domingo, junho 01, 2008

Curtas
Por Jaqueline B. Ramos*
Líder em desmatamento...

Recentemente o Brasil ganhou notoriedade mundial, mas com um dado que não é motivo nenhum para orgulho. Segundo o relatório Global Monitoring Report, realizado pelo Banco Mundial (Bird) e divulgado no início do mês de abril, a maior parte do desmatamento mundial vem se dando no Brasil e na Indonésia, nesta ordem. No ranking publicado no relatório, relativo ao período de 2000 a 2005, desmatou-se um total de 31 mil quilômetros de área florestal, seguido pela Indonésia, que somou 18,7 mil quilômetros, e o Sudão, que derrubou 5,9 mil quilômetros de sua área florestal.

Brasil e Indonésia são os dois países que detêm as maiores áreas florestais do mundo. De acordo com o relatório, em ambos os casos o desmatamento progressivo tem como causa a transformação das florestas em terras agrícolas. Aqui, a derrubada de florestas se dá por uma demanda específica por carne, soja e madeira. Já na Indonésia a demanda é por madeira e por terras para a obtenção do óleo de palma. Mas em um dado o Brasil ainda se mostrou numa situação mais delicada que a Indonésia: enquanto lá os índices de desmatamento se mostraram inalterados desde 1990, aqui os números cresceram de 2,7 milhões de hectares devastados na década de 90 para 3,1 milhões, segundo o levantamento do Bird.

... e Amazônia em risco (mesmo debaixo de chuva)

E em nível nacional as notícias sobre avanços no desmatamento também são delicadas. E envolvem nada mais nada menos do que a Amazônia. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na floresta continuou em alta em fevereiro, mês de chuva e, por isso, período no qual historicamente assiste-se a uma diminuição na derrubada da floresta. O sistema Deter do Inpe, que detecta a devastação em tempo real, mostrou que foram derrubados no mês de fevereiro 724 quilômetros quadrados de floresta, número 12% maior que os 639 quilômetros quadrados derrubados em janeiro. O primeiro semestre é considerado como “inverno” na Amazônia, por ser o período de estação chuvosa, e a época na qual o desmatamento tende a cair.

Tubarões em risco

A espécie de tubarão conhecida como “tubarão-martelo” entrará oficialmente na lista de animais ameaçados de extinção em 2008, conforme anunciado recentemente pela IUCN (World Conservation Society) na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência. A causa maior, segundo a organização, é a caça indiscrimada dos animais para atender o mercado bilionário das barbatanas, além da pesca predatória nos oceanos, que fazem os animais como vítimas nas redes e armadilhas.

Estima-se que a população de várias espécies de tubarões, entre os quais o “tubarão-tigre”, o “tubarão-de-cabeça-chata” e o “tubarão-negro”, diminuiu cerca de 95% desde a década de 70. De acordo com a IUCN, o “tubarão-martelo”, que entrará na lista de ameaçados na categoria “globally endangered” (ameaçado globalmente), corre um risco maior pelo fato dos animais jovens habitarem águas rasas perto de costas, fazendo isso como uma forma de fugir de predadores naturais. “Muitos tubarões estão agora em risco de extinção como resultado de um processo de captura descontrolada que acontece há vários anos”, anunciou a IUCN. A atividade de pesca de tubarões em águas internacionais é feita sem qualquer tipo de restrição e uma resolução das Nações Unidas já propõe a regulamentação urgente de cotas de pesca e a proibição da caça para a prática (cruel e covarde) do corte das barbatanas.

Menos embalagens

Todo mundo já ouviu falar sobre a importância na redução do uso de embalagens e de sacolas plásticas. E uma campanha conduzida pelo Ministério do Meio Ambiente desde o mês de março tem como objetivo reforçar o conceito, incentivando os brasileiros a praticar o consumo sustentável. Com o slogan “A escolha é sua, o planeta é nosso”, a campanha Consumo Consciente de Embalagens consiste numa tentativa de despertar o consumidor a prestar atenção no que está em volta do produto que ele compra, levando em conta a variável ambiental. As embalagens consistem em um terço do lixo doméstico no país e a campanha orientará produtores, varejistas e consumidores sobre as vantagens na utilização de meios alternativos. Um dos focos é o incentivo da substituição de sacolinhas plásticas, usadas principalmente nos supermercados, por sacolas retornáveis, que são reutilizáveis.

“Rio de Janeiro” desintegrado

O processo de aquecimento global deu mais um sinal de seu avanço. E dessa vez no pólo sul, mais especificamente no mar do oeste da Antártica.
Um bloco gigantesco de gelo, que em tamanho se equipara à área da cidade do Rio de Janeiro, entrou em colapso e se desintegrou ao longo do mês de março, conforme divulgou o Centro Britânico de Pesquisas da Antártica. Segundo os cientistas, que acompanharam o fenômeno através de imagens de satélite e imagens feitas por cinegrafistas a partir de sobrevôos no local, a desintegração do imenso bloco de gelo, formado no local há 1,5 mil anos, é definitivamente resultado do aumento progressivo da temperatura no planeta.

Robôs cobaias

No lugar de animais, robôs sendo testados em experiências em laboratórios. Esse avanço importantíssimo para uma ciência mais ética dá seu primeiro passo com cientistas americanos fazendo testes preliminares com substâncias químicas em células criadas artificialmente. Segundo artigo publicado na revista Science, duas agências do governo americano estão estudando a possibilidade de usar robôs de alta-velocidade para a realização de testes de identificação de substâncias químicas com efeitos tóxicos.

O objetivo, em longo prazo é desenvolver métodos de testes que não dependam de animais e sejam rigorosos o suficiente para ser aprovados pelos reguladores. Embora os cientistas afirmem que ainda há muitos anos pela frente até que os testes sem o envolvimento de animais se tornem rotina, esse tipo de pesquisa demonstra que a era de robôs cobaias é uma realidade que se demonstra cada vez mais plausível.

Baterias ecológicas

Pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Sincroton, em Campinas (SP), estudam novos materiais visando tornar baterias de celular e de notebooks em materiais menos impactantes para o meio ambiente – e, também, mais eficientes. Atualmente essas baterias são um problema na hora do descarte, sendo consideradas como lixo eletrônico, cuja eliminação é muito complicada. De acordo com o laboratório, o caminho para baterias com melhor desempenho e mais ecológicas é o uso de materiais nanoestruturados, ou seja, materiais dispostos em partículas muito pequeninas (na ordem de 0,0000000001 metros). Através da nanotecnologia, a intercalação do lítio com o óxido de cobalto na composição das baterias se tornaria muito maior, e, conseqüentemente, mais eficiente e segura para o descarte na natureza.

Fim das queimadas em canaviais

O Governo do Estado de São Paulo e a Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil) assinaram no início de março um acordo que antecipa o prazo para se colocar fim na prática das queimadas nos canaviais e estipula a tomadas de ações de sustentabilidade ambiental no setor. De acordo com o Protocolo Agroambiental, lançado em abril do ano passado e assinado por representantes de 13 mil fornecedores do setor sucroalcooleiro, o prazo para a eliminação das queimadas era o ano 2021. Com este acordo o prazo foi antecipado para 2014, tendo ainda possibilidade, como dizem fontes do Governo, de ser adiantado em mais dois anos.

Segundo o Secretário do Meio Ambiente, Francisco Graziano Neto, até agora 141 das 170 indústrias do setor aderiram ao acordo, o que representaria uma redução da área queimada em 109 mil hectares no primeiro ano do funcionamento das diretrizes de conduta ambiental. Ainda de acordo com o secretário, o Estado hoje já colhe 47% da cana-de-açúcar de forma mecanizada, sem queimadas.

Aquecimento global no Brasil

O Jornal Diário de Pernambuco publicou em março o mapa da área do Brasil que mais vai sofrer o impacto do aquecimento global, localizada no semi-árido nordestino. A partir de análises elaboradas pelo cientista José Marengo, um dos principais estudiosos do aquecimento global e mudanças climáticas do Brasil, o aumento da temperatura agravará os problemas de uma região que já sofre com a seca e a miséria da população.

Segundo a reportagem, a área em questão tem 193 mil quilômetros quadrados e está localizada nos limites de três estados - sudeste do Piauí, oeste de Pernambuco e Norte da Bahia. Lá se encontram os piores indicadores sócio-econômicos do país. A reportagem diz que “a maioria das projeções de clima mostra que nesta mesma área a vegetação pode virar de caatinga para vegetação de tipo cactácea e os indicadores sociais são muito baixos, o que dificulta a adaptação das pessoas à alteração climática”. Ainda, segundo o trabalho, “em época de seca, por exemplo, a única alternativa que resta para parte da população é a emigração – tornando-se ‘flagelados’, no vocabulário tradicional, ou ‘refugiados ambientais’, no vocabulário da Era do Aquecimento”.

Velocidade limpa

Cientistas britânicos apresentaram na Feira de Automóveis realizada na Suíça, em março, um produto que seria o sonho de consumo dos apaixonados por velocidade que são conscientes dos impactos ambientais causados por veículos. O Lifecar, carro esporte que chega à velocidade de 150km/h e não emite dióxido de carbono, foi mostrado e comemorado na feira.

O carro, movido a hidrogênio, produz muito pouco barulho e apenas vapor d’água de seu exaustor. O uso de células de combustível avançadas e de um sistema de armazenamento de energia dá ao Lifecar autonomia de 400 km por tanque de hidrogênio. “O conceito básico era construir um carro esporte para lazer e divertimento, que funcionasse como uma vitrine da tecnologia e tivesse capacidade de correr 240 km por galão”, declarou na época da feira a fabricante de carros esportes clássicos Morgan, responsável pelas pesquisas que geraram o Lifecar. Por enquanto o carro de velocidade limpo ainda é um conceito, mas a fabricante não descarta a produção do automóvel para o mercado no futuro, caso ele tenha boa aceitação do público.

Galápagos eólica

Em fevereiro o Governo do Equador deu o primeiro passo para pôr fim à dependência do petróleo do arquipélago de Galápagos. No dia 18 foi inaugurado um parque eólico de US$ 10,8 milhões na ilha de San Cristóbal, que foi celebrado com a declaração do Governo de que o arquipélago ficará livre de combustíveis fósseis até o ano de 2015. Atualmente Galápagos tem 30 mil habitantes e recebe mais de 120 mil turistas por ano. Entre os recursos que chegam do continente para abastecer as ilhas estão grandes quantidades de óleo combustível, usadas para transporte e geração de energia.

Em 2001, um navio-tanque bateu contra um recife exatamente em San Cristóbal e derramou cerca de 568 mil litros de combustível no oceano. Por sorte as correntes desviaram o óleo dos ecossistemas onde vivem milhares de espécies endêmicas do arquipélago e os impactos não foram tão grandes. Mesmo assim, o susto fez com que Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Rússia fizessem uma associação com o Equador, com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e com nove das maiores empresas hidrelétricas do mundo para construir o Projeto Eólico San Cristóbal. Cerca de 50% da energia da ilha agora procede das três turbinas eólicas de 800 quilowatts instaladas.

Chimpanzés não são entretenimento

Especialistas em grandes primatas de renome internacional lançaram um apelo em prol do respeito aos chimpanzés usando argumentos científicos. Em artigo publicado na revista Science no mês de março, nomes como Jane Goodall (primeira cientista a demonstrar que os chimpanzés selvagens também fabricam e usam ferramentas, como as pessoas) e Brian Hare (um dos maiores especialistas na vida mental e social da espécie) afirmam que é preciso parar o quanto antes com o uso de chimpanzés, os parentes mais próximos do homem no mundo animal, como garotos-propaganda e astros da TV ou do cinema.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que os macacos-artistas distorcem a percepção do público sobre a situação da espécie, levando as pessoas a acreditar que se trata de um animal que pode ser usado como bicho de estimação e que não está ameaçado de extinção. Segundo os cientistas-autores do estudo, o objetivo é mostrar que a representação inadequada dos chimpanzés tem conseqüências amplas na atitude do público, que por sua vez têm efeitos ligados à preservação da espécie. Estudos feitos com visitantes em zoológicos americanos mostraram que embora mais de 90% das pessoas soubessem que gorilas e orangotangos estão ameaçados de extinção, menos de 70% delas estavam cientes de que os chimpanzés também estão ameaçados.

Além disso, o estudo também aponta problemas de bem-estar enfrentados pelos chimpanzés “domesticados”: os animais criados por pessoas têm dificuldade para conviver com seus semelhantes e desenvolvem problemas comportamentais que vão da impotência à automutilação, sem contar os maus-tratos sofridos em resposta às atitudes selvagens e naturais dos bichos.

Fontes: BBC, ENN – Environmental News Network, jornal O Globo, Ambiente Brasil, EcoAgência de Notícias, Agência Envolverde
*Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung n. 78 - março/abril 2008. Veja o informativo completo aqui.

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