sábado, fevereiro 09, 2008

Curtas - Notas ambientais
por Jaqueline B. Ramos*

As últimas do aquecimento global em 2007

Várias notícias sobre as possíveis conseqüências do aquecimento global foram manchetes de jornais de todo mundo nos últimos meses, tornando o assunto cada vez mais presente no cotidiano de todos. Cientistas dinamarqueses, por exemplo, divulgaram resultado de uma recente pesquisa na qual se constatou que a camada de gelo da Groenlândia está derretendo muito mais rápido do que o previsto.

O degelo na Groenlândia é agora quatro vezes mais rápido do que no início da década, levando ao mar todos os anos icebergs equivalentes a um cubo de gelo gigante de 6,5 km de extensão. Se este ritmo continuar, isso significa que o nível dos oceanos aumentará 60 cm ao longo do século, superando a previsão da ONU de um aumento entre 20 e 60 cm. Ainda no extremo norte do planeta, mais precisamente no Oceano Ártico, a previsão é de menos gelo ainda. Estudo realizado por geofísicos norte-americanos e poloneses aponta um verão totalmente sem gelo no Ártico no curtíssimo prazo de cinco a seis anos. Sobre as até então estimativas oficiais de um verão com o Oceano Ártico aberto (sem geleiras) entre os anos de 2040 e 2100, os cientistas do recente estudo comentam que “os modelos climáticos globais subestimam a quantidade de calor transportada para o oceano de gelo.”

No outro pólo gelado, a Antártica, as previsões também não são muito otimistas. Segundo a WWF (World Wild Foundation), a população de pingüins antárticos sofreu uma forte redução devido à destruição dos locais dos ninhos e das fontes de alimentos causada pelo aquecimento global. A península Antártica se aquece a um ritmo cinco vezes superior ao da média mundial e isso afeta as quatro espécies de pingüins da região - o imperador (maior do mundo), o papua, o barbicha e o adélia. O relatório "Pingüins Antárticos e a Mudança Climática" informa que o gelo marinho cobre hoje uma área 40% inferior à de 26 anos atrás na costa oeste da península Antártica, afetando o ciclo de alimentação e reprodução dos animais.

Enquanto isso, em Bali...

Diante de todas estas notícias alarmantes, a 13ª Conferência da Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-13), ocorrida em Bali no início de dezembro, foi um dos acontecimentos ambientais mais esperados dos últimos anos (há quem diga que foi o evento mais importante desde a Rio 92). A expectativa em torno dos acordos a serem firmados era muito grande, mas a dificuldade de negociação de compromissos e metas entre os países, principalmente Estados Unidos, que nunca assinou o Protocolo de Quioto, surpreendeu todos que acompanhavam atentamente a definição de um novo pacto internacional para combater o aquecimento global.

A aprovação do texto que será a base para o documento substituto do Protocolo de Quioto até 2009 emperrou depois de um impasse sobre a inclusão da principal meta recomendada pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) – a redução de 25% a 40% da emissão de gases até 2020. A solução encontrada pela União Européia para convencer os Estados Unidos foi ceder e deixar apenas uma referência ao IPCC no início do texto, sem estabelecer metas.

Dificuldades a parte, o fato é que a assinatura do “Roteiro de Bali” permite que os países comecem a negociar as formas como atingirão os objetivos propostos. E os países desenvolvidos se comprometeram a transferir tecnologia para nações do Terceiro Mundo em prol do combate ao aquecimento global. Só isso já é suficiente para tornar 2008 um ano estratégico na avaliação dos impactos das mudanças climáticas.

O Brasil foi um dos 191 países presentes na COP-13 e anunciou no evento um fundo nacional para investimentos no combate ao desmatamento no valor de, aproximadamente, US$ 900 milhões. A novidade deste fundo é que a linha de investimento terá como base a redução das emissões de carbono obtidas com a queda do desflorestamento na Amazônia no ano de 2006, numa tentativa de colocar em prática a proposta de que reduções em derrubadas de florestas devem ser recompensadas.

Em defesa de Abrolhos

Não é de hoje que ambientalistas alertam sobre os perigos que ameaçam o arquipélago de Abrolhos, no extremo sul da Bahia. Em novembro as preocupações foram reforçadas durante uma manifestação com o objetivo de chamar a atenção dos governos estadual e, principalmente, federal sobre a importância de áreas protegidas na região.

Integrantes da Coalizão SOS Abrolhos, uma rede formada por organizações socioambientais e universidades, ressaltaram a situação precária das unidades de conservação do arquipélago e a necessidade de criação de outras UCs, que têm processos paralisados no Governo. O manifesto começou na Ilha de Santa Bárbara com a extensão de uma grande faixa apoiada em botes infláveis com a inscrição "Lula e Wagner, ABRam os OLHOS". Em seguida outras faixas foram abertas, só que estas debaixo d’água e com as seguintes mensagens: "Lula, a criação da Resex Cassurubá só depende de você"; "Lula, resgate a proteção do parque de Abrolhos"; "os manguezais são berçários dessa vida marinha".

O arquipélago de Abrolhos vem passando por uma séria crise já há alguns anos. O entorno do Parque Nacional Marinho (PARNAM) de Abrolhos, por exemplo, se encontra desprotegido devido à suspensão de sua zona de amortecimento (ZA), abrindo precedentes para atividades exploratórias de petróleo e gás. Além disso, os manguezais da região - berçários das espécies dos recifes de corais - estão vulneráveis devido a atividades como a carcinicultura (criação de camarões), que poderia ser controlada com a criação da Reserva Extrativista (RESEX) do Cassurubá.

De volta à natureza

A reintrodução de um raro casal de araras-azul-de-lear pela primeira vez em seu habitat natural, na Bahia, deu uma nova luz de esperança para a conservação de espécies de animais silvestres que são capturados ilegalmente dos ecossistemas brasileiros. No início de dezembro, o Programa de Conservação das Aves Silvestres, do Instituto Chico Mendes, reintroduziu os animais depois de quatro anos de recuperação e acompanhamento. As duas aves foram encontradas feridas em 2003 e receberam transmissores de rádio antes de voltar à vida livre. Em 2001 se estimava apenas 170 destas araras na natureza. Atualmente calcula-se cerca de 650, mas mesmo assim ainda são necessários muitos cuidados para que a espécie saia e se mantenha longe da lista dos ameaçados de extinção.

Noruega e florestas tropicais

A Noruega sai na frente e fecha com chave de ouro o ano de 2007. Pelo menos no campo das intenções. O país anunciou em dezembro a doação de US$ 2,8 bilhões (US$ 550 milhões por ano, até 2012) para combater o desmatamento em florestas tropicais. A doação foi originalmente proposta em uma carta enviada ao governo norueguês pelas organizações Rain Forest Foundation, da Noruega, e Amigos da Terra Noruega. O objetivo é incentivar outros governos a somar esforços na iniciativa de combate ao desmatamento em países tropicais. O anúncio também confirma a disposição da Noruega em apoiar o combate ao desmatamento no Brasil. Em outubro, os ministros do meio ambiente dos dois países, Erik Solheim e Marina Silva, fecharam acordo de cooperação no valor de US$10 milhões para o combate ao desmatamento nos estados brasileiros e a implantação de reservas extrativistas (Resex).

Restaurante ecológico


Restaurantes também podem ter um importante papel no combate aos impactos negativos no meio ambiente. Pelo menos é o que vem tentando mostrar o Acorn House, em Londres, que diz usar ingredientes produzidos de forma sustentável por produtores independentes, transformar todas as sobras em adubo ou lixo reciclável e usar fontes renováveis de energia o máximo possível. E a tentativa de ser um restaurante ambientalmente correto felizmente tem tido sucesso e aponta uma nova tendência. Incluído na nova edição do London Restaurant Guide, o guia de restaurantes oficial da capital britânica, o Acorn House tem recebido críticas elogiosas e para o jornal The Observer trata-se do "restaurante mais ético da Grã-Bretanha".

O chef do restaurante, Arthur Pott-Dawson, afirma que em um ano a idéia de um restaurante ecológico já provou ser viável financeiramente. "Se você compra os produtos da estação e produzidos localmente, sai mais barato. Estamos recebendo um grande apoio do público e não estamos perdendo dinheiro. Dentro de seis meses ou um ano seremos um modelo comercial de sucesso”, disse o chef em entrevista a BBC, afirmando que apenas deseja que as pessoas se conscientizem de como seu comportamento afeta o meio ambiente e de que há alternativas possíveis ao atual estilo de vida.

Perigo para tubarões e raias

Mais de 40% das espécies de tubarões e raias no Mar Mediterrâneo estão ameaçadas de extinção. A informação foi divulgada em um novo relatório da IUCN (World Conservation Union) e classifica o Mediterrâneo como um dos lugares mais perigosos do mundo para estes animais. A principal causa da ameaça é a sobrepesca, associada a eventos nos quais outros animais são capturados incidentalmente durante a pesca – bycatch, em inglês. Mas o levantamento também identificou problemas como destruição do habitat, pesca esportiva e outros distúrbios causados pelo homem.

O índice de tubarões e raias em perigo foi resultado de um workshop de especialistas no qual o status de 71 espécies foi avaliado de acordo com critérios da IUCN Red List (lista oficial dos animais ameaçados de extinção). A conclusão foi que 30 espécies se classificavam como ameaçadas, sendo 13 na categoria Criticamente Ameaçada, oito como Ameaçada e 9 como Vulnerável. Outras 18 espécies foram avaliadas como Quase Ameaçadas. Apenas 10 espécies são consideradas como Sem Ameaça (Least Concern) e 18 espécies não tiveram dados suficientes para serem classificadas.

Abelhas em prol da Amazônia

O processo de dispersão de sementes da árvore Angelim-rajado por abelhas sem ferrão do gênero Melipona foi testemunhado e registrado por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) ao longo de um ano no campo. A constatação dos pesquisadores do Inpa, divulgada em dezembro, é de extrema importância por duas razões principais: a espécie madeireira em questão está presente na vida dos povos tradicionais da floresta e tem alto valor comercial e este é o terceiro caso no mundo, comprovado cientificamente, de melitocoria, a dispersão de sementes de plantas por abelhas. A dispersão da Angelim-rajado surpreendeu os pesquisadores pelo grande tamanho da semente carregada com resina pelas operárias. Estima-se que as abelhas sem ferrão são responsáveis por 30% a 90% da polinização de plantas em diferentes biomas brasileiros e na Amazônia a participação é acentuada, pois a floresta concentra a maior variedade desse tipo de abelha do mundo. A Angelim-rajado é muito usada na construção de paredes de casas ou no entalhe de móveis, como mesas e cadeiras.

Risco à espécie humana

Que a agressão ao meio ambiente compromete a qualidade de vida do homem todos já sabem. Mas segundo um relatório da ONU divulgado em outubro, a falta de providências contra alguns dos principais problemas ambientais que afetam o planeta estão colocando em risco a própria sobrevivência da espécie humana. "Problemas persistentes e difíceis de resolver continuam sem ser enfrentados, sem solução", disse o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, na época do lançamento do relatório.

O relatório Panorama Ambiental Global analisa as principais mudanças nas condições da água, do ar, da terra e da biodiversidade do planeta desde 1987 e identifica prioridades de ação. Entre os principais problemas identificados estão a degradação de áreas agrícolas, o desmatamento, a redução das fontes de água potável disponíveis e a pesca excessiva. "Problemas do passado continuam e novos estão surgindo: do crescimento acelerado das áreas sem oxigênio nos oceanos ao surgimento de novas e velhas doenças, ligadas em parte à degradação ambiental”, ressaltou Steiner.

Medicina sem crueldade

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) dá exemplo no que diz respeito à revisão de técnicas de ensino em prol da não crueldade contra animais. A direção do curso de medicina da Universidade anunciou em outubro que anestesiar animais de rua, na maioria cães, para ensinar procedimentos médicos como suturas, incisões e punções deixou de fazer parte da rotina dos seus professores e alunos. O curso montou um laboratório para as aulas práticas de técnica operatória com simuladores plásticos e sangue artificial. "Queríamos acabar com um problema que sempre existiu nas faculdades de medicina. Algumas criam os animais para usá-los nas aulas, ainda vivos. Mas, e depois, o que se faz com eles? Uma eutanásia provocada? Alguém vai passar a cuidar deles?", questiona o diretor da faculdade de medicina da UFRGS, Mauro Czepienewski. O diretor diz que os estudantes e professores se deparavam com um problema moral, de ter que abrir um cão vivo e, em seguida, descartá-lo.

O professor adjunto de urologia e um dos coordenadores do Laboratório de Técnica Operatória e Habilidades Cirúrgicas, Milton Berger, afirma que os alunos se sentem muito mais seguros para aprender. "O novo método tranqüiliza. Muitos tinham pena de treinar em cães. Os simuladores são mais próximos ao corpo humano, além de acabar com uma série de implicações morais."

Fontes: BBC Brasil, Agência Envolverde, Ambiente Brasil, Arca Brasil, O Eco

*Notas publicadas no informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 76 (novembro/dezembro 2007)

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