quinta-feira, maio 13, 2010

EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA

Fonte: WSPA


Respeito a todas as formas de vida

por Jaqueline B. Ramos*

“A forma como tratamos os animais nos afeta como humanos - a qualidade de vida animal afeta a qualidade de vida humana”. Esta frase foi apresentada numa publicação da ONG inglesa Sociedade Mundial para Proteção Animal (WSPA) no ano 2000 e pode ser considerada como um dos preceitos de uma nova metodologia de educação transformadora chamada de Educação Humanitária (EH).

Em linhas gerais, a Educação Humanitária é aquela que faz professores, alunos e pais refletirem sobre a coexistência de todas as formas de vida no planeta. É um conceito que engloba todas as formas de educação para justiça social, cidadania, questões ambientais e o bem-estar dos animais. A educação humanitária reconhece a interdependência de todos os seres vivos e é baseada em valores de respeito a todas as formas de vida, apreciação da diversidade e tolerância das diferenças.

Assim como a Educação Ambiental, a EH se constitui em um instrumento fundamental para fazer frente aos problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento econômico que impõe padrões de produção e consumo insustentáveis. Estes padrões acabam refletindo negativamente na relação humanos e não-humanos, a exemplo da violência por que passa a sociedade contemporânea, impressa tanto simbolicamente como na violência física propriamente dita.

Nesse contexto, a EH se propõe a oferecer instrumentos de construção e crítica da realidade nas comunidades escolares. A meta é que a metodologia desperte na comunidade o enfrentamento das contradições, dos desequilíbrios socioambientais, e conseqüentemente, a mudança na forma de tratamento dispensado aos animais - que, em grande medida, são considerados como meros objetos passíveis de subjugação para o atendimento de interesses diversos da atividade humana – e aos seus próprios semelhantes.

Bem-estar animal contra a violência: A percepção da senciência dos animais, de que os mesmos têm sentimentos e necessidades, e de que as ações promovidas pelos humanos geram impactos sobre o ambiente e demais formas de vida, configura a trilha para solucionar vários dos dilemas morais e abrir espaço para o respeito à diversidade e ao direito à vida de todos os seres vivos.

Diante disso vale ressaltar que umas das bases da EH é o “link da violência”, já divulgado largamente por vários estudos de psicologia. As pesquisas demonstram claramente uma correlação entre a crueldade contra animais na infância e a posterior prática da criminalidade. Em alguns casos há registros que tais atos foram inclusive precursores do abuso contra crianças.

Considera-se que valores como compaixão, respeito, tolerância, solidariedade e empatia em relação a outros seres são fundamentais para a formação de cidadãos gentis, atenciosos, cuidadosos e amorosos, contribuindo, assim, para quebrar o ciclo da violência e para dar lugar a uma sociedade mais justa e harmoniosa. Assim, pode-se afirmar que o abuso contra os animais não é um fato isolado. Ele está relacionado a um universo complexo de relações familiares perturbadas e usar esta ligação para uma educação transformadora é uma estratégia eficiente.

O livro “Abuse, Domestic Violence and Animal Abuse: Linking the Circles of Compassion for Prevention and Intervention (Abuso, Violência Doméstica e Abuso de Animais: fazendo o link dos ciclos de compaixão para prevenção e intervenção)”, de Frank R. Ascione e Phil Arkow, enfatiza que os programas de prevenção da violência são aprimorados quando se inclui práticas de proteção animal e se reconhece que os maustratos contra animais são uma questão de bemestar humano.

A experiência em Brasília: A EH tem uma experiência precursora no Distrito Federal, com o Programa “Escola é o Bicho – Educação Humanitária em Bem-Estar Animal”. Resultado de uma parceria da ONG WSPA com o projeto governamental “Escola de Natureza”, o programa é desenvolvido desde outubro de 2007 com o objetivo que docentes do DF incorporem a dimensão do bem-estar animal no contexto escolar – além de contribuir com o programa do Governo do Distrito Federal de redução da violência nas escolas.

O Programa “Escola é o Bicho” foi concebido a partir de dois eixos – a formação de educadores humanitários (curso de 90 horas certificado pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação – EAPE) e a criação dos Grupos de Bem-Estar Animal (GBEAs) nas escolas e comunidades dos participantes do curso. Tanto o conteúdo desenvolvido no curso quanto o conjunto de atividades propostas para os GBEAs buscam informar e sensibilizar as pessoas para a percepção e envolvimento em ações proativas que promovam o protagonismo infanto-juvenil e o exercício dos princípios e valores da educação humanitária.

Com o auxílio de recursos da educomunicação e da arte-educação, o “Escola é o Bicho” contribui para promover o diálogo entre os saberes e provocar a cidadania viva e crítica em relação à responsabilidade de cada um e de toda a comunidade escolar pela vida em todas as suas manifestações. Entre os destaques do programa está a organização de eventos educativos e culturais no Dia Mundial dos Animais (4 de outubro), o desenvolvimento da campanha “Circo legal não tem animal” e exposições diversas com a participação dos alunos e seus trabalhos versando sempre sobre o tema “Para mim os animais importam”.

Os GBEAS já criados também vêm se destacando dentro do programa. De acordo com a professora Rosemeyre Gontijo, do GBEA Lobo Guará (Escola CEF 02 do Guará), o “Escola é o Bicho” tem se mostrado como importante ferramenta para o enfrentamento de problemas
relativos ao comportamento dos alunos. “Estamos tendo êxito no processo de sensibilização, por meio dos temas relativos ao respeito aos animais. É um assunto que os alunos gostam, ficam motivados e assim percebemos a interação deles no processo. Desta forma, vemos surgir mais respeito para com os colegas, a família e a comunidade desde que começamos este trabalho. Mas é um trabalho que tem que ser construído dia-a-dia”.

Outro GBEA cujos resultados positivos com a criançada já são facilmente visíveis é o Esperança, formado por alunos do 2º e 5º anos do Ensino Fundamental da Escola Classe 206 Sul. No dia 17 de setembro, por exemplo, o GBEA organizou o “Dia de Soltar os Bichos” na escola, no qual os alunos fizeram diversas apresentações artísticas. Depois de ler um trecho da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o aluno Lucas Miguel disse “Ninguém vê a beleza essencial de um animal enjaulado e sim a sombra de sua beleza perdida”. Já a aluna Laura disse: “Pense bem! Se fizéssemos um minuto de silêncio veríamos o quanto os animais presos em jaulas sentem desespero e gritam por liberdade!”

Principais aprendizados da educação em bem-estar animal

 Saber que os animais têm necessidades, que humanos interagem com outros animais e que nós compartilhamos o mesmo ambiente com outros seres vivos.
 Entender como ações humanas podem afetar os animais e outros seres vivos e que, por causa disso, nós temos o dever de lhes prestar cuidados. Entender que freqüentemente nos deparamos com dilemas morais e que as pessoas têm opiniões diferentes.
 Adquirir habilidades para comunicação eficaz (para que possamos explicar melhor
nossas ideias e responsabilidades), demonstrando os níveis apropriados de cuidados e empatia.
 Desenvolver e mostrar atitudes de amabilidade, respeito, responsabilidade.

Valores da Educação Humanitária

 Desenvolve a sensibilidade para com todas as formas de vida, apreciação da diversidade e tolerância das diferenças.
 Estimula as crianças a terem mais compaixão e a aprenderem a viver com mais respeito por todos (o que se enquadra em qualquer política anti-intimidações e aborda o ciclo de violência inter-pessoal e abuso animal).
 Promove oportunidades para as crianças desenvolverem um sentimento de admiração, responsabilidade e dever de cuidar do mundo natural e seu meio ambiente. A educação humanitária torna claro que nós compartilhamos o mundo com outros animais que têm necessidades e sentimentos.
 Contribui para o desenvolvimento de atitudes e pensamento crítico das crianças
(o que aumenta sua auto-estima).

*Publicado no Informativo do Insituto Ecológico Aqualung n. 89 - janeiro/fevereiro 2010. Veja o informativo completo aqui.

6 comentários:

Reciclando as Ideias disse...

Ótima postagem!

Tbotafogo disse...

Olá pessoal,
É muito bom ver empresas com este tipo de preocupação ambiental e projetos tão legais quanto esse.
Dêem uma olhada. http://www.orgulhosama.com.br/?p=508
Abraços,
Thiago

Cristiano Bodart disse...

Dê uma olhada no livro "Desenvolvimento Sustentável: O desafio do século XXI".
Acho que é de grande contribuição para seu blog.

em meu blog há um resumo feito por mim.

http://cafecomsociologia.blogspot.com/2009/08/resenha-desenvolvimento-sustentavel-o.html

Diêgo Lôbo disse...

Olá, Jaqueline, tudo bem?
Gostaria de propor uma parceira entre nossos blogs.
Meu banner está aqui: http://essetalmeioambiente.com/?page_id=531

Me confirme que também adiciono o seu lá.
Parabéns pelo trabalho.
Para receber nossas atualizações diretamente no seu e-mail, assine: http://feedburner.google.com/fb/a/mailverify?uri=EEsseTalMeioAmbiente&loc=pt_BR

Um abraço.

Fúlvia e Suzie disse...

Olá Jaqueline, sou a Fúlvia, do blog Materna Vegetarianas. Mandei um e-mail para você no seu e-mail do globo.com.

Abraços

dethprofessora disse...
Este comentário foi removido pelo autor.