quinta-feira, dezembro 20, 2007

Curtas

Por Jaqueline B. Ramos*

Animal silvestre não é pet!

Todo mundo sabe que animal silvestre não é bicho de estimação, que nasceu para viver na natureza, no seu habitat, e não dentro da casa de pessoas como artigo de colecionadores, peça de decoração ou brinquedo exótico para crianças. Até então a captura de animais com este fim era considerada ilegal, pelos motivos mais óbvios. Mas motivos não tão óbvios fizeram com que o Conselho Nacional do Meio Ambiente aprovasse em setembro uma resolução que estabelece critérios para a determinação de espécies silvestres a serem criadas e comercializadas como animais de estimação.

A resolução define os critérios a serem adotados pelo Ibama para a produção da lista de espécies de animais que poderão ser criadas em domicílio, que levará seis meses para ser feita. Independente das espécies que serão listadas, o grande problema é o Governo abrir precedentes para a possibilidade da domesticação de animais selvagens, indo na contra-mão de todo o trabalho educativo e de conscientização que vem sendo feito por ONGs e instituições ambientalistas e de defesa dos animais em todo o Brasil.

Um dos argumentos para a aprovação desta resolução é “regulamentar a criação comercial de animais silvestres”, que já é permitida no país mas não tem uma fiscalização muito rigorosa. Ou seja, o problema já existe e oficializar a domesticação dos animais o agrava ainda mais. Além do mais, em nenhum momento se pensa na questão sob a perspectiva dos animais ou ambiental. E o sofrimento pelo qual os animais silvestres “domesticados” passam fora de seu ambiente natural? E os impactos negativos de sua captura em larga escala nos seus ecossistemas de origem? Tudo isso em troca de um luxo do homem...

Feita a lista, o Ibama a submeterá à consulta pública e este é o momento de representantes de organizações públicas, privadas e da sociedade civil organizada tentarem derrubar a proposta. Afina de contas, animal silvestre não é pet!

Recém-descobertas e já correndo perigo

A cada dia que passa fica mais clara a necessidade dos cuidados progressivos que a humanidade deve ter para preservar a biodiversidade do planeta. Tanto da que já conhecemos como das novas espécies que são catalogadas todos os anos – o que só vem a reforçar a rica diversidade biológica que temos o privilégio de desfrutar e o dever de proteger.

Um recente trabalho desenvolvido na Amazônia não só descobriu novas espécies como já identificou os perigos que as recém-conhecidas já estão prestes a enfrentar. Cientistas do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) descobriram quatro espécies de aves, dois macacos, um esquilo, dezenas de tipos de aranha e diversas plantas, entre elas duas palmeiras, que o homem ainda não havia catalogado. As novas espécies foram identificadas no trecho de terra existente entre os rios Purus e Madeira, nos estados do Amazonas e Rondônia, onde não há registro de presença humana nos últimos 100 anos.

De acordo com o Inpa, estas descobertas podem indicar que a área pesquisada seria uma das mais ricas em diversidade de fauna e flora da Amazônia. Mas mesmo antes de ser conhecida mais a fundo, esta área já estaria ameaçada por conta de dois grandes empreendimentos previstos para a região: as construções da BR 319 e do gasoduto que ligará Urucu (AM) a Porto Velho (RO). Sem contar os impactos das hidrelétricas no Rio Madeira.

Se já não bastasse destruir o que já é conhecido, riquezas recém-descobertas da Amazônia correm o risco de simplesmente desaparecer ainda antes entrarem nos livros de biologia...

Guerra a favor dos orangotangos

Poderia ser de uma forma bem menos catastrófica, mas a população de orangotangos da Indonésia só não se extinguiu devido à guerra civil que se instalou na província de Aceh, na ilha de Sumatra. A afirmação é de Ian Singleton, diretor científico do Programa de Conservação de Orangotangos da Sumatra. Segundo ele, a guerra teria evitado a entrada e instalação de madeireiras e empresas de extração de óleo vegetal em uma das mais ricas florestas tropicais do mundo.

“Se a guerra não tivesse acontecido e as empresas tivessem entrado e explorado a floresta, nós só teríamos alguns poucos orangotangos sobreviventes”, afirmou o diretor do programa. “Mas se o que foi conservado da floresta for destruído a partir de agora, os orangotangos voltarão a ficar em perigo, pois muitos irão morrer por conta da destruição de seu habitat”, alertou. Hoje existem cerca de 7.300 orangotangos na floresta da Sumatra. O número tem ficado estável nos últimos anos, mas mesmo assim representa a metade de indivíduos que habitavam a floresta no início dos anos 90 (cerca de 15 mil).

Espera-se somente que as autoridades competentes entendam que guerra não é recurso de conservação...

Renováveis, porém...

A atual campanha do Governo Lula de promoção dos biocombustíveis, em especial do etanol, usa como principal bandeira o fato deles serem renováveis e proporcionarem uma combustão mais limpa. No entanto, ambientalistas e pesquisadores tanto no Brasil como no exterior alertam sobre a necessidade de analisar os impactos negativos que podem ser gerados no processo de produção em massa desses combustíveis limpos.

Um desses alertas foi dado na World Water Week, em agosto, conferência mundial sobre água da ONU. Ressaltou-se que a produção de biocombustíveis pode exercer uma "nova e dramática" pressão sobre a ameaça global de escassez de água, caso práticas e estratégias inovadoras para o uso sustentável dos recursos hídricos não sejam implementadas em âmbito internacional. Em outras palavras, os especialistas presentes lembraram a importância de enfatizar o fator água no debate sobre os biocombustíveis.

Outra posição crítica em relação aos biocombustíveis foi apresentada por uma recente reportagem do jornal International Herald Tribune, na qual se afirma que a promoção dos biocombustíveis esconde "uma realidade mais dura para os cortadores de cana no Brasil". De acordo com o jornal, “os cortadores são migrantes que deixam suas famílias em busca de trabalhos que pagam cerca de US$ 1,35 por hora”. O texto relata a história de Manuel Rodrigues da Silva, hospitalizado após ser encontrado com exaustão durante uma inspeção do Ministério Público na fazenda onde trabalhava no interior de São Paulo. Segundo a reportagem, dados oficiais mostram que 312 trabalhadores do setor morreram no trabalho entre 2002 e 2005, enquanto outros 82.995 sofreram acidentes.

Desastres naturais em números

Ainda na metade do ano, a ONU divulgou um número que merece atenção. Em agosto, durante a conferência mundial World Water Week, na Suécia, a entidade mostrou que apenas no decorrer do primeiro semestre de 2007 117 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de cerca de cerca 300 desastres naturais. O resultado dessa catástrofe em valores monetários: um prejuízo de nada mais nada menos do que US$ 15 bilhões. Os principais problemas destacados em 2007 foram as secas devastadoras que aconteceram na China e na África e inundações neste último continente e também na Ásia. Desequilíbrio ambiental também dá prejuízo.

Tanto na terra, mas nem tanto no mar

Segundo um estudo apresentado no II Congresso Latino-Americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, realizado no início de outubro na Argentina, nos últimos 10 anos quase duplicou a superfície de áreas protegidas na América Latina e aumentou muito a participação das comunidades locais em sua preservação e manejo. No período a superfície protegida teria passado de 160 milhões de hectares para mais de 300 milhões, o que é motivo de orgulho para o continente.

Porém, no mesmo evento, o Programa Marinho Global da União Mundial para a Natureza (UICN) alerta que enquanto mais de 10% do território está protegido, a proporção de mares nessa condição não chega a 1%. “Se a América Latina pretende ser líder mundial em áreas protegidas, resta uma pendência: o mar”, disse ao jornal Terramérica Imène Meliane, especialista da UICN. “A região tem os mares mais produtivos do mundo, mas vive de costas para eles.”

Pelas baleias, golfinhos e crianças

O Japão continua na mira de ambientalistas e defensores de animais de todo o mundo. E dessa vez duas campanhas têm as crianças como parceiras nos argumentos para proteção de baleias e golfinhos. O Governo australiano lançou um apelo através de um vídeo no site You Tube com imagens de baleias, legendas em japonês e pedidos, feitos por crianças australianas, de fim de caça às baleias no Japão.

Já a Sea Shepherd Society “ataca” o país em outra frente. Todos os anos, entre os meses de outubro e março, os japoneses abrem temporada de caça a golfinhos e milhares de animais morrem nas mãos de pescadores. A carne é vendida em supermercados e também é servida em merendas escolares. A Sea Shepherd alerta que já foi comprovada que a carne de golfinho possui altos doses de substâncias tóxicas que podem ser letais para os seres humanos e que servir essa carne para crianças em escolas é um crime. Saiba mais sobre a campanha Toxic Lunch em
http://www.seashepherd.org/toxiclunch/.

Vôo limpo

A gasolina de aviação é hoje considerada um dos maiores vilões do aquecimento global por conta do alto índice de emissão de gases de efeito estufa. Pensando numa forma de oferecer uma aviação mais limpa, a empresa aérea neozelandesa Air New Zealand anunciou que planeja realizar o primeiro vôo-teste de um avião comercial movido parcialmente a biocombustível entre o fim de 2008 e o início de 2009. O vôo experimental, com um Boeing 747, deverá partir da cidade de Auckland e não levará passageiros. A empresa divulgou que um dos quatro motores do avião deverá ser movido a uma mistura de querosene e biocombustível e que o objetivo da experiência é pesquisar alternativas “verdes” junto com a fabricante de motores Rolls-Royce e a fabricante de aviões Boeing.

Nova Amazônia em 7 anos

Muitos já foram os planos e estratégias apresentadas para acabar com o desmatamento na Amazônia, com resultados os mais diversos. Mas segundo um grupo de ambientalistas de nove organizações não-governamentais, é possível chegar a este objetivo em sete anos. O que tornaria isso possível é uma proposta apresentada na Câmara dos Deputados em Brasília chamada Pacto Nacional pela Valorização na Amazônia. O plano prevê metas progressivas de redução de desmatamento, a começar por 25% no primeiro e segundo anos, e ampliando anualmente as reduções em relação à área desmatada de 2005/2006, até eliminar totalmente o problema no sétimo ano.

Segundo os profissionais envolvidos na proposta, ela tem mais chance de dar certo do que outras que não saíram do papel porque inova ao implementar mecanismos de compensação econômica para quem se beneficia do desmatamento. Ou seja, a idéia é dar uma compensação para aqueles que ganham com o desmatamento, pois seria a única maneira deles aderirem à idéia da preservação. Por exemplo, oferecer ao dono de uma propriedade onde se pratica desmatamento os R$ 100 por hectare/ano que ele ganharia ao derrubar a floresta.

De acordo com as ONGs que assinam a proposta, para financiar esses mecanismos e a infra-estrutura inicial seriam necessários R$ 1 bilhão por ano, que poderiam ser pagos pelo Governo e pela iniciativa privada. Apresentada a proposta, sua aplicação depende agora apenas de vontade política. Apóiam a iniciativa as ONGs Instituto Socioambiental, Greenpeace, Instituto Centro de Vida, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, The Nature Conservancy, Conservação Internacional, Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, Imazon e WWF-Brasil.

Presídio ecologicamente correto

Prisão ou acampamento de férias? Esta é a pergunta que os responsáveis pela prisão de Bastoey, em uma ilha ao sul de Oslo, na Noruega, gostam de ouvir. Afinal de contas, a instituição, considerada uma prisão de segurança mínima, reivindica o título de primeiro presídio ecológico do mundo. E o que justificaria esse título? O fato da prisão não ter arame farpado ou portões e operar com painéis solares, calefação a lenha, reciclagem e produção de comida orgânica. Além disso, segundo a direção da prisão, seu objetivo é ensinar valores importantes, como o respeito ao ambiente e ao próximo, aos 115 detentos.

Para tal os detentos vivem em casas que não são trancadas e tomam conta de 200 galinhas, oito cavalos, 40 ovelhas e 20 vacas, cuidam dos campos, colhem frutas e pescam. E toda a produção agrícola da prisão é obtida sem produtos químicos artificiais e os animais são bem tratados. Mais do que presídio ecologicamente correto, Bastoey tinha que ganhar o título de comunidade modelo...

Fontes: BBC Brasil, Ambiente Brasil, Agência Envolverde, ENN (Environmental News Network)

* Notas publicadas no informativo n. 75 (setembro/outubro 2007) do Instituto Ecológico Aqualung

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