quinta-feira, novembro 25, 2010
Infância Veg - o que você precisa saber para criar os pequenos cheios de saúde
por Jaqueline B. Ramos*
Sou vegetariano convicto e tive um filho. O que fazer em relação a sua alimentação? Uma criança pode adotar uma dieta sem carne sem comprometer seu desenvolvimento? Meu filho será discriminado pelos amiguinhos pelo fato de ser vegetariano?
“Mamãe, eu quero brócolis”. Esta é a frase dos sonhos de todas as mães que se preocupam em propiciar aos filhos uma alimentação saudável, principalmente das vegetarianas. Para estas, uma alimentação saudável não é só sinônimo de variedade e alimentos de qualidade, mas também de uma dieta sem carnes ou produtos de origem animal, no caso das veganas. E aí é inevitável que surjam as dúvidas e as críticas - “você não pode privar o seu filho do prazer da carne!” é uma das frases mais manjadas. E o melhor caminho para lidar com tudo isso e criar pequenos vegetarianos com tranqüilidade e segurança é sempre o da informação.
Noventa e nove por cento das preocupações de pais vegetarianos que pretendem que os pequenos tenham uma dieta sem carne são sanadas com a boa notícia de que a dieta vegetariana é sim adequada para crianças. A afirmação de que a falta de carne compromete o crescimento é um mito, de acordo com a própria comunidade científica. Em 2009, a American Dietetic Association publicou oficialmente que “a dieta vegetariana adequadamente planejada, incluindo a dieta vegana, é saudável, nutricionalmente adequada, e pode trazer benefícios na prevenção e tratamento de certas doenças. É adequada para todos os indivíduos em todos os ciclos da vida, incluindo a gestação, lactação, infância e adolescência, e para atletas”.
“A dieta vegetariana não compromete o desenvolvimento da criança. Centenas de artigos científicos já analisaram o tema e varias evidências já foram acumuladas nas duas últimas décadas. Estudos de crianças com dietas vegetarianas adequadas mostram que na adolescência as crianças vegetarianas são mais altas, têm menor tendência ao excesso de peso do que a população em geral e menos risco de doenças cardíacas e de diabetes tipo 2”, explica Dr. Orlei Ribeiro de Araújo, médico pediatra responsável pela enfermaria de pediatria do Hospital Cruz Azul, em São Paulo, com experiência no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças alimentadas sem carne.
Dr. Orlei ressalta que o hábito de comer carne é puramente cultural, sem nenhum benefício nutricional que possa ser sustentado cientificamente hoje em dia. Segundo o pediatra, a criança acostuma-se facilmente a uma alimentação sem carne e mesmo pais onívoros deveriam fazer a experiência. No entanto, o pediatra ressalta: é muito importante buscar orientação profissional para a elaboração e acompanhamento da dieta. “O maior desafio é encontrar profissionais que não torçam o nariz ao vegetarianismo, mesmo sabendo que estão completamente defasados. Felizmente hoje existe muito material de qualidade disponível na internet e recomendo a leitura freqüente para a compreensão do que é uma dieta adequada.”
Calorias e suplementação: A orientação de um profissional especializado – nutricionista ou nutrólogo – esclarece muitas dúvidas e dá muito mais segurança para os pais na hora de elaborar a dieta sem carne para os pequenos. Uma das principais questões que os pais devem ficar atentos é que ser vegetariano não significa comer somente “folhas”. “Deve-se ter clara a ideia de que verduras e legumes fazem parte da dieta, mas não são a base. Isso é muito importante para crianças pequenas, que se receberem muitas verduras e legumes e menos cereais e feijões terão baixa caloria ingerida, e isso compromete o crescimento”, alerta Dr. Eric Slywitch, médico nutrólogo especializado em alimentação sem carne.
Em relação a calorias, não é verdade a informação de que dietas vegetarianas para crianças devem ser necessariamente mais calóricas por conta da dificuldade maior de digestão de proteínas vegetais. Na verdade não existe dificuldade de digestão de proteínas, apenas a variedade de aminoácidos é menor nos vegetais, o que faz necessária a combinação inteligente de várias fontes para se obter todos.
Segundo Dr. Eric, equilibrando os grupos alimentares, os nutrientes costumam ficar bem ajustados. Ele também ressalta que é importante ficar atento ao consumo excessivo de fibras, que pode gerar uma maior saciedade na criança e, conseqüentemente, levar à ingestão de menos alimentos. “Mas com um bom acompanhamento de um profissional da área, não há razão para ter medo da dieta vegetariana. Só é necessário de muita paciência para agüentar o desespero de alguns familiares”, brinca o nutrólogo.
Em relação à suplementação, a de vitamina B12 é indicada para todas as crianças vegetarianas. As demais suplementações são aquelas comuns a todas as crianças pequenas – vitaminas A e D e ferro – e qualquer necessidade extra deve ser avaliada individualmente, de acordo com o tipo de vegetarianismo adotado, a ingestão alimentar habitual e as condições clínicas da criança.
“Vale ressaltar que os suplementos nutricionais devem ser prescritos por um profissional da área de nutrição com conhecimento e experiência no atendimento de crianças e adolescentes vegetarianos”, frisa Ana Paula Pacífico Homem, nutricionista especialista em nutrição materno-infantil que atende crianças e adolescentes vegetarianos em consultório particular e ambulatório institucional em Belo Horizonte.
A nutricionista esclarece um dos maiores mitos que ronda a dieta vegetariana: a falta de proteínas. Ela reitera que uma alimentação vegetariana adequada, com cereais integrais, leguminosas variadas e sementes oleaginosas, fornece quantidade mais do que suficiente do nutriente.
“Os pais não podem esquecer que a consistência da alimentação e a forma de preparo precisam ser adaptadas à idade da criança. No caso de bebês, os feijões e as frutas devem ser muito bem amassados e os sucos, coados. Os cereais integrais precisam ser muito bem cozidos e peneirados, para reduzir o teor de fibras na fase inicial de introdução de alimentos. Uma semente de amêndoa, por exemplo, pode ser introduzida na forma de farinha, adicionada a uma fruta”, afirma Ana Paula.
O desmame é o período mais vulnerável para a criança vegetariana e a introdução de alimentos deve ser idealmente acompanhada por um profissional com experiência em dietas vegetarianas. Segundo a nutricionista, é fundamental garantir as fontes alimentares de ferro, cálcio e zinco (folhas verdes escuras, feijões, sementes oleaginosas ) e “gorduras boas” (abacate, óleo de oliva). “Outro nutriente muito importante é o ômega-3, um tipo de lipídeo essencial para o cérebro em crescimento da criança. Sua principal fonte no reino vegetal é o óleo de linhaça”, diz.
Exemplo, exemplo e exemplo: Esclarecida a parte científica, os pais vegetarianos podem ainda ter outra preocupação em relação à alimentação sem carne dos filhos: numa sociedade ainda predominantemente onívora, como vou acostumar e explicar o vegetarianismo para o meu filho. Uma criança vegetariana pode vir a sofrer algum tipo de preconceito, ou até exclusão social?
Primeiramente é preciso reforçar uma das máximas mais fortes quando o assunto é educação, inclusive a alimentar. A criança aprende muito mais pelo exemplo do que pelas palavras. Ou seja, o hábito de uma alimentação vegetariana saudável em casa será o maior espelho da criança. “Os pais vegetarianos devem fornecer uma alimentação coerente com seus princípios dentro de casa, esclarecer as questões que venham a surgir sobre o assunto com clareza e sinceridade e acreditar que estão plantando boas sementes”, aconselha Ana Paula. “Mais cedo ou mais tarde a criança ou adolescente confrontará os valores que recebeu da família com aqueles que recebeu da sociedade e fará uma opção madura e consciente”.
“Não vejo nenhum problema de pais vegetarianos criarem seus filhos com a mesma dieta. Conheço famílias que criaram seus filhos com vegetarianismo e nunca evidenciei nenhum problema psicológico decorrente disso. Em termos de socialização, vejo menos problema numa criança vegetariana do que numa criança, por exemplo, que tem intolerância a glúten ou alergia a leite”, afirma a psicóloga Teresa Ferreira, que atende no Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A psicóloga ressalta que é importante que os pais agrupem-se com outros que seguem a mesma filosofia, para que seus filhos, em algum momento, se encontrem com seus pares e vejam que há outras pessoas que fazem o mesmo. “Dessa forma eles se darão conta que não são os diferentes, só em alguns momentos é que são diferentes. Além disso, é imprescindível que os pais comam o que querem que os filhos comam, dando o exemplo e oferecendo o alimento de diferentes formas e em diferentes momentos.” Teresa não vê o oferecimento de alimentação vegetariana para as crianças como uma imposição ou coerção. “É natural e até uma obrigação dos pais passarem seus valores para os filhos. Quanto mais claros esses valores estão para os pais, mais fácil será para os filhos entenderem.”
Papinha sem carne: Alguns exemplos de pequenos vegetarianos demonstram que a alimentação sem carne pode realmente ser encarada de forma muito natural pela criança, não lhe trazendo nenhum desconforto. “Eu sempre fui vegetariano e explico para os meus amigos que desde que era pequeno já não gostava de comer carne. Quando minha avó me dava papinha com carne, eu cuspia tudo. Também falo para eles pensarem muito bem nos animais”, diz Pedro Schuwenck, de 9 anos, quando questionado sobre o que explica para seus amigos onívoros quando lhe perguntam por que não come carne.
Pedro, sua mãe, a publicitária Paula, e seus avós maternos, todos vegetarianos, lançaram em maio desse ano em São Paulo o blog “Vegetariano come o quê?”, cujo objetivo é apresentar receitas que respondam justamente a este pergunta. O diferencial é que as receitas são apresentadas em vídeos e pela família, o que, segundo Paula, chama muito a atenção das pessoas.
Paula é vegana há oito anos e fez a opção pelo vegetarianismo na gravidez. Ela conta que Pedro se mostrou vegetariano desde que começou a comer as papinhas. “Ele sempre rejeitou papinhas com carne. Quando substituía por uma de vegetais ele comia tudo. Procurei um médico nutrólogo especializado em dieta vegetariana que nos orienta até hoje”, conta Paula, ressaltando que Pedro sempre teve crescimento acima da média e nunca existiu problema de socialização com os amiguinhos. “Pelo contrário, ele tem muitos amigos e quando eles vêm na nossa casa, adoram comer nossos bolos e lanches veganos”.
Como Pedro acabou fazendo sua escolha bem cedo, Paula nunca teve dificuldade para montar sua alimentação. E como principal dica para pais vegetarianos que pretendem criar pequenos vegetarianos, ela diz que o segredo é introduzir a variedade dos vegetais na alimentação das crianças. “Quanto mais elas conhecerem os sabores e a infinidade de opções que têm para comer e sentir prazer, se deliciar, mais fácil será que elas gostem e se orgulhem de serem vegetarianas. Além disso, sempre conversar muito sobre os direitos dos animais e como é importante para o planeta que elas sejam vegetarianas.” E completa: “As crianças são esponjinhas que sugam o nosso exemplo. Se os pais estiverem convictos e se sentirem felizes por terem escolhido o vegetarianismo, assim as crianças se sentirão também.”
Com a bióloga paulistana Fúlvia Zephilho de Andrade e sua filha, Letícia, de 2 anos e meio, a experiência é muito parecida. Letícia é ovolactovegetariana desde o ventre, pois Fúlvia e o marido já tinham decidido que seus filhos não comeriam carne. Ela diz que nunca passou pela cabeça deles oferecer carne nas papinhas e para garantir a boa nutrição de Letícia consultam um nutricionista vegetariano.
“Ela segue crescendo saudável e se alimentando muito bem. E está super adaptada à dieta. Tanto que quando vê os tios ou as avós comendo carne ela pergunta o que é e aí fala “não pode comer carne, são nossos amigos, mata os bichinhos”. Fúlvia acredita que quando os pais têm hábitos alimentares saudáveis, os filhos passam a adquirir estes hábitos naturalmente. E dá as dicas: para os bebês, o legal é cozinhar legumes e verduras variando sempre e oferecê-los amassadinhos, e não tudo batido em forma de sopa. Dessa forma a criança aprende a distinguir os sabores dos alimentos; E com as crianças maiores, leve-as para cozinhar com você. Ela vai gostar de ajudar e de comer o que preparou.
Apesar do preconceito hoje sem bem menor e as pessoas estarem mais informadas sobre o que é o vegetarianismo, Fúlvia diz que a maior dificuldade ainda é a crítica de que estaria privando a filha dos “prazeres da vida”. Para amenizar essa dificuldade Fúlvia criou, em abril de 2009, o blog Maternas Vegetarianas, cujo objetivo é justamente trocar idéias e informações e difundir o vegetarianismo e outros assuntos correlatos entre “mães vegetarianas que acreditam em um mundo melhor, não somente no nosso bem-estar, mas no de nossos filhos, dos animais, da humanidade e do planeta”.
“Eu acredito que as crianças são mais receptivas ao vegetarianismo que alguns adultos. Costumo dizer que se você colocar uma criança com fome em uma sala onde está um pintinho e onde tem uma pêra, o que você acha que ela vai fazer: comer o pintinho e brincar com a pêra ou comer a pêra e brincar com o pintinho? A resposta já nos diz que, em essência, somos vegetarianos”, conclui Fúlvia.
Os 10 mandamentos para a dieta vegetariana dos pequenos
1. Procure um profissional especializado em alimentação sem carne – nutricionista ou médico nutrólogo – para orientar, montar e acompanhar a dieta vegetariana de uma criança.
2. Nunca substitua o aleitamento materno ou o uso de fórmulas especializadas por misturas de farinhas de cereais.
3. Fórmulas infantis à base de soja são a única opção para lactentes veganos não amamentados no seio.
4. Fórmulas de soja não são adequadas para prematuros, pois há o risco de fragilização dos ossos mesmo com suplementação de cálcio. Prematuros, infelizmente, estão fora do veganismo.
5. A vitamina B12 deve ser suplementada sempre, principalmente para as crianças veganas.
6. No caso de crianças veganas deve-se ficar bem atento às fontes de cálcio, que devem ser intensificadas.
7. Crianças em geral, onívoras ou vegetarianas, devem ter atenção especial ao ferro, pois sua deficiência é muito comum. Sua suplementação é necessária a partir do quarto mês de vida.
8. Os pais devem ter uma alimentação adequada e equilibrada, pois eles serão o maior exemplo para as crianças.
9. Apresente toda a variedade de vegetais para as crianças, pois é a melhor forma delas pegarem gosto, se acostumarem e sentirem prazer com a dieta sem carne.
10. Converse sempre sobre os motivos do vegetarianismo e esclareça as questões colocadas pelas crianças com muita serenidade e tranqüilidade.
Fontes para consulta e orientação
Livros
• “Comida Vegetariana para Crianças”, de Sara Lewis (Editora Madras)
• “Dieta Vegetariana para Pais e Filhos”, de Charles R. Artwood (Editora Madras)
• “Alimentação sem Carne – Guia Prático”, de Eric Slywitch (Editora Alaúde)
• “Virei Vegetariano – E agora?”, de Eric Slywitch (Editora Alaúde)
• “Lar Vegetariano”, de Ivonete Nakashima, Aparecida Teixeira e Paulo Cesar Nakashima (Editora Cultrix)
Sites
www.alimentacaosemcarne.com.br
http://www.vegetarianocomeoque.com.br/
http://maternavegetarianas.blogspot.com/
*Reportagem publicada na Revista dos Vegetarianos edição 49 / novembro 2010 - http://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=935
Desafios do Ano Internacional da Biodiversidade
Por Jaqueline B. Ramos*
Há vários anos especialistas e ambientalistas de todo o mundo têm feito alertas sobre o perigo real da perda de biodiversidade do planeta. Por motivos que vão desde desmatamento de áreas naturais até as conseqüências modernas do aquecimento global, é fato conhecido que um número crescente de espécies de animais e plantas se encontra em risco iminente de extinção. E não há dúvidas que isso é muito ruim tanto para a natureza como para a própria qualidade de vida da humanidade.
Quando o assunto é risco de extinção, no Brasil – que, diga-se de passagem, é o primeiro país em biodiversidade do mundo, temos o exemplo da onça pintada. Na Ásia, a problemática é grande em torno dos tigres e orangotangos. Na África, os chimpanzés são grandes vítimas... e estes são apenas alguns poucos casos falando apenas em animais mais conhecidos e casos mais divulgados (veja mais informações no boxe).
Entende-se como biodiversidade (ou diversidade biológica) a variedade de vida no Planeta que forma uma grande cadeia da qual o homem faz parte e da qual depende para sua sobrevivência. A biodiversidade que temos hoje é fruto de bilhões de anos de evolução moldados por processos naturais e, cada vez mais, por processos humanos. Até hoje cerca de 1,75 milhões de espécies já foram identificadas, sendo a grande maioria insetos, e estima-se que realmente existam 13 milhões de espécies.
O alerta sobre a perda da biodiversidade foi oficialmente reconhecido pela ONU – Organização das Nações Unidas, que declarou que 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Em termos práticos o destaque é para a 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-10 CDB), que acontecerá na cidade de Nagoya, no Japão, em outubro. A expectativa em relação à conferência é muito grande, pois se discutirá, entre outros assuntos, o alcance das metas de redução de perda de biodiversidade e o polêmico assunto sobre a repartição dos benefícios advindos da utilização da diversidade genética das espécies.
E o cenário não é muito otimista, infelizmente. No dia biodiversidade – 22 de maio – o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a perda de espécies está chegando a um ponto sem volta. De fato, em um relatório recente a ONU confirmou que nenhuma das metas para redução da perda de biodiversidade, acordadas em 2002, foram cumpridas. O relatório afirma que desde 1970 as populações mundiais de animais caíram 30%, a área coberta por mangues caiu 20% e a área coberta por corais, 40%.
Redução de desmatamento: Segundo Ban, comunidades no mundo todo irão "colher os frutos negativos" da perda de biodiversidade. “Mas comunidades mais pobres e mais vulneráveis serão as que irão sofrer mais", alerta o secretário, ressaltando mais uma razão para o reforço nos esforços reais (e não apenas teóricos ou “marqueteiros” em torno da conservação da diversidade genética de plantas e animais.
No Brasil, os principais problemas estão relacionados diretamente ao combate ao desmatamento nos grandes biomas. “A conservação da diversidade biológica é um dos temas de maior destaque do ano, e os olhos do mundo certamente se voltarão para o Brasil. Temos a sorte de abrigar em nosso território uma imensa riqueza biológica, mas temos também a responsabilidade de cuidar de sua preservação e sobrevivência”, afirma Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil.
Seja no Brasil, na Indonésia, na República do Congo ou em qualquer outro país rico em biodiversidade, a causa maior do problema é sempre a ação humana insustentável. È verdade que a extinção das espécies é um fenômeno natural, mas a questão é que animais e plantas estão tendo suas populações drasticamente reduzidas ou extintas numa taxa muito mais rápida que a natura – estima-se que o processo esteja 1000 vezes acelerado.
“Nossas vidas dependem da biodiversidade e espécies e ecossistemas estão desaparecendo em um ritmo insustentável. Em 2002 líderes mundiais concordaram em diminuir significativamente as taxas de destruição de biodiversidade até 2010, mas já sabemos que as metas não foram alcançadas. Precisamos, mais do que nunca, do esforço de todos, governos, ONGs e cada cidadão”, alerta o secretário-geral das Nações Unidas.
Metas da CDB para os países signatários
• Conservação da biodiversidade;
• Uso sustentável de seus componentes;
• Distribuição equitativa e justa dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos.
Espécies ameaçadas de extinção
No Brasil
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, há cerca de 400 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Dessas, sete são consideradas já extintas, como é o caso da arara-azul-pequena, que era encontrada em toda a Região Sul e no Mato Grosso do Sul.
Algumas das espécies-símbolo da riqueza biológica do Brasil estão em risco. A onça-pintada, a onça-parda, o gato-maracajá são exemplos de felinos que correm o risco de desaparecer de nosso território. Macaco-aranha, mico-leão-da-cara-preta, mico-leão-dourado e várias espécies de sagui também.
Nos ares, o risco de extinção recai sobre a arara-azul, a ararinha-azul, o gavião-cinza e algumas espécies papagaio, entre muitos outros. Há 55 espécies diferentes de borboletas na lista de ameaçadas. No cerrado, o lobo-guará é o símbolo das conseqüências da devastação. Nas águas, a baleia-franca, a baleia-jubarte e o peixe-boi são vítimas de caçadores.
Entre as plantas, estão desaparecendo algumas espécies de bromélias, o pau-rosa e o pinheiro-do-Paraná, também conhecido como araucária. Sucupira, aroeira, jequitibá, imbuia, angelim, mogno, cerejeira e outras árvores também já são difíceis de serem encontradas.
No mundo
Todos os anos, o WWF-Estados Unidos divulga a lista dos 10 animais mais ameaçados do planeta. Este ano, a lista inclui cinco animais que estão sendo diretamente afetados pelo aquecimento global: o tigre, o urso polar, a morsa do Pacífico, o pinguim de Magellanic e a tartaruga-gigante. Além dessas cinco espécies, também estão ameaçados o atum-bluefin, o gorila-das-montanhas, a borboleta-imperial, o panda e o rinoceronte-de-Java, cuja população está reduzida a apenas 60 indivíduos.
Fonte: WWF Brasil - http://www.wwf.org.br/
As principais ameaças à biodiversidade
• Perda de habitats: pelas mudanças no uso das terras, principalmente a conversão de áreas naturais em plantios de nível industrial. Esta é, na verdade, a maior causa da perda de biodiversidade. Mais da metade dos 14 grandes biomas da Terra já tiveram entre 20 e 50% de sua área total convertida para agropecuária.
• Uso e exploração insustentáveis: muitas espécies são usadas pelo homem para atender suas necessidades básicas. Porém, várias delas estão em declínio e risco de extinção porque são usadas de forma tão exagerada que sua exploração ameaça os ecossistemas dos quais dependem.
• Mudanças climáticas: será, progressivamente, causa de mais ameaças à biodiversidade nas próximas décadas. Já se observa mudanças nos períodos de migração e reprodução e nas taxas de distribuição de várias espécies em todo o planeta por conta das variações climáticas.
• Espécies aliens: plantas, animais e microorganismos transportados deliberadamente ou acidentalmente para áreas onde são espécies exóticas podem causas sérios riscos para espécies nativas pela competição por comida, transmissão de doenças, mudanças genéticas etc. Mais de 530 espécies aliens que causaram sérios impactos já foram identificadas em 57 países.
• Poluição: o descarte progressivo de substâncias poluentes geradas tanto no ambiente urbano como pela agropecuária, somado ao crescimento desenfreado da região costeira e da agricultura, pode levar a uma multiplicação na quantidade de áreas consideradas mortas.
Fonte: ONU/UNEP
* Publicado na edição 90 do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung - veja aqui.
Curtas Ambientais
Retrocesso na proteção às florestas
No mês do meio ambiente, ambientalistas no Brasil não têm muito que comemorar. Parlamentares ruralistas, encabeçados pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estão propondo mudanças no Código Florestal brasileiro que levariam a um retrocesso na legislação de controle e proteção das áreas naturais. Entre as mudanças sugeridas estão a possibilidade de soma da reserva legal com as áreas de Preservação Permanente (APP) e a consolidação de lavouras em encostas e topos de morros desmatados ilegalmente.
Uma subcomissão da Câmara dos Deputados foi criada para avaliar as propostas de alteração na lei e isso está preocupando ONGs de defesa ambiental. Uma coalizão de entidades formada pelo WWF, Greenpeace, Instituto Socioambiental, entre outras, lançou um site com informações sobre o histórico do Código Florestal e a defesa da manutenção da lei para a preservação de florestas, dos recursos hídricos e do clima. No endereço www.sosflorestas.com.br são listadas as conseqüências que as possíveis mudanças na legislação ambiental podem trazer e o internauta é convidado a assinar uma petição contra as alterações no Código Florestal, a ser enviada para a Câmara.
Ônibus limpo
No final de maio o Rio de Janeiro entrou na era dos combustíveis limpos. De acordo com o contrato assinado com o COI – Comitê Olímpico Internacional –, 20% da frota de ônibus da cidade devem rodar movidos a biocombustível durante os jogos de 2016. Neste espírito foi apresentado pelo governo do Estado o primeiro ônibus movido a hidrogênio, um projeto desenvolvido pela Coppe/UFRJ.
O ônibus experimental será operado pela Viação Real e estará nas ruas pelo período de um ano, sendo avaliado em vários aspectos, incluindo a não-emissão de gases poluentes e sua manutenção periódica. O veículo receberá licença regular para rodar no Rio, assim como os outros 15 ônibus movidos a biodiesel, que já estão em operação de testes. A ideia é ampliar a frota de veículos não poluentes e praticamente trocar a maior parte dos coletivos que rodam pela cidade.
Satélite para monitorar oceanos
A Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Conae), da Argentina, desenvolverão em conjunto o satélite Sabia-Mar. O satélite será destinado à observação global dos oceanos e ao monitoramento do Atlântico nas proximidades dos dois países. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) será o órgão executor do projeto
Com o Sabia-Mar será possível observar a cor dos oceanos, monitorar a exploração petrolífera, gerenciar as zonas costeiras e contribuir com a atividade pesqueira, entre outras aplicações. O projeto Sabia-Mar está em plena consonância com os objetivos fixados pela comunidade científica internacional, e, mais especificamente, com aqueles estabelecidos pelo Comitê de Satélites de Observação da Terra (CEOS, na sigla em inglês) para a constelação de satélites de observação da cor dos oceanos.
Marfim X Elefantes
O que parecia ser uma prática ultrapassada voltou a aterrorizar a vida dos elefantes. O crescimento na demanda de marfim na Ásia tem incentivado o comércio ilegal de presas de elefante, provenientes principalmente da África. Nos últimos oito anos o preço do quilo do marfim subiu de US$ 100 para US$ 1800. O principal responsável pelo “aquecimento” no comércio é a China. No país há a tradição de um empresário “presentear” um cliente após um negócio fechado com uma presa de marfim.
Segundo especialistas, se o comércio não for contido logo, as populações de elefantes na África podem ser reduzidas dramaticamente. Mais de 600 mil elefantes foram mortos no continente nos últimos 40 anos devido à caça ilegal – a captura dos animais é oficialmente proibida desde 1989. Em Serra Leoa, os últimos elefantes foram mortos em dezembro. No Senegal, há menos de 10 elefantes vivos.
Parceria em prol da bioenergia
Em maio foi anunciada uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e o Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados de Cana-de-Açúcar (ICIDCA) visando a produção sustentável de nada mais nada menos do que bionergia. O trabalho em conjunto prevê o desenvolvimento de tecnologias para a produção de fontes renováveis de energia e será dividido em cinco linhas: biomassa para bioenergia; produção de bioenergia; aplicação de biocombustíveis em motores; biorrefinaria, alcoolquímica e oleoquímica; e impactos ambientais, sócio-econômicos e sustentabilidade.
“Nosso foco é trabalhar os resíduos de forma sustentável, unindo especialistas das duas instituições”, explicou Maria José Soares Mendes Giannini, pró-reitora de Pesquisa da UNESP, que faz parte do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, criado em dezembro de 2009.
Dieta para combater as mudanças climáticas
Um recente relatório da ONU divulgado na semana do Dia Mundial do Meio ambiente faz uma revelação surpreendente. Em linhas gerais é concluído que “uma mudança global para uma dieta vegana – que exclui carnes e qualquer produto de origem animal – é vital para salvar o mundo da fome, pobreza de combustíveis e os piores impactos da mudança climática.”
O relatório ressalta que a previsão é de que a população mundial chegue a 9.1 bilhões de pessoas em 2050, tornando o apetite por carne e laticínios insustentável. A agropecuária industrial, particularmente de produtos de carne e laticínios, é responsável, por exemplo, pelo consumo de cerca de 70% da água doce do mundo, 38% do uso de terra e 19% das emissões de gases estufa.
Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmente devido ao crescimento da população e o crescimento do consumo de produtos animais. Ao contrário dos combustíveis fósseis, é difícil produzir alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial de impactos somente seria possível com uma mudança de dieta, eliminando produtos animais.”
Baleias amigas
Um estudo divulgado em junho na revista “Behavioral Ecology and Sociobiology” demonstra que as Baleias-jubarte formam laços de amizade duradouros. Usando técnicas de identificação fotográfica para localizar cada indivíduo todos os anos, os pesquisadores conseguiram averiguar que fêmeas de baleia-jubarte reencontram-se anualmente para comer e nadar juntas no golfo de São Lourenço, na costa do Canadá.
Baleias com dentes, como as baleias cachalote, associam-se umas com as outras. Mas acreditava-se que baleias maiores, que filtram sua comida, como as jubartes, eram menos sociáveis. As amizades mais longas registradas duraram seis anos e sempre foram observadas entre fêmeas de idades parecidas e nunca entre machos e fêmeas. A descoberta também levanta a possibilidade de que a pesca comercial de baleias pode ter dispersado grupos sociais dos animais.
Corais brasileiros ameaçados
A elevação na temperatura das águas, provocada pelo aquecimento global, ameaça espécies de corais que só existem no litoral brasileiro. A conclusão é do projeto Coral Vivo, cuja sede fica em Arraial da Ajuda, na Bahia. Das 40 espécies de corais encontradas nos recifes brasileiros, 20 são encontradas apenas no país.
De acordo com o projeto, o fenômeno começou a ser identificado em março, depois de dois meses com a água muito mais quente do que a média na maior parte da costa brasileira. Conhecido como “branqueamento”, ele foi registrado em uma faixa de 2,5 mil quilômetros, entre o Rio Grande do Norte e a baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e coloca em risco a vida do coral.
A explicação do problema é a seguinte: algumas espécies de corais precisam de microalgas para viver, que se instalam na segunda camada da pele do coral. Como todas as plantas, elas fazem fotossíntese, isto é: obtêm energia da luz do sol. O que sobra, doam ao coral em troca de abrigo. Mas quando a temperatura da água está acima do normal, as algas produzem água oxigenada, que é tóxica para o coral. Para se proteger, ele as expulsa. E sem elas o esqueleto branco fica visível.
* Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung edição 90 - junho 2010
quarta-feira, novembro 17, 2010
ISO 26000 incluirá bem-estar animal!
12.11.2010 - 17h39m
ISO 26000 incluirá bem-estar animal
A Organização Internacional para a Padronização (ISO), maior desenvolvedora de normas internacionais do mundo, incluiu o bem-estar animal no recém-lançado certificado ISO 26000, que relaciona normas para responsabilidade social a serem seguidas por organizações públicas, privadas ou do terceiro setor. Embora a aquisição do selo seja voluntária, ela traz o reconhecimento de que uma corporação opera de forma socialmente responsável.
A inclusão está sendo vista como um marco histórico, porque reconhece o bem-estar animal no contexto da responsabilidade sociel. A WSPA se juntou a cerca de 400 especialistas de 99 países – inclusive o Brasil – que estavam desde 2005 envolvidos na discussão da ISO 26000. O texto do certificado institui "o respeito ao bem-estar dos animais quando suas vidas e existência são afetadas, incluindo o fornecimento de condições dignas para a manutenção, criação, produção, transporte e uso de animais", além de mencionar também o bem-estar psicológico dos animais em diversos capítulos.
quinta-feira, outubro 07, 2010
Expo de fotos ambientais e workshop gratuito na Oscar Freire, em São Paulo - dia 16/10
O coletivo de fotógrafos amadores e profissionais de São Paulo – APSP realizará no dia 16 de outubro seu primeiro evento aberto ao público. No coração da rua Oscar Freire, em São Paulo, 29 fotógrafos irão expor material inspirado nos temas meio ambiente e responsabilidade socioambiental no 1º Varal Fotográfico APSP - Meio Ambiente e Responsabilidade Socioambiental pelas nossas lentes. O evento terá entrada gratuita.
Fotos: Adriana Libini e Kassa
“Nosso objetivo é fazer o público se inspirar, e pensar sobre a questão ambiental e tudo que a envolve”, diz a fotógrafa Sandra Pagano, organizadora do evento. “Queremos uma exposição fotográfica que crie conscientização sobre assuntos sociais e ambientais. Alertar, educar, criar responsabilidade perante a sociedade através da fotografia.”
O 1º Varal do APSP terá 140 fotografias de fauna e flora, além de ações do homem sobre o meio em que vive e exemplos de atitudes ambientalmente responsáveis e sustentáveis. A ideia do grupo, que se reúne na rede social Flickr, é realizar exposições itinerantes e temáticas em outras cidades, em parceria com fotógrafos locais.
Workshop: O Varal também oferecerá aos visitantes um workshop com Helio Hilarão, fotógrafo e professor da Escola FullFrame, sobre o uso dos recursos das câmeras digitais compactas nesse tipo de foto. Para participar é necessário se inscrever previamente postando um comentário no blog do coletivo - http://fotoapsp.wordpress.com/ - com nome completo e e-mail.
1o VARAL FOTOGRÁFICO APSP
Meio Ambiente e Responsabilidade Socioambiental pelas nossas lentes
Quando: 16/10/2010, sábado
Onde: Travessa das Estrelas, Pagú Design – Rua Oscar Freire, nº 129, Jardim Paulista – São Paulo
Horário: 10h às 18h
Workshop com Helio Hilarião às 14h
Evento gratuito. Todo o material exposto estará à venda.
Fotógrafos participantes:
Adriana Líbini (http://bit.ly/djVPtz)
Akira pS (http://bit.ly/alzpsN)
Alexandre Gabriely (http://bit.ly/cNQNfT )
Aline França (http://bit.ly/bFd4Lt)
Ana Caroline Lima (http://bit.ly/bNTNzx )
Angelo Sartori (http://bit.ly/aB3w2a)
Bruno Pini (http://bit.ly/baIdun)
Bruno Pires (http://bit.ly/9JdIJj)
Carol Oliveira (http://bit.ly/58WT1r)
Helio Hilarião (http://bit.ly/aJelgA)
J.Cheng (http://bit.ly/dl3twa )
Juan Carlos Arantes (http://bit.ly/drCX21 )
Julio Teixeira (http://bit.ly/5GHja)
Kassá (http://bit.ly/3iICVO)
Levi Bianco (http://bit.ly/bULusY )
Luiz Casimiro (http://bit.ly/bc837J)
Luiza Davoli (http://bit.ly/cYNLHq)
Maria Claudia Grangeiro (http://bit.ly/dpfHVL)
Marcos Pacheco (http://bit.ly/aFAdXq )
Melissa Rahal(http://bit.ly/cKsOMY)
Paulo Eduardo (http://bit.ly/aKcaDb )
Raphael Zanetti (http://bit.ly/cPXown )
Reinaldo Pereira Gomes (http://bit.ly/9KXTLW )
Renata Pancich (http://bit.ly/bawzUt )
Rodrigo Netto (http://bit.ly/aHeza0)
Roger DJ (http://bit.ly/dxqque)
Sandra Pagano (http://bit.ly/byx8Yk)
Thiago Albuquerque (http://bit.ly/abSVsH )
Wilson Otacilio (http://bit.ly/dCMp6f )
Informações para a imprensa:
Ambiente-se Comunicação Socioambiental
Jaqueline B. Ramos – ambientesecom@gmail.com
Tels.: (12) 3307 7004, (12) 8134 5465, (11) 7749 5320 Nextel: 100*14777
quarta-feira, outubro 06, 2010
A Ambiente-se Comunicação Socioambiental apóia
Meio ambiente é tema do I Varal Fotográfico
Marina Franco - 28/09/2010 - Planeta Sustentável
O coletivo de fotógrafos Amadores e Profissionais de São Paulo (APSP), formado por amantes da fotografia reunidos na rede social Flickr, realizará em 16 de outubro, em São Paulo, seu I Varal Fotográfico. O tema da exposição é meio ambiente e responsabilidade socioambiental.
A exposicao reunirá mais de 140 imagens de fauna e flora, além de ações do homem sobre o meio em que vive e exemplos de atitudes ambientalmente responsáveis. Todas as fotografias estarão à venda.
Um workshop com Helio Hilarião, fotógrafo e professor da Escola FullFrame, sobre o uso dos recursos das câmeras digitais compactas nesse tipo de foto, também integra o programa. Para se inscrever, é preciso postar um comentário no blog do coletivo Fotossp, com nome completo e e-mail.
I Varal Fotográfico APSP Data e horário: 16/10, 10h às 18h Workshop com Helio Hilarião às 14h Local: Pagú Design. Rua Oscar Freire, 129 – São Paulo Entrada Franca
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticias/meio-ambiente-tema-i-varal-fotografico-600139.shtml
quarta-feira, agosto 18, 2010
RODEIOS
Por Jaqueline B. Ramos*
Se você visse uma pessoa aflita, sofrendo deliberadamente por 8 segundos, você consideraria isso um abuso, um exemplo de maus-tratos? A resposta é quase óbvia. Pois o argumento ensaiado “eles se apresentam na arena apenas por 8 segundos” é o principal usado pelos participantes e defensores dos eventos conhecidos como rodeios, nos quais touros e cavalos – e, em alguns casos, até bezerros e novilhos - são montados e/ou laçados e submetidos a uma espécie de desafio para que um peão se exiba para o público demonstrando seu “domínio sobre o animal”.
A origem dos rodeios data do final do século XIX nos Estados Unidos, quando cowboys começaram a competir entre si para ver quem tinha mais habilidade e coragem para dominar os “animais ferozes do Velho Oeste”. Com o tempo a atividade ganhou a roupagem de entretenimento sob o argumento de que consistia em uma manifestação cultural. Cultura e países a parte, o fato é que é uma prática marcada pela subjugação dos animais e movida atualmente por grandes grupos econômicos que visam o lucro do “show” da montaria na arena, geralmente atrelado a grandes espetáculos musicais e venda de comida e bebida.
“É impossível pensar que as provas dos rodeios são realizadas sem causar nenhum incômodo ou impacto negativo para os animais. A situação de maus-tratos é inerente a qualquer tipo de rodeio, seja os com grande produção ou os com menos estrutura. No Brasil, dependendo da região, pode mudar um pouco a roupagem, mas o comprometimento do bem-estar e integridade dos animais se dá da mesma forma”, explica a médica veterinária Vânia Plaza Nunes, que acompanha a problemática dos rodeios há vários anos.
Vânia foi diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, que no ano de 2006 conduziu um estudo técnico a pedido da Promotoria de Justiça de Barretos (SP) no famoso rodeio da cidade. Como já era de se esperar, o estudo apontou com dados e fatos todas as questões que comprometiam a integridade física e mental dos animais de uma forma bem abrangente, analisando desde a fase de treinamento e condições de alojamento até os riscos da atividade para as pessoas envolvidas.
“Entre os inúmeros problemas que detectamos pode-se destacar as condições inadequadas dos alojamentos, o condicionamento para suportar barulho, conviver com outros animais, ficar acordado por várias horas e suportar mudanças térmicas e uma alimentação exageradamente rica em carboidrato. Tudo isso vai contra a natureza dos animais e causa, no mínimo, stress, sem contar outras várias questões, como lesões pelo uso de equipamentos e pelas brigas entre animais”, conta a médica veterinária, ressaltando os problemas vão muito além do momento do evento em si.
O trabalho em Barretos contou com a vitória de a Justiça proibir a prova de laço de bezerro no evento, que não acontece desde 2007. Hoje a meta é lutar para proibir a prova conhecida como bulldog (ver mais detalhes no boxe).
Crueldade além da arena: Retomando o argumento mais famoso dos cowboys brasileiros, mesmo que o sofrimento dos animais fosse por apenas 8 segundos, isso por si só isso já justificaria as condições de maus-tratos a que são submetidos nas provas de rodeios. E quando nos damos conta de que a crueldade ocorre por muito mais que 8 segundos, fica mais fácil ainda concluir porque os rodeios consistem numa prática, no mínimo, ultrapassada.
“A verdade é que não existe rodeio sem crueldade. Os maus-tratos não se limitam ao momento que o animal adentra a arena. Normalmente eles são alugados ou pertencem a companhias de rodeios, são transportados por horas em más condições e, ao chegarem ao destino, aguardam mais longas horas até o início do espetáculo. Muitas vezes são provocados, açoitados e expostos a volumes sonoros altíssimos”, alerta o deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP), que sempre trabalhou com causas ambientais e de defesa dos animais. “O suplício não cessa, se estende da criação, transporte e espera, ao corredor, ao brete e à arena. E o pior é que no outro dia tudo se repete.”
Trípoli é muito crítico à legislação vigente que regulamenta os rodeios e os instrumentos que podem ser utilizados nos animais (Lei Estadual 10359/99 – SP e Lei Federal 10519/02). Segundo o deputado, elas foram elaboradas pelo setor no intuito de garantir o negócio e tentar minimizar as severas críticas da sociedade. Como os maus-tratos vão muito além dos instrumentos utilizados e da “performance” na arena, é necessária a incidência de outras normas, principalmente a própria Constituição Federal, que no artigo 225 veda a submissão de animais a crueldades, e a Lei de Crimes Ambientais (9605/98), que também resguarda os animais de abusos e maus-tratos.
“Estamos numa luta grande no Congresso contra a bancada ruralista, que pretende retirar do rol de maus-tratos os animais domésticos e domesticados, para que não se tipifique crime maltratá-los”, conta o deputado, ressaltando o importante papel do Ministério Público e da sociedade em geral na fiscalização e denúncia de maus-tratos nesse tipo de atividade, para que as leis sejam não só cumpridas, mas, sobretudo, melhoradas.
Segundo Trípoli, para se colocar um fim aos rodeios no país, é preciso, antes de tudo, uma inversão de paradigma. Se não houver informação e conscientização da sociedade, não será possível vislumbrar a alteração deste cenário. “A questão não se limita aos interesses econômicos. É claro que o poderia proporciona atingir a mídia e à população, mas é preciso mudar a cultura, a postura e incutir em nossos valores o respeito à vida, prioritariamente. Rodeio é um lazer primitivo e ignorante e não deve ser confundido com a cultura de um povo”, conclui Trípoli.
Linguagem dos rodeios
Laçada de bezerro: um animal de apenas 40 dias é perseguido em velocidade sendo laçado e derrubado ao chão. Pode ocorrer ruptura na medula espinhal, ocasionando morte instantânea, e alguns ficam paralíticos ou sofrem rompimento parcial ou total da traquéia. Pode também ocorrer a ruptura de diversos órgãos internos, levando o animal a uma morte lenta e dolorosa.
Laço em dupla/Team roping: dois peões correm e um deve laçar a cabeça do animal e o outro, as pernas traseiras. Em seguida os peões esticam o boi entre si, resultando em ligamentos e tendões distendidos, além de músculos machucados.
Bulldog: dois peões ladeiam o animal, que é derrubado por um deles, segurando pelos chifres e torcendo seu pescoço.
Sedem ou sedenho: é um artefato de couro ou crina que é amarrado ao redor do corpo do animal (sobre pênis ou saco escrotal) e que é puxado com força no momento em que o animal sai à arena. Além do estímulo doloroso, pode provocar rupturas viscerais, fraturas ósseas, hemorragias subcutâneas, viscerais e internas e, dependendo do tipo de manobra e do tempo em que o animal fique exposto a tais fatores, pode levar ao óbito.
Objetos pontiagudos: pregos, pedras, alfinetes e arames em forma de anzol são colocados nos sedenhos ou sob a sela do animal.
Peiteira e sino: consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo, logo atrás da axila. O sino pendurado na peiteira constitui-se em mais um fator estressante pelo barulho produzido.
Esporas: às vezes pontiagudas, são aplicadas pelo peão tanto na região do baixo-ventre do animal como em seu pescoço, provocando lesões e perfuração do globo ocular.
Choques elétricos e mecânicos: aplicados nas partes sensíveis do animal antes da entrada na arena.
Provas da crueldade
- O médico veterinário norte-americano Dr. C.G. Haber, que passou 30 anos como inspetor federal de carne, viu vários animais descartados de rodeios sendo vendidos para abate. Ele descreveu os animais como "tão machucados que as únicas áreas em que a pele estava ligada à carne eram cabeça, pescoço, pernas e abdome. Eu vi animais com 6 a 8 costelas quebradas à partir da coluna, muitas vezes perfurando os pulmões. Eu vi de 2 a 3 galões de sangue livre acumulado sobre a pele solta. Estes ferimentos são resultado dos animais serem laçados nos torneios de laçar novilhos ou quando são montados através de pulos nas luta de bezerros."
- Em um estudo conduzido pela organização norte-americana Humane Society, dois cavalos conhecidos pelos seus temperamentos gentis foram submetidos ao uso da cinta no flanco. Ambos pularam dando coices até a cinta sair. Então vários cavalos do circuito de rodeio foram liberados dos currais sem a cinta no flanco e não pularam nem deram coices, mostrando que o comportamento selvagem e frenético é induzido pelos cowboys e promotores dos rodeios.
- No Brasil há um estudo bem conhecido coordenado pela Dra. Irvênia Prada, especialista em anatomia animal da USP. Ao observar as fotos dos animais em plena atividade no rodeio, a especialista declara: "os olhos dos animais mostram uma grande área arredondada, luminosa, conseqüente à dilatação de sua pupila. Na presença de luz, a pupila tende a diminuir de diâmetro (miose). Ao contrário, a dilatação da pupila (midríase) acontece na diminuição ou ausência de luz, na vigência de processo doloroso intenso e na vivência de fortes emoções e que acompanham situações de perigo iminente, caracterizando a chamada Síndrome de Emergência de Canon. No ambiente da arena de rodeio, o esperado seria que os animais estivessem em miose, pela presença de luz. Assim, a midríase que exibem é altamente indicativa de que estejam na vigência da síndrome, o que caracteriza o sofrimento mental."
Onde os rodeios já são proibidos no Brasil
O Estado do Rio de Janeiro já proíbe a realização de rodeios em seu território e diversos municípios nos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo também (entre eles Campinas, São José dos Campos, Sorocaba, Taubaté, Santo André, Santos, Ubatuba e São Bernardo do Campo). E a proibição da atividade está em tramitação nos estados do Ceará e Santa Catarina.
*Matéria publicada na edição de agosto de 2010 da Revista dos Vegetarianos
quinta-feira, maio 13, 2010
EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA
Respeito a todas as formas de vida
por Jaqueline B. Ramos*
“A forma como tratamos os animais nos afeta como humanos - a qualidade de vida animal afeta a qualidade de vida humana”. Esta frase foi apresentada numa publicação da ONG inglesa Sociedade Mundial para Proteção Animal (WSPA) no ano 2000 e pode ser considerada como um dos preceitos de uma nova metodologia de educação transformadora chamada de Educação Humanitária (EH).
Em linhas gerais, a Educação Humanitária é aquela que faz professores, alunos e pais refletirem sobre a coexistência de todas as formas de vida no planeta. É um conceito que engloba todas as formas de educação para justiça social, cidadania, questões ambientais e o bem-estar dos animais. A educação humanitária reconhece a interdependência de todos os seres vivos e é baseada em valores de respeito a todas as formas de vida, apreciação da diversidade e tolerância das diferenças.
Assim como a Educação Ambiental, a EH se constitui em um instrumento fundamental para fazer frente aos problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento econômico que impõe padrões de produção e consumo insustentáveis. Estes padrões acabam refletindo negativamente na relação humanos e não-humanos, a exemplo da violência por que passa a sociedade contemporânea, impressa tanto simbolicamente como na violência física propriamente dita.
Nesse contexto, a EH se propõe a oferecer instrumentos de construção e crítica da realidade nas comunidades escolares. A meta é que a metodologia desperte na comunidade o enfrentamento das contradições, dos desequilíbrios socioambientais, e conseqüentemente, a mudança na forma de tratamento dispensado aos animais - que, em grande medida, são considerados como meros objetos passíveis de subjugação para o atendimento de interesses diversos da atividade humana – e aos seus próprios semelhantes.
Bem-estar animal contra a violência: A percepção da senciência dos animais, de que os mesmos têm sentimentos e necessidades, e de que as ações promovidas pelos humanos geram impactos sobre o ambiente e demais formas de vida, configura a trilha para solucionar vários dos dilemas morais e abrir espaço para o respeito à diversidade e ao direito à vida de todos os seres vivos.
Diante disso vale ressaltar que umas das bases da EH é o “link da violência”, já divulgado largamente por vários estudos de psicologia. As pesquisas demonstram claramente uma correlação entre a crueldade contra animais na infância e a posterior prática da criminalidade. Em alguns casos há registros que tais atos foram inclusive precursores do abuso contra crianças.
Considera-se que valores como compaixão, respeito, tolerância, solidariedade e empatia em relação a outros seres são fundamentais para a formação de cidadãos gentis, atenciosos, cuidadosos e amorosos, contribuindo, assim, para quebrar o ciclo da violência e para dar lugar a uma sociedade mais justa e harmoniosa. Assim, pode-se afirmar que o abuso contra os animais não é um fato isolado. Ele está relacionado a um universo complexo de relações familiares perturbadas e usar esta ligação para uma educação transformadora é uma estratégia eficiente.
O livro “Abuse, Domestic Violence and Animal Abuse: Linking the Circles of Compassion for Prevention and Intervention (Abuso, Violência Doméstica e Abuso de Animais: fazendo o link dos ciclos de compaixão para prevenção e intervenção)”, de Frank R. Ascione e Phil Arkow, enfatiza que os programas de prevenção da violência são aprimorados quando se inclui práticas de proteção animal e se reconhece que os maustratos contra animais são uma questão de bemestar humano.
A experiência em Brasília: A EH tem uma experiência precursora no Distrito Federal, com o Programa “Escola é o Bicho – Educação Humanitária em Bem-Estar Animal”. Resultado de uma parceria da ONG WSPA com o projeto governamental “Escola de Natureza”, o programa é desenvolvido desde outubro de 2007 com o objetivo que docentes do DF incorporem a dimensão do bem-estar animal no contexto escolar – além de contribuir com o programa do Governo do Distrito Federal de redução da violência nas escolas.
O Programa “Escola é o Bicho” foi concebido a partir de dois eixos – a formação de educadores humanitários (curso de 90 horas certificado pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação – EAPE) e a criação dos Grupos de Bem-Estar Animal (GBEAs) nas escolas e comunidades dos participantes do curso. Tanto o conteúdo desenvolvido no curso quanto o conjunto de atividades propostas para os GBEAs buscam informar e sensibilizar as pessoas para a percepção e envolvimento em ações proativas que promovam o protagonismo infanto-juvenil e o exercício dos princípios e valores da educação humanitária.
Com o auxílio de recursos da educomunicação e da arte-educação, o “Escola é o Bicho” contribui para promover o diálogo entre os saberes e provocar a cidadania viva e crítica em relação à responsabilidade de cada um e de toda a comunidade escolar pela vida em todas as suas manifestações. Entre os destaques do programa está a organização de eventos educativos e culturais no Dia Mundial dos Animais (4 de outubro), o desenvolvimento da campanha “Circo legal não tem animal” e exposições diversas com a participação dos alunos e seus trabalhos versando sempre sobre o tema “Para mim os animais importam”.
Os GBEAS já criados também vêm se destacando dentro do programa. De acordo com a professora Rosemeyre Gontijo, do GBEA Lobo Guará (Escola CEF 02 do Guará), o “Escola é o Bicho” tem se mostrado como importante ferramenta para o enfrentamento de problemas
relativos ao comportamento dos alunos. “Estamos tendo êxito no processo de sensibilização, por meio dos temas relativos ao respeito aos animais. É um assunto que os alunos gostam, ficam motivados e assim percebemos a interação deles no processo. Desta forma, vemos surgir mais respeito para com os colegas, a família e a comunidade desde que começamos este trabalho. Mas é um trabalho que tem que ser construído dia-a-dia”.
Outro GBEA cujos resultados positivos com a criançada já são facilmente visíveis é o Esperança, formado por alunos do 2º e 5º anos do Ensino Fundamental da Escola Classe 206 Sul. No dia 17 de setembro, por exemplo, o GBEA organizou o “Dia de Soltar os Bichos” na escola, no qual os alunos fizeram diversas apresentações artísticas. Depois de ler um trecho da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o aluno Lucas Miguel disse “Ninguém vê a beleza essencial de um animal enjaulado e sim a sombra de sua beleza perdida”. Já a aluna Laura disse: “Pense bem! Se fizéssemos um minuto de silêncio veríamos o quanto os animais presos em jaulas sentem desespero e gritam por liberdade!”
Principais aprendizados da educação em bem-estar animal
Saber que os animais têm necessidades, que humanos interagem com outros animais e que nós compartilhamos o mesmo ambiente com outros seres vivos.
Entender como ações humanas podem afetar os animais e outros seres vivos e que, por causa disso, nós temos o dever de lhes prestar cuidados. Entender que freqüentemente nos deparamos com dilemas morais e que as pessoas têm opiniões diferentes.
Adquirir habilidades para comunicação eficaz (para que possamos explicar melhor
nossas ideias e responsabilidades), demonstrando os níveis apropriados de cuidados e empatia.
Desenvolver e mostrar atitudes de amabilidade, respeito, responsabilidade.
Valores da Educação Humanitária
Desenvolve a sensibilidade para com todas as formas de vida, apreciação da diversidade e tolerância das diferenças.
Estimula as crianças a terem mais compaixão e a aprenderem a viver com mais respeito por todos (o que se enquadra em qualquer política anti-intimidações e aborda o ciclo de violência inter-pessoal e abuso animal).
Promove oportunidades para as crianças desenvolverem um sentimento de admiração, responsabilidade e dever de cuidar do mundo natural e seu meio ambiente. A educação humanitária torna claro que nós compartilhamos o mundo com outros animais que têm necessidades e sentimentos.
Contribui para o desenvolvimento de atitudes e pensamento crítico das crianças
(o que aumenta sua auto-estima).
*Publicado no Informativo do Insituto Ecológico Aqualung n. 89 - janeiro/fevereiro 2010. Veja o informativo completo aqui.
CURTAS AMBIENTAIS
“Limpeza marinha” comprometida
São Paulo (USP) concluiu que ambientes
marinhos que vivenciam um maior impacto de
atividades humanas e um maior nível de
contaminação fecal têm sua reciclagem natural
alterada. O motivo é a redução de diversidade
das bactérias chamadas de quitinolíticas,
microrganismos fundamentais para os
ecossistemas marinhos. Elas produzem uma
enzima conhecida como quitinase, que exerce
papel importante no processo de degradação
da quitina, principal constituinte do exoesqueleto
dos artrópodes e moluscos. A pesquisa foi
orientada pela professora Irma Rivera, que
coordena o projeto de pesquisa Diversidade de
microrganismos marinhos, com ênfase em
proteobactérias vibrios, colífagos, leveduras e
bactérias quitinolíticas na região costeira do
estado de SP. “O nível de contaminação fecal
presente em cada ambiente estudado
influenciou significativamente a diversidade e o
potencial enzimático das bactérias. A maior
diversidade – abrangendo 19 gêneros – foi
encontrada nas amostras do canal de São
Sebastião e de Ubatuba, que têm médio e baixo
nível de impacto antropogênico”, explica.
Gerar energia a partir do aproveitamento do lixo
doméstico é uma idéia que está mais próxima de
virar realidade no Brasil. Pelo menos no segmento
de plástico. Inspiradas em tecnologias existentes
em outros países do mundo baseadas no poder
calorífico das sacolas plásticas e na discussão mais
ativa da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
grandes empresas do setor já anunciam possíveis
resultados práticos já para 2010. “Estamos
analisando alternativas tecnológicas para a
solução energética (do uso do lixo e das sacolas
plásticas), que não pelo tradicional sistema de
queima”, revelou recentemente o diretor de
Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Jorge
Soto. Já a Plastivida assinou em setembro um
acordo com a Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza e Resíduos Especiais (Abrelpe) para
promover a reciclagem energética dos resíduos
sólidos no Brasil. Ao mesmo tempo, intensificou
as conversações com parlamentares para incluir
o tema na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O Brasil ainda analisa a viabilidade da construção
da primeira usina de reciclagem em larga escala,
mas países como Japão e Alemanha já têm parte
significativa do lixo destinado à geração
energética. Segundo levantamento da Plastivida,
há mais de 850 usinas de reciclagem energética
ao redor do mundo. Por aqui, a única unidade -
ainda em escala piloto - a apresentar números
significativos é a Usinaverde, um projeto
instalado no campus da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).
(Iata) anunciou em outubro que prevê o uso de
6% a 7% de biocombustíveis na frota mundial
de aviões até o ano de 2020, com o objetivo do
setor atingir as metas de redução das emissões
de CO2. A Iata representa 230 companhias
aéreas e 93% do tráfego aéreo no mundo e prevê
uma melhora da utilização do combustível nos
aviões de 1,5% ao ano até 2020, além de uma
redução da metade das emissões até 2050, em
relação a 2005, e uma estabilização das emissões
a partir de 2020. Atualmente a Iata trabalha no
desenvolvimento de biocombustíveis de segunda
geração, elaborados com algas que podem ser
misturadas ao querosene comum. A idéia é obter
a certificação destes biocombustíveis em 2010.
Segundo a agência, o setor aéreo emite
aproximadamente 620 milhões de toneladas de
CO2 ao ano e conseguiu reduzi-las em 70
milhões de toneladas ano passado graças à
melhorias no controle do tráfego aéreo e no
encurtamento de alguns itinerários.
Drástica redução de desmatamento
na Amazônia
compromisso de reduzir em 80% o
desmatamento da Amazônia até o ano de 2020,
evitando a emissão de 4,8 bilhões de toneladas
de CO2. A meta audaciosa foi anunciada em
outubro pelo próprio presidente Lula e foi
ratificada na COP-15, em Copenhague, em
dezembro. De acordo com estimativas
governamentais, cerca de 60% das emissões
brasileiras de gases-estufa são provenientes das
queimadas.O número divulgado por Lula
respalda a proposta do Ministério do Meio
Ambiente para a reunião da ONU, segundo a
qual o Brasil estabilizaria suas emissões de 2020
em valores de 1994 com a redução do
desmatamento também em outros biomas, a
ampliação do uso de biocombustível e um maior
investimento em hidrelétricas. O governo
brasileiro também ressalta a importância da
contrapartida dos países ricos, que devem assumir
compromissos não apenas para diminuir as
emissões, mas também de “pagar” pelo estrago
que já fizeram.
Consumo consciente em escolas
Projetos de consumo consciente de energia
elétrica e água desenvolvidos em escolas públicas
do estado de São Paulo já estão apresentando
resultados bastante significativos. Segundo
dados da Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo – Sabesp, a redução do
consumo médio de água já chegou a 37%,
considerando o trabalho desenvolvido com o
Programa de Uso Racional da Água (Pura) em
quase 700 escolas públicas. A água economizada
pelas escolas é suficiente para abastecer cerca de
16 mil pessoas. E a partir de 2010, o Programa
de Eficiência Energética, da Secretaria da
Educação, em parceria com a AES Eletropaulo,
pretende gerar uma economia de até R$ 1,7
milhão. Para a redução de consumo de energia
elétrica estão sendo trocadas lâmpadas e reatores
por aparelhos mais modernos e econômicos. A
medida deve gerar uma economia de
aproximadamente 5.850 MWh/ano, o
equivalente ao abastecimento de 6.790
residências durante um ano.
Medição de poluição sonora marinha
Pesquisadores da Universidade do Algarve, de
Portugal, criaram uma espécie de gravador digital
para medir a poluição sonora submarina. O
objetivo é proteger baleias, golfinhos e peixes
medindo a poluição sonora no mar e evitando
problemas como ruptura de ligações sociais,
perda de sensibilidade auditiva temporária e
permanente e maior cansaço dos animais por
gastarem mais energia para se comunicarem e
localizarem alimentos. O protótipo do aparelho
começará a ser introduzido no mercado em 2010.
Os ruídos subaquáticos provocados por
explosões durante obras marítimas e barulhos
das explorações petrolíferas e a poluição sonora
provocada por cargueiros e petroleiros nos
portos marítimos e nas suas rotas perturbam os
animais marinhos e podem, nos casos mais
severos, causar a morte de forma indireta. Para
os golfinhos e baleias, por exemplo, que se
comunicam por meio do som com diversos fins,
é fundamental que nada quebre essa dimensão
comunicacional. O protótipo português está em
sintonia com resoluções da União Européia, que
aprovou uma diretiva em 2008 com objetivo cujo
objetivo é atingir metas de qualidade ambiental
do ruído debaixo de água até 2020.
Selo único para orgânicos
à sociedade, o Ministério da Agricultura instituiu
o selo único para produtos orgânicos no Brasil
em novembro. O selo só pode ser usado nos
orgânicos produzidos em unidades credenciadas
pelo ministério e visa padronizar os critérios de
certificação dos produtos advindos de sistemas
naturais e sem agrotóxicos, facilitando também
a escolha e segurança da origem do produto por
parte do consumidor. A partir de agora a exceção
da obrigatoriedade de certificação dos orgânicos
vale para os produtos da agricultura familiar, que
podem ser vendidos diretamente aos
consumidores, desde que os agricultores estejam
vinculados a uma organização de controle social
(OCS). De acordo com o Ministério da
Agricultura, o selo só será conferido após
rigorosos exames de controle de qualidade de
solo, da água e reciclagem de matéria orgânica.
* Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 89 - janeiro/fevereiro 2010. Veja o informativo completo aqui.