sexta-feira, julho 13, 2007

Curtas

Por Jaqueline B. Ramos *

Japão em baixa

Duas notícias, uma boa e uma ruim, colocam o país do sol nascente em baixa. A boa é que a última reunião da Comissão Internacional Baleeira (CIB), realizada no mês de maio, manteve a proibição da caça comercial de baleias. Isso significa que o enfrentamento feito em 2006 com uma resolução simbólica liderada por países pró-caça, entre os principais representantes o Japão, não vingou no seu objetivo de “proibir a proibição”. A caça dos cetáceos é proibida há 21 anos e agora em 2007 ganhou mais um reforço frente às pressões: a afirmação de que não haverá mudanças nas restrições ao comércio de derivados de baleias regulamentado pela CITES - Convenção Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas.

A notícia ruim diz respeito aos elefantes. Enquanto a CITES “não bate o martelo” na proposta de proibição definitiva do comércio de marfim, o Japão continua sendo uma praça interessante para os comerciantes africanos por sua falta de controle e regulamentação interna, representando assim uma ameaça direta para a população de elefantes da África. A afirmação vem do próprio país, mais precisamente da ONG japonesa JWCS (Sociedade para a Proteção da Vida Silvestre). Pelos termos de um acordo do ano de 2000, o Japão pode receber, a título extraordinário, 60 toneladas de marfim como único importador legalmente autorizado pela CITES. Entretanto, a ONG aponta muitos casos de contrabando para o país, caracterizando um crescente comércio ilegal que deve ser combatido com novas e rígidas regras.

Macacos em perigo

Nossos parentes mais próximos no mundo animal, os primatas, correm sério risco de extinção. A afirmação é de Richard Leakey, um dos mais conhecidos ambientalistas do mundo e atual presidente da organização Wildlife Direct. Segundo Leakey, gorilas, chimpanzés e outros símios estão expostos aos efeitos combinados da caça, das doenças e do desmatamento e ainda a mais um perigo: o uso crescente de biocombustíveis, que aumentou a pressão para o desmatamento das florestas tropicais, principal habitat destes animais. Ironicamente, o consumo cada vez maior dos combustíveis considerados alternativos pode acelerar o desaparecimento de toda uma geração de 50 mil macacos que habita o planeta.

Leakey fez um apelo aos políticos e citou alguns exemplos, entre eles o do Sudeste Asiático, onde cerca de 80% do habitat dos orangotangos foram arrasados nos últimos 20 anos pela demanda crescente de terrenos para produção de óleo de palma. “É necessário que o novo tratado internacional para regular as emissões de CO2 se concentre mais nos incentivos para conservar as florestas tropicais do Sudeste Asiático, da África, da América Central e da América do Sul”, alertou.

Contra o aquecimento 1: na cozinha

A luta contra o aquecimento global chegou na cozinha. Na Califórnia (EUA), a chef Laura Stec e o professor de meteorologia da Universidade de San José Eugene Cordero criaram a Global Warming Diet (Dieta do Aquecimento Global). A nova dieta vai além da proposta de redução de peso com o corte de gorduras e açúcares. Ela propõe a redução da emissão de gases de efeito estufa ao estimular o consumo de alimentos típicos de cada região e obtidos através de agricultura orgânica. O livro com as receitas será lançado em 2008.

A idéia da dieta nasceu do fato da produção de alimentos utilizar uma grande quantidade de energia. De acordo com um estudo de 2006 da Universidade de Chigaco, este processo representaria 17% do total de consumo de energia de combustíveis fósseis nos Estados Unidos. Outra questão ressaltada é a redução do consumo de carne. Segundo um relatório recente das Nações Unidas, a pecuária é responsável por 18% das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Segundo os idealizadores da dieta, uma alimentação mais consciente tem capacidade de reverter estes índices. Não custa nada tentar...

Contra o aquecimento 2: no mercado de carbono

No mesmo momento em que a ONU divulga a notícia que as emissões de gases de efeito estufa pelos principais países industrializados aceleraram desde 2000, o maior poluidor mundial continua resistente à política de redução de emissões decorrentes de combustíveis fósseis. Os Estados Unidos continua sendo o único país do grupo G8 que não apóia o Protocolo de Kyoto e para piorar, recentemente rejeitou uma proposta européia para deter as mudanças climáticas no mundo com limites de emissões de carbono ao estilo do protocolo.

Na via oposta, a Rússia, terceiro país que mais polui, surpreendeu ao dar o primeiro sinal verde para as negociações no mercado global de carbono. O país é o maior fornecedor de gás e petróleo da União Européia e dentro do mercado de carbono pode ser uma fonte barata de créditos para países desenvolvidos que precisam cumprir metas de redução das emissões de dióxido de carbono. O Fundo de Carbono da Rússia, desenvolvedor de projetos, avalia o mercado em 350 milhões de toneladas, mas ressalta que o país ainda precisa avançar na definição de diretrizes e no desenvolvimento de operações.

Mais proteção para a Mata Atlântica

Depois de muita argumentação e demonstração em fatos e dados, o Ministério do Meio Ambiente finalmente começou a planejar o aumento de áreas protegidas no bioma brasileiro mais ameaçado. Pretende-se acrescentar aos trechos da floresta sob proteção federal uma área equivalente a quase duas vezes o Distrito Federal. A Mata Atlântica tem 1,2 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 31 mil são de floresta preservada. O objetivo é aumentar esse número em 31% nos próximos anos com a criação de novas unidades de conservação ou com a ampliação das já existentes. “Temos uma lacuna muito grande de áreas protegidas no bioma. Apenas 3% são compostos por unidades de proteção integral, quando o ideal seria pelo menos 10%. Estamos trabalhando para atingir essa meta”, diz o coordenador do Núcleo Mata Atlântica da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Wigold Schäffer.

Ar poluído X bomba nuclear

Numa disputa entre o ar poluído das grandes cidades e a radiação emitida por uma bomba nuclear, a poluição se mostra a mais perigosa para a saúde do homem. A conclusão é de uma pesquisa da revista científica BMC Public Health divulgada em abril. O estudo concluiu que os sobreviventes do acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, e das bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki, em 1945, sofrem conseqüências parecidas ou até menos nocivas do que aquelas que vivem em áreas poluídas. O autor da pesquisa, Jim Smith, afirmou que as pessoas que optaram por viver na zona de exclusão ao redor de Chernobyl podem sofrer menos problemas de saúde do que as que decidiram se mudar para uma cidade grande próxima, como Kiev, devido aos níveis de poluição.

Ranking da paz

No ranking da paz no mundo, a Noruega, a Nova Zelândia e a Dinamarca estão no topo da lista. O levantamento foi feito pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) e foram analisados 121 países. O Brasil aparece em 83º lugar e na América Latina ocupa a 14ª posição. Os países com pior desempenho foram Iraque, Sudão e Israel. O ranking, que segundo a EIU é inédito, foi realizado tendo como base 24 indicadores, entre eles níveis de violência, crime organizado e gastos militares. Os Estados Unidos, por exemplo, ficou na 96ª posição devido a este último fator. Também foram analisados fatores sociais como democracia, transparência, educação e entendimento dos determinantes que criam ou sustentam a paz.

Disque Óleo Vegetal

Se você não sabe o que fazer para descartar corretamente o seu óleo de cozinha usado, no Rio de Janeiro já existe um serviço que te dá a solução. É o Disque Óleo Vegetal, uma cooperativa que recolhe óleo e gordura de todo tipo em residências e restaurantes. Basta juntar o material em garrafas pet de dois litros e ligar para a cooperativa, que faz o recolhimento sem cobrar nada – aliás, para quantidades acima de 300 litros é feito inclusive um pagamento. Descartando óleo usado com a ajuda da cooperativa, em vez dele ser jogado no ralo da pia e acabar poluindo rios, o resíduo é reutilizado na fabricação de sabão e outros produtos de limpeza. O Disque Óleo Vegetal atende pelos números (21) 2260 3326, 7827 9446 e 7827 9449.

Turismo sustentável no velho Chico

Em meio às discussões de transposição, a bacia hidrográfica do Rio São Francisco ganhou um plano de ações estratégicas para o desenvolvimento de um turismo de forma sustentável na sua área. O plano foi elaborado durante quatro anos pela Secretaria de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, com participação de 750 pessoas. Um levantamento prévio identificou 223 municípios ao redor do São Francisco com potencial para o turismo. Entre os atrativos estão o próprio rio, as usinas hidrelétricas, as represas, a agricultura irrigada para o cultivo de frutas, arqueologia e a própria cultura sertaneja. A estratégia de turismo sustentável na área do velho Chico prevê 385 ações, mais de 30% delas voltadas para a infra-estrutura, com investimentos de cerca de R$ 13 milhões. A maior parte dos municípios selecionados pelo plano tem carências na área de saneamento básico e de início há a previsão de implantação de sistemas de tratamento de esgoto nas cidades às margens do rio.

Falta de tubarões

A revista científica Science publicou um estudo que confirma o que muitos biólogos marinhos já vinham avisando. A cadeia alimentar dos oceanos está em colapso por conta da queda da população de grandes tubarões. Na costa atlântica dos Estados Unidos, por exemplo, houve impacto na quantidade de mariscos e na qualidade da água. A eliminação das espécies maiores, como o tubarão-tigre e o de pontas negras – causada principalmente pelo mercado ilegal de suas barbatanas -, provocou um aumento desenfreado da população de tubarões menores e arraias, que tinham a função de alimento. Os tubarões são “os reis dos animais” no oceano, os predadores superiores e por isso desempenham um papel importante na estabilização de ecossistemas. Sua eliminação produz o que se conhece como “cascata trófica” ou alimentar, causando um severo desequilíbrio no habitat.

Navegação com luz solar

A primeira viagem transatlântica alimentada exclusivamente pelo sol foi concluída em Nova York no mês de abril. O barco apelidado de “sun 21”, construído na Suíça, começou sua viagem seis meses antes em Chipiona, na Espanha. Depois de percorrer 13 mil quilômetros passando pelo Caribe e por toda a costa americana, chegou em Nova York com um saldo de 2.000 kW-h de energia solar gerados ao longo do percurso. A viagem alternativa foi possível graças a uma cobertura de painéis fotovoltaicos montada sobre a estrutura de dois cascos. A energia solar foi usada para alimentar os motores elétricos da embarcação e o excedente era armazenado em baterias, permitindo uma velocidade constante de 56 nós (de 10 a 12 km/h) durante dia e noite.

Água da Coca-Cola

Num programa junto com a WWF, a Coca-Cola se comprometeu de restituir à natureza toda a quantidade de água que utiliza. "Nossa meta é devolver cada gota de água empregada em nossas bebidas e em sua produção. Isto significa reduzir a quantidade de água que utilizamos, reciclar a água usada na fabricação e devolver a água às comunidades e à natureza", disse em Pequim o presidente do multinacional, Neville Isdell. O programa da Coca-Cola com a WWF tem um custo previsto de US$ 20 milhões e visa também adotar medidas para reduzir emissões de CO2 durante a fabricação das bebidas. Cerca de 40% da água utilizada pela companhia (290 bilhões de litros em 2006) são para as bebidas e o restante é usado nos processos produtivos, como limpeza, calefação e esfriamento.

Chimp-free

Os Estados Unidos marcou mais um ponto a favor da ciência na relação ética com os animais. Em maio, o Instituto Nacional de Saúde (NIH) do país anunciou que vai parar de criar chimpanzés para utilização em pesquisas médicas governamentais. A conquista foi amplamente divulgada e comemorada pela organização de defesa dos direitos dos animais The Humane Society. Em comunicado oficial à imprensa, o NIH declarou que a despesa de US$ 500 mil anuais gasta com o cuidado dos animais em cativeiro, que têm expectativa de vida de cerca de 50 anos, pode ser usado para o desenvolvimento de novos programas. "A decisão constitui um enorme passo rumo a um futuro em que não se utilizarão mais os chimpanzés para pesquisas e testes", disse Kathleen Conlee, diretora do programa de animais utilizados para pesquisa da Humane Society, especulando que a decisão pode ter sido adotada também por motivos éticos.

Fontes: BBC Brasil, Ambiente Brasil, Terramérica, Agência Fapesp, ENN (Environmental News Network)

*Notas publicadas na edição n.73 da revista do Instituto Ecológico Aqualung (maio-junho 2007)

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