CURTAS AMBIENTAIS
Por Jaqueline B. Ramos*
Aquecimento global e cidades
O artigo “A contribuição das cidades para o aquecimento global”, do inglês David Satterthwaite, publicado na última edição da revista “Meio Ambiente e Urbanização” (Environment and Urbanization, em inglês), divulgou uma conclusão curiosa. Ao contrário do que se imaginava, as cidades não são as maiores vilãs quando o assunto é aquecimento global. O peso das cidades no total de emissões é de cerca de 40%, bem menos do que os 80% que são constantemente apontados, conforme aponta o estudo citado no artigo.
“Acusar unicamente as cidades pelas emissões de gases estufa ignora o papel importante delas como parte da solução para o problema. Cidades bem planejadas e bem administradas podem fornecer altos níveis de vida que não impliquem emissões elevadas”, declarou à imprensa o autor da pesquisa, que é membro do Instituto Internacional para Ambiente e Desenvolvimento (IIED, sigla inglês). Ainda segundo o estudo, o potencial das cidades de ajudar nas políticas para enfrentar o aquecimento global tem sido prejudicado por conta desse erro de avaliação.
Satterthwaite destaca que as cidades oferecem muitas possibilidades de reduzir a emissão per capita de gases estufa, como a promoção do uso de bicicletas, de caminhar ou do transporte público, além da construção de edifícios que demandam menos energia.“As reduções necessárias nas emissões mundiais dependem do potencial das cidades de combinar alta qualidade de vida com baixas emissões de gases estufa”, destacou.
Aquecimento global e pecuária industrial
Ainda tendo como motivação o aquecimento global, outro dado importante teve sua divulgação reforçada recentemente com uma declaração do Prêmio Nobel da Paz Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Numa espécie de alerta, ele fez um apelo para que as pessoas passassem a considerar comer menos carne como uma forma de combater o aquecimento global.
O pedido público de Pachauri foi embasado em um dado divulgado pela agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) há dois anos: o de que a pecuária industrial (leia-se a produção de carne, laticínios e outros produtos de origem animal em larga escala) é responsável por nada mais nada menos do que 18% do total de emissão de gases ligados diretamente ao aquecimento global. Essa porcentagem é significativa e maior, por exemplo, do que a soma da poluição causada por todos os meios de transporte do planeta, que atinge a marca de 13%.
“Eu quero destacar que entre as opções para reduzir as mudanças climáticas, mudar a dieta é algo que deveria ser considerado”, declarou Pachauri. Em outras palavras, o recado é que em tempos de aquecimento global, o que comemos é tão ou mais importante do que o que dirigimos.
Tubarões contra o câncer
O tubarão pode ganhar uma fama menos assustadora (e mais justa) quando uma descoberta de cientistas australianos se tornar realidade e for amplamente utilizada. Uma equipe da Universidade La Trobe, de Melbourne descobriu que anticorpos do sangue dos tubarões podem se tornar uma arma poderosa no combate ao câncer.
Os tubarões possuem um sistema imunológico semelhante ao do homem, mas os seus anticorpos são excepcionalmente resistentes. Os pesquisadores acreditam que podem aproveitar essa resistência para ajudar a tornar mais lento o desenvolvimento de doenças como o câncer, levando a uma nova geração de medicamentos. Segundo os cientistas, os anticorpos dos tubarões resistem a altas temperaturas e a ambientes adversos, como os extremamente ácidos ou alcalinos. Numa comparação, poderia se afirmar que eles seriam capazes de sobreviver em um ambiente como o aparelho digestivo humano.
Energia solar 2013!
Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina demonstraram que, entre 2012 e 2013, algumas regiões do Brasil já poderão ter preços equivalentes de energia fotovoltaica (solar) e energia convencional. Os dados são resultado de simulações de cenários para um eventual Programa Solar Brasileiro, inspirado na experiência da Alemanha, país com o mais bem-sucedido mecanismo de incentivo às fontes renováveis de energia.
A proposta brasileira segue os pontos positivos do modelo alemão, mas faz algumas adaptações a nossa realidade. No modelo alemão, por exemplo, todos os consumidores finais de energia rateiam os custos do programa. No caso do Brasil, a proposta exclui do rateio os consumidores de baixa renda. No final as simulações visam atingir um modelo que seja interessante o suficiente para atrair investidores e que ao mesmo tempo não tenha um impacto tarifário de grande magnitude para o usuário final.
Tomando como base o consumo médio mensal do setor residencial no Brasil (200 kWh), a conclusão feita com as simulações é que cada unidade consumidora pagaria a mais em sua fatura de energia aproximadamente R$ 0,28 por mês, para o primeiro ano do programa. Esse valor atingirá um pico de R$ 1,51 por mês no décimo ano do programa e, a partir daí, esse custo declinará para os anos seguintes.
Mamíferos na lista vermelha
Recentemente a ONG internacional União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) fez uma revisão sobre a situação dos mamíferos que habitam os vários biomas do planeta. E as conclusões, infelizmente, não foram muito boas. De acordo com a IUCN, 25% das espécies correm risco de extinção, o que quer dizer que suas populações já estão com baixo número de indivíduos e que seus habitats já sofrem com a devastação e com a pressão humana.
Das 5.500 espécies estudadas, cerca de 1.100 foram diagnosticadas como candidatas a algum nível de perigo de extinção. O gato-pescador, por exemplo, felino de médio porte que habita o Sudeste Asiático, passou de uma situação de vulnerável para ameaçado. A mesma coisa aconteceu com a foca do mar Cáspio, que vem registrando um declínio de 60% no nascimento de filhotes há três anos. Entre as espécies que se encontram em situação mais delicada está o lince da península Ibérica, cuja estimativa de número de indivíduos existentes hoje na natureza não passe de 140.
Os dados sobre os mamíferos fazem parte de um trabalho maior denominado de Red List (Lista Vermelha), que avalia a situação de cerca de 45 mil espécies de fauna e avalia o seu grau de risco de extinção. São determinadas oito categorias de classificação na lista, indo desde a situação onde não se demanda preocupação até a situação de já extinta na natureza.
“Lixo” nutritivo
Um estudo realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) demonstra que a casca de alguns alimentos, normalmente jogadas no lixo, muitas vezes são mais nutritivas do que as partes que vão para os pratos. Em setembro a Universidade divulgou uma nova tabela de avaliação de teor nutritivo, feita a partir da avaliação de 19 alimentos. Entre as conclusões tiradas estão a de que a folha do brócolis chega a ter cinco vezes mais proteínas e 20 vezes mais carotenóides (precursor da vitamina A) que o talo e a de que a casca de jaca tem 11 vezes mais vitamina C que a laranja.
A agrônoma Giuseppina Pace Pereira Lima, coordenadora do estudo, explica que “é importante não apenas ficar atento ao fato de as partes, que normalmente são jogadas no lixo, terem tanto alto teor de nutrientes. Mas também ficar atento ao fato que as desperdiçamos, mesmo sabendo disso." Ela lembra que 60% do lixo produzido no Brasil é orgânico e boa parte poderia ser aproveitada. "Podemos melhorar a qualidade da alimentação e ainda reduzir o lixo, que é um problema de saúde pública”, ressalta.
Justiça pelos golfinhos
Uma matança indiscriminada de golfinhos amazônicos flagrada pelo Ibama em fevereiro do ano passado no Amapá está sendo punida com a Justiça que merece. Em outubro, o Ministério Público Federal ajuizou duas ações – civil e criminal – para garantir a punição dos proprietários dos pesqueiros “Graça de Deus IV” e “Damasco III”, responsáveis pelo ato de covardia contra 83 botos.
Os donos dos dois barcos envolvidos, ambos da cidade de Vigia, no Pará, podem ser condenados a pagar R$ 5 mil por cada animal morto, o que totalizará uma quantia de R$ 415 mil em multas. Para garantir o pagamento, o MPF pediu o seqüestro dos barcos envolvidos no crime ambiental. Segundo a Procuradoria da República do Pará, os botos teriam sido adquiridos pelos pescadores para sua carne ser usada como isca na pesca de tubarão.
Novo mapa de Abrolhos
O Parque Nacional Marinho de Abrolhos é mais rico ainda do que se pensava. Recente levantamento coordenado pela Conservação Internacional (CI) do Brasil ratificou o que já havia sido avisado por pescadores locais: a área de recifes em Abrolhos é pelo menos duas vezes maior do que se imaginava. Foram identificados recifes em águas profundas que até então não constavam dos mapas. De acordo com a CI, a descoberta está permitindo que se conheça melhor como aquele trecho do litoral se formou ao longo dos séculos.
O levantamento da CI consiste na exploração científica do fundo do mar ao longo de 100 quilômetros da coisa brasileira – do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo. As linhas de estudo, que partiam do litoral mar adentro, foram percorridas por um barco equipado com um sonar que produziu imagens tridimensionais do fundo do oceano. Foram selecionados pontos de destaque nas imagens do sonar e os pesquisadores usaram um robô para filmar locais em que um mergulhador não podia descer. As imagens do robô mostraram corais-negros, típicos de águas profundas e que pela primeira vez foram registrados na região.
Mas assim como os recifes já identificados, a descoberta também já se encontra ameaçada, pois não há planos de preservação da biodiversidade encontrada em águas profundas. O descarte de esgoto sem tratamento proveniente de cidades costeiras somado a tendência de subida da temperatura faz com que bactérias tendam a se proliferar mais depressa, o que destrói os corais. Se programas de preservação mais eficientes não forem implementados em Abrolhos, estima-se que os corais serão extintos em, no máximo, 70 anos.
Proteção polêmica
Uma recente proposta do governo britânico para proteger as florestas tropicais em países emergentes provocou polêmica desde o primeiro momento em que foi anunciada. A proposta sugere que países ricos, em especial a Grã-Bretanha, dêem dinheiro para incentivar os países em desenvolvimento a preservar as matas tropicais.
De acordo com os britânicos, estudos estimam que o custo da mudança climática gerado pela perda de florestas crescerá a passos largos até 2100, chegando a US$ 1 trilhão por ano. A solução seria um acordo internacional que tenha como objetivo reduzir à metade as emissões causadas pela perda de matas tropicais até 2020, o que geraria ganhos de US$ 3,7 trilhões. A meta é tornar o setor florestal neutro até 2030 (a perda de matas seria compensada com o plantio de novas florestas).
“A comunidade internacional deve prover o financiamento necessário para alcançar essas metas", declara a Grã-Bretanha. Mas é justamente a maneira como esses recursos seriam conseguidos que consiste no ponto polêmico: sugere-se incluir o setor de florestas no mercado de emissões de carbono - por meio do qual países e empresas comprariam o "direito de poluir" financiando projetos ambientais.
A proposta de incluir o desmatamento e a degradação de florestas no mercado de carbono para prover financiamento e incentivos de redução do desmatamento será analisada em dezembro, no encontro mundial para discussão de novos arranjos internacionais de combate ao aquecimento global que acontecerá na Polônia. Este encontro será uma preparação para as discussões de criação de um acordo mais amplo que substitua o Protocolo de Kyoto, previstas para 2009.
Cangurus ameaçados
Um dos principais símbolos da Austrália e um ícone da fauna exótica mundial, o famoso canguru pode começar a contar seus dias no planeta por conta do aumento progressivo da temperatura. Uma pesquisa feita na própria Austrália demonstrou que uma elevação de apenas dois graus já poderá ter um efeito devastador na população do animal.
O trabalho da Universidade James Cook University durou três anos e estudou quatro espécies de cangurus. A equipe se baseou em observações de campo e modelos de cálculos em computadores. A principal conclusão é de que os impactos do aquecimento global não atingirão os cangurus propriamente ditos, mas seus habitats, diminuindo áreas de ocupação e reduzindo drasticamente a disponibilidade de água. De acordo com o estudo, um aumento de apenas 0,5º C já será suficiente para diminuir a área onde vivem os cangurus. A expectativa mais dramática é o aumento de 6ºC, que levaria a área a se reduzir em 96%. Vale ressaltar que os cangurus são considerados valiosos para a economia da Austrália, por conta do ecoturismo e do comércio de sua carne.
Fontes: Ambiente Brasil, Agência Fapesp, BBC, ENN – Environmental News Network e Agência Brasil
*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 81 (setembro/outubro 2008). Acesse aqui.
segunda-feira, janeiro 05, 2009
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