quinta-feira, maio 13, 2010

A força do cyberativismo ambiental


Por Jaqueline B. Ramos*

Cada vez mais, ativistas do mundo inteiro recorrem às diferentes ferramentas da internet para trocar informações, denunciar agressões ao meio ambiente e
organizar protestos.


Ativismo sempre foi uma palavra de ordem de muita força na defesa do meio ambiente. E, nos últimos anos, com o avanço exponencial da internet, o ativismo através da rede – ou cyberativismo – se desenvolveu em proporções inimagináveis, envolvendo
um crescente número de pessoas de uma forma cada vez mais intensa e comprometida. Bom para o meio ambiente, que tem ao seu lado mais um forte aliado.

Cyberativismo consiste num modelo de atuação que utiliza as novas tecnologias de informação e comunicação – ou, no jargão internético, TICs – como palco de suas ações e parâmetro estrutural de sua organização. “A importância da internet hoje para as nossas campanhas é indiscutível, tanto no sentido de informar as pessoas como no de sensibilizar e facilitar a participação. E isso acaba se transformando numa forte ferramenta de pressão política, pois fica evidente para o governo que o público vê o que está acontecendo, entende o quanto aquilo pode impactar suas
vidas e exige ações de mudança”, afirma Mariana Schwarv, publicitária da área de marketing online do Greenpeace Brasil. “A verdade é que a internet dá voz a todo mundo.”

O Greenpeace é um dos principais exemplos de organização que “usa e abusa” da internet tanto para seustrabalhos de informação e conscientização como de levantamento de recursos. E no Greenpeace Brasil não é diferente. A estratégia é usar os diferentes recursos oferecidos hoje pela rede para atingir um número cada vez maior de pessoas com uma linguagem clara e objetiva. Em termos práticos, isso significa que o Greenpeace está em todas as modernas redes sociais – Orkut, Facebook e Twitter, por exemplo – e utiliza recursos como vídeos, animações e flash
para tornar as mensagens digitais cada vez mais acessíveis.

Os números confirmam o sucesso do cyberativismo da ONG. O cadastro base de cyberativistas do Greenpeace Brasil é composto atualmente por nada mais nada menos que 260 mil nomes. E o Twitter da organização tem mais de 32 mil seguidores, sendo o maior e o que faz mais sucesso entre todos os escritórios do Greenpeace no mundo – incluindo o internacional, que tem “apenas” 14 mil seguidores.

“Usamos o Twitter há pouco mais de seis meses e felizmente tem sido um grande sucesso. Procuramos twittar notícias e também informações de serviço para os internautas, bem como ações ao vivo, o que desperta um grande interesse. Em termos de volume de pessoas envolvidas, também destacamos o Orkut, que reúne comunidades ligadas diretamente às nossas campanhas e também comunidades simpatizantes”, diz Mariana. Ela destaca a recente campanha online sobre a MP-458 (de regularização fundiária da Amazônia), na qual divulgaram os telefones do gabinete do presidente Lula e cujo resultado foi que os internautas lotaram a caixa postal presidencial com mensagens contrárias à aprovação da lei.

O jornalista e escritor Vilmar Berna, um dos precursores no movimento de divulgação de informações no movimento ambiental brasileiro, é um dos entusiastas da internet e do cyberativismo. Editor do Portal do Meio Ambiente e fundador da Rede Brasileira de Informação Ambiental(Rebia), ele lembra que a internet é um território livre, não controlado por político algum. “Todos sabem o poder que o povo tem e não há um político que não tema esse poder popular. Nesse contexto, a internet assume um papel muito importante”, garante.

Inclusão digital e atuação in loco

Em meio ao avanço exponencial do cyberativismo, com todos os modernos recursos
oferecidos pela rede, uma questão merece ser ressaltada: o acesso, propriamente dito, à internet. Apesar de ser um veículo democrático e livre, a web ainda é um privilégio que não alcança nem 20% da sociedade brasileira. E isso é um ponto que merece ser considerado.

“Acho que todos os recursos cumprem seu papel na rede virtual. São ferramentas de comunicação livres e interativas, de mão dupla, em que a gente é influenciado e também influencia. O desafio é promover a inclusão digital de mais e mais brasileiros e lutar pela democratização da informação socioambiental, pois, sem
acesso adequado à informação, dificilmente a sociedade conseguirá avançar a tempo rumo a um modelo diferente de desenvolvimento deste que está conduzindo a humanidade ao colapso", afirma Vilmar.

Outro desafio para o cyberativismo é a sua utilização de forma inteligente. Em outras palavras, é saber usar a internet e as TICs como plataformas e objetos de organização, para dar visibilidade à causa e recrutar novos ativistas, mas nunca substituir a atuação in loco. A opinião é do jornalista Pedro Penido, especialista em comunicação online e em produção para mídias digitais.

“Apesar de inicialmente o cyberativismo ser muito sedutor e apresentar possibilidades
muito interessantes, a médio e longo prazos há o risco dessas opções removerem do ativismo sua essência e torná-lo apenas um ensaio, enquadrado de acordo com as limitações midiáticas da web. Acredito que a internet e o ciberespaço possam ser utilizados de maneira inteligente como plataformas de lançamento de campanhas, como repositórios de informações qualificadas, dados e estatísticas, como opção de organização de grupos e troca rápida e segura de informações. Mas o cyberativismo nunca pode tomar o lugar da atuação in loco”, conclui Penido.

Os recursos Web 2.0 para o cyberativismo

Twitter
A característica principal do Twitter é a
de seu imediatismo, da velocidade das
informações e da possibilidade de “seguir”
(ouvir) apenas quem interessa a você. Da mesma
maneira, você só será “seguido” (ouvido) por pessoas
que se interessam pelo seu campo de atuação. É uma boa opção
por oferecer opções de aprofundamento das informações para
públicos já filtrados/segmentados. O Twitter pode ser utilizado
para compartilhar informações mais específicas e detalhadas.
Além disso, é um fator mobilizador, uma vez que permite alcance
e penetração de maneira rápida e precisa.

Redes Sociais (Ning)
O Ning é uma estrutura nova na internet. Seu principal objetivo
não é o de reunir pessoas apenas, mas o de reunir pessoas que
queiram reunir pessoas. O Ning permite que você crie sua própria
rede social, organizando-a de acordo com suas necessidades
e oferecendo múltiplas ferramentas e recursos para que sua
experiência seja interessante e atraente, de modo que pessoas
possam se inscrever na rede recém-criada e nela compartilharem
informações. Pode servir como repositório de dados, fotos, vídeos,
agenda e informações que podem ser difundidas no Twitter,
por exemplo.

Facebook e Orkut
Facebook e Orkut são redes de relacionamento gigantescas, com
milhões de usuários. A entrada de um movimento de ativismo
nessas redes pode funcionar como chamariz para a causa.
As palavras que regem a participação de um movimento ativista
nessas redes são visibilidade e recrutamento. No entanto, não se
pode esperar que tenham a mesma profundidade que outros recursos
destinados exclusivamente ao movimento ou à causa.

Blogs
Blogs servem às mais variadas causas, projetos e interesses. É
uma ferramenta para dizer as coisas na internet, de acordo com
uma rotina de publicação e política editorial mais livre de amarras
institucionais. Blogs são mais limitados em termos interacionais,
porém mais avançados em termos “jornalísticos” (mediadores
de informação). E isso, quando bem utilizado e pensado, pode
servir como salvaguarda de múltiplas necessidades ao longo de
um processo mobilizador.

Listas de discussão
Mesmo tendo perdido parte de sua força para a popularização
das redes sociais atuais, as listas de discussão sempre podem
servir como mantenedoras da organização informacional e
estrutural de um movimento. Nelas sabe-se da participação
de cada um. Nelas acontecem demonstrações de opinião que
permitem desdobramentos mais intensos e menos “imediatistas”.
Conservando todas as características do uso dos e-mails,
as listas de discussão podem ser uma viga mestra dentro de
um movimento, ou, no mínimo, a responsável por permitir uma
visualização da participação das pessoas.


Fonte: Pedro Penido (Meio Digital)

* Publicado na revista Senac Educação Ambiental - julho/dezembro 2009. Leia a edição completa aqui.

Um comentário:

saco valvulado disse...

Bem legal seu blog, parabéns!