quinta-feira, novembro 25, 2010

Desafios do Ano Internacional da Biodiversidade


Por Jaqueline B. Ramos*

Há vários anos especialistas e ambientalistas de todo o mundo têm feito alertas sobre o perigo real da perda de biodiversidade do planeta. Por motivos que vão desde desmatamento de áreas naturais até as conseqüências modernas do aquecimento global, é fato conhecido que um número crescente de espécies de animais e plantas se encontra em risco iminente de extinção. E não há dúvidas que isso é muito ruim tanto para a natureza como para a própria qualidade de vida da humanidade.

Quando o assunto é risco de extinção, no Brasil – que, diga-se de passagem, é o primeiro país em biodiversidade do mundo, temos o exemplo da onça pintada. Na Ásia, a problemática é grande em torno dos tigres e orangotangos. Na África, os chimpanzés são grandes vítimas... e estes são apenas alguns poucos casos falando apenas em animais mais conhecidos e casos mais divulgados (veja mais informações no boxe).

Entende-se como biodiversidade (ou diversidade biológica) a variedade de vida no Planeta que forma uma grande cadeia da qual o homem faz parte e da qual depende para sua sobrevivência. A biodiversidade que temos hoje é fruto de bilhões de anos de evolução moldados por processos naturais e, cada vez mais, por processos humanos. Até hoje cerca de 1,75 milhões de espécies já foram identificadas, sendo a grande maioria insetos, e estima-se que realmente existam 13 milhões de espécies.

O alerta sobre a perda da biodiversidade foi oficialmente reconhecido pela ONU – Organização das Nações Unidas, que declarou que 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Em termos práticos o destaque é para a 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-10 CDB), que acontecerá na cidade de Nagoya, no Japão, em outubro. A expectativa em relação à conferência é muito grande, pois se discutirá, entre outros assuntos, o alcance das metas de redução de perda de biodiversidade e o polêmico assunto sobre a repartição dos benefícios advindos da utilização da diversidade genética das espécies.

E o cenário não é muito otimista, infelizmente. No dia biodiversidade – 22 de maio – o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a perda de espécies está chegando a um ponto sem volta. De fato, em um relatório recente a ONU confirmou que nenhuma das metas para redução da perda de biodiversidade, acordadas em 2002, foram cumpridas. O relatório afirma que desde 1970 as populações mundiais de animais caíram 30%, a área coberta por mangues caiu 20% e a área coberta por corais, 40%.

Redução de desmatamento: Segundo Ban, comunidades no mundo todo irão "colher os frutos negativos" da perda de biodiversidade. “Mas comunidades mais pobres e mais vulneráveis serão as que irão sofrer mais", alerta o secretário, ressaltando mais uma razão para o reforço nos esforços reais (e não apenas teóricos ou “marqueteiros” em torno da conservação da diversidade genética de plantas e animais.

No Brasil, os principais problemas estão relacionados diretamente ao combate ao desmatamento nos grandes biomas. “A conservação da diversidade biológica é um dos temas de maior destaque do ano, e os olhos do mundo certamente se voltarão para o Brasil. Temos a sorte de abrigar em nosso território uma imensa riqueza biológica, mas temos também a responsabilidade de cuidar de sua preservação e sobrevivência”, afirma Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil.

Seja no Brasil, na Indonésia, na República do Congo ou em qualquer outro país rico em biodiversidade, a causa maior do problema é sempre a ação humana insustentável. È verdade que a extinção das espécies é um fenômeno natural, mas a questão é que animais e plantas estão tendo suas populações drasticamente reduzidas ou extintas numa taxa muito mais rápida que a natura – estima-se que o processo esteja 1000 vezes acelerado.

“Nossas vidas dependem da biodiversidade e espécies e ecossistemas estão desaparecendo em um ritmo insustentável. Em 2002 líderes mundiais concordaram em diminuir significativamente as taxas de destruição de biodiversidade até 2010, mas já sabemos que as metas não foram alcançadas. Precisamos, mais do que nunca, do esforço de todos, governos, ONGs e cada cidadão”, alerta o secretário-geral das Nações Unidas.
Metas da CDB para os países signatários

• Conservação da biodiversidade;
• Uso sustentável de seus componentes;
• Distribuição equitativa e justa dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos.

Espécies ameaçadas de extinção

No Brasil

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, há cerca de 400 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Dessas, sete são consideradas já extintas, como é o caso da arara-azul-pequena, que era encontrada em toda a Região Sul e no Mato Grosso do Sul.

Algumas das espécies-símbolo da riqueza biológica do Brasil estão em risco. A onça-pintada, a onça-parda, o gato-maracajá são exemplos de felinos que correm o risco de desaparecer de nosso território. Macaco-aranha, mico-leão-da-cara-preta, mico-leão-dourado e várias espécies de sagui também.

Nos ares, o risco de extinção recai sobre a arara-azul, a ararinha-azul, o gavião-cinza e algumas espécies papagaio, entre muitos outros. Há 55 espécies diferentes de borboletas na lista de ameaçadas. No cerrado, o lobo-guará é o símbolo das conseqüências da devastação. Nas águas, a baleia-franca, a baleia-jubarte e o peixe-boi são vítimas de caçadores.

Entre as plantas, estão desaparecendo algumas espécies de bromélias, o pau-rosa e o pinheiro-do-Paraná, também conhecido como araucária. Sucupira, aroeira, jequitibá, imbuia, angelim, mogno, cerejeira e outras árvores também já são difíceis de serem encontradas.

No mundo

Todos os anos, o WWF-Estados Unidos divulga a lista dos 10 animais mais ameaçados do planeta. Este ano, a lista inclui cinco animais que estão sendo diretamente afetados pelo aquecimento global: o tigre, o urso polar, a morsa do Pacífico, o pinguim de Magellanic e a tartaruga-gigante. Além dessas cinco espécies, também estão ameaçados o atum-bluefin, o gorila-das-montanhas, a borboleta-imperial, o panda e o rinoceronte-de-Java, cuja população está reduzida a apenas 60 indivíduos.

Fonte: WWF Brasil - http://www.wwf.org.br/

As principais ameaças à biodiversidade

• Perda de habitats: pelas mudanças no uso das terras, principalmente a conversão de áreas naturais em plantios de nível industrial. Esta é, na verdade, a maior causa da perda de biodiversidade. Mais da metade dos 14 grandes biomas da Terra já tiveram entre 20 e 50% de sua área total convertida para agropecuária.

• Uso e exploração insustentáveis: muitas espécies são usadas pelo homem para atender suas necessidades básicas. Porém, várias delas estão em declínio e risco de extinção porque são usadas de forma tão exagerada que sua exploração ameaça os ecossistemas dos quais dependem.

• Mudanças climáticas: será, progressivamente, causa de mais ameaças à biodiversidade nas próximas décadas. Já se observa mudanças nos períodos de migração e reprodução e nas taxas de distribuição de várias espécies em todo o planeta por conta das variações climáticas.

• Espécies aliens: plantas, animais e microorganismos transportados deliberadamente ou acidentalmente para áreas onde são espécies exóticas podem causas sérios riscos para espécies nativas pela competição por comida, transmissão de doenças, mudanças genéticas etc. Mais de 530 espécies aliens que causaram sérios impactos já foram identificadas em 57 países.

• Poluição: o descarte progressivo de substâncias poluentes geradas tanto no ambiente urbano como pela agropecuária, somado ao crescimento desenfreado da região costeira e da agricultura, pode levar a uma multiplicação na quantidade de áreas consideradas mortas.

Fonte: ONU/UNEP

* Publicado na edição 90 do Informativo do Instituto Ecológico Aqualung - veja aqui.

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