quinta-feira, novembro 25, 2010

Curtas Ambientais

Por Jaqueline B. Ramos*

Retrocesso na proteção às florestas

No mês do meio ambiente, ambientalistas no Brasil não têm muito que comemorar. Parlamentares ruralistas, encabeçados pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estão propondo mudanças no Código Florestal brasileiro que levariam a um retrocesso na legislação de controle e proteção das áreas naturais. Entre as mudanças sugeridas estão a possibilidade de soma da reserva legal com as áreas de Preservação Permanente (APP) e a consolidação de lavouras em encostas e topos de morros desmatados ilegalmente.

Uma subcomissão da Câmara dos Deputados foi criada para avaliar as propostas de alteração na lei e isso está preocupando ONGs de defesa ambiental. Uma coalizão de entidades formada pelo WWF, Greenpeace, Instituto Socioambiental, entre outras, lançou um site com informações sobre o histórico do Código Florestal e a defesa da manutenção da lei para a preservação de florestas, dos recursos hídricos e do clima. No endereço www.sosflorestas.com.br são listadas as conseqüências que as possíveis mudanças na legislação ambiental podem trazer e o internauta é convidado a assinar uma petição contra as alterações no Código Florestal, a ser enviada para a Câmara.

Ônibus limpo

No final de maio o Rio de Janeiro entrou na era dos combustíveis limpos. De acordo com o contrato assinado com o COI – Comitê Olímpico Internacional –, 20% da frota de ônibus da cidade devem rodar movidos a biocombustível durante os jogos de 2016. Neste espírito foi apresentado pelo governo do Estado o primeiro ônibus movido a hidrogênio, um projeto desenvolvido pela Coppe/UFRJ.

O ônibus experimental será operado pela Viação Real e estará nas ruas pelo período de um ano, sendo avaliado em vários aspectos, incluindo a não-emissão de gases poluentes e sua manutenção periódica. O veículo receberá licença regular para rodar no Rio, assim como os outros 15 ônibus movidos a biodiesel, que já estão em operação de testes. A ideia é ampliar a frota de veículos não poluentes e praticamente trocar a maior parte dos coletivos que rodam pela cidade.

Satélite para monitorar oceanos

A Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Conae), da Argentina, desenvolverão em conjunto o satélite Sabia-Mar. O satélite será destinado à observação global dos oceanos e ao monitoramento do Atlântico nas proximidades dos dois países. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) será o órgão executor do projeto

Com o Sabia-Mar será possível observar a cor dos oceanos, monitorar a exploração petrolífera, gerenciar as zonas costeiras e contribuir com a atividade pesqueira, entre outras aplicações. O projeto Sabia-Mar está em plena consonância com os objetivos fixados pela comunidade científica internacional, e, mais especificamente, com aqueles estabelecidos pelo Comitê de Satélites de Observação da Terra (CEOS, na sigla em inglês) para a constelação de satélites de observação da cor dos oceanos.

Marfim X Elefantes

O que parecia ser uma prática ultrapassada voltou a aterrorizar a vida dos elefantes. O crescimento na demanda de marfim na Ásia tem incentivado o comércio ilegal de presas de elefante, provenientes principalmente da África. Nos últimos oito anos o preço do quilo do marfim subiu de US$ 100 para US$ 1800. O principal responsável pelo “aquecimento” no comércio é a China. No país há a tradição de um empresário “presentear” um cliente após um negócio fechado com uma presa de marfim.

Segundo especialistas, se o comércio não for contido logo, as populações de elefantes na África podem ser reduzidas dramaticamente. Mais de 600 mil elefantes foram mortos no continente nos últimos 40 anos devido à caça ilegal – a captura dos animais é oficialmente proibida desde 1989. Em Serra Leoa, os últimos elefantes foram mortos em dezembro. No Senegal, há menos de 10 elefantes vivos.

Parceria em prol da bioenergia

Em maio foi anunciada uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e o Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados de Cana-de-Açúcar (ICIDCA) visando a produção sustentável de nada mais nada menos do que bionergia. O trabalho em conjunto prevê o desenvolvimento de tecnologias para a produção de fontes renováveis de energia e será dividido em cinco linhas: biomassa para bioenergia; produção de bioenergia; aplicação de biocombustíveis em motores; biorrefinaria, alcoolquímica e oleoquímica; e impactos ambientais, sócio-econômicos e sustentabilidade.

“Nosso foco é trabalhar os resíduos de forma sustentável, unindo especialistas das duas instituições”, explicou Maria José Soares Mendes Giannini, pró-reitora de Pesquisa da UNESP, que faz parte do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, criado em dezembro de 2009.

Dieta para combater as mudanças climáticas

Um recente relatório da ONU divulgado na semana do Dia Mundial do Meio ambiente faz uma revelação surpreendente. Em linhas gerais é concluído que “uma mudança global para uma dieta vegana – que exclui carnes e qualquer produto de origem animal – é vital para salvar o mundo da fome, pobreza de combustíveis e os piores impactos da mudança climática.”

O relatório ressalta que a previsão é de que a população mundial chegue a 9.1 bilhões de pessoas em 2050, tornando o apetite por carne e laticínios insustentável. A agropecuária industrial, particularmente de produtos de carne e laticínios, é responsável, por exemplo, pelo consumo de cerca de 70% da água doce do mundo, 38% do uso de terra e 19% das emissões de gases estufa.

Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmente devido ao crescimento da população e o crescimento do consumo de produtos animais. Ao contrário dos combustíveis fósseis, é difícil produzir alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial de impactos somente seria possível com uma mudança de dieta, eliminando produtos animais.”

revista “Behavioral Ecology and Sociobiology” demonstra que as Baleias-jubarte formam laços de amizade duradouros. Usando técnicas de identificação fotográfica para localizar cada indivíduo todos os anos, os pesquisadores conseguiram averiguar que fêmeas de baleia-jubarte reencontram-se anualmente para comer e nadar juntas no golfo de São Lourenço, na costa do Canadá.

Baleias com dentes, como as baleias cachalote, associam-se umas com as outras. Mas acreditava-se que baleias maiores, que filtram sua comida, como as jubartes, eram menos sociáveis. As amizades mais longas registradas duraram seis anos e sempre foram observadas entre fêmeas de idades parecidas e nunca entre machos e fêmeas. A descoberta também levanta a possibilidade de que a pesca comercial de baleias pode ter dispersado grupos sociais dos animais.

Corais brasileiros ameaçados

A elevação na temperatura das águas, provocada pelo aquecimento global, ameaça espécies de corais que só existem no litoral brasileiro. A conclusão é do projeto Coral Vivo, cuja sede fica em Arraial da Ajuda, na Bahia. Das 40 espécies de corais encontradas nos recifes brasileiros, 20 são encontradas apenas no país.

De acordo com o projeto, o fenômeno começou a ser identificado em março, depois de dois meses com a água muito mais quente do que a média na maior parte da costa brasileira. Conhecido como “branqueamento”, ele foi registrado em uma faixa de 2,5 mil quilômetros, entre o Rio Grande do Norte e a baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e coloca em risco a vida do coral.

A explicação do problema é a seguinte: algumas espécies de corais precisam de microalgas para viver, que se instalam na segunda camada da pele do coral. Como todas as plantas, elas fazem fotossíntese, isto é: obtêm energia da luz do sol. O que sobra, doam ao coral em troca de abrigo. Mas quando a temperatura da água está acima do normal, as algas produzem água oxigenada, que é tóxica para o coral. Para se proteger, ele as expulsa. E sem elas o esqueleto branco fica visível.


* Publicado no Informativo do Instituto Ecológico Aqualung edição 90 - junho 2010

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