Descentralização das fontes de produção de energia
Por Jaqueline B. Ramos*
Não é de hoje que se discutem as problemáticas ambientais decorrentes de um modelo de matriz energética centrado na queima de combustíveis fósseis. Além de não serem fontes renováveis, o petróleo e seus derivados são considerados vilões quando o assunto é emissão de gases poluentes, o que causa, entre outros problemas, o aquecimento global.
A solução para novos modelos de matriz energética passa, antes de tudo, pela descentralização. Investir no desenvolvimento de novas tecnologias para o uso do que hoje é chamado de energia alternativa – energia eólica, solar, dos mares, biodiesel etc – e diversificar as fontes de energia exploradas, reconhecendo que cada uma tem um potencial significativo que pode (e deve) ser aproveitado. No caso do Brasil, por exemplo, estima-se que se fossem instalados painéis solares em um quarto da área do reservatório da Usina de Itaipu, a produção de energia gerada seria a mesma da usina como um todo.
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), se o planeta não reduzir as emissões em pelo menos dois terços, a temperatura da Terra subirá mais de dois graus num curto prazo. Somando isso ao aumento de 0,8 grau já assistido e às previsões sobre o aumento de 45% no consumo de energia no mundo até 2030, as expectativas em relação a impactos ambientais seguidos por crises econômicas não são das melhores.
Assim, a pergunta que não quer calar é: qual é a dificuldade para a diversificação e descentralização das fontes de energia e um uso mais freqüente de energias renováveis? Segundo o ambientalista e jornalista Washington Novaes, o confronto das energias renováveis com a energia derivada de combustíveis fósseis está na questão da contabilização de custos.
“Hoje, de acordo com os cálculos realizados, a energia eólica e solar são mais caras que as energias derivadas dos combustíveis fósseis. Mas isso depende de que cálculo se faz. Por exemplo, dizem que a utilização de combustíveis fósseis é mais barata, mas nesse processo não são contabilizados os custos que essa energia gera para saúde, para o meio ambiente. Ao utilizar essa energia no transporte, também não se contabiliza o custo de implantação de infra-estrutura. Então, tudo depende do que se contabiliza ou não”, explica Novaes em uma entrevista dada no início do ano sobre o assunto para o IHU On line, revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos.
Potencialidades de uma matriz energética limpa
O grande gargalo é que pela abordagem das contas atuais, considera-se que as energias renováveis – e mais limpas - têm um custo maior e, conseqüentemente, são mais difíceis de serem adotadas. Numa linha bem otimista, poderia se afirmar que o Brasil, um país muito rico em recursos naturais, comparado com outras nações do mundo, tem uma potencialidade grande para investir em novas fontes de energia e contribuir consideravelmente para a mudança deste paradigma e para a descentralização das fontes de energia.
De uma formal geral, as potencialidades de uma matriz energética limpa no Brasil passam pela energia hidrelétrica, solar, eólica e a oriunda de biomassa. Calcula-se que só a energia eólica já seria capaz de atender todo o consumo brasileiro atualmente. E vários estudos e levantamentos demonstram, cada vez mais claramente, esta potencialidade (veja mais no boxe).
No início de fevereiro, o Greenpeace lançou um documento que propõe a utilização de energias renováveis no país, especialmente nos parques industriais. “A proposta principal é que o governo brasileiro crie um ambiente de incentivo às energias renováveis e limpas, pois o Brasil tem um amplo potencial natural. Precisamos agora que o poder público incentive, por exemplo, a instalação de indústrias para fabricação dos equipamentos que são necessários para a instalação das usinas eólicas”, afirmou Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace, no lançamento do documento em Fortaleza, Ceará.
Além do incentivo e investimento em energia limpa, também é necessário considerar a possibilidade de redução do consumo energético. Um estudo realizado recentemente pela Unicamp e pela WWF Brasil mostra que o Brasil poderia reduzir, com tranqüilidade, sua necessidade energética em 50%. Cerca de 30% poderiam ser reduzidos com programas de conservação, a exemplo do “apagão” em 2001. Mais 10% poderiam ser ganhos com a repotenciação de usinas já construídas que estão com seu prazo de utilização vencido. A repotenciação dessas usinas tem um custo menor do que construir novas hidrelétricas. Poderíamos ganhar mais 10% com a redução de perda das linhas de transmissão. Nós já perdemos 15% nas linhas de transmissão, enquanto o Japão, por exemplo, perdeu apenas 1%.
A combinação de um uso mais inteligente e sustentável das fontes de energia já existentes e do investimento em fontes mais limpas vai ao encontro de uma idéia defendida pelo especialista em política energética norte-americano Jeremy Rifkin. Ele acredita que a atual crise financeira, a crise energética e o aquecimento global estão interligados e não serão solucionados separadamente. “Para sair do pântano financeiro e climático, é preciso acelerar a revolução verde (...) Se não acabarmos agora com o vício do petróleo, os danos serão muito piores", afirmou Rifkin em recente entrevista à revista Veja.
Segundo Rifkin, o melhor exemplo de como a energia verde funciona está na Alemanha. Em oito anos, o país reduziu drasticamente sua dependência do petróleo e metade da energia solar existente no mundo hoje é produzida lá. E o Governo acabou de anunciar incentivos à produção de carros elétricos que devem resultar na produção de um milhão de veículos desse tipo no país até 2020.
Portanto, não é difícil compreender a urgência da reformulação da matriz energética desenhada pela humanidade na idade moderna. E esta não prescinde da descentralização das fontes de produção de energia. Nesta direção espera-se que também caminhemos para um modelo de produção mais próximo do local de consumo, poupando o uso de energia e prevenindo uma série de impactos sociais e ambientais negativos. Afinal de contas, em breve seremos 9 bilhões de habitantes no planeta e a demanda crescente por energia, bens e consumo precisa, urgentemente, ser repensada.
A ENERGIA DOS VENTOS
A energia proveniente dos ventos é amplamente disponível, possui baixo impacto ambiental e é limpa, pois não emite gás carbônico. As instalações mundiais de energia eólica geram hoje mais de 120,8 GW, sendo que apenas em 2008 houve um crescimento de 28,8% em relação a 2007. Esses 120,8 GW serão responsáveis pela não emissão anual de 158 milhões de toneladas CO2.
Os Estados Unidos elevaram sua capacidade em 50% em 2008 e superaram a Alemanha como o maior produtor de energia eólica. Já a China duplicou sua capacidade instalada e está no caminho para superar Alemanha e Espanha e ocupar, em 2010, o segundo lugar em termos de capacidade de produção eólica.
No Brasil, a região Nordeste é a mais promissora: o potencial de energia eólica está estimado em 6 mil MW. E cientistas declaram que o potencial eólico brasileiro é subutilizado. De acordo com um estudo publicado no início do ano na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo o potencial de energia dos ventos no país fosse aproveitado, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Isso representa, aproximadamente, mais da metade do total do consumo brasileiro.
CALOR E LUZ PROVENIENTES DO SOL
O aproveitamento do sol como fonte de calor e luz talvez seja uma das alternativas energéticas mais promissoras e também a que já é mais utilizada nos dias de hoje. O sol irradia por ano o equivalente a 10 mil vezes a energia consumida pela população mundial neste mesmo período. Em outras palavras, a energia solar é abundante e permanente, renovável a cada dia, não polui e nem ameaça o equilíbrio de ecossistemas.
Num país como o Brasil, que tem bons índices de insolação em qualquer parte de seu território, estudos já concluíram que uma parte do milionésimo de energia solar que nosso país recebe durante um ano poderia prover suprimento de energia equivalente a 54% do petróleo nacional, duas vezes a energia obtida com o carvão mineral e quatro vezes a energia gerada no mesmo período por uma usina hidrelétrica.
A energia solar pode representar a solução ideal para áreas afastadas para obtenção de eletricidade, o que é feito através de painéis de células fotovoltaicas. Estas permitem a conversão direta da luz em eletricidade. Atualmente o custo das células solares é um grande desafio para a indústria e o principal empecilho para a difusão dos sistemas fotovoltaicos em larga escala.
ETANOL E DIESEL LIMPO
Em janeiro deste ano, o Governo brasileiro anunciou que os níveis de produção, consumo e exportação de etanol (álcool) e de consumo e produção de biodiesel (diesel proveniente de gordura animal ou óleos vegetais) nunca foram tão altos como os registrados em 2008.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil exportou 5,16 bilhões de litros de etanol, de um total de 24,5 bilhões de litros produzidos no ano passado. Se comparado à gasolina, o volume de etanol vendido para o mercado externo representou mais do que o dobro das exportações no período. E no mercado interno o consumo de etanol também foi recorde, superando pela primeira vez o de gasolina. Este crescimento tem relação direta com o aumento da frota flex-fuel, correspondente a 87,2% dos veículos licenciados no ano passado.
No mesmo ritmo, a produção de biodiesel também foi recorde ao atingir mais de 1,1 bilhão de litros. Esse total representa um crescimento de quase 190% em relação ao ano anterior. Em novembro, a capacidade instalada de produção alcançou 2,993 bilhões de litros por ano e o número de usinas em funcionamento no país chegou a 46.
A adoção da mistura obrigatória de 2% de biodiesel no diesel, em vigor desde janeiro de 2008, e ampliada para 3% em julho, permitiu a redução da importação de 1,1 bilhão de litros de diesel derivado de petróleo no ano passado. O volume representa um ganho de aproximadamente US$ 976 milhões na balança comercial. Além de reduzir a dependência brasileira de diesel importado, a produção e uso de biodiesel propiciam o desenvolvimento de economias locais e regionais, seja na etapa agrícola ou na indústria de bens e serviços.
O POTENCIAL DOS MARES
O Brasil tem sete mil quilômetros de costa marítima, mas ainda investe timidamente no potencial energético dos mares. Existem dois tipos de energia relevantes e em grande escala que podem ser aproveitadas no mar. A das marés, que acontece duas vezes ao dia, mais ou menos a cada 12 horas, e a das ondas, que quando quebram na beira da praia dissipam toda a energia transportada do alto mar.
Em relação às ondas, estima-se que esta fonte energética tenha potencial para a produção de 20 GW entre 2010 e 2020, 40% a mais do que a maior usina hidrelétrica do mundo, a brasileira Itaipu. E segundo anúncio recente feito pelo Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, o país tem capacidade para ter tecnologia própria nesta área se apostar na inclusão desta fonte na matriz energética. A primeira usina de energia das ondas do mundo, o Parque de Aguçadoura, foi construída no ano passado em Portugal.
O objetivo é ter, neste ano, 28 balsas capazes de gerar 24 MW, o suficiente para fornecer energia para 250 mil habitantes.O núcleo de pesquisas da COPPE/UFRJ é referência no assunto no Brasil e já trabalha na formação de uma rede com outras universidades, inclusive planejando projetos pilotos para o Ceará e Santa Catarina, estado com maior potencial para a energia das ondas.
Fontes: Ambiente Brasil, Agência Brasil, Agência Envolverde, Revista Biodiesel BR
*Publicado na edição n. 83 (janeiro/fevereiro 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung
Por Jaqueline B. Ramos*
Não é de hoje que se discutem as problemáticas ambientais decorrentes de um modelo de matriz energética centrado na queima de combustíveis fósseis. Além de não serem fontes renováveis, o petróleo e seus derivados são considerados vilões quando o assunto é emissão de gases poluentes, o que causa, entre outros problemas, o aquecimento global.
A solução para novos modelos de matriz energética passa, antes de tudo, pela descentralização. Investir no desenvolvimento de novas tecnologias para o uso do que hoje é chamado de energia alternativa – energia eólica, solar, dos mares, biodiesel etc – e diversificar as fontes de energia exploradas, reconhecendo que cada uma tem um potencial significativo que pode (e deve) ser aproveitado. No caso do Brasil, por exemplo, estima-se que se fossem instalados painéis solares em um quarto da área do reservatório da Usina de Itaipu, a produção de energia gerada seria a mesma da usina como um todo.
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), se o planeta não reduzir as emissões em pelo menos dois terços, a temperatura da Terra subirá mais de dois graus num curto prazo. Somando isso ao aumento de 0,8 grau já assistido e às previsões sobre o aumento de 45% no consumo de energia no mundo até 2030, as expectativas em relação a impactos ambientais seguidos por crises econômicas não são das melhores.
Assim, a pergunta que não quer calar é: qual é a dificuldade para a diversificação e descentralização das fontes de energia e um uso mais freqüente de energias renováveis? Segundo o ambientalista e jornalista Washington Novaes, o confronto das energias renováveis com a energia derivada de combustíveis fósseis está na questão da contabilização de custos.
“Hoje, de acordo com os cálculos realizados, a energia eólica e solar são mais caras que as energias derivadas dos combustíveis fósseis. Mas isso depende de que cálculo se faz. Por exemplo, dizem que a utilização de combustíveis fósseis é mais barata, mas nesse processo não são contabilizados os custos que essa energia gera para saúde, para o meio ambiente. Ao utilizar essa energia no transporte, também não se contabiliza o custo de implantação de infra-estrutura. Então, tudo depende do que se contabiliza ou não”, explica Novaes em uma entrevista dada no início do ano sobre o assunto para o IHU On line, revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos.
Potencialidades de uma matriz energética limpa
O grande gargalo é que pela abordagem das contas atuais, considera-se que as energias renováveis – e mais limpas - têm um custo maior e, conseqüentemente, são mais difíceis de serem adotadas. Numa linha bem otimista, poderia se afirmar que o Brasil, um país muito rico em recursos naturais, comparado com outras nações do mundo, tem uma potencialidade grande para investir em novas fontes de energia e contribuir consideravelmente para a mudança deste paradigma e para a descentralização das fontes de energia.
De uma formal geral, as potencialidades de uma matriz energética limpa no Brasil passam pela energia hidrelétrica, solar, eólica e a oriunda de biomassa. Calcula-se que só a energia eólica já seria capaz de atender todo o consumo brasileiro atualmente. E vários estudos e levantamentos demonstram, cada vez mais claramente, esta potencialidade (veja mais no boxe).
No início de fevereiro, o Greenpeace lançou um documento que propõe a utilização de energias renováveis no país, especialmente nos parques industriais. “A proposta principal é que o governo brasileiro crie um ambiente de incentivo às energias renováveis e limpas, pois o Brasil tem um amplo potencial natural. Precisamos agora que o poder público incentive, por exemplo, a instalação de indústrias para fabricação dos equipamentos que são necessários para a instalação das usinas eólicas”, afirmou Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace, no lançamento do documento em Fortaleza, Ceará.
Além do incentivo e investimento em energia limpa, também é necessário considerar a possibilidade de redução do consumo energético. Um estudo realizado recentemente pela Unicamp e pela WWF Brasil mostra que o Brasil poderia reduzir, com tranqüilidade, sua necessidade energética em 50%. Cerca de 30% poderiam ser reduzidos com programas de conservação, a exemplo do “apagão” em 2001. Mais 10% poderiam ser ganhos com a repotenciação de usinas já construídas que estão com seu prazo de utilização vencido. A repotenciação dessas usinas tem um custo menor do que construir novas hidrelétricas. Poderíamos ganhar mais 10% com a redução de perda das linhas de transmissão. Nós já perdemos 15% nas linhas de transmissão, enquanto o Japão, por exemplo, perdeu apenas 1%.
A combinação de um uso mais inteligente e sustentável das fontes de energia já existentes e do investimento em fontes mais limpas vai ao encontro de uma idéia defendida pelo especialista em política energética norte-americano Jeremy Rifkin. Ele acredita que a atual crise financeira, a crise energética e o aquecimento global estão interligados e não serão solucionados separadamente. “Para sair do pântano financeiro e climático, é preciso acelerar a revolução verde (...) Se não acabarmos agora com o vício do petróleo, os danos serão muito piores", afirmou Rifkin em recente entrevista à revista Veja.
Segundo Rifkin, o melhor exemplo de como a energia verde funciona está na Alemanha. Em oito anos, o país reduziu drasticamente sua dependência do petróleo e metade da energia solar existente no mundo hoje é produzida lá. E o Governo acabou de anunciar incentivos à produção de carros elétricos que devem resultar na produção de um milhão de veículos desse tipo no país até 2020.
Portanto, não é difícil compreender a urgência da reformulação da matriz energética desenhada pela humanidade na idade moderna. E esta não prescinde da descentralização das fontes de produção de energia. Nesta direção espera-se que também caminhemos para um modelo de produção mais próximo do local de consumo, poupando o uso de energia e prevenindo uma série de impactos sociais e ambientais negativos. Afinal de contas, em breve seremos 9 bilhões de habitantes no planeta e a demanda crescente por energia, bens e consumo precisa, urgentemente, ser repensada.
A ENERGIA DOS VENTOS
A energia proveniente dos ventos é amplamente disponível, possui baixo impacto ambiental e é limpa, pois não emite gás carbônico. As instalações mundiais de energia eólica geram hoje mais de 120,8 GW, sendo que apenas em 2008 houve um crescimento de 28,8% em relação a 2007. Esses 120,8 GW serão responsáveis pela não emissão anual de 158 milhões de toneladas CO2.
Os Estados Unidos elevaram sua capacidade em 50% em 2008 e superaram a Alemanha como o maior produtor de energia eólica. Já a China duplicou sua capacidade instalada e está no caminho para superar Alemanha e Espanha e ocupar, em 2010, o segundo lugar em termos de capacidade de produção eólica.
No Brasil, a região Nordeste é a mais promissora: o potencial de energia eólica está estimado em 6 mil MW. E cientistas declaram que o potencial eólico brasileiro é subutilizado. De acordo com um estudo publicado no início do ano na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo o potencial de energia dos ventos no país fosse aproveitado, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Isso representa, aproximadamente, mais da metade do total do consumo brasileiro.
CALOR E LUZ PROVENIENTES DO SOL
O aproveitamento do sol como fonte de calor e luz talvez seja uma das alternativas energéticas mais promissoras e também a que já é mais utilizada nos dias de hoje. O sol irradia por ano o equivalente a 10 mil vezes a energia consumida pela população mundial neste mesmo período. Em outras palavras, a energia solar é abundante e permanente, renovável a cada dia, não polui e nem ameaça o equilíbrio de ecossistemas.
Num país como o Brasil, que tem bons índices de insolação em qualquer parte de seu território, estudos já concluíram que uma parte do milionésimo de energia solar que nosso país recebe durante um ano poderia prover suprimento de energia equivalente a 54% do petróleo nacional, duas vezes a energia obtida com o carvão mineral e quatro vezes a energia gerada no mesmo período por uma usina hidrelétrica.
A energia solar pode representar a solução ideal para áreas afastadas para obtenção de eletricidade, o que é feito através de painéis de células fotovoltaicas. Estas permitem a conversão direta da luz em eletricidade. Atualmente o custo das células solares é um grande desafio para a indústria e o principal empecilho para a difusão dos sistemas fotovoltaicos em larga escala.
ETANOL E DIESEL LIMPO
Em janeiro deste ano, o Governo brasileiro anunciou que os níveis de produção, consumo e exportação de etanol (álcool) e de consumo e produção de biodiesel (diesel proveniente de gordura animal ou óleos vegetais) nunca foram tão altos como os registrados em 2008.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil exportou 5,16 bilhões de litros de etanol, de um total de 24,5 bilhões de litros produzidos no ano passado. Se comparado à gasolina, o volume de etanol vendido para o mercado externo representou mais do que o dobro das exportações no período. E no mercado interno o consumo de etanol também foi recorde, superando pela primeira vez o de gasolina. Este crescimento tem relação direta com o aumento da frota flex-fuel, correspondente a 87,2% dos veículos licenciados no ano passado.
No mesmo ritmo, a produção de biodiesel também foi recorde ao atingir mais de 1,1 bilhão de litros. Esse total representa um crescimento de quase 190% em relação ao ano anterior. Em novembro, a capacidade instalada de produção alcançou 2,993 bilhões de litros por ano e o número de usinas em funcionamento no país chegou a 46.
A adoção da mistura obrigatória de 2% de biodiesel no diesel, em vigor desde janeiro de 2008, e ampliada para 3% em julho, permitiu a redução da importação de 1,1 bilhão de litros de diesel derivado de petróleo no ano passado. O volume representa um ganho de aproximadamente US$ 976 milhões na balança comercial. Além de reduzir a dependência brasileira de diesel importado, a produção e uso de biodiesel propiciam o desenvolvimento de economias locais e regionais, seja na etapa agrícola ou na indústria de bens e serviços.
O POTENCIAL DOS MARES
O Brasil tem sete mil quilômetros de costa marítima, mas ainda investe timidamente no potencial energético dos mares. Existem dois tipos de energia relevantes e em grande escala que podem ser aproveitadas no mar. A das marés, que acontece duas vezes ao dia, mais ou menos a cada 12 horas, e a das ondas, que quando quebram na beira da praia dissipam toda a energia transportada do alto mar.
Em relação às ondas, estima-se que esta fonte energética tenha potencial para a produção de 20 GW entre 2010 e 2020, 40% a mais do que a maior usina hidrelétrica do mundo, a brasileira Itaipu. E segundo anúncio recente feito pelo Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, o país tem capacidade para ter tecnologia própria nesta área se apostar na inclusão desta fonte na matriz energética. A primeira usina de energia das ondas do mundo, o Parque de Aguçadoura, foi construída no ano passado em Portugal.
O objetivo é ter, neste ano, 28 balsas capazes de gerar 24 MW, o suficiente para fornecer energia para 250 mil habitantes.O núcleo de pesquisas da COPPE/UFRJ é referência no assunto no Brasil e já trabalha na formação de uma rede com outras universidades, inclusive planejando projetos pilotos para o Ceará e Santa Catarina, estado com maior potencial para a energia das ondas.
Fontes: Ambiente Brasil, Agência Brasil, Agência Envolverde, Revista Biodiesel BR
*Publicado na edição n. 83 (janeiro/fevereiro 2009) do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung
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