistar uma coluna de antílopes migratórios de 80 quilômetros de extensão e 50 quilômetros de largura. "Nunca tínhamos visto vida selvagem em tais números, nem mesmo sobrevoando migrações em massa na Tanzânia", disse o cientista Michael Fay, que conduziu as pesquisas da WCS no Sudão.

Abaixo ao paletó!

Em nome do combate ao aquecimento global, os funcionários da principal companhia do setor energético da Itália, a Eni, não precisam mais trabalhar vestidos com gravata e paletó. O objetivo é reduzir o desperdício de energia causado pelo uso excessivo do sistema de ar condicionado. A idéia de dispensar o paletó foi votada quase por unanimidade pelos 20 mil funcionários da empresa, que estão preferindo abrir mão da tradição da elegância por conta das altíssimas temperaturas que vieram afetando o país.

Elegância e confortos a parte, a idéia da Eni é contribuir na diminuição da emissão de gases de efeito estufa com o uso mais racional do ar condicionado no verão. A empresa estima que a redução do funcionamento dos aparelhos em apenas um grau já vai representar uma economia de 9% no consumo de energia. Nos escritórios de Milão, por exemplo, esse número equivale a 217 mil kW, o mesmo que as emissões economizadas se 140 de seus funcionários usassem transportes públicos em vez de seus carros.

Bolsa de Valores Ambiental

A Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa) lançou um projeto que demonstra que o mundo financeiro pode (e deve) trabalhar em prol de valores ambientais e sociais. Trata-se do programa Bolsa de Valores Sociais e Ambientais (BVS&A), iniciativa da entidade iniciada no final de maio após o sucesso da Bolsa de Valores Sociais, projeto implementado em 2003 e que até hoje já repassou cerca de R$ 50 mi para mais de 30 ONGs da área social. Uma equipe de especialistas da área socioambiental analisa os projetos inscritos e após aprovação estes são inseridos no site da instituição, ficando à disposição para doações por parte dos investidores. Vale ressaltar que a Bovespa repassa 100% dos recursos captados para os projetos inscritos. Maiores informações no site
www.bovespasocial.com.br.

Carros “a óleo”

A California está dando um passo a frente nas experiências de transformar óleo usado de cozinha na produção de combustível para carros movidos a diesel. A companhia Energy Alternative Solutions, Inc (EASI) está com parcerias com grandes supermercados e redes de restaurantes, como o controverso Kentucky Fried Chicken, em um projeto de reciclagem de óleo usado em combustível alternativo. A companhia anunciou que irá vender o biodiesel chamado de B20 – composto de 80% de diesel regular com 20% do biodiesel gerado do óleo – nas regiões central e norte do estado (as cidades de São Francisco e Berkeley já usam biodiesel nas frotas municipais). A EASI ressalta que o B20 pode ficar de 10 a 20% mais barato que o diesel regular e está com a expectativa que a parceria para uso de óleo de cozinha ajude a impulsionar a atual produção de 1 milhão de galões/ano para 4 milhões até o final de 2007.

Sacolas ecológicas

Lojas e supermercados de São Paulo terão de fornecer aos seus clientes sacolas biodegradáveis a partir de 2008. O projeto 534/07, do deputado Sebastião Almeida, foi aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo no mês de junho e seguiu para sanção do governador José Serra. As novas embalagens deverão ser oxi-biodegradáveis, que se caracterizam pela degradação inicial por oxidação acelerada por luz e calor e têm a capacidade de serem biodegradadas por microorganismos, com resíduos finais não tóxicos. Os estabelecimentos comerciais terão o prazo de um ano, a contar da data de publicação da lei, para substituir as sacolas comuns pelas biodegradáveis.

Fontes: BBC Brasil, Ambiente Brasil, ENN (Environmental News Network), Planet Ark (Reuters), revista Veja


* Notas publicadas no informativo n. 74 (julho/agosto 2007) do Instituto Ecológico Aqualung